Os Governos Cid Gomes E O Legislativo Cearense: Alianças, Emendas E Oposição (2007-2014)

Os Governos Cid Gomes E O Legislativo Cearense: Alianças, Emendas E Oposição (2007-2014)

Os governos Cid Gomes e o Legislativo cearense: alianças, emendas e oposição (2007-2014) Cleyton Monte1 Resumo: O objetivo central do presente artigo é discutir as estratégias utilizadas pelo governador Cid Ferreira Gomes para construir e manter sua base aliada na Assembleia Legislativa do Ceará ao longo dos seus oito anos de governo. São apresentados, brevemente, os principais eixos da tese do presidencialismo de coalizão e sua ressonância nos estados. Em seguida, as características da base cidista, as emendas ao orçamento e o perfil da oposição são analisados. Para a construção desse artigo fez-se uso de dados do portal da Assembleia Legislativa, informações do Anuário do Ceará, reportagens da imprensa local e entrevistas com parlamentares e assessores. Cid Gomes conseguiu formar, a partir da eleição de 2006, uma grande e heterogênea base aliada, ampliando-a durante o governo e consolidando-a nas eleições de 2010, acomodou partidos aliados na administração estadual e valendo-se dos dispositivos constitucionais existentes e de um novo modelo de emendas ao orçamento reforçou o predomínio do Executivo. Palavras-chave: Política; Ceará; Legislativo; Cid Gomes. Introdução Passado o período eleitoral, os atores políticos iniciam as articulações para formar o futuro governo. Nessa equação a arena parlamentar ganha destaque, pois os partidos da coligação transformam-se em membros da coalizão governamental. A liderança desse processo cabe ao chefe do Executivo, que tem como premissa conseguir o maior número de apoios para garantir a aprovação de suas medidas e, consequentemente, a realização do plano de governo, a chamada governabilidade. A ideia é expandir a base aliada e agregar partidos que não estavam inicialmente juntos na eleição. As ações do Legislativo são um termômetro do apoio de um governante, da força ou fragilidade de sua base. Para a construção desse artigo, além de observação sistemática dos eventos que ocorreram naquele espaço a partir de 2012, contei com os dados disponíveis no portal da Assembleia Legislativa, documentação requisitada junto ao Departamento Legislativo da casa e ao setor de orçamento da SEPLAG, reportagens da imprensa local, informações do Anuário do Ceará, entrevistas semiestruturadas com cinco parlamentares, entrevistas informais com cinco assessores políticos dos gabinetes, dois assessores técnicos (um do Departamento Legislativo e outro da Comissão de Orçamento, Finanças e Tributação) e dois funcionários do setor de orçamento da SEPLAG – totalizando 14 entrevistas. 1. Doutorando em Sociologia (UFC). [email protected]. Bolsista CAPES. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 Um grande elemento utilizado para visualizar a coesão da base aliada é sua capacidade de blindar o chefe do Executivo contra investidas da oposição, que utilizam os recursos disponíveis como discursos, requerimentos e tentativas de abrir investigações para pressionar o governo. Nesse sentido, vários escândalos ocorreram ao longo dos oito anos do governo Cid, principalmente nos dois últimos. As grandes questões abordadas são: Como foram as articulações junto aos parlamentares para formar uma das maiores bases políticas já vistas no estado? Qual o papel das emendas ao orçamento nessas alianças? E de que forma se deu a atuação da oposição nesse jogo político? Dito isso, o artigo está dividido em quatro partes. Inicialmente são apresentados, brevemente, os principais eixos da tese do presidencialismo de coalizão, em seguida, verifica-se de qual forma esses fatores podem ser aplicados nos estados, o chamado ultrapresidencialismo de coalizão. O objetivo da segunda parte é discutir a produção e manutenção da base aliada cidista: as características do parlamento local, os indicadores legislativos, as principais lideranças e a força dos partidos. Na terceira e quarta partes, analisa-se, respectivamente, o processo orçamentário a partir do instrumento das emendas e a atuação da oposição na Assembleia. O fio condutor desse artigo é identificar e compreender como o governador Cid Gomes conseguiu produzir uma grande base aliada na Assembleia Legislativa e em quais momentos essa força sofreu abalos. O Presidencialismo de coalizão em questão Para a ciência política, a publicação do artigo pioneiro de Sérgio Abranches (1988), se mostrou um marco nos estudos Legislativos brasileiros, pois reuniu os principais elementos presentes no Congresso Nacional, traçando o que ele chamou de combinação única entre multipartidarismo, sistema proporcional de eleição e desigualdades extremas de renda, setores e regiões. Essa publicação suscitou uma série de trabalhos, confirmando ou refutando sua análise. Em linhas gerais, Abranches (1988) chama de presidencialismo de coalizão, o sistema em que o presidente concentra muitos poderes, principalmente no controle do orçamento e nomeação de milhares de cargos. Com prioridade na execução de projetos e grandes poderes através das medidas provisórias, o presidente tornou-se o maior legislador do sistema político brasileiro. Não contando, entretanto, com uma maioria absoluta nas eleições, o governo deve negociar com os I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 partidos e com os líderes regionais, visando estabelecer uma agenda, daí nascem os termos de negociação, envolvendo cargos na administração e no parlamento. Nesse modelo, o parlamento, reflexo do sistema eleitoral brasileiro, se apresenta fragmentado e com tendência particularista por parte dos deputados federais, favorecendo a constituição de crises institucionais. De lá para cá uma abundância de análises acadêmicas tentam compreender esse modelo, contemplando questões e enfoques diferentes: os poderes e prerrogativas do presidente da República (ABRANCHES, 2003), a complexa relação do Executivo com o Congresso Nacional (AMES, 2003; PEREIRA & MUELLER, 2002; FIGUEIREDO & LIMONGI, 1996 e 1994), a distribuição de cargos entre os membros da “base aliada” (REIS, 2007; AMORIM NETO, 2007; RENNÓ, 2006), o papel das lideranças partidárias na governabilidade2 (SANTOS, 2003; FIGUEIREDO, 2001). Grande parte desses estudos aponta para o progressivo avanço do “governismo” na democracia contemporânea, caracterizado, em poucas palavras, pela ampliação dos setores e partidos que passam a apoiar o grupo que está no poder, compondo grandes e heterogêneas bases aliadas (RENNÓ, 2007; REIS 2007; ABRANCHES, 2003; AMES, 2003; SANTOS, 2003). O modelo proposto inicialmente por Abranches (1988) foi duramente criticado por Argelina Figueiredo e Fernando Limongi (1995), os autores, após analisar as votações nominais em diferentes governos, afirmaram que há no Brasil, principalmente após a constituição de 1988, um alto grau de coesão partidária, prevalecendo um conjunto de dispositivos que acabam anulando os efeitos da “conexão eleitoral”, expostos no monopólio do poder de agenda por um número reduzido de esferas, como as lideranças partidárias, o Colégio de Líderes e, principalmente, o presidente da República, impondo dificuldades a qualquer tipo de aventura particularista dos deputados, evitando qualquer tipo de crise política. O sentido dessas alianças deve ser problematizado, pois quando se fala em base aliada na academia ou na imprensa, automaticamente se pensa em um grupo político-partidário homogêneo. Entende-se aqui por base aliada: a adesão de partidos políticos a uma agenda de governo no parlamento. Os termos e atores dessa aliança são inicialmente traçados no período eleitoral, mas, geralmente, ocorrem acréscimos e/ou rompimentos no decorrer do governo. Uma das formas 2. Compreende a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o equilíbrio entre as forças políticas de oposição e situação, enfim, são as condições necessárias ao exercício do poder. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 encontradas para articular apoio num parlamento tão plural foi o Colégio de Líderes3, fator que em tese diminuiria o tempo de negociação e de desgastes. Barry Ames (2003) destaca a impotência das lideranças na Câmara dos Deputados que, apesar dos seus poderes constitucionais e dos resultados das votações, predomina uma constante apelação para políticas clientelistas que compensariam à relativa fraqueza dos partidos, que está ligada à personalização da política no período eleitoral, incentivando o político a desenvolver comportamento individualista. Os estudos sobre o presidencialismo de coalizão são utilizados como referência para pensar a dinâmica institucional nos estados, tendo em vista as inúmeras similaridades entre as constituições subnacionais e a carta magna federal, os regimentos internos da Câmara dos Deputados e das Assembleias Legislativas, o sistema partidário, o formato das eleições, a estrutura de negociação. Fatores que serão problematizados ao longo dessa investigação, para saber até que ponto essa lógica pode ser percebida ou não nos estados. A grande questão que fica é: Se a nível nacional as relações entre o chefe do poder Executivo e o parlamento estão longe de serem harmônicas, marcadas por negociações, ameaças e alianças constantes, com tensões geralmente acompanhando as grandes votações, o que dizer então do cenário político nos estados? Os líderes partidários têm algum controle sobre o processo de votação Legislativa? Em que medida as emendas ao orçamento ou a alocação de recursos diretamente em projetos do governo

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