Superação – Viver É Como Velejar, Vale Vencer!

Superação – Viver É Como Velejar, Vale Vencer!

uma forte inspiração para continu- ar no esporte no exemplo do atleta Superação – viver é húngaro Karoly Takács, bicampeão A VIDA DE mundial de tiro no fi nal dos anos 50, que perdera o braço direito na como velejar, vale vencer! DESAFIOS QUE Segunda Guerra e passou a usar o esquerdo com enorme habilidade. ENFRENTEI Ao mesmo tempo em que vol- LARS GRAEL ser compreendida como algo mais nas olimpíadas de 1968 e 1972; e tava a praticar a vela, recebi um amplo: os valores que o esporte meus pais, Ingrid e Dickson Grael, convite para ingressar na vida pú- momento que vivemos no pode deixar para a juventude bra- este coronel do exército. ENSINOU-ME blica, inicialmente como diretor do país é estratégico para a sileira, através da educação, num Aprendi a conviver com as di- antigo Indesp (Instituo Nacional do Orevalorização da educação país que busca referências éticas, fi culdades desde a decisão de pra- UMA MÁXIMA: Desenvolvimento do Desporto), em brasileira. Quando falamos da vo- cívicas e morais. ticar iatismo, que no Brasil é con- Brasília. Depois, o então ministro cação da cidade do Rio de Janei- da Educação, Paulo Renato de Sou- Minha difícil trajetória no es- siderado esporte de elite. Como a A CRISE ro para abrigar grandes eventos, porte apresentou-me uma série de tradição de parentes velejadores za, nomeou-me secretário nacional como a Copa do Mundo de 2014 ensinamentos que signifi cam ines- vinha da parte da família de minha de Esportes, quando, apesar das e os Jogos Olímpicos de 2016, ge- timáveis valores para a vida: o so- mãe, meu pai, funcionário público ABATE, MAS A difi culdades da política e da buro- ralmente pensamos no legado para nho pode ser alcançado com treina- de parcos recursos, desestimulou a cracia, implementamos programas a sociedade em termos de infra- mento e motivação; a determinação inclinação que eu e Torben Grael, COMPETIÇÃO de valorização do esporte na esco- estrutura e mobilidade. Porém, a é fundamental; deve-se compre- meu irmão, manifestávamos pelo la. Acredito que seja necessário um relevância da noção de legado deve ender as oportunidades. A vida de iatismo. Tentei, sem sucesso, en- MOTIVA maciço investimento em infraestru- desafi os que enfrentei ensinou-me veredar pelo futebol – era um com- tura das escolas para que, por meio uma máxima: a crise abate, mas a pleto fracasso. Até que, em 1974, do esporte, possamos atingir níveis competição motiva. Na medida em aos 10 anos, participei, junto com elevados na educação. A cultura e o que realizamos uma atividade com Torben, das competições de iatismo esporte geram referências morais paixão, uma utopia pode virar um dos Jogos Estudantis Brasileiros Torneio Pré-Olímpico para Los An- píadas de Barcelona (1992) foi agra- sólidas para a juventude. sonho, e este, realidade. (JEBs) de Campinas (SP), na clas- geles 1984. Surpreendentemente, vada com a perda do patrocinador e Precisamos nos preocupar com As referências éticas ou de ca- se “Optimist”. Depois de uma série ganhamos a vaga na classe “Torna- a desistência de Clínio Freitas após o legado ético e moral para as no- ráter de familiares, amigos e pes- de contratempos, conseguimos um do” ao derrotar a dupla brasileira a morte de seu pai. Formei uma vas gerações. Particularmente, fui soas públicas são essenciais para a obsoleto e avariado barco achado campeã olímpica de 1980 (Mos- nova dupla com Kiko Pelicano, que inspirado pelo exemplo de grandes formação de cidadãos motivados a num matagal. Resultado: fomos os cou), formada por Alex Welter e nos daria a medalha de bronze nos brasileiros como o professor Mano- serem úteis ao seu país. Na minha últimos colocados. Lars Björkström. Entretanto, nas Jogos Olímpicos de Atlanta (1996). el Tubino (que sempre ressaltou o vida, tive muitos exemplos morais Essa foi uma importante expe- Olimpíadas nosso desempenho foi Em 1998, no auge de minha carrei- papel educacional e social do espor- que começaram em minha família: riência de superação que serviria um fracasso e a dupla se desfez. ra, enquanto participava de uma te), a campeã paraolímpica Ádria meu avô, Preben Schmidt, enge- de exemplo durante toda a minha Encontrei, a seguir, em Clínio competição na baía de Vitória (ES), dos Santos, Ayrton Senna e Zico. nheiro dinamarquês que chegou ao vida. A partir de então, com mui- Freitas um novo parceiro de com- tive minha perna direita decepada Por acreditar no princípio de que Brasil em 1924 e foi um dos precur- to treinamento e motivação, eu e petições. Conquistamos a vaga por uma lancha conduzida por um seja fundamental formar cidadãos, sores da vela de competição no país; Torben passamos a tomar parte de para as Olímpiadas de Seul (1988) inconsequente alcoolizado – resul- mais do que formar campeões, há meus tios velejadores, Axel e Erik diversas competições e, ao longo com um barco obsoleto, e vivemos tado da absurda falta de fi scalização 15 anos dei início ao Projeto Gra- Schmidt, campeões mundiais dos anos, ganhamos muitas delas. o drama da falta de verba para a na costa brasileira. Minha vida foi el, em Niterói, que proporciona a nos anos 60 e represen- O ápice de nossa dupla foi o título compra de material que nos equi- salva pelo meu ex-parceiro de vela, inclusão social de alunos da rede tantes brasileiros mundial da classe “Snipe” conquis- parasse aos adversários estrangei- Clínio Freitas, e por um clínico geral pública municipal por meio da con- tado no Porto (Portugal), em 1983. ros e a iminência de desistir do capixaba que se encontrava no Iate jugação entre o velejar e o ensino Em seguida, mais um imprevisto: sonho olímpico. Nossa complicada Clube local. profi ssionalizante. O esporte cria nossa dupla teve de ser desfeita situação foi relatada numa nota Esse acidente e as histórias que consciência para um mundo me- por conta de uma ofer- da coluna do Zózimo, no Jornal conheci, durante o período de recu- lhor, transforma e liberta. Nesse ta esportiva mais inte- do Brasil, o que despertou o inte- peração, de diversos heróis anôni- sentido, estou seguro de que as es- ressante para Torben. resse de um empresário do setor mos brasileiros representaram um colas particulares, por sua tradição Tive de convencer meu químico em nos patrocinar. Com grande incentivo para a minha nova de educação de excelência, desem- primo Glenn Henks, esse apoio e nossa determinação, realidade de vida: eu deveria ser útil penham um papel fundamental na que morava na Ingla- conquistamos a medalha de bronze ao Brasil. Graças à motivação de mi- afi rmação desses valores. terra, a voltar, com- em Seul – que teve o valor de uma nha esposa, meus irmãos e meus prar um barco e com- verdadeira medalha de ouro. amigos, voltei às competições seis Lars Grael é desportista e palestrante petirmos juntos no A decepção do 8º lugar nas Olim- meses depois do acidente. Encontrei .

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