Comunicado225 ISSN 1517-5030 Colombo, PR Técnico Julho, 2009 Cumaru-Ferro Dipteryx odorata1 Paulo Ernani Ramalho Carvalho2 Foto: Paulo Ernani Ramalho Carvalho. Taxonomia e Nomenclatura verdadeiro, cumbari e sarrapia; no Maranhão, cumari; e em Mato Grosso, em Pernambuco e em De acordo com o sistema de classificação baseado Rondônia, cumaru. no The Angiosperm Phylogeny Group (APG) II (2003), a posição taxonômica de Dipteryx odorata Nota: nos seguintes nomes vulgares, não foi encontrada a devida correspondência com as obedece à seguinte hierarquia: Unidades da Federação: baru, champanhe, cumaru-amarelo, cumaru-de-cheiro, cumarurana, Divisão: Angiospermae cumaruzeiro, cumbaru, ipê-cumaru, muimapagé e Clado: Eurosídeas I umarurana. Ordem: Fabales (Cronquist classifica como Rosales) Nomes vulgares no exterior: na Bolívia, almendro e almendrillo; na Colômbia, charapilla; na Guiana, Família: Fabaceae (Cronquist classifica como tonka bean; na Guiana Francesa, gaïac de cayenne; Leguminosae) em Honduras, ebo; no Peru, charapilla murciélago; Subfamília: Faboideae (Papilionoideae) no Suriname, koemaroe; e na Venezuela, sarrapia. Gênero: Dipteryx Nome comercial internacional: tonka. Espécie: Dipteryx odorata (Aublet) Willd. Etimologia: o nome genérico Dipteryx deve-se Primeira publicação: in Sp. Pl. iii. 910. ao fato de a flor apresentar duas asas; o epíteto específicoodorata é por causa do cheiro forte de Sinonímia botânica: Coumarouna odorata Aubl. cumarina. Nomes vulgares por Unidades da Federação: no Descrição Botânica Acre e no Pará, cumaru-ferro; no Amazonas, cumaru, cumaru-do-amazonas, cumaru-ferro, Forma biológica e estacionalidade: é arbórea cumaru-da-folha-grande, cumaru-roxo, cumaru- (árvore), de comportamento sempre-verde ou 1 Extraído de: CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2008. v. 3. 2 Engenheiro Florestal, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas. [email protected] 2 Cumaru-Ferro Dipteryx odorata perenifólio de mudança foliar. As árvores maiores Biologia Reprodutiva e Eventos atingem dimensões próximas a 40 m de altura e Fenológicos 150 cm de DAP (diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na idade adulta. Sistema sexual: Dipteryx odorata é uma espécie hermafrodita. Tronco: é reto e cilíndrico, e proporcionalmente menor que a copa. Apresenta algumas Vetor de polinização: essencialmente diversas protuberâncias e sapopemas de até 1 m de altura. espécies de abelhas. O fuste mede até 20 m de comprimento. Floração: de agosto a outubro, no Pará, de Ramificação: é dicotômica. A copa é elegante e setembro a outubro, no Amazonas, e em dezembro, frondosa, com ramificação abundante. Os galhos em Pernambuco. apresentam crescimento ascendente. Frutificação: frutos maduros ocorrem de abril a Casca: mede até 3 cm de espessura. A casca julho, no Pará. Frutifica precocemente, aos 4 anos externa ou ritidoma apresenta superfície áspera, de idade. de cor pardo-amarelada-escura. A casca morta se desprende em placas irregulares, formadas Dispersão de frutos e sementes: é notadamente por uma só lâmina dura, de consistência rígida. barocórica (por gravidade), em função de seu peso. A casca interna é amarelada, escurecendo ao ser Contudo, podem também ser dispersos por roedores exposta; laminar a fibrosa, veteado de cor roxa em e por morcegos. fileiras irregulares, de sabor adstringente e sem exsudações. Ocorrência Natural Folhas: são compostas, imparipinadas e alternas; medindo de 15 cm a 20 cm de comprimento, Latitudes: de 2ºS, no Pará, a 8º15’S, em Mato incluindo o pecíolo; a raque se projeta sem folíolos Grosso. Fora do Brasil, desde 7ºN, em Honduras. na zona apical; os folíolos apresentam de três a quatro pares subopostos; as lâminas dos folíolos Variação altitudinal: de 20 m a 800 m. Fora do medem de 7 cm a 12 cm de comprimento por 4 Brasil, atinge até 850 m de altitude, na Bolívia. cm a 6 cm de largura, têm forma ovada-lanceolada, com pontos translúcidos, margem inteira, ápice acuminado e base redonda. Distribuição geográfica: Dipteryx odorata ocorre na Bolívia, na Colômbia, na Guiana, na Guiana Inflorescência: apresentam-se em panículas Francesa, em Honduras, no Peru e na Venezuela. terminais ferrugíneo-pubescentes, medindo de 15 cm a 30 cm de comprimento, com 80 a 120 No Brasil, essa espécie ocorre nas seguintes flores perfumadas. Unidades da Federação (Fig. 1): Flores: são hermafroditas, aromáticas, pequenas, • Acre zigomorfas, com perianto rosado e curtamente pediceladas. • Amazonas Fruto: é do tipo legume drupáceo e ovalado, • Goiás. lenhoso, com endocarpo tardiamente deiscente após • Maranhão a decomposição do mesocarpo, medindo de 5 cm a 6,5 cm de comprimento por 3,5 cm de largura, • Mato Grosso com uma só semente. Na Amazônia, essa espécie começa a produção de frutos aos 4 ou 5 anos de • Mato Grosso do Sul idade. • Pará Semente: com cotilédones retos, de cor marrom, • Rondônia medindo 3 cm de comprimento por 1 cm de largura. Cumaru-Ferro Dipteryx odorata 3 Fig. 1. Locais identificados de ocorrência natural deCumaru-Ferro (Dipteryx odorata), no Brasil. Aspectos Ecológicos Clima Grupo sucessional: é relatada como uma espécie da Precipitação pluvial média anual: de 1.200 mm, no fase final de sucessão considerada clímax ou clímax Maranhão, até 2.500 mm, no Amazonas e no Pará. exigente em luz. Fora do Brasil, até 7.000 mm de precipitação no Chapare, em Cochabamba, na Bolívia. Importância sociológica: é geralmente encontrada no interior da floresta primária, onde é árvore Regime de precipitações: chuvas periódicas. emergente, e em ambiente de floresta secundária, com 6 anos de idade, no Pará. Essa espécie é de Deficiência hídrica: de pequena a moderada no vida longa. Amazonas, no Acre, no Pará, em Rondônia e no Biomas / Tipos de vegetação norte de Mato Grosso. Temperatura média anual: 24,8 ºC (Belterra, PA) a Bioma Amazônia 26,7 ºC (Manaus, AM). • Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical Pluvial Temperatura média do mês mais frio: 23,2 ºC (Rio Amazônica) de terra firme e de várzea alta, no Branco, AC) a 26 ºC (Manaus, AM). Amazonas, no Pará e em Rondônia. Temperatura média do mês mais quente: 25,7 ºC Bioma Mata Atlântica (Rio Branco, AC) a 27,7 ºC (Belterra, PA). • Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical Pluvial Atlântica), em Pernambuco. 4 Cumaru-Ferro Dipteryx odorata Temperatura mínima absoluta: 1,4 ºC. Esta Número de sementes por quilo: 137 a 500. temperatura foi observada em Corumbá, MS em 18 Contudo, em Árvores da Amazônia (2006), é de julho de 1975. relatado como 428 sementes, em lotes com 26 % de teor de água. A friagem é um fenômeno que atinge a região Tratamento pré-germinativo: não há necessidade. entre o Acre e Rondônia, e parte de Mato Grosso. Resulta do avanço da Frente Polar que, Longevidade e armazenamento: as sementes do impulsionada pela Massa de Ar Polar procedente da cumaru-ferro apresentam baixa viabilidade sob Patagônia, provoca brusca queda da temperatura, armazenamento. Contudo, podem ser armazenadas permanecendo alguns dias com a média em torno durante 9 meses. de 10 ºC e chegando a atingir até 4 ºC por três Germinação em laboratório: as sementes de a oito dias, causando transtorno e mal-estar na D. odorata são sensíveis à dessecação, não população. sobrevivendo a teores de água entre 13 % a 17 %. Geadas: ausentes. Produção de Mudas Classificação Climática de Köeppen:Af (tropical, Semeadura: semear diretamente duas sementes nos úmido ou superúmido) no Pará. Am (tropical, úmido recipientes. ou subúmido) no Acre, no Amazonas e no Pará. Aw (tropical, com inverno seco) no Acre, no Maranhão, Germinação: é criptocotiledonar. A emergência no nordeste de Mato Grosso do Sul e no Pará. inicia de 3 a 8 semanas após a semeadura. A germinação geralmente varia de 36 % a 92 %. Solos Associação simbiótica: as raízes dessa espécie O cumaru-ferro é indiferente em relação às apresentam micorrizas arbusculares, com até condições de solo, pois cresce bem em solos 56 % de infecção do fungo. Contudo, não foi moderadamente arenosos a muito argilosos bem constatada a presença de nódulos bacterianos do drenados, em solos pobres e ácidos a ricos em tipo Rhizobium. nutrientes. Características Silviculturais No Pará, sua ocorrência natural limita-se a determinadas regiões de solos argilosos de O cumaru-ferro é uma espécie esciófila, que não fertilidade química alta e sujeitos a compactação. tolera baixas temperaturas. Em Mato Grosso, ocorre em solos de baixa fertilidade química, com pH em água 4,5, com Em plantios no Acre e no Amazonas, essa espécie baixos teores de K (potássio) e P (fósforo). apresentou melhor comportamento com maiores alturas e diâmetros a pleno sol. Contudo, pode ser Na Bolívia, essa espécie ocorre naturalmente em consorciada, atuando como planta sombreadora. solos geralmente jovens de origem aluvial que se caracterizam por possuir baixa fertilidade natural, Crescimento e Produção baixo conteúdo de matéria orgânica, pH entre 3,7 e 5,5 e baixa capacidade de troca catiônica, com Existem poucos dados sobre o crescimento de níveis de saturação de Al (alumínio) entre 70 % e cumaru-ferro em plantios (Tabela 1). Contudo, seu 80 %. crescimento é lento, podendo atingir uma produção volumétrica de até 4,25 m3.ha-1.ano-1, aos 11 anos Tecnologia de Sementes de idade. No norte de Mato Grosso, essa espécie está apresentando um estado silvicultural bom em Colheita e beneficiamento: os frutos devem ser plantios. No Pará, de 1976 a 1996, em projetos de colhidos no chão, sob a planta-mãe, logo após reposição florestal registrados no Ibama, o cumaru- sua queda espontânea. Em seguida, já podem ser ferro foi plantado por 9 % das empresas. utilizados diretamente para semeadura como se fossem sementes. Na Bolívia, estima-se uma rotação de 30 anos. Cumaru-Ferro Dipteryx odorata 5 Tabela 1. Crescimento de Dipteryx odorata em plantios puros, na Bolívia e no Brasil. Idade Espaçamento Plantas vivas Altura média DAP médio Classe de Local (anos) (m x m) (%) (m) (cm) solo (a) Chapare, Cochabamba, 3 ... 54,0 3,40 2,2 LVd Bolívia(1) Santarém, PA(2) 6 6,0 x 1,3 54,0 2,50 5,5 ..
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