O teatro do contador de histórias de Tahar Ben Jelloun por Luciana Persice Nogueira Tese de Doutorado em Língua Francesa e Literaturas de Língua Francesa apresentada à Coordenação de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: Professor Doutor Edson Rosa da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 1º semestre de 2001 2 DEFESA DE TESE NOGUEIRA, Luciana Persice. O teatro do contador de histórias de Tahar Ben Jelloun. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras, 2001. Tese de Doutorado em Letras Neolatinas, 250 fls. BANCA EXAMINADORA 1. ________________________________________________________________ Professor Doutor Edson Rosa da Silva (Orientador) 2. ________________________________________________________________ Professora Doutora Vera Lucia Soares 3. ________________________________________________________________ Professora Doutora Eurídice Figueiredo 4. ________________________________________________________________ Professora Doutora Eneida Maria de Souza 5. ________________________________________________________________ Professor Doutor Marcelo Jacques de Moraes 6. ________________________________________________________________ Professora Doutora Telma Martins Boudou (Suplente) 7. ________________________________________________________________ Professor Doutor Julio Aldinger Dalloz (Suplente) Defendida a tese: Conceito: Rio de Janeiro, 29 de junho de 2001. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq a bolsa de estudos que me permitiu realizar o curso de Doutorado, e à CAPES, a bolsa sanduíche que me levou à França e aos textos de que precisava. Agradeço ao Professor Charles Bonn o apoio e a orientação prestados com entusiasmo e fidalguia durante minha estada em Lyon. Agradeço ao Professor Najib Redouane seus interesse, empenho, bondade e humor, o envio de material publicado sobre Ben Jelloun no Canadá, e o encontro num café em Lyon. Agradeço ao Professor Robert Harvey a conversa e o vinho em Paris, e o material enviado dos Estados Unidos. Agradeço a Marília Alonso que, da Bélgica, atendeu à minha solicitação de artigos publicados na imprensa local. Agradeço à Professora Carlinda Fragale Pate Nuñes a leitura pontual e a expressão de amizade. Agradeço, também, a outros amigos, colegas ou professores, que indicaram ou forneceram textos que pudessem vir a ser de interesse, pelo senso ético e solidário: Ligia Vassallo e a pletora de livros colocados à disposição; Eclair Antonio de Almeida e os artigos de Arrigucci; Pedro Paulo Catharina e o apoio epistolar ao longo do estágio na França, além da acolhida em Paris e das tardes cansativas de pesquisa na Biblioteca de Sainte Geneviève... Pessoas que resgatam o sentido primeiro da Universidade e que opõem sua prática ao discurso que a reduz a mercado. Agradeço ao Professor Orientador Edson Rosa da Silva, por tudo. Acrescento à litania de agradecimentos os contadores de histórias de minha infância: Leslie, Ignez e Ludma. A Ruth Persice Nogueira e Leslie Tosta Nogueira 4 SINOPSE Análise dos romances L’Enfant de sable, La Nuit sacrée e La Nuit de l’erreur, de Tahar Ben Jelloun, como palco da teatralidade do narrador-contador. Suas relações com o coro, a máscara, a comédia, a tragédia e a paródia. Pluralidade dialógica e narrativa: culturas e tradições, passado e presente. Oralidade e escritura. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO – OLHAR DE ORFEU............................................... pg.008 1.1 O escritor, a violência e o ofício de mediador............................pg.008 1.2 O terror – território do contador................................................pg.019 1.3 O teatro e a teatralidade...............................................................pg.029 2 O CONTADOR DE HISTÓRIAS........................................................... pg.035 2.1 Os contadores de Ben Jelloun......................................................pg.046 2.1.1 – L’Enfant de sable................................................................ pg.054 2.1.2 – La Nuit sacrée..................................................................... pg.064 2.1.3 – La Nuit de l’erreur.............................................................. pg.073 2.2 Loucos, cegos, presos e manetas..................................................pg.082 2.3 O teatro da praça.......................................................................... pg.092 2.4 Os palimpsestos do contador.......................................................pg.105 2.4.1 – Incerto Oriente.................................................................... pg.107 2.4.2 – Um certo Ocidente.............................................................. pg.118 2.4.3 – Borges por horizonte........................................................... pg.126 2.5 O nascimento da tragédia do contador....................................... pg.135 2.5.1 – La Fiancée de l’eau – o coro.............................................. pg.137 2.5.2 – Zahir e bateno – a máscara................................................. pg.142 2.5.3 – “O outro Borges” – a comédia............................................ pg.161 2.5.4 – Apolo, Dioniso e Zaratustra – a tragédia e a paródia.......... pg.171 2.5.5 – O olhar de Orfeu.................................................................. pg.190 6 3 CONCLUSÃO – ASSIM FALOU BOUCHAÏB....................................pg.200 4 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................pg.207 I TEXTOS DE TAHAR BEN JELLOUN Entrevistas e depoimentos............................................................... pg.208 Artigos de caráter jornalístico e ensaios.......................................... pg.210 Prosa, poesia e teatro....................................................................... pg.211 II BIBLIOGRAFIA RELATIVA A TAHAR BEN JELLOUN E ÀS LITERATURAS FRANCÓFONA E MAGREBINA .......................pg.214 Teses e dissertações......................................................................... pg.232 III BIBLIOGRAFIA GERAL............................................................... pg.235 5 ANEXO – Lista dos livros de Ben Jelloun...............................................pg.246 7 Il semblerait que le peu qu’il reste aux Occidentaux d’oralité, celui contenu dans la catéchèse, est la participation (de mon temps encore en latin) aux cultes, enfantins, familiaux et communautaires. Or, c’est à mon sens, ce reste d’oralité profondément enfoui, sinon oublié, qui est avant tout l’instance première fondant l’identité linguistique et culturelle de la communauté, à travers l’appartenance religieuse ou l’apprentissage plus ou moins développé des mythes, des fables, des proverbes, des contes et des comptines pour ceux qui ont eu la chance d’avoir des grand-mères; c’est bien cette instance première qui rattache l’individu aux structures imaginaires de son groupe d’origine quels que soient par ailleurs leurs contenus, rétrogrades ou actualisés. L’invitation au voyage remonte ainsi aux premières modulations d’une voix vibrante et chaude, voix maternelle, voix féminine secrétant désirs et interdits. L’invitation au voyage est toujours une vision para-onirique qui réalise l’équilibre entre le régime de pensée fabulatoire et la réalité propre à inculquer les schémas et les catégories cognitifs. Il s’agit bien d’une giration à l’infini d’une histoire qui n’en finit pas. Bruno Etienne. “Ecritures saintes, désert, monotéïsme et imaginaire”, p. 146 8 1 INTRODUÇÃO No contexto da literatura magrebina francófona, o escritor marroquino Tahar Ben Jelloun destaca-se como um dos mais proeminentes intelectuais de sua geração. Essa proeminência se verifica por seu status de porta-voz do imigrante magrebino na França e se estende a seu papel de contador de histórias: ele conta, em seus romances, histórias onde se misturam tradições culturais magrebinas e a atualidade sócio-política do imigrante. Essa mistura faz da escritura de Ben Jelloun um amálgama de tendências e heranças. E seu papel de contador de histórias coloca-o na confluência entre os tempos passado, presente e futuro. Sobre esse contar, declara: J’adore raconter des histoires. C’est un métier et une passion. [...] Le principe littéraire le plus fondamental de tous les temps, c’est celui des Mille et une nuits. Raconte-moi une histoire ou je te tue... Nous sommes condamnés à raconter des histoires sous peine de disparition. Et une société sans romanciers, sans créateurs, sans raconteurs d’histoires, est une société déjà morte. (“Tahar Ben Jelloun. Deux cultures, une littérature”. BEN JELLOUN 1995a: 111) Identificado com o ofício milenar do contador, Ben Jelloun se incumbe de vitalizar a memória de sua cultura, realizando o que considera ser missão do intelectual contemporâneo. Espécie de Sherazade moderna, ciente do poder de vida e morte das palavras, sustenta que o processo de contar histórias é condição para a preservação da identidade e dos costumes magrebinos. Daí firmar-se como porta-voz do imigrante, tanto na França, quanto no Magrebe, ao longo de sua carreira. 1.1 O escritor, a violência e o ofício de mediador língua; terrorismo da escritura; escritor não-engajado, testemunha e mediador Tahar Ben Jelloun, escritor marroquino nascido em Fes (1944), desembarca em Paris em 1971 para realizar um doutorado em psiquiatria social. Antes de partir do 9 Marrocos, já editara dois livros de poesia, e escrevera para uma revista especializada em literatura, Souffles au Maroc, sobre arte e cinema. Ao terminar sua tese sobre “A miséria sexual do imigrante magrebino” (1973), consegue editar
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages250 Page
-
File Size-