Anatomia Da Madeira De Plinia Rivularis (Camb.) Rotmani

Anatomia Da Madeira De Plinia Rivularis (Camb.) Rotmani

BALDUINIA. n.3, p.21-25, jul./2005 ANATOMIA DA MADEIRA DE PLINIA RIVULARIS (CAMB.) ROTMANI LUCIANO DENARDF JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP MARCOS ROBERTO FERREIRA 4 RESUMO A estrutura anatômica da madeira de Plinia rivularis (Camb.) Rotman é descrita e ilustrada com fotornicrografias. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Myrtaceae, Plinia rivularis. ABSTRACT The wood of Plinia rivularis (Camb.) Rotman is anatomically described and illustrated with photornicrographs. Key words: Wood anatomy, Myrtaceae, Plinia rivularis. INTRODUÇÃO mais esporádica ou irregular na mata pluvial da A Família Myrtaceae compreende cerca de encosta atlântica e na zona da matinha nebular, 100 gêneros e 3.000 espécies de árvores e próximo aos Aparados da Serra Geral. arbustos que se distribuem por todos os Sobre a anatomia da madeira, Metcalfe & continentes, com exceção da Antártida, mas com Chalk (1972) referem, para a família, a presença nítida predominância nas regiões tropicais e de vasos usualmente pequenos, numerosos e subtropicais do mundo. No Rio Grande do Sul, solitários, de elementos de comprimento médio as Mirtáceas ocupam posição de destaque, até grande, com placas de perfuração simples, chegando, por vezes, a impor-se na fisionomia de pontoações intervasculares alternas, pequenas da vegetação (Marchiori & Sobral, 1997). e ornamentadas, e de raios usualmente O gênero PUnia L. reúne cerca de 20 espécies heterogêneos, exclusivamente unisseriados ou de árvores e arvoretas (Rotman, 1982), quatro multisseriados, com 2-3 (até 6) células de das quais são nativas no Rio Grande do Sul. largura. O parênquima, tipicamente apotraqueal- Conhecida regionalmente pelos nomes de difuso ou em faixas unisseriadas, em madeiras guapuriti, baporeti ou guamirim, PUnia rivularis de poros solitários, é predominantemente (Camb.) Rotman é árvore de porte pequeno (até paratraqueal nas espécies com múltiplos 15 m) e ampla dispersão geográfica, ocorrendo numerosos; as fibras, com pontoações tipica- do Pará ao norte do Uruguai. Bastante freqüente mente areoladas, são geralmente de com- nas florestas da Depressão Central, Alto Uruguai primento médio. Traqueídeos vasicêntricos são e bacia do Ibicuí (Marchiori & Sobral, 1997), a de ocorrência comum na família, ao passo que espécie habita sobretudo planícies aluviais e canais intercelulares axiais, de origem início de encostas. Sobre esse ponto, Legrand traumática, são restritos a poucos gêneros. & Klein (1978) assinalam que sua presença é Marchiori & Sobral (1997) comentam que o I Artigo recebido em 07/04/2005 e aceito para a publicação em 09/05/2005. 2 Engenheiro Florestal, Bolsista do CNPq, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). [email protected] 3 Engenheiro Florestal, Dr., Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). [email protected] 4 Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS). [email protected] 21 conjunto desses caracteres sugere primitividade usando-se coloração com safranina 1% e ao xiIema das Mirtáceas. Para a maioria de suas Entellan como meio de montagem. espécies, todavia, a estrutura anatômica segue A descrição microscópica baseou-se nas desconhecida, salientando-se, no caso do Rio recomendações do IAWA Committee (1989) e a Grande do Sul, os estudos sobre Feijoa determinação dos diferentes tipos celulares, na sellowiana (Marchiori, 1984a), Eugenia metodologia proposta por Marchiori (1980). As involucrata (Marchiori, 1984b), Myrrhinium fotomicrografias foram tomadas em aparelho loranthoides (Marchiori, 1984c), Myrciaria Carl Zeiss, no Laboratório de Anatomia da tene/la (Marchiori & Muniz, 1987a), Madeira da Universidade Federal do Paraná. Myrceugenia myrtoides (Marchiori & Muniz, 1987b), Myrceugenia glaucescens (Marchiori & DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA Muniz, 1988), Calyptranthes concinna Camadas de crescimento: distintas, (Marchiori & Brum, 1997), Campomanesia marcadas por fibras radialmente estreitas no guazumaefolia (Marchiori, 1998) e lenho tardio (Figura IA). Blepharocalyx salicifolius (Denardi, 2004). Vasos: com freqüência de 54 ± 8 (44-61)* por mm2, medindo 41 ± 7 (30-62) Jlm de MATERIAL E MÉTODOS diâmetro e em distribuição difusa; vasos O material em estudo consiste de uma geralmente solitários, em padrão diagonal ou amostra de madeira e respectivo material radial, menos comumente em agrupamentos botânico, coletados no Cerro do Loreto (São radiais de até 4 vasos (Figura IA). Elementos Vicente do Sul - RS) e anexados à Xiloteca e vasculares de 545 ± 83 (400-760) Jlm de Herbário do Departamento de Ciências comprimento, com placas de perfuração simples, Florestais da Universidade Federal de Santa oblíquas e apêndices geralmente em ambas as Maria (HDCF), sob o número 2981. extremidades. Pontoações intervasculares Da amostra de madeira, foram confec- alternas, pequenas (5-6Jlm) e circulares; cionados três corpos-de-prova com 2 cm de lado, pontoações raio-vasculares distintamente extraídos da porção mais externa do lenho e areoladas, semelhantes em tamanho e forma às orientados para a obtenção de cortes histológicos intervasculares; espessamentos espiralados, nos planos transversal, longitudinal radial e tiloses e gomas, bem como traqueídeos longitudinal tangencial. Um quarto bloco foi vasicêntricos, ausentes no material em estudo. também retirado, com vistas à maceração. Parênquima axial: apotraqueal difuso-em- No preparo de lâminas histológicas, seguiu- agregados (Figura IA), disposto em séries de 4 se a técnica padrão no Laboratório de Anatomia a 8 células; eventualmente em número maior e, da Madeira da Universidade Federal do Paraná: por vezes, providas de cristais prismáticos em os corpos-de-prova foram amolecidos por câmaras (Figura 1C). fervura em água e seccionados em micrótomo Raios: com 1-3 células de largura e menos de deslize, regulado para a espessura nominal de 1 mm de altura, não estratificados (Figura de 18 Jlm. Os cortes foram tingidos com 1D) e com freqüência superior a 12/mm, acridina-vermelha, crisoidina e azul-de-astra compostos por células procumbentes, no centro, (Dujardin, 1964), desidratados em série e 2-4 fileiras marginais de células quadradas e alcoólica, diafanizados em xilol e montados em eretas (Figura 1B); células oleíferas, mucila- lâminas permanentes, com "Entellan". ginosas e canais intercelulares, ausentes. No preparo de lâminas de macerado, procedeu-se a dissociação do tecido lenhoso pelo • x ± s (valor mínimo - valor máximo), onde: x = média; s método de Jeffrey (Burger & Richter, 1991), = desvio padrão. 22 FIGURA I - Camadas de crescimento distintas, vasos solitários e parênquima apotraqueal difuso-em- agregados, em seção transversal (A). Raios heterogêneos, com células procumbentes, quadradas e eretas, em seção longitudinal radial (B). Cristais prismáticos em células de parênquima axial e fibras com pontoações areoladas, em seção longitudinal radial (C). Raios com 1-3 células de largura e fibrotraqueídeos, em seção longitudinal tangencial (D). Escalas = 100 flm (A); 25 flm (B); 12,5 flm (C,D). 23 TABELA1: Dados quantitativos da madeira. Característica anatômica x s cv% Mín. Máx. Freqüência de vasos (vasos/mm2) 54 7,7028 14,3 44 61 Diâmetro do lume de vasos (Jlm) 41,3 7,0755 17,1 30 62,5 Comprimento de elementos de vaso (Jlm) 545,2 83,1224 15,2 400 760 Comprimento de fibras (Jlm) 1170,8 260,0408 22,2 750 1750 Fração de vasos (%) 19 2,3664 12,4 16 22 Fração de parênquima axial (%) 14 6,1128 43,7 8 23 Fração de raios (%) 26 5,8195 22,4 17 33 Fração de fibras (%) 41 2,3166 5,6 38 45 x = média; s = desvio padrão; cv = coeficiente de variação; Min. = valor minimo; Máx. = valor máximo; J.lm= micrômetros; Fibras: de 1170 ± 260 (750-1750) Jlm de de 20% dos mesmos ocorrem em pequenos comprimento e paredes muito espessas, com múltiplos. Com relação aos cristais, eles foram pontoações distintamente areoladas nos dois também encontrados em outras Mirtoídeas planos longitudinais (Figura 1C,D); fibras nativas do Rio Grande do Sul: Feijoa sellowiana, septadas e espessamentos espiralados, ausentes. Eugenia involucrata, Myrrhinium loranthoides Quanto à composição do lenho, as fibras e Blepharocalyx salicifolius. Os comprimentos correspondem a 41% do total, seguida pelos médios de fibras e elementos de vaso, bem como raios (26%), vasos (19%) e parênquima axial a freqüência de vasos, situam-se, no material em (14%); máculas medulares, eventualmente estudo, dentro da amplitude verificada para o presentes. conjunto de espécies anteriormente considerado. ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA BIBLIOGRAFIA A estrutura anatômica da madeira de Plinia Burger, L. M., Richter, H. G Anatomia da Madeira. São Paulo: Ed. Nobel, 1991. 154 p. rivularis concorda, em linhas gerais, com o Denardi, L. Estudo anatômico do lenho e descrito por Metcalfe & Chalk (1972) para as morfologia foliar de Blepharocalyx salicifolills Mirtáceas. A presença de poros solitários e em (H.B.K.) Berg, em duas regiões do Rio Grande distribuição difusa, de placas de perfuração do Sul. Santa Maria: UFSM, 2004. 94f. simples, de fibras com pontoações areoladas, de Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) parênquima apotraqueal e de raios heterogêneos, - Universidade Federal de Santa Maria. tidos como predominantes na família, foram Cujardin, E. P. Eine neue Holz-zellulosenfaerbung. Mikrokosmos, n. 53, p. 94, 1964. também observacos em

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