Técnico Comunicado

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Comunicado151 Técnico ISSN 1809-502X Cruz das Almas, BA Maio, 2012 Implantação de Unidades de Observação de Fruteiras no Semiárido da Bahia Nelson Fonseca¹ Romário Gusmão de Oliveira² A nova delimitação do semiárido brasileiro, instituí- hídrica que se constitui no principal problema que do pelo Ministério da Integração Nacional em março afeta o povo nordestino (Lopes, 2008). de 2005, engloba 1.133 municípios dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernam- O pequeno produtor do semiárido, conhecido buco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Ge- como sertanejo (habitante tradicional da caatinga), rais. Representa 10,5% do território nacional e tem sobrevive nas duras condições impostas pela região uma população de quase 21 milhões de habitantes, por causa da sua capacidade de integração com o sendo que 44% reside em área rural. Possui uma ambiente, dela tirando grande parte de seu sustento. extensão de 969.589 km2, representando 53,9% do Desenvolve um complexo sistema de produção território nordestino. Na Bahia, o semiárido engloba de subsistência, onde em geral a pecuária é feita 265 municípios e abrange uma área de 69,7% do de forma extensiva (especialmente pela criação Estado, tendo uma população de quase 6,5 milhões de caprinos, ovinos e bovinos), além de pequenas de habitantes (SPDR, 2005). criações de aves, suínos e abelhas. As espécies vegetais representam um importante recurso O semiárido brasileiro se caracteriza não só pelas para o sertanejo que consome várias espécies de condições físico-climáticas do local, mas também leguminosas (a exemplo o feijão, feijão de corda pelas condições socioeconômicas de sua população. e guandu), gramíneas (principalmente o milho), A região é caracterizada por médias térmicas acima mandioca, hortícolas e frutíferas, destacando: o de 260C, índice pluviométrico com média anual umbuzeiro (Spondias tuberosa), umbu-cajazeira entre 300 e 800 mm, distribuição irregular das (Spondias sp.) cajueiro (anacardium occidentale), chuvas, baixa umidade do ar, intensa evaporação araticunzeiro (Annona coriaceae), cambuizeiro e elevado escoamento superficial das águas. Estas (Myrciaria tenella), cambucazeiro (Marlierea edulis), condições conformam uma acentuada deficiência maracujazeiro do mato (Passiflora cincinnata Mast), 1 Engenheiro Agrônomo, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, 44380-000, Cruz das Almas, BA. E-mail: [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo, Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia - ADAB, 44380-000, Cruz das Almas, BA. E-mail: [email protected] 2 Implantação de Unidades de Observação de Fruteiras no Semiárido da Bahia pitombeira (Talisia esculenta), licurizeiro (Syagrus pelo semiárido e representa 40 % desse bioma em coronata), entre outras. Sua principal matriz nível nacional. energética é baseada na lenha das várias espécies vegetais encontradas nesse tipo de ambiente. Dessa forma, a implantação de Unidades de Obser- vação (UO’s) de fruteiras é uma atividade importante Com relação às espécies vegetais, destaca-se o gê- para a distribuição de material básico selecionado nero Spondias, em especial umbuzeiro (S. tuberosa), pela pesquisa aos produtores rurais. Além disso, tem que apresenta qualidades nutricionais e diversidade a finalidade de observar o comportamento de distin- de sabores, com ampla aceitação in natura, assim tas variedades e espécies em diferentes regiões. como processado na forma de sucos, geleias, sorve- tes e doces em geral. Entretanto, a sua produção no semiárido, sob condições de sequeiro, não vem cres- cendo, ao contrário, vem diminuindo. Este fato deve- Metodologia -se à destruição do bioma caatinga, o qual é explora- Para a implantação das UO’s foram utilizadas mudas do basicamente na forma de extrativismo, apesar de enxertadas de umbuzeiros, umbu-cajazeiras, man- ser possível sua exploração em pomares comerciais. gueiras e aceroleiras produzidas pela Embrapa Man- O negócio agrícola do umbu envolve a colheita, bene- dioca e Fruticultura, sediada no município de Cruz ficiamento e comercialização do fruto, tendo grande das Almas, BA. potencial de exploração agroindustrial. Apresenta crescente importância socioeconômica para a região Apresentação do projeto do semiárido por se traduzir em alternativa de subsis- A estratégia consistiu na apresentação do projeto tência alimentar e econômica de milhares de famílias, aos técnicos dos núcleos operacionais das conve- gerando ocupação e renda para o povo nordestino. niadas do Programa de Assessoria Técnica Ambien- tal e Social (ATES/INCRA), escritórios regionais e A diversidade de espécies de Spondias sp. em locais da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agro- conjunto com o umbuzeiro permite o prolongamento pecuário (EBDA), Secretarias Municipais de Agricul- do período de safra, pois o umbuzeiro é colhido tura, diretorias de escolas agrotécnicas e rurais, que de janeiro a março, enquanto os frutos das umbu- indicaram os assentamentos, as comunidades rurais cajazeiras geralmente são colhidos após esse e outros locais para a implantação das Unidades de período (abril a junho). Observação (UO’s). Instituições de pesquisa, a exemplo da Embrapa Se- Realização de oficinas temáticas miárido e Embrapa Mandioca e Fruticultura, têm feito O processo metodológico para a implantação a seleção de plantas de umbuzeiros que apresentam das UO’s foi constituído através da realização de características de boa produtividade, frutos médios oficinas temáticas nos assentamentos (Figura 1) a grandes, em relação ao seu tamanho normal (10 e comunidades rurais, nas agrotécnicas e escolas a 20 g), com casca fina e lisa, maior percentagem família agrícola, para a apresentação do projeto e de polpa e alto teor de sólidos solúveis totais. Nas discussão dos critérios e procedimentos para sua regiões semiáridas do Norte de Minas Gerais, Bahia implantação: a mão de obra, a aquisição de esterco e Pernambuco têm sido obtidas seleções com frutos e o cercamento da área por conta dos produtores; gigantes, com peso de 100 gramas ou mais e com a implantação das referidas UO’s realizada através bom paladar de polpa. Da mesma forma, tem sido de dia de campo com a participação de assentados, selecionadas plantas de umbu-cajazeiras com carac- técnicos, estudantes, professores e agricultores terísticas superiores, adaptadas às condições semiá- (as) familiares; o plantio em área coletiva, de ridas da Bahia. A introdução desses novos genótipos preferência próxima de água (barreiro) e cercada do gênero Spondias e outras fruteiras tropicais como para evitar invasão de animais; a composição da a mangueira e aceroleira, representa uma excelente UO dependente do tamanho da área disponível e do alternativa de exploração agrícola do semiárido, em interesse dos produtores por determinada cultura, especial nas áreas de agricultura familiar e de comu- que em geral foi constituída de 100 plantas (80% nidades rurais nos estados do Nordeste, exemplo do umbu, 10% umbu-cajá, 5% manga e 5% acerola); Estado da Bahia que tem 69,7% da sua área ocupada e o plantio das mudas em covas com dimensão de Implantação de Unidades de Observação de Fruteiras no Semiárido da Bahia 3 50 cm x 50 cm x 50 cm, previamente abertas, e com esterco próximo da cova. As ações relacionadas com as oficinas temáticas para a discussão da implantação da Unidade de Ob- servação (UO) ocorreram no período de abril de 2007 Foto: Nelson Fonseca a novembro de 2009, envolvendo 13 territórios de identidade da Bahia, 26 municípios, 24 assentamen- tos rurais, três escolas técnicas rurais, uma comuni- dade rural, um colégio, uma área municipal (Vitória da Conquista), e cinco conveniadas de ATES/INCRA Figura 1. Realização de oficina temática no assentamento para a (Tabela 01). Ao todo foram realizadas 30 oficinas apresentação do projeto e discussão dos critérios para implanta- temáticas para a discussão da implantação das UO’s. ção da Unidade de Observação. Tabela 1. Oficinas temáticas para a discussão da implantação das Unidades de Observação de fruteiras em áreas de assentamentos rurais, comunidades e entidades de ensino no estado da Bahia, 2010. Período Território Município Assentamento/Escola No famílias do Conveniada assentamento/alunos de ATES da escola Nordeste II Sítio do Quinto Tingui Gonçalves 61 Colmeia 16 a 21/04/07 Chapada Marcionílio Souza Caxá 496 Cactus Sisal Itiúba Sítio do Meio 81 Cactus Cansanção Belo Monte 22 Cactus 23 a 27/04/07 Piemonte Norte Andorinha Nova Jaboticaba 81 Cactus do Itapicuru Escola Rural Campo Formoso 380 alunos – Gilcina Carvalho Piemonte Norte do Itapicuru Colégio Marechal Campo Formoso José Ferreira Jatobá 300 alunos – 04 a 09/06/07 (Gameleira do Dida) Piemonte da Ourolândia São João de Casa Nova 37 Cactus Diamantina Jacobina Corte Grande 23 Cactus Escola Família Agrícola Bacia do Jacuípe Quixabeira 162 alunos – Jaboticaba Santana Jacarandá 249 FETAG Bom Jesus da Lapa Curral das Vargens 155 FETAG Sítio do Mato Reunidas José Rosa 56 Cactus 11 a 22/06/07 Velho Chico Riacho de Santana Brejo de São José * 94 Cooteba Muquém do São Francisco Manoel Dias 109 Cactus Oliveira dos Brejinhos União Ferrari 13 Cactus Sisal Santa Luz Lagoa dos Bois 78 FATRES Nova Esperança Barra 76 CCA/BA 23 a 27/07/07 (Fazenda Ferradura) Velho Chico Barra Nova Esperança (Igarité) 30 – Barra Nova Torrinha 20 – Irecê Itaguaçu Almas * 188 Cooteba 20 a 24/08/07 Itaetê Baixão 120 CCA/BA Chapada Andaraí Salobrinho * 40 FETAG Sertão Produtivo Palmas de Monte Alto Nova Esperança 40 – 27 a 29/08/07 Guanambí Escola Agrotécnica Federal 450 alunos

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