I Curso Para Diplomatas Africanos.Indd

I Curso Para Diplomatas Africanos.Indd

i curso para diplomatas africanos textos acadêmicos MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO INSTITUTO DE PESQUISA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores e tem a fi nalidade de levar à sociedade civil informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais e para a política externa brasileira. Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo, Sala 1 70170-900 Brasília, DF Telefones: (61) 3411-6033/6034/6847 Fax: (61) 3411-9125 Site: www.funag.gov.br I Curso para Diplomatas Africanos Textos Acadêmicos Brasília, 2011 Direitos de publicação reservados à Fundação Alexandre de Gusmão Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo 70170-900 Brasília – DF Telefones: (61) 3411-6033/6034 Fax: (61) 3411-9125 Site: www.funag.gov.br E-mail: [email protected] Equipe Técnica: Henrique da Silveira Sardinha Pinto Filho André Yuji Pinheiro Uema Fernanda Antunes Siqueira Fernanda Leal Wanderley Juliana Corrêa de Freitas Pablo de Rezende Saturnino Braga Programação Visual e Diagramação: Juliana Orem Impresso no Brasil 2011 I Curso para Diplomatas Africanos. – Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. 516 p. I. Relações internacionais. ISBN: 978-85-7631-296-3 CDU: 327.3 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Sonale Paiva - CRB /1810 Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lei n° 10.994, de 14/12/2004. Sumário África e Brasil: Fraturas Geológicas e Aproximações Culturais, 9 Affonso Romano de Sant’Anna Cities: The Opportunities and Challenges of Urban Development in the New Millennium, 25 Alioune Badiane L’Afrique et la Scène Internationale, 63 Professeur Amine Ait-Chaalal Petróleo do Pré-Sal: Considerações Estratégicas sobre o Brasil e a Petrobras, 73 André Garcez Ghirardi A Integração da América do Sul, a África e a Ordem Mundial Multipolar, 91 Antonio José Ferreira Simões Capacitação Internacional em Agricultura Tropical: A Experiência da Embrapa, 107 Beatriz da Silveira Pinheiro, Antonio Carlos Prado, Elisio Contini A Atuação do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, 121 Carlos Sérgio S. Duarte Aspectos Geopolíticos Centro-Periferia, 139 Carlos Lessa Brazil-Africa Dialogue on Food Security, 157 Chimimba David Phiri Soberania Alimentar e Alimentação Adequada – A Experiência do Governo e da Sociedade Brasileira no Processo da sua Institucionalização e Implementação no Âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, 171 Crispim Moreira América do Sul: Uma Nova Civilização, 195 Darc Costa O Acordo de Comércio Preferencial – Mercosul – SACU, 217 Evandro Didonet, Fernando Mehler África no Sistema Internacional, 231 Fernando Augusto Albuquerque Mourão Determinantes da Saúde, 249 Helder Martins Financiamento ao Desenvolvimento, 279 Ivan Ramalho Perspectives on Africa’s Integration: Progress and Prospects, 293 J. M. Biswaro A Nova África e o Brasil: Percepções do Lado de Cá do Atlântico Sul, 333 José Flávio Sombra Saraiva Resultados da Conferência Brasil-África de Ministros de Agricultura, 349 Laudemir André Müller, Francesco Maria Pierri Futebol, o Campo das Palavras, 365 Leonel Kaz África e Brasil, 375 Luiz Felipe de Alencastro Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), 387 Marco Aurélio Pinheiro Lima Carta para Cheik Hamidou Kane, 399 Marco Lucchesi Energy in Africa – Is It a New Era?, 407 Mohamed Abdek-Rahman Sistema Único de Saúde do Brasil: Uma Introdução, 421 Paulo M. Buss Desafio da Cooperação para o Desenvolvimento, 437 Embaixador Piragibe Tarragô MPB: A Miscigenação Redentora, 449 Ricardo Cravo Albin Desafios das Políticas e Programas de Desenvolvimento Social, 467 Rômulo Paes-Sousa Cooperação Brasileira com a África, 487 Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira Africa and International Trade: Selected Issues and Policy Perspectives, 499 Xavier Carim África e Brasil: Fraturas Geológicas e Aproximações Culturais* Affonso Romano de Sant’Anna No recente VIII Encontro de Embaixadores da América Latina, realizado em abril/2010, no Palácio Itamaraty/Rio pela Fundação Alexandre de Gusmão, eu havia desenvolvido algumas ideias em torno de uma metáfora central: de que era necessário não apenas reativar a simbologia de uma “plaza mayor” – lugar tradicional de encontro da comunidade nas cidades de cultura hispânica, mas que o Brasil deveria fazer parte ativa de uma confluência histórica que se torna cada vez mais nítida entre nossos países em tempos de globalização. Defendia a ideia de que tanto geográfica quanto cultural e economicamente o nosso futuro latino-americano está cada vez mais interligado. Falando agora para embaixadores da África, dentro do mesmo projeto de ampliar o diálogo brasileiro com o mundo, retomo de alguma maneira aquelas ideias em torno da “plaza mayor” , porém, parto de uma observação, ou melhor, de uma metáfora geológica: dizem os especialistas que a África e a América Latina formavam, há 225 milhões de anos, um só continente – a Pangeia. Movimentos subterrâneos, estremecimentos tectônicos provocaram uma rachadura e um afastamento progressivo de nossas terras. Há quem * I Curso para Embaixadores Africanos. Palácio Itamaraty, 13 de julho 2010, organizado pela Fundação Alexandre de Gusmão. 9 AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA meça milimetricamente esse afastamento progressivo que seria de sete centímetros cada ano; afastamento tão progressivo e fantástico que provocaria um reencontro às avessas, pelas costas, daqui a milhões de anos. Penso nesses movimentos naturais ao me preparar para falar de alguns movimentos e/ou deslocamentos culturais entre nós na atualidade. A cultura seria assim uma intervenção na natureza. Uma intervenção não mais ditatorial, onipotente, como o era no passado, quando o homem se achava o ser privilegiado em detrimento dos demais, mas uma tentativa de coabitação e de possíveis correções de rumo de nossa história. Onde a geografia separa, a cultura pode aproximar. Digo isto e me ocorre, já no plano literário, portanto, no plano simbólico, uma alegoria. As alegorias (aprendemos isto nos livros religiosos ou mesmo nessa espécie de religião profana, literária, laica que são as obras de Kafka e Cervantes), têm a força dos mitos e dos símbolos. Nunca é demais lembrar, a propósito, que a origem da palavra símbolo remete para uma fratura e um religamento. Originalmente, o símbolo era uma plaqueta de barro que o hospedeiro dividia em duas partes, dando uma delas ao seu hóspede quando ele partia. Assim, quando ele retornasse um dia, trazendo o fragmento levado, essa espécie de senha, ele seria reconhecido e a encaixaria na outra parte deixada. O símbolo é um re-encaixe, o encontro de duas partes apartadas. Percebam que estou retomando a fratura geológica e agora a repondo em termos de fratura geoanimicamente, tirando-a do aspecto apenas material para expandi-la ao seu sentido imaterial, simbólico e cultural. Por isto, posso avançar um pouco mais neste terreno e, pisando já no solo literário da atualidade, retomar uma alegoria criada por José Saramago, o Prêmio Nobel de Língua Portuguesa recentemente falecido. Em seu livro “Jangada de Pedra” (1986) Saramago constrói uma alegoria instigante. Imaginou que, de repente, diante de um estranho tremor de terra, a Península Ibérica (Espanha e Portugal) se desmembrasse do continente europeu e, meio à deriva, se dirigisse na direção do Atlântico, da América. Como se vê, o autor, alegoricamente, não está indiferente a algumas observações científicas que dizem que a África esta se aproximando da Europa, enquanto o próprio Mar Vermelho se alarga. Mas a perturbadora alusão de Saramago vem ao encontro de nosso texto. Talvez o autor estivesse querendo dizer que Portugal e Espanha 10 ÁFRICA E BRASIL: FRATURAS GEOLÓGICAS E APROXIMAÇÕES CULTURAIS estariam buscando suas identidades em outros mares. Sei, por outro lado, que Saramago tinha um viés pessimista quanto ao Mercado Comum Europeu, para o qual Portugal havia entrado naqueles dias em que o romance surgiu. Quando escrevi uma crônica sobre “Jangada de Pedra”, Saramago me escreveu manifestando a crença de que Portugal estaria prestes a se dissolver, a ser engolido pelas leis internacionais do mercado. Parecia-me, e disse-lhe na ocasião, uma posição equivocada da parte dele. Essa ideia de “essência” dos povos ou da nacionalidade é complexa. Os indivíduos tanto quando os países se modificam dinamicamente no tempo e no espaço. Nenhum de nossos países está imobilizado. Há um movimento geo-econômico-político-tectônico que nos coloca numa espécie de dança através das eras. Estamos todos nos deslocando e os cientistas garantem que o próprio universo está em expansão. Seja como for, a metáfora de Saramago nos é útil aqui e agora e se insere dentro desta linha de movimentos, de atração e repulsão, que caracteriza a vida e a história. Essa ideia de deslocamento me leva a uma outra observação que não é apenas geográfica, mas essencialmente epistemológica. Ou seja, nos leva à questão do centramento e do descentramento, ao problema do ponto de vista do observador e sua relação com o real. Explico-me melhor. Quando olhamos, do ponto de vista brasileiro, o mapa-múndi, temos uma noção de que o Japão, a China e a Rússia estão na periferia. Lembro-me, a propósito, de algo já narrado numa crônica1 onde fiz considerações sobre o livro de Jean Christophe Rufin – “O império e os novos bárbaros” (Ed. Record). Num almoço-conferência em torno daquele autor francês o presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro fez questão de mostrar um mapa-múndi, mas do ponto de vista japonês. Ali o Japão estava no centro e nós na periferia. Havia não apenas uma questão de ponto de vista, mas uma outra dinâmica em curso. Com efeito, estudando certos deslocamentos socioeconômicos, Rufin considerava a pressão que a Europa vem sofrendo nas últimas décadas com a chegada não só dos africanos, mas dos trabalhadores e exilados, sobretudo, do Leste Europeu, além, é claro, de latino-americanos.

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