O BRASIL É ASA BRANCA: IMAGENS DO ESPAÇO NACIONAL NA TELENOVELA ROQUE SANTEIRO DE DIAS GOMES (1985) LEONARDO CRUZ PESSOA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA E ESPAÇO LINHA DE PESQUISA: LINGUAGENS, IDENTIDADES & ESPACIALIDADES O BRASIL É ASA BRANCA: IMAGENS DO ESPAÇO NACIONAL NA TELENOVELA ROQUE SANTEIRO DE DIAS GOMES (1985) LEONARDO CRUZ PESSOA NATAL, JULHO DE 2019. LEONARDO CRUZ PESSOA O BRASIL É ASA BRANCA: IMAGENS DO ESPAÇO NACIONAL NA TELENOVELA ROQUE SANTEIRO DE DIAS GOMES (1985) Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História, Área de Concentração em História e Espaços, Linha de Pesquisa: Linguagens, Identidades e Espacialidades, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação do Prof. Dr Durval Muniz de Albuquerque Júnior. NATAL, JULHO DE 2019 LEONARDO CRUZ PESSOA O BRASIL É ASA BRANCA: IMAGENS DO ESPAÇO NACIONAL NA TELENOVELA ROQUE SANTEIRO DE DIAS GOMES (1985) Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela comissão formada pelos professores: ____________________________________________ Prof. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Junior ( UFRN) __________________________________ Prof. Dra. Meize Regina de Lucena Lucas ______________________________________________ Prof. Dr. Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior ____________________________________ Prof. Dr. Raimundo Nonato Araújo da Rocha Natal,_______ de____________________ de__________ AGRADECIMENTOS Foram muitas as pessoas que passaram pela minha vida nessa trajetória do mestrado deixando, de alguma forma, suas contribuições. Quero agradecer primeiramente a meus pais, Olavo e Terezinha, pois nada do que ocorreu de bom na minha vida teria sido possível sem eles. Foram o amor e o apoio em todas as formas possíveis. Sou grato ao professor Durval Muniz pela orientação, paciência e sensibilidade que a todo momento emanou de sua personalidade durantes nossas reuniões e nas orientações a distância. Sempre um mar de tranquilidade e conhecimento, onde pude encontrar a calma para escrever, inclusive, nos momentos de ansiedade. Quero agradecer também aos amigos da turma 2017.1 e aos frequentadores da sala 812, que foram fundamentais para atravessar os momentos mais pesados com toda a leveza, cumplicidade, café e almoço: Thais, Janaína, Magda, Arthur, Malu, Sérgio, Giovanni, Luana, Jéssica, Jeffinho e Leandro. Não poderia esquecer Gabriela, amiga, companheira de luta e irmã que me orientou na elaboração do projeto e há dez anos vem fazendo parte da minha vida, parceria nos altos e baixos. Ao professor André Martinello que veio de Santa Catarina para contribuir com nossa turma. Com certeza, foi fundamental para minha escrita, um exemplo de humanidade e de professor. Por último, mas não menos importante, quero agradecer a todos que fazem o samba no Beco da Lama, pelo preenchimento de cultura e alegria durante o processo da escrita, proporcionando um escape entre as tensões da caminhada. Muitos anos de vida para o samba no beco. RESUMO Esta dissertação tem como objeto de pesquisa a telenovela Roque Santeiro, exibida em 1985 pela Rede Globo, considerada um dos maiores fenômenos de audiência da televisão brasileira. Tomando como ponto de partida a trajetória de vida e obra do seu principal autor Dias Gomes, o objetivo é analisar como a telenovela narrou, a partir de sua narrativa, personagens típicos, diálogos e uma série de outros elementos, uma imagem do Brasil como espaço nacional, ressaltando-a como um produto televisivo propício para difusão imagético- discursiva de uma ideia de nação, direcionada a uma comunidade imaginada, de acordo com o conceito elaborado por Benedict Anderson. Para isso, será necessário compreender a atmosfera política e cultural na qual estava inserido Dias Gomes, entre as décadas de 1950 e a primeira metade da década de 1960 quando, filiado ao Partido Comunista Brasileiro, aproximou-se da geração de artistas e intelectuais de esquerda que pensavam suas produções culturais a partir de um viés nacionalista e popular, procurando visibilizar o que seria a “essência nacional” através da arte engajada e revolucionária. Partindo dessa relação entre autor e obra, utilizaremos como fontes peças teatrais escritas por Dias Gomes, a autobiografia do autor, manifestos de movimentos culturais como os Centros Populares de Cultura e o Cinema Novo, impressos de revistas e jornais, a sinopse original de Roque Santeiro e a própria telenovela que foi ao ar em 1985, para entendermos a brasilidade apresentada por Roque Santeiro e o porquê de tamanha identificação do imaginário nacional com a telenovela. Palavras-Chave: Dias Gomes; Roque Santeiro; comunidade imaginada. RESUMEN: Esta disertácion tiene como objeto de investigación la telenovela Roque Santeiro, emitida em 1985 por Rede Globo, considerada uno de los fenómenos de mayor audiencia de la televisión brasileña. Tomando como punto de partida la trayectoria de vida y trabajo de su autor principal, Dias Gomes, el objetivo es analisar cómo se construye la telenovela, a partir de su narrativa, los personajes típicos, los diálogos e una série de outros elementos, una cierta imagen de Brasil como espacio nacional, enfatizándolo como un producto televisivo conducente a la difusión imaginaria discursiva de una idea de nación, dirigida a una comunidad imaginada, de acuerdo con el concepto elaborado por Benedict Anderson. Para esto, será necesario compreender el ambiente político y cultural en el que se insertó Dias Gomes, entre la década de 1950 y la primera mitad de la década de 1960 cuando, afiliado al Partido Comunista Brasileño, se acercó a la generación de artistas e intelectuales de izquierda quienes pensaron sus producciones culturales desde un sesgo nacionalista y popular, buscando hacer visible lo que sería la “esencia nacional” a través del arte comprometido e revolucionario. Partiendo de esta relación entre autor y obra, utilizaremos como fuentes piezas de teatro escritas por Dias Gomes, la autobiografia del autor, manifestaciones de movimientos culturales como los Centro Populares de Cultura e Cinema Novo, impresos em revistas e periódicos, la sinopsis original de Roque Santeiro e la telenovela que se emitió em 1985, para compreender el carácter brasilenõ presentado por Roque Santeiro e por qué tal identificación de la imaginación nacional con la telenovela. Palabras clave: Dias Gomes; Roque Santeiro; Comunidad imaginada. Sumário INTRODUÇÃO........................................................................................................................10 CAPÍTULO 1: A TRAJETÓRIA DE DIAS GOMES: CAMINHOS DE UM “SUBVERSIVO” PELO NACIONAL-POPULAR .................................................................24 1.1. Forças nacionalistas e o debate do nacional na década de 1950........................................24 1.2. Arte e política na vida de Dias Gomes...............................................................................30 1. 3. O nacional-popular na trajetória de Dias Gomes..............................................................39 CAPÍTULO 2 – A CULTURA NACIONAL CENSURADA? A PELEJA DE ROQUE SANTEIRO COM A CENSURA DO REGIME MILITAR ....................................................54 2.1. O nacional-popular integrado: cultura, televisão e o governo militar pós-64..................54 2.2. A peleja de Roque Santeiro com o regime militar: a cultura nacional em disputa............74 CAPÍTULO 3 – O ESPAÇO NACIONAL ASABRANQUENSE DE ROQUE SANTEIRO..............................................................................................................................91 3.1. Telenovela como “comunidade imaginada”.....................................................................91 3.2. O Brasil é Asa Branca: Roque Santeiro, a “Nova República” e a “Carnavalização”.....................................................................................................................98 3.3. Roque Santeiro entre o arcaico e o moderno..................................................................112. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................127 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES................................................................131 10 INTRODUÇÃO Através da tela da TV, a cidade tipicamente interiorana saiu do escuro e mergulhou no dia, era o início de uma série de imagens. Neste momento de transição do céu, com sua cor ainda meia-noite, meio-dia, enquanto sobe o sol, surgiu a figura emblemática do galo a cantar, clássico marcador do tempo na representação do mundo rural. Uma visão panorâmica com o distanciamento da câmera, exibiu de cima a cidadezinha rodeada de serras, como uma mancha urbana salpicada pela natureza. Aos poucos surgiam imagens das ruas da cidade e suas rotineiras movimentações. Numa visão meio recuada, um homem numa carroça margeou a praça, enquanto outro a cavalo, também se aproximava. Uma pessoa, talvez um funcionário da prefeitura, varria o chão da praça, enquanto dois bancos esperavam vazios. As ruas de pedra e suas casas continuavam surgindo. Ao fundo, numa casa de esquina, a bandeira do Brasil pendurada para fora da varanda. O complexo espacial praça-igreja apareceu, revelando um traço recorrente nas cidades do interior do país.
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