
* 1!JSTE LIVRO FOI COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFICINAS DA EMPMSA GRAFICA DA "REVISTA DOS TRIBUNAIS" LTDA., À HUA CONDE DE SARZIMlAS, 38, SÃO PAUI,O, PARA A COMPANHIA EDITORA NACIONAL E'M 1969. * FOLCLORE GOIANO BRASILIANA Volume 306 GOVERNADOH. PhlDRO LVDOVICO Tl•:lXE,'!H..\ JOSÉ A. TEIXEIRA FOLCLORE GOIANO Cancioneiro - Lendas Superstições 2."' edição, revista e ampliada COMPANHIA EDITORA NACIONAL SÃO PAULO Direitos desta edição reservados à COMPANHIA EDITORA NACIONAL Rua dos Gusmões, 639 - São Paulo 'VI.'.. w). 33 38..2' C,,/;.r) ~Ml JJJfJ,/,· l-0. · Exemplar n.º 222 UUVERSIOADE (lry Bl~S!l SEÇÃO REGl3 fRO ANO • 1 9 5 9 . N __ )._,__ ~_'7. __ Impresso nos Estados Unidos do Brasil Printed in the United States of Brazil A MINHA ESPÔSA E FILHOS, a MÁRio DE ANDRADE. 1NDICE PREFÃCIO .. XI Prefácio à 2.ª edição . XIX CAPÍTULO I - A poesia popular goiana e suas fontes 1 CAPÍTULO n - Os cantadores . • • . • • 3 CAPÍTULO III - Métrica cabocla .. : . • 18 I PARTE CANCIONEIRO Poesia Religiosa CICLO DO NATAL 31 CICLO 00 DIVINO 50 CICLO DO RoSÁRIO 62 POESIA SOCIAL Ciclos revolucionários . • • • • . • . • . .. • • • • . • W Ciclo eleitoral . • 109 Temas econômicos . 114 Ciclo heróico . • . 140 Temas antropomórficos .. • . • 176 Temas moralistas . • . • . 198 Desobediência, irreligiosidade, namoros escanda- losos .. • • • • . • • • • . • . • • . • • • • • • • • • 205 Temas filosóficos ....... .' •...•. : . .....•.....•• ;. • 212 Romances e xãcaras . • . • • . • 217 IX Humorismo, inteligência, sensibilidade . ....... 240 Feira dos namorados ..... ................... .. 263 Quadras infantis 281 li PARTE LENDAS E CONTOS Ciclo do Romãozinho . , ... , . 289 Pé-de-garrafa . 300 Mitos das águas . 308 m PARTE SUPERSTIÇOES E MAGIA I - Temas mágicos rituais ........ ! . .. .. 322 II - Temas mágicos cristãos . 327 III - Temas puramente mágicos . 333 índice bibliográfico . 341 PREFACIO Quando em via{Jem de estudos de Folclore pelo Estado de Goiás, há uns 2 ano.~, um apresentado, de certa cidade perguntou-me: , - "Doutô", que é isto d~ Folclore? A pergunta era justa. Folclore nome esqm­ sito ainda para muita gente. Comecei a lhe expli~ar, r. mal enunciara - estudo de histórias, superstiçoes, "- ah! essas besteiras do povo, seu doutô", me atalhou meio desapontado. · Como êste, haverá muitos outros brasileiros, que ao deparar com o tít1Llo desta obrin ha nas vitrinas, repe­ tirão com seus botões: Bobagens de tabaréus. Que Brasil atrasado, ainda se publicam coisas assim! Outros, m.ais benévolos talvez, pensarão: Coisas engraçadas para passar ·o tempo. No entanto estas coletdneas engraçadas escondem., debaixo de suas brejeirices, um sentido profundo, que escapa ao comum da gente. E não foi d-toa, que os estudos das histórias, crendices e outrns bobagens do r,ovo, começados com os contos de Perrault e continuados com os innãos Grimm, se multiplicaram rapidamente em todos os países, interessando nomes como Max Müller, Jle GJbernatis, E . B. Taylor, A. Lang, Cox, Bréal, Clod, Ge~eao Huet, Gastão de Paris, Benfe11. R. Kohler, Cos­ quim, Comparetti, A. Bnstian. Evoluindo do mitolo- 11ismo astronômico de Max Müller ao orientalismo de Gast~o d~ Paris, deste ao antropolooismo d~ A . Lan{J. ao ritualismo de Santyves, ao método histórico-cultural da escola de Colônia, com Grabner, e norte-americana, com F. Boas. A escola pstcanalUicn. está representaria nos trabalhos de F. Riklin, Karl Abraham· e sobretudo de Otto Rank. E' que a "produção literária dita po­ vular, aJirrna,.o Von p-ennep, é uma atividbd,e útil, r,ecessária d manutençao, ao funcionamento da organi­ zação social, por sua li{Jação com outras atividades ma­ teriais. Sobretudo cm relação d sua finalidade, ela t Xi v.m elemento orgânico, e 1l1lo como ss cria, uma ativf. dade estética supérflua".• E, à pági11a 41, releva ainda o ª'!'-tor ~ste ca:áter orgânico: De m~me que chaque tnbu se considére elle-même comme la seule humanité vraie, traitant tous les autres hommes barbares, sauvages, uens san noms, 1evenants, montres, etc., de même que chaque tribu posséde sa tMorie de la formation du monde en sa faveur seulement, "de même elle interprete d'abord chague partie de son territoire et chague élément de sa civilisation, au moyen de recits et de rites destinés à maintenir la cohésion de cette civilisation et l'integrité de cet territoire". Eis, a essência e a finalidade das produções popu,. lares. Elementos interpretativos de cada pedaço do território, de cada fato duma civilização, são por isto mesmo poderosos laços de coesão desta civilização e da integridade dêste território. Noutras palavras, a tra­ dição popular secreção natural e necessária duma socie­ dade, d o poderoso elo que lhe garante a unidade. Por­ tanto o maior fator de coesão nacional. Compreendendo isto foi que a Alemanha do século passado, influenciada pela literatura francesa da era de Luís. XIV, com Voltaire à frente, reagiu contra esta absorção de sua própria personalidade, buscando nas tradições germânicas, a fonte de insptração de seus temas literários e artísticos. A. necessidade de fundar s(}lidamente as nacionalidades, determinou ainda o florescimento dos estudos folclóricos em tôda Europa, no século XIX. E' que a tradição é a seiva de que se alimenta a alma dos povos. E o Fol­ clore o instrumento científico de estudo e análise da alma popular. Não d demais, insistir neste caráter do Folclore, já por outros salientado. Pois, que o momento nacional, de formação de nossa personalidade política, de nossa independência econômica, de uma expressão cultural e artística própria, que nos darão foros de nação adulta, exige que multipliquemos trabalhos desta natureza. Até agora, temos sido nação-adolescente, mais ou menos tutelada política, econômica e culturalmente pelo influxo de nações mais velhas. ' • La Fonnatlon dea U11ende11. xn . Em março de 38, no meu trabalho de dialetolooi<i O Falar Mineiro, editado pelo Departamento de Cultura de São Paulo, pouco depois da revolução branca de 10 de novembro, eu afirmava que com o Estado Novo, encerrdvamos o ciclo de vida semicolonial. O ciclo de dependtmcia entravadora de nosso progresso. E efeti­ uamente a nova política do café, as pesquisas reais do petróleo culminando no jacto vitorioso de Lobato, a solução honestamente procurada do importante probleme da siderurgia nacional, a proteção à lavoura, o fomento geral da produção, são dados concretos de nosso reer­ guimento econômico, base de uma verdadeira indepen­ dência política. Paralelo a êste ressurgimento econômf• co-polftico, acentua-se um movimento cultural genuina­ mente nacional. O espírito de brasilidade, reaceso na der­ Tocada econômica a que nos conduzira a situação de país complemento da economia de outros, afirmando-se pouco a pouco através de movimentos revolucioncfrios, até se instalar no poder com o golpe de novembro, agita-se ogora fortemente no terreno cultural, procurando criar 11ma eX'f)ress{J,o Vtdimamente brasileira. E' verdade que ~ste espírito jd aflorara em 1922, na Semana de Arte Moderna. Representado então nos esforços de uma i•equena élite de inteligtmcias brilhantes e patriotas,· e que, embora apaixonasse muitos, não conseguiu impor-se a todos. Hoje, porém, o movimento cultural tem cardter oficial. E' o govêmo, quem, através de Departamentos especiais, alimenta e incentiva a produção literária e artfstica de caráter nitidamente nacional, no esfôrço de cunhar a feição brasileira. Não faço pessimismo afir­ mando que nossas letras e atividades artísticas se res­ sentem em geral dêste cardter próprio, desta fisionomitJ ·nossa. Até estrangeiros, nos advertem disto. Ainda hd pouco, em mensagem dirigida aos escritores brasileiros, seus colegas franceses recomendavam: • "Não nos imiteis mais; sêde apenas fraternais para conosco". E um jovem critico francês, comentando .Jubiabá de Jorge Amado, exaltava na Bafa de Todos os Santos seu capítulo justamente mais nosso, mais brasi- • Conferência eõbre castro .Alvea proferida na Academla. d• Letras, por Cassiano Ricardo, · XIII leiro: E declarava "se hd algumas imperfeições do romance, essas são européias, refletem atitudes apren­ didas na téc_nica romanesca do velho mundo. No entanto - é ainda Roger Breuil quem fala - seria a.<4mirável que os brasileiros_ tivessem menos tlcanha­ mento em aparecer como sao, em revelar as fontes autênticas de sua sensibilidade poética. Que nossos escritores devessem menos repetir ritmos e enredos gastos pela literatura européia, do que, por exemplo, convidar os leitores de lá a ouvirem nos cais enluarados da Bafo, uma toada triste vinda do mar". • Certo que temos livros, em cujas páginas se espelham os encantos de nossa natureza e ressoam os ruídos vários de nossas matas e as harmonias de nossos rios e cachoeiras, como as toadas de nossos campos e de nossas cidades. PJsses, contudo, ainda são poucos em relação aos que repetem "os enredos gastos .da literatura européia". E onde buscar nossa originalidade? Nosso modo próprio de ser? As fontes autênticas de nossa sensibilidade esté­ tica? Sômente nas milionárias minas da tradição po­ pular. As mesmas em que garimparam grandes artistas da antiguidade, como Jtsquilo, Sófocles, Homero; um Dante, na Idade Média; Shakespeare, Goethe, Byron. Rabelais, na moderna. Prometeu, a grandiosa tragédia que granjeou o gôsto universal, não era originàriamente senão um conto repetido junto às lareiras pelas velhas gregas. A Odisséia, A Divina Comédia, O Fausto, O Gargántua; entre nós, Iracema, de Alencar, Y Juca­ Pirama, de Gonçalves Dias, e em nossos dias, Macunafma. de Mário de Andrade, êste livro clássico de nosso
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