Poder, Cuecas, Marcelo E Vaias – Observador

Poder, Cuecas, Marcelo E Vaias – Observador

11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador ILHA DA MADEIRA » ALBERTO JOÃO JARDIM As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias 10 Abril 2017 Rita Tavares Rita Dinis Rui Pedro Antunes Vítor Matos http://observador.pt/especiais/as-memorias-de-jardim-poder-cuecas-marcelo-e-vaias/ 1/21 11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador Após 37 anos à frente da Madeira, é tudo sobre poder. Alberto João lança esta semana uma autobiografia com mais de 800 páginas. Fala de Marcelo, explica o episódio das cuecas, recorda uma grande vaia. Era o símbolo de um certo poder eterno que não se sabia quando ia acabar. Era o representante do maior “défice democrático” dentro da democracia portuguesa. Foi sinónimo da pior boçalidade política e corporizava um populismo ao estilo sul-americano único em território português. Mas também foi o “desenvolvimentista” da Madeira, cultor de amores e ódios, colecionador de polémicas ao longo dos 37 anos em que presidiu ao Governo Regional e ao PSD-Madeira. Começou a escrever as 845 páginas da sua sua versão da história no dia 13 de maio de 2015. Alberto João Jardim publica esta semana as suas memórias políticas com o título sugestivo de “Relatório de Combate”. Logo nas primeiras páginas do livro, o ex-presidente do Governo Regional da Madeira agradece à editora, a D. Quixote, “que não teve medo de publicar o livro, enquanto, antes, houve quem se acobardasse e cedesse a pressões depois de manifestar interesse em editar“. Não revela, porém, que se acobardou. O Observador leu parte destas longas memórias de Alberto João e conta- lhe aqui alguns dos episódios que o histórico do PSD escreve na sua autobiografia: há cuecas, há Marcelo, há bombistas da Flama e uma vaia monumental. Mas muito mais. http://observador.pt/especiais/as-memorias-de-jardim-poder-cuecas-marcelo-e-vaias/ 2/21 11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador Ao longo de 845 páginas, Alberto João conta a sua versão dos acontecimentos A foto das cuecas “foi apanha à má fé” http://observador.pt/especiais/as-memorias-de-jardim-poder-cuecas-marcelo-e-vaias/ 3/21 11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador A foto das cuecas “foi apanha à má fé” No Carnaval de 1997, o semanário Tal & Qual trazia uma capa bombástica com um título forte e uma imagem inesquecível: “Alberto João exclusivo e explosivo”. Ao alto, uma fotografia do presidente do Governo Regional da Madeira, de cuecas, a preparar-se para o desfile anual com o título: “O rei do Carnaval”. Além daqueles preparos, o trabalho aparecia como se de uma entrevista ao líder madeirense se tratasse e com frases do próprio que justificavam o “explosivo” da primeira página do jornal, tal como a famosa “Que se f… a Assembleia da República”. No Parlamento nacional, a oposição saltou em críticas, com o PCP a pedir até a saída de Alberto João Jardim do Conselho de Estado — de que era membro por inerência. O líder socialista e primeiro-ministro António Guterres mostrava um semblante chocado e dizia não querer “dizer nada” sobre o assunto — “penso que o país entenderá porque é que eu não quero dizer nada”. Já o Partido Popular tentava desdramatizar — na medida do possível — pela voz de Krus Abecassis: “Não comentamos coisas que não são sérias, nem cuecas de políticos (…) As cuecas dele são iguais às cuecas de todos os portugueses”. Nessa época, Jardim chegou a desmentir as declarações ao jornal que, por sua vez, reafirmava tudo o que o presidente do Governo Regional da Madeira dissera. Mas, no livro de memórias, Alberto João justifica-se com um desafio a quem o lê: “O Leitor coloque-se no meu lugar. Estar numa farra carnavalesca e, a despropósito, alguém lhe fala da Assembleia da República. Claro que a resposta é dada nos termos da paródia em que se está para o desfile e adequada ao absurdo dessa conversa ali”. Também recorda que o “freelancer e um fotografo” que apareceram naquela momento dos preparativos para a farra, só tinham sido “convidados a tomar qualquer coisa sob palavra de não exercerem ali qualquer atividade profissional – ingenuidade nossa”. Alberto joão http://observador.pt/especiais/as-memorias-de-jardim-poder-cuecas-marcelo-e-vaias/ 4/21 11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador escreve: “Qual não é a minha surpresa quando uma manhã, dias depois, estando no Porto – fui a um jantar do PSD em Aveiro –, vejo o jocoso transformado em ‘entrevista’ política e uma foto minha, em cuecas, a vestir-me para o corso, foto que se via apanhada à falsa fé”. Um momento que Jardim descreve ter feito nascer “mais um ‘drama’ que meteu o Parlamento Nacional, com os cínicos a atribuírem circunstâncias normais ao contexto em que tudo decorrera”. A maior vaia da vida de Alberto João e uma faca O momento presidente-do-Governo-em-cuecas surgia numa fase de fragilidade interna para Alberto João que assume isso mesmo no livro, como se parte de um plano nacional para o fragilizar se tratasse. É nesta altura, em 1997, quando “não estava fácil”, que recorda como teve a “maior vaia” da sua vida política “e por causa do… futebol”. O líder madeirense defendia a fusão dos grandes clubes da região, o Marítimo, o Nacional e o União da Madeira. Juntou os presidentes dos três clubes à mesa na Quinta Vigia e apresentou-lhes o seu projeto de uma SAD a três, onde o Marítimo seria uma espécie de cabeça de cartaz. Mas Jardim desconfiava do presidente do Marítimo, Rui Fontes, que descreve como “o ex-Secretário Regional Rui Fontes, que nunca aceitara bem a normalidade de os cargos políticos terem o seu limite de tempo”. Justificou-se, porque dias depois do princípio de acordo firmado na Vigia, foi avisado para “um grande levantamento popular, como que a iminência de uma revolução” no jogo do Marítimo a que iria assistir. “Durante os primeiros 45 minutos, sentado na tribuna, fui permanentemente vaiado, apupado e insultado”. No dia seguinte, foi informado pela polícia que tinham encontrado um homem perto de si com “uma arma branca” e quando viu as fotografias das suas “imediações”, disse que lá viu “até um preso com saída precária nesse fim-de-semana”. O acordo não foi para a frente: “Eu fiz o que tinha a fazer, depois os Madeirenses que não se queixem!…” Como Marcelo preparou o aparecimento espontâneo no congresso de 2014 (e não só) http://observador.pt/especiais/as-memorias-de-jardim-poder-cuecas-marcelo-e-vaias/ 5/21 11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador congresso de 2014 (e não só) Marcelo Rebelo de Sousa entrou pelo Coliseu dos Recreios adentro, cumprimentou a primeira fila dos figurões do PSD ali reunidos num Congresso ensonado (pouco havia para dizer a fevereiro de 2014, na última reunião antes das europeias e das legislativas), pôs a sala num frenesim à espera de um discurso arrebatador e talvez um sinal para as Presidenciais de 2016. A subida ao palco correspondeu em parte às expectativas de um partido animado subitamente por aquela entrada de rompante, que o próprio explicou então que tinha sido decidida a bordo do avião que o trouxe da Madeira nessa tarde. “Estive com o Alberto João Jardim e perguntei: acha que vá? E vim todo o avião a pensar: Vou ou não vou?”. A narrativa era boa, mas na verdade a espontaneidade requereu trabalho de programação. No seu livro, Alberto João Jardim conta que, nesse sábado, Marcelo Rebelo de Sousa estava em sua casa, na Madeira, mas mal engoliu a espetada de milho frito que a família Jardim tinha preparado, Alberto João teve de o ir levar ao aeroporto: “Ele queria ir à reunião nacional do PSD”. Nesses dias, Jardim tinha preparado o I Congresso das Instituições Particulares de Solidariedade Social e Misericórdias da Madeira, com Marcelo como convidado especial que lá esteve a discursar, mas a ideia que tinha era regressar a Lisboa a tempo de falar no púlpito do Coliseu. http://observador.pt/especiais/as-memorias-de-jardim-poder-cuecas-marcelo-e-vaias/ 6/21 11/04/2017 As memórias de Jardim: poder, cuecas, Marcelo e vaias – Observador "Nesse fim-de-semana, decorria em Lisboa o Congresso Nacional do PSD. Deu-nos o prazer e a honra de almoçar com a minha família, uma refei- ção tipicamente madeirense, que ele adora. Expliquei-lhe as razões da minha não ida ao Congresso mas, logo a seguir à espetada com milho frito, fui pô-lo ao aeroporto, pois ele queria ir à reunião magna nacional do PSD. Vi-o preparar a logística pelo telefone, particularmente atento a Pedro Santana Lopes" Jardim revela até como viu Marcelo preparar a suposta entrada surpresa pelo telefone e “particularmente atento a Pedro Santana Lopes“, o nome social-democrata de que também se falava para uma candidatura presidencial. Depois conta como assistiu, pela televisão a partir do Funchal, “a um dos mais brilhantes discursos” que lhe ouviu. “Com que classe é possível brincar ao gato e ao rato!”. A admiração política por Marcelo salta à vista da auto-biografia do histórico líder madeirense, é diversas vezes referida no livro e nos contextos mais diversos. Um exemplo? Cenário: A festa do Chão da Lagoa. Alberto João sublinha como Marcelo foi o único líder do PSD a ir lá por duas vezes e como se movia à vontade, fintando excessos na corrida pelas tasquinhas típicas. ” Falava, pulava e dançava com toda a gente, como se aquilo fosse o seu dia-a-dia.

View Full Text

Details

  • File Type
    pdf
  • Upload Time
    -
  • Content Languages
    English
  • Upload User
    Anonymous/Not logged-in
  • File Pages
    21 Page
  • File Size
    -

Download

Channel Download Status
Express Download Enable

Copyright

We respect the copyrights and intellectual property rights of all users. All uploaded documents are either original works of the uploader or authorized works of the rightful owners.

  • Not to be reproduced or distributed without explicit permission.
  • Not used for commercial purposes outside of approved use cases.
  • Not used to infringe on the rights of the original creators.
  • If you believe any content infringes your copyright, please contact us immediately.

Support

For help with questions, suggestions, or problems, please contact us