BANDEIRAS E BANDEIRANTES DE SÃO PAULO Serie 5.ª B R A S I L I A. N A Vol. 181 BIBLIOTHECA PEDAGOGICA BRASILEIRA CARVALHO FRANCO BANDEIRAS e BANDEIRANTES de S A O PAUL O COMPANHIA EDITORA NACIONAL 8Ão PAULO - Rio DE JANEIRO - ·RECIFE - PoRTo ALBGRB 1 9 4 O .. Estes vivem nas nossas memorias e viverão animados da eternidade da sua fama. FRANCISCO JosÉ FREIRE - ARTE POETICA • • •.. • Não é ainda possivel uma synthese sobre a historia das bandeiras e dos bandeirantes de São Paulo, porque ella ainda se encontra no periodo preparatorio das monographias. Assim, Affonso de Taunay vem escrevendo o que elle modestamente denomina "estudo de milhares e milhares de documentos", forman­ do já sete tomos da sua formidavel "Historia Geral das Bandeiras Paulistas". Pois bem, to­ do esse esforço de critica e selecção que perdu­ ra ha mais de um decennio, deu em resultado alcançar o grande historiador apenas o final do cyclo escravagista. Este nosso trabalho é pois ainda um sim­ ples ensaio sobre a acção extensiva dos ban­ deirantes paulistas, buscando contribuir pa­ ra a sua historia systematizada. A documen­ tação e a bibliographia consultadas para sua formação, foi consideravel. Citaremos no final, apenas a que consta da nossa livraria, dando ao leitor uma idéia nítida da immensidão da · taréfa. E como se constatará preferimos accen­ tuar algumas dessas fontes, no proprio decor- • _.... rer da exposição, por. sêrmos avessos -em-ex-. tremo ás notas intêrcaladas no te~tº·; • Aproveitamos bastante da documentação já publicada, principalmente a do Archivo Publico do Estado. Assim, o nosso ensaio vem esclarecer um ou outro ponto obscuro da historia bandeirante e lembrar outros, ainda não estudados. Emfim, summula de muita documentação analysada e fructo de demoradas consultas e pacientes confrontos,· o presente livro, em­ bóra ainda imperfeito, representa no entan­ to um esforço a mais em pról da historia integral das bandeiras e dos bandeirantes pau­ listas- '\ ' ,·• • .,."' -...... • - ·-.. _.,... INDICE DE CAPITULOS Pag. I - Os pioneiros da cubiça .11 -•· II - Os capitães da guerra -22 III - Sondagens de minas 33 IV - Dom Francisco de Sousa 39 V - As bandeiras de d. Luiz de Sousa Henriques . 52 VI - Os segadores de Satanaz 60 VII - As reduções do Itatim 73 VIII - Expedições á Vaccaria 89 IX - A vaga bandeirante ao norte 98 X - A guerra dos barbaras 109 XI - Administradores geraes - e provedo­ res das minas 120 XII - O governador das esmeraldas 140 XIII - Garcia Rodrigues Paes . 151 XIV - D. Rodrigo de Castel-Blanco e o te­ nente-general do matto . 159 XV - O denominado grande cyclo do ouro 172 XVI ~ As ultimas jornadas das esmeraldas 179 •• •• Pag. XVII - As minas de Cuyabá . · . • 187 XVII --,- Os potentados Leme 189 · XIX - A luta com os payaguás 207 XX - Os capitães-móres Antunes Maciel e Pinto da Silveira 215 XXI - A serra· dos Martyrios 224 XXII - Os socios do Anhanguéra 241 XXIII - A luta com os cayapós . 256 XXIV - As faisqueiras do Paranapanema 263 XXV - A conquista do sul brasileiro 270 XXVI - O capitão-mór povoador Francisco de Brito Peixoto . 281 XXVII - lguatemy 289 XXVIII - O remate 301 Bibliographia 312 1 I OS PIONEIROS DA COBIÇA O desbarato da pequena armada de João Dias de Solis, na região do Atlantiéo meridional, teve como con-- ] sequencia a fixação de varios de seus extraviados no lito-. -1 :~ ral por alguns denominado do ouro e da prata e que 1 tinha por extremos, ao norte, a ilha de São Vicente e, :;J i ao sul, o,rio da Prata. De muitos poucos delles se guardam os nomes e dentre esses, Aleixo Garcia, Henrique Montes e Belchior · Ramires, unidos a mais seis, demoravam no porto de Santa Catharina, segundo dava noticia uma carta do embaixador João de Zuninga, em 1524. Um decimo fôra encontrado e recolhido no rio Paraná, pelo piloto · Diogo Garcia, em 1527. Aleixo Garcia foi incontestavelmente o iniciador do movimento sertanista nessa costa, por onde se estendia a ainda imprecisa capitania vicentina. Escapando a va­ rias vicissitudes, permaneceu algum tempo em Laguna - e ahi, a lenda seductora do Rei Branco, junto á uma aerra de prata, nas mesmas paragens do grande rio, que 12 CARVALHO FRANCO remontára em parte com Solis, o attrahiu irresistivel­ mente com quatro companheiros, sertão a dentro, bus.. · cando alcançar a sua miragem, atravez do continente, Foi desse modo que cruzou Santa Catharina, pa11- sou ao Paraná e por essa via internou-se no Paragua}r. Uma vez nessa região, língua da terra como se tornára., induziu centenas de guaranys a que o acompanhassem e, entrando pelo baixo Matto-Grosso, cortou a planicie dos . guayctirús e continuou sempre em direcção ao occidente, buscando a região dos Charcas. O término da sua ca­ minhada, dizem alguns, teria sido Chuquisaca. Dahi de­ sandou a jornada, com muitos despojos de prata e - quando attingia novamente as terras paraguayas, foi morto, com alguns dos seus companheiros, pelos guara­ nys revoltados, em 1526. Uma representação do cabido de Tucuman, de que possúe copia o Archivo Publico do Estado, datada de 1725 e dirigida ao respectivo governador, narra essa atrevida empresa e conclúe: - "Pouco depois, chega­ ram os castelhanos áquellas paragens e, achando entre os guaranys peças de prata das que Aleixo Garcia trou­ xéra do Perú, persuadidos de que aquella prata era ti­ rada das minas do paiz, puzeram ao rio por onde subi.­ ram o nome de rio da Prata." ~ssa mallograda aventura de Aleixo Garcia deu as­ sim origem a se estender pelo litoral da nova terra, a. fabula das riquezas platinas. E dentro em pouco o seu vulto era tão grande, que, ao arribar ao sitio do Marco, velejando para as Molucas a soldo da Espanha, Se- BANDEIRAS E BANDEIRANTES DE S. PAULO 13 bastião Caboto taes maravilhas ouviu, que mudou de rumo, indo a São Vicente colher melhores informes e dalli á Santa Catharina, procurar os itobreviventes de Solis, que lhe servissem de guias para renovação da entrepresa. O seu roteiro imprevisto, foi porém um desenga­ no e· alguns annos após, em 1530, apparecia em Sevilha, inteiramente desarvorado. Dom João III, que se tinha como senhor indiscutí• vel daquellas regiões, ao ter noticia dessas tetativas dos castelhanos para se estabelecerem no rio da Prata, tra­ tou de organizar uma armada, que fôsse firmar defini­ tivamente aquelle domínio para a sua corôa e confiou o commando ·.da mesma a Martim Affonso de Sousa. Essa resolução alarmou a rainha lzabel de Espanha, que se deu pressa em escrever ao seu embaixador em Portugal, Furtado de Mendonça, avisando-o de que o monarcha portuguez mandára chamar de Sevilha a Gon- · çalo dg· Costa, piloto que estivéra largo tempo em São Vicente, afim de lhe pedir informes sobre a costa do ouro e da prata, offerecendo-lhe um posto na missão de Martim Affonso. Noutra carta recommendava-lhe ouvir sobre tal as­ sumpto a Henrique Montes e certo Pedro de Campos, morador em Vianna, os quaes igualmente haviam esta­ do longamente no litoral meridional do Brasil e no rio da Prata. Dessas averiguações, adquirira a rainha a· convic­ ção de que aquella esquadra obedecia a tres finalidades: 14 CARVALHO FRANCO desalojar os francezes encontrados naquella costa, forti­ ficar os portos com artilharia e entrar desde São Vicen­ te pela terra dentro, para attingir por essa via o rio da Prata. E, não obstante os seus protestos, d. João III le­ vou a termo o seu intento. E' sabido que Martim Affonso de Sousa trouxe na sua armada a Henrique Montes e que ao chegar á Cana­ néa, alli encontrou o mesmo bacharel portuguez, que al­ guns annos antes havia acolhido a expedição de Diogo Garcia, em São Vicente. Viviam alli com elle, Fran­ cisco de Chaves, que alguns autores dizem ter sido com­ panheiro de Aleixo Garcia e seis castelhanos mais, gen­ ros do referido bacharel. Excepção deste ultimo, que era um degradado, taes moradores de Cananéa poderiam ser derelictos de Solis, ou desertores de Loaisa, ou abandonados de Caboto. O facto é que em 1531, permaneciam nessa costa, europeus oriundos das primeiras armadas ao Atlantico sul e o mais natural é que se agrupassem para defesa cotnmum contra o aborigene e assim se encontravam esses de Ca­ nanéa, os de São Vicente e os do porto dos Patos. Francisco de Chaves tornára-se perito na lingua dos nativos e grande conhecedor da penetração do paiz. As­ segurou a Martim Affonso de Sousa conhecer a trilha in­ digena que desse litoral levava ao valle do rio Para­ guay. Affirmou ainda que dalli poderia regressar com quatrocentos escravos carregados de ouro. Não vacil­ lou por isso Martim Affonso, em confiar-lhe a missão de nortear até o rio almejado, oitenta soldados com:. BANDEIRAS E BANDEIRANTES DE S. PAULO 15 mandados por Pero Lobo, capitão do galeão "São Vi­ cente". Alguns escriptores accrescentam a esse primeiro cabo de entrada vicentina, o appellido de Pinheiro e, a ser exacto, seria elle filho solteiro de Francisco Pinhei­ ro Lobo, bastardo de d. Alvaro Pires Pinheiro, primeiro senhor do morgado de Pouves e alcaide-mór de Barcel­ los. A sua bandeira internou-se pelo sertão, ao primeiro dia de setembro de 1531. Constitúe facto conhecido que os índios, nas suas migrações ou simples relações de aldeia para aldeia, ha­ viam rendilhado o territorio todo de caminhos, alguns datando de épocas immemoriaes e muitos delles chegan­ do a ser aproveitados para estradas até aos nossos tem­ pos. Taes caminhos eram denominados apés e talvez o mai's antigo delles, oriundo das migrações para o litoral atlantico das gerações do valle do Paraguay, vem des­ cripto por Theodoro Sampaio. Partindo das margens do rio Paraná, vinha ter ás cabeceiras do rio Tibagy, onde se tripartia.
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