Novas Ocorrências E Registros Notáveis Sobre Distribuição De Aves Em Santa Catarina, Sul Do Brasil

Novas Ocorrências E Registros Notáveis Sobre Distribuição De Aves Em Santa Catarina, Sul Do Brasil

Biotemas, 21 (1): 85-93, março de 2008 85 ISSN 0103 – 1643 Novas ocorrências e registros notáveis sobre distribuição de aves em Santa Catarina, sul do Brasil Iury Almeida Accordi1,2* André Barcellos2 1Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Av. Bento Gonçalves, 9500, Prédio 43422, 91540-000, Porto Alegre – RS, Brasil 2Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos – CBRO http://www.cbro.org.br *Autor para correspondência [email protected] Submetido em 08/02/2007 Aceito para publicação em 21/09/2007 Resumo A maior parte dos trabalhos ornitológicos realizados em Santa Catarina se concentra na metade leste do estado, enquanto no centro-oeste praticamente inexistem informações publicadas. Entre março 2000 e maio 2002 foi realizado um inventário da avifauna nas áreas de infl uência das usinas hidrelétricas de Machadinho e de Barra Grande, ao longo da margem catarinense dos rios Uruguai e Pelotas. Realizaram-se amostragens ad libitum, contagens em pontos de escuta e capturas com redes de neblina. O presente trabalho registrou setenta e dois registros notáveis para o território catarinense, sendo duas novas ocorrências (Cypseloides senex e Proca- cicus solitarius), três que se baseavam apenas em informações bibliográfi cas de cunho geral (Amazona pretrei, Ramphastos toco e Capsiempis fl aveola), quatro que foram registradas pela primeira vez nos últimos 40 anos (Megascops sanctaecatarinae, Macropsalis forcipata, Phyllomyias virescens e Corytops delalandi) e outras sessenta e três espécies citadas pela primeira vez para o vale do rio Uruguai em sua porção leste. Unitermos: Santa Catarina, distribuição, ocorrência, aves Abstract New occurrences and noteworthy records on distribution of birds in Santa Catarina, southern Brazil. Most ornithological fi eldworks in the state of Santa Catarina concentrate on the eastern half of state, while the middle-west lacks information. Between March 2000 and May 2002 a bird inventory was made in the infl uence areas of the hydroelectric power plants of Machadinho and Barra Grande, along the right banks of the Uruguai and Pelotas rivers, on Santa Catarina State territory. We carried out ad libitum surveys, point count sampling, and capture with mist nets. We present seventy-two noteworthy records for Santa Catarina, including three new occurrences for the state (Cypseloides senex, Polioptila dumicola e Procacicus solitarius), three species whose available information was only in general bibliography (Amazona pretrei, Ramphastos toco e Capsiempis fl aveola), four whose records are the fi rst in the last 40 years (Megascops sanctaecatarinae, Macropsalis forcipata Phyllomyias virescens e Corytops delalandi), and 63 species fi rst cited for the eastern section of the Uruguai river valley. Key words: Santa Catarina, distribution, occurrence, birds Revista Biotemas, 21 (1), março de 2008 86 I. A. Accordi e A. Barcellos Introdução trico (AHE) Barra Grande, por sua vez, se estende pelo rio Pelotas até 28°21’S, 50°37’W no município de La- As compilações de registros ornitológicos para ges (Figuras 1 e 2). A UHE Machadinho e o AHE Barra Santa Catarina se iniciaram com Sick et al. (1979 e 1981) Grande ocupam uma extensão de cerca de 224 km do e culminaram com a obra de Rosário (1996). Posterior- rio Pelotas, abrangendo os municípios catarinenses de mente, vários outros autores acrescentaram novos regis- Piratuba, Capinzal, Zortéa, Celso Ramos, Anita Gari- tros para o estado (Bencke e Bencke, 2000; Naka et al, baldi, Cerro Negro, Campo Belo do Sul, Capão Alto e 2000 e 2001; Pacheco e Laps, 2001; Ghizoni-Jr., 2004; Lages. A UHE Machadinho se estende ainda por cerca Azevedo e Ghizoni-Jr., 2005 e Piacentini et al., 2005). de 18 km no rio Canoas, abrangendo os municípios ca- A maioria dos trabalhos realizados em Santa Catarina, tarinenses de Celso Ramos e Campos Novos. porém, concentrou-se na metade leste do estado, porção que engloba os ambientes oceânicos e costeiros; a Mata Os vales nessa região são encaixados, formando Atlântica (fl oresta ombrófi la densa) em seu gradiente al- cânions de larguras variáveis e desníveis de até 400m titudinal até o alto da Serra do Mar e a parte oriental do entre o alto do planalto e o leito dos rios. A vegeta- Planalto das Araucárias (fl oresta ombrófi la mista e cam- ção original é formada por Floresta Estacional Decidu- pos ou savanas). Na porção centro-oeste de Santa Cata- al (Mata do Alto Uruguai) que se apresenta como um rina, caracterizada pela parte ocidental do Planalto das prolongamento das extensas manchas fl orestais do nor- Araucárias e uma estreita faixa sob domínio da Floresta deste da Argentina (Misiones), noroeste do Rio Grande do Alto Uruguai (fl oresta estacional decidual), pratica- do Sul e sudoeste de Santa Catarina na forma de uma mente inexistem informações ornitológicas. estreita faixa acompanhando os vales dos rios Uruguai, Pelotas, Canoas e seus principais afl uentes. No topo do No presente trabalho são apresentadas informa- planalto a cobertura vegetal original alterna áreas de ções sobre a ocorrência de 72 espécies na margem ca- Floresta Ombrófi la Mista (Floresta com Araucária) e tarinense dos vales dos rios Uruguai e Pelotas e cam- Savana (Campo). pos adjacentes do alto do planalto, sendo dois novos registros para o estado; quatro espécies cujo registro O processo de ocupação da região alterou dras- para Santa Catarina se baseava em informações biblio- ticamente a paisagem, reduzindo a vegetação fl ores- gráfi cas de cunho geral; três espécies que não são re- tal a escassos remanescentes primários nas encostas gistradas no estado há mais de 40 anos e 63 espécies mais íngremes dos vales e a vegetação secundária em que foram registradas pela primeira vez no vale do rio regeneração em porções mais extensas dos mesmos e Uruguai em sua porção leste. também no alto do planalto. Áreas de campo cederam espaço para cultivos agrícolas e os remanescentes so- frem a ação de pastejo e queimadas periódicas. Campos Material e Métodos antropizados se formaram em áreas anteriormente fl o- restadas, tanto no planalto como nos vales. Área de estudo As localidades onde os registros foram efetuados A área de estudo abrange a porção catarinense são mostradas nas fi guras 1 e 2 e são descritas abaixo, das áreas de infl uência das barragens de Machadinho e seguidas dos acrônimos que serão utilizados no relato Barra Grande, cujos lagos se estendem pelos rios Uru- das espécies. guai, Canoas e Pelotas. A barragem da Usina Hidrelé- 1) Ponte da BR-116 (BR) (28°12’S, 50°45’W). Vale trica (UHE) Machadinho se localiza no município de do rio Uruguai na divisa dos municípios de Vacaria Piratuba (27°30’S, 51°47’W), e seu lago se estende até (RS) e Lages (SC). A encosta apresenta áreas alte- o início da barragem de Barra Grande no município de radas com cultivos agrícolas, refl orestamento com Anita Garibaldi (27°46’S, 51°13’W), no rio Pelotas, e eucalipto (Eucalyptus spp.), campo antropizado e 27°35’S, 51°19’W, municípios de Celso Ramos e Cam- fl oresta secundária. pos Novos no rio Canoas. O Aproveitamento Hidrelé- Revista Biotemas, 21 (1), março de 2008 Registros novos e notáveis de aves em Santa Catarina 87 FIGURA 1: Seta indica fi nal do lago da barragem do AHE Barra Grande. 1, Ponte da BR 116, entre Vacaria e Lages; 6, Fazenda Guamirim- Gateados, junto à foz do rio Vacas Gordas. FIGURA 2: Setas indicam, da esquerda para a direita: barragem da UHE Machadinho, fi nal do lago da UHE Machadinho no rio Canoas e fi nal do mesmo lago no rio Pelotas. 2, AHE Barra Grande; 3, Linha Concórdia; 4, Campos Novos; 5, Balsa Anita Garibaldi; 7, Volta Grande, 8, Linha Barro Branco; 9, Linha Pouso Alto. Revista Biotemas, 21 (1), março de 2008 88 I. A. Accordi e A. Barcellos 2) AHE Barra Grande (BG) (27°46’S, 51°13’W). Mu- de corredores estreitos de fl oresta secundária em di- nicípio de Anita Garibaldi, adjacências do canteiro versos estágios de sucessão. de obras do AHE Barra Grande. O vale do rio Pe- 8) Linha Barro Branco (BB) (27°30’S, 51°39’W). Mu- lotas apresenta manchas fl orestais secundárias (al- nicípio de Capinzal. Remanescente de Floresta Es- gumas em bom estado de conservação) e campos tacional Decidual no vale do rio Uruguai com cerca antropizados (inclusive áreas desmatadas para a ins- de 680 ha, margeado por cultivos agrícolas, campo talação do canteiro de obras da barragem). A bor- antrópico e fl orestamento com pinheiro (Pinus sp.). da do vale e a continuação do planalto apresentam extensões de campo que sofrem ação de pastoreio, 9) Linha Pouso Alto (PA) (27°34’S, 51°34’W). Muni- capões de fl oresta com araucárias, remanescentes cípio de Zortéa. Remanescente de Floresta Estacio- fl orestais (essencialmente fl orestas secundárias em nal Decidual ao longo do vale do rio Uruguai, alter- diversos estágios de regeneração) e áreas úmidas nado com Floresta Estacional Decidual em estágio (rios, córregos, banhados). secundário e campos antrópicos. 3) Linha Concórdia (LC) (27°28’S, 51°46’W). Muni- Metodologia cípio de Piratuba. Remanescente fl orestal com cerca de 640 ha em bom estado de conservação que cobre Os registros foram realizados durante quatro ati- o vale do rio Uruguai e uma porção ondulada da vidades distintas: o acompanhamento do desmatamen- borda do planalto; cercado por campos antropizados to da área a ser alagada da UHE Machadinho, de março e nativos, cultivos de subsistência e pequenas man- de 2000 a maio de 2001; o monitoramento da fauna da chas de fl orestas secundárias. área de infl uência da mesma usina, de janeiro a dezem- 4) Campos Novos (CN) (27°35’S, 51°28’W). Muni- bro de 2001; a complementação do Estudo de Impacto cípio homônimo.

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