CAMILA CESCHIN MELFI MENEGHINI O MAL BRANCO DE JOSÉ SARAMAGO NA TELA DE FERNANDO MEIRELLES: A ADAPTAÇÃO FÍLMICA DE ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA CURITIBA 2010 CAMILA CESCHIN MELFI MENEGHINI O MAL BRANCO DE JOSÉ SARAMAGO NA TELA DE FERNANDO MEIRELLES: A ADAPTAÇÃO FÍLMICA DE ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do Grau de Mestre ao Curso de Mestrado em Teoria Literária do Centro Universitário Campos de Andrade – UNIANDRADE. Orientadora: Prof a Dr a Brunilda Reichmann CURITIBA 2010 SUMÁRIO RESUMO ....................................................................................................................... ... V ABSTRACT ................................................................................................................... ... VI INTRODUÇÃO .............................................................................................................. ... 1 1 DO TEXTO LITERÁRIO AO FILME: O HORIZONTE DE EXPECTATIVAS DO LEITOR / EXPECTADOR ............................................................................................ 14 1.1 ESTÉTICA DA RECEPÇÃO: AS TESES DE HANS ROBERT JAUSS ......................... 14 1.2 AS TESES DE JAUSS E ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA E BLINDNESS ................ ... 19 1.2.1 A narrativa literária de José Saramago ............................................................ ... 19 1.2.2 A recepção do romance ..................................................................................... ... 22 1.2.3 Ensaio sobre a cegueira e o contexto sócio-cultural contemporâneo ........... ... 29 1.2.4 A recepção da adaptação fílmica de Fernando Meirelles ................................. ... 32 2 TEORIAS DA ADAPTAÇÃO: NOVOS OLHARES ..................................................... ... 37 2.1 ADAPTAÇÃO ENQUANTO PROCESSO CRIATIVO E A VELHA QUESTÃO DA FIDELIDADE ............................................................................................................ ... 41 3 A RECRIAÇÃO FÍLMICA DE FERNANDO MEIRELLES ........................................... ... 50 3.1 OS POSTS DO BLOG DE BLINDNESS .................................................................. ... 50 3.2 PONTOS DE ESCUTA E PONTOS DE VISTA EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA .... 59 3.2.1 A paisagem sonora da cegueira ........................................................................ ... 61 3.2.2 A paisagem visual da cegueira .......................................................................... ... 70 3.3 A PICTURALIDADE NAS OBRAS DE SARAMAGO E MEIRELLES ......................... ... 89 3.3.1 A descrição pictural em Saramago .................................................................... ... 89 3.3.2 Intermidialidade: a imagem e a busca da significação em Meirelles .............. ...101 4 CEGUEIRA, UM ENSAIO : VISÃO ALÉM DOS BASTIDORES .................................. ...111 4.1 IMAGENS E RELATOS – SOBRE MÚLTIPLOS OLHARES .................................... ...112 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... ...120 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. ...126 ANEXO A: NOTAS DE PRODUÇÃO/FICHA TÉCNICA DO FILME ............................. ...129 ANEXO B: AUTORIZAÇÃO DE CESSÃO DE IMAGEM ................................................ ...157 ANEXO C: POSTS DO BLOG DE BLINDNESS ............................................................ ...158 RESUMO Este trabalho tem como objetivo a análise do romance Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, e de sua adaptação fílmica, intitulada Blindness (2008), dirigida por Fernando Meirelles. Saramago publica em 1997, dois anos depois da publicação do romance, a obra Cadernos de Lanzarote , diário que relata, entre outros assuntos, o processo de escrita de Ensaio sobre a cegueira . Mais de dez anos depois, quando a obra é adaptada para o cinema, com roteiro de Don McKellar, o diretor também registra o processo de realização do filme através de um blog pessoal, intitulado Blog de Blindness . Dessa forma, os registros de ambos proporcionam ao leitor/espectador um olhar sobre os processos de criação das obras. A análise realizada no presente trabalho parte da gênese do romance em direção à adaptação fílmica, evidenciando os processos de mudanças e reinvenção que caracterizam as obras. O primeiro capítulo focaliza a recepção da obra literária e da adaptação fílmica, a partir das considerações teóricas de Hans Robert Jauss. A adaptação fílmica e o processo criativo que a envolve é problematizada no capítulo dois, respaldada pelos estudos contemporâneos de Linda Hutcheon, Robert Stam e Brian McFarlane. No capítulo três, destacam-se diversos aspectos da recriação fílmica, que evidenciam de que maneira ocorre a ressignificação do texto fonte de Saramago. No último capítulo, apresenta-se a obra Cegueira, um ensaio , também de Fernando Meirelles, livro publicado em outubro deste, dois anos após o lançamento do filme. Essa obra inclui entrevistas e depoimentos da equipe de produção, materiais que demonstram a preocupação estética de Meirelles na produção fílmica e revelam o caráter reflexivo e transformador de sua recriação. Palavras-chave: Romance. Adaptação fílmica. Paisagem visual. Paisagem sonora. Picturalidade. V ABSTRACT The objective of this study is the analysis of the novel Ensaio sobre a cegueira (1995), by José Saramago, and the film adaptation, called Blindness (2008), directed by Fernando Meirelles. In 1997, Saramago published the book Cadernos de Lanzarote, a diary that reports, among other subjects, the process of writing the Ensaio sobre a cegueira, two years after the publication of the novel. More than ten years later, when the book was adapted to cinema, with the script by Don McKellar, the director also records the process of making the film through a personal blog, called Blog on Blindness . Thus, the records enable the reader/spectator to have a glance at the creative processes of the works. The analysis made in the present study begins with the novel and moves on to the film adaptation, showing the processes of change and reinvention that characterize the works. The first chapter focuses on the reception of the literary work and the film adaptation, constituting the Esthetics of Reception and the theses of the theoretician Hans Robert Jauss are used as the basis for the analysis. The adaptation and the creative process that surround it are problematized in chapter two, supported by the contemporary studies by Linda Hutcheon, Robert Stam and Brian McFarlane. In the third chapter, some stages of the film recreation are highlighted, which show how the resignification of the source text by Saramago is acchieved. In the last chapter, the book Cegueira, um ensaio , also by Meirelles, published last October, two years after the launching of the film, is presented. This book includes interviews and statements by the production group, materials which demonstrate Meirelles’ esthetic preoccupation in the production of the film and reveal the reflexive and transforming character of his recreation. Key words: Romance. Film adaptation. Visual landscape. Sound landscape. Pictorial. VI INTRODUÇÃO Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores, basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias, o passado como se tivesse sido agora, o presente como um contínuo sem princípio nem fim... José Saramago Escritor de um estilo inconfundível, José Saramago produziu ao longo de décadas. Sua obra, que compreende vários gêneros literários, entre eles poesia, crônica, conto, romance, dramaturgia e diário, revela um escritor talentoso e obstinado, que transforma com facilidade o ato de escrever em arte. Saramago é o único escritor de língua portuguesa que recebeu o Nobel de Literatura (1998), alcançando projeção mundial através de suas obras, muitas vezes consideradas polêmicas e alvos de censura. Vindo de uma família pobre, filho de mãe analfabeta e avós também analfabetos, José de Sousa Saramago contraria o determinismo social que poderia ter lhe atingido. Segundo ele mesmo declara: “Eu não quero cair, enfim, nesta coisa do miserabilismo: eu fui pobre, eu fui pobre, eu fui pobre [...]”. E acrescenta: “Não houve uma força superior que olhasse para mim e dissesse: bom, eu vou te preparar uma vida muito bonita. [...] Agora, é uma vida que não podia ter sucedido [...] em termos de pura lógica 1” (minha ênfase). Contrariando a lógica, sua trajetória revela um autor reconhecido como um dos mais importantes escritores da atualidade, recebedor de inúmeros prêmios e distinções durante sua vida e, nesse ano de 2010, 1Trechos da entrevista de José Saramago a Edney Silvestre, no Jornal da Rede Globo de Televisão, em 2007, disponível em: http://www.globo.com/. 2 homenagens póstumas após o seu falecimento 2. Este trabalho tem como objetivo a análise da obra Ensaio sobre a cegueira , em suas representações literária e fílmica. A obra literária foi publicada por Saramago em 1995 e, por se constituir objeto de observação nesse primeiro momento, faz-se necessário contextualizá-la em meio à vasta produção literária do escritor. Pois, observando a sua trajetória podem-se perceber as mudanças que ocorrem em seu modo de escrever com o passar dos anos e de que maneira o Ensaio torna-se,
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