UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MESTRADO DAS PAISAGENS INTERIORANAS ÀS URBANIZADAS: UMA VISÃO ARTÍSTICA DE G. FOGAÇA (1985-2018) BIANCA CRISTINA BARRETO CASANOVA GOIÂNIA JULHO/2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MESTRADO DAS PAISAGENS INTERIORANAS ÀS URBANIZADAS: UMA VISÃO ARTÍSTICA DE G. FOGAÇA (1985-2018) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás como requisito para obtenção do título de mestre em História. Área de Concentração: História da Arte Linha de Pesquisa: Fronteiras, Interculturalidades e Ensino de História Orientadora: Professora Doutora Maria Elízia Borges GOIÂNIA JULHO/2019 A minha família. Em especial, à mãezona Elizabeth e à queridíssima vovó Iêda, pelo apoio, e a meu pai, Renato Carlos, pela base educacional. A André Zampollo, meu amor, meu parceiro e grande incentivador. A meus amigos, pela compreensão durante o percurso. À Dr.ª Maria Elizia Borges, por orientar esta pesquisa com didática e paciência. A G. Fogaça e a Malu, por suas trajetórias inspiradoras e auxílio nesta pesquisa. Aos entrevistados Dayalis González Perdomo, Amaury Menezes, Zé César, Alexandre Liah, Miguel Jorge, PX Silveira e Antônio da Mata. Às colaboradoras do Museu de Arte de Goiânia. E a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. Gratidão! Bianca Casanova RESUMO O trabalho “Das paisagens interioranas às urbanizadas: Uma visão artística de G. Fogaça (1985-2018)” objetiva interpretar o conjunto da obra de G. Fogaça a partir da compreensão de sua trajetória de vida atrelada às dinâmicas históricas pelas quais Goiás perpassou. Encontramos na arte fogaciana o testemunho de um artista que partiu do tradicionalismo da paisagem histórico-interiorana para a denúncia, a partir do ano 2000, da vida estressante nas grandes cidades com o advento da globalização, concomitantemente ao momento em que Goiânia tornava-se uma metrópole e se inseria neste contexto mundial. Procuraremos compreender como a origem interiorana de G. Fogaça refletiu em sua produção, e quais foram os signos utilizados para retratar a nova realidade “moderna” do artista, uma vez que Goiânia foi a primeira cidade grande que o pintor conheceu, já na sua transição para a vida adulta. Para tanto, lançaremos mão da análise da biografia de G. Fogaça, da entrevista com seus pares no mercado de arte goiano, da interpretação de textos curatoriais a seu respeito, e do estudo da história da arte de paisagem tradicional e moderna, da qual G. Fogaça é legatário. Concluiremos com o entendimento de que a trajetória de G. Fogaça foi uma busca da melhor expressão da paisagem, em uma ambivalência entre sua crítica e exaltação. Com domínio sobre a técnica da pintura, o artista reflete as angústias da sociedade ao mesmo tempo em que atende a uma demanda simbólica ao representar Goiás como um signo de modernidade, sempre mantendo uma coerência artística no desenvolver da obra ao longo de sua trajetória. Palavras-chave: G. Fogaça, História da Arte, História de Goiás, Pintura, Paisagem. 7 ABSTRACT The work "From the interior landscapes to the urbanized: An artistic vision of G. Fogaça (1985-2018)" aims to interpret the work set of G. Fogaça from the understanding of his life trajectory linked to the historical dynamics in which Goiás passed through. We find in G. Fogaça’s art the testimony of an artist who started from the traditionalism of the historical landscape to denounce, starting from the year 2000, of the stressful life in the big cities with the advent of globalization, concomitantly to the moment that Goiânia became a metropolis in this world context. We will try to understand how the interior origin of G. Fogaça reflected in his production, and what were the signs used to portray the artist's new "modern" reality, once Goiânia was the first great city that the painter met, already in his transition to the adult life. To do so, we will analyze the biography of G. Fogaça, the interview with his peers in Goiânia’s art market, the interpretation of curatorial texts about him, and the study of the history of traditional and modern landscape art, whose G. Fogaça is a legatee. We conclude with the understanding that G. Fogaça's trajectory was a search for the best expression of the landscape, in an ambivalence between his critique and exaltation. With mastery over the technique of painting, the artist reflects the anxieties of society while attending to a symbolic demand by representing Goiás as a sign of modernity, always maintaining an artistic coherence in the development of the work throughout his trajectory. Keywords: G. Fogaça, History of Art, History of Goiás, Painting, Landscape. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................12 CAPÍTULO 1 – MEU NOME É JECIMAR, É DI SOUZA, É G. FOGAÇA........29 De Jecimar a Di Souza...................................................................................29 De Di Souza a G. Fogaça...............................................................................31 Simplesmente G. Fogaça...............................................................................37 Com a palavra, pares de G. Fogaça...............................................................42 O que dizem os curadores..............................................................................58 Para interpretar G. Fogaça.............................................................................66 CAPÍTULO 2 – CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM: CIDADES HISTÓRICAS (1985 – 1999).............................................................................................................73 A Paisagem na Europa: Da Composição Realista à Imaginária....................73 A Paisagem no Brasil.....................................................................................87 A Paisagem em Goiás....................................................................................89 CAPÍTULO 3 – DESCONSTRUÇÃO DA PAISAGEM: URBES MODERNAS (2000 – 2014)...........................................................................................................122 A Paisagem Segundo o Expressionismo Alemão........................................122 A Paisagem Moderna no Brasil...................................................................144 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................171 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................175 9 ANEXOS.................................................................................................................193 A) Transcrição de entrevista com o artista plástico G. Fogaça, realizada em 02 de maio de 2018.......................................................................................... 194 B) Transcrição de entrevista com a produtora e curadora Maria de Lourdes (Malu) da Cunha, realizada em 02 de maio de 2018.................................. 198 C) Transcrição de entrevista com a crítica de arte Dayalis González Perdomo, realizada em 21 de maio de 2018............................................................... 209 D) Transcrição de entrevista com o crítico de arte José Peixoto (PX) Silveira, realizada em 24 de abril de 2018................................................................ 214 E) Transcrição de entrevista com o crítico de arte Antônio da Mata, realizada em 17 de maio de 2018.............................................................................. 223 F) Transcrição de entrevista com o artista plástico Amaury Menezes, realizada em 17 de maio de 2018.............................................................................. 239 G) Transcrição de entrevista com o crítico de arte Miguel Jorge, realizada em 01 de maio de 2018......................................................................................... 246 H) Transcrição de entrevista com o artista plástico Zé César, realizada em 14 de março de 2019............................................................................................ 250 I) Transcrição de entrevista com o artista plástico Alexandre Liah, realizada em 20 de março de 2019.................................................................................. 261 10 INTRODUÇÃO Esta pesquisa se propõe a conhecer a produção artística de Jecimar de Souza Arruda, ou G. Fogaça, nascido no interior de Goiás e radicado em Goiânia a partir de meados dos anos 80. Em consequência de um estranhamento no olhar ao se deparar pela primeira vez com uma capital em processo de metropolização, o artista passa a realizar obras que testemunham o caos das grandes cidades. Entendemos por metropolização o processo que ocorre “a partir da polarização de uma região em torno de uma grande cidade, em dimensões físicas e, sobretudo, populacional, caracterizando-se pela alta densidade demográfica, alta taxa de urbanização, ao redor da qual se forma um núcleo metropolitano” (FREITAS, 2012, p. 44). Fenômeno este que tem gerado mundialmente problemáticas ambientais, morfológicas, políticas e socioeconômicas. O conhecimento de aspectos da vida de G. Fogaça e a análise de suas obras permitem compreender que seu trabalho artístico desde o início se concentrou predominantemente em um estudo da paisagem, começando por paisagens históricas de cidades pequenas, passando dialeticamente por sua antítese, que é a metrópole, e sintetizando essas vivências