Do Agrêrio Ao Periurbano O Municèpio De Cachoeiras Do Macacu Na Regiào

Do Agrêrio Ao Periurbano O Municèpio De Cachoeiras Do Macacu Na Regiào

DO AGRÁRIO AO PERIURBANO O MUNICÍPIO DE CACHOEIRAS DO MACACU NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO Ana Maria de Souza Mello BICALHO1 Felipe da Silva MACHADO2 Resumo O artigo analisa o quadro da produção agrícola em associação à estrutura agrária e as novas tendências de reestruturação do espaço rural no município de Cachoeiras de Macacu, estado do Rio de Janeiro. A variação e o comportamento do espaço rural são analisados à luz do processo de incorporação de novas periferias à lógica metropolitana, apontando novas dinâmi- cas e mudanças espaciais em resposta à influência urbano-industrial e a demandas ambientais. Retoma-se um antigo debate, na Geografia, quanto ao conflito de uso da terra face ao crescimen- to urbano sobre as áreas rurais, no qual se confronta o fim da agricultura ou a sua adaptação com substituição de atividades combinadas com novas funções e usos rurais. Iniciamos com uma síntese da discussão do avanço do urbano sobre áreas agrícolas, seguida do entendimento da posição do município no processo de “metropolização”, para, então, caracterizarmos as ativida- des agrícolas, sua distribuição espacial e características socioprodutivas, expressando a dinâmi- ca de interação rural-urbana do espaço rural contemporâneo. Palavras-chave: Interação rural-urbana. Periferia metropolitana. Rural perimetropolitano. Espaço rural. Cachoeiras de Macacu. Rio de Janeiro. Abstract From an agrarian to periurban landscape in Cachoeiras de Macacu with the expansion of the metropolitan area of Rio de Janeiro The context of agricultural production in association with agrarian change and rural land use restructuring in Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro State is treated in this article. Variation and behavior of rural areas are analyzed within a process of incorporating metropolitan peripheries, demonstrating new dynamics and spatial changes in response to the influence of urban-industrial and environmental demands. An old geographical debate concerning land use conflict with urban growth in rural areas is revisited, contrasting the view that agriculture simply disappears and is replaced by urban uses with the more complex view that rural adaptation occurs involving the combination of new features and land uses. We begin with an overview of debates concerning urban penetration in agricultural areas and position Cachoeiras de Macacu within a process of “metropolitization” in order to understand the logic of the agricultural activities practiced, their spatial distribution and socio-productive characteristics, all of which express the dynamic interactions in the contemporary countryside. Key words: Rural-urban interaction. Metropolitan periphery. Peri-metropolitan rural zone. Rural space. Cachoeiras de Macacu. Rio de Janeiro. 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Geografia, Professor Associado. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mestrando. E-mail: [email protected] GEOGRAFIA, Rio Claro, v. 38, n. 3, p. 545-563, set./dez. 2013. Do agrário ao periurbano o município de Cachoeiras do Macacu 546 na região metropolitana do Rio de Janeiro GEOGRAFIA INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta o quadro e a diversidade da produção agrícola e as novas tendências de reestruturação do espaço rural do município de Cachoeiras de Macacu, estado do Rio de Janeiro, face ao crescimento urbano sobre as áreas rurais. O objetivo é analisar e caracterizar o comportamento da agricultura, utilizando-se dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, combinados com levantamentos secundários e observações de expedições de campo no município. A variação e o comportamento do espaço rural de Cachoeiras de Macacu são analisados, apontando novas dinâmicas e tendências de mudanças espaciais em resposta a demandas ambientais e à influência de processos urbano-industriais acelerados pela instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) em Itaboraí. Conflitos socioambientais e rural-urbanos são detectados, estando as áreas agríco- las do município, por um lado, circundadas por um arco de um conjunto contíguo de unida- des de conservação de proteção integral da Mata Atlântica e, por outro lado, sendo cortada por eixos rodoviários que direcionam o crescimento urbano e trazem consigo novos usos e funções ao espaço rural. Acrescenta-se o processo em curso de incorporação do município à dinâmica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, intensificando as mudanças no espaço rural. A atual configuração econômica e espacial da Região Metropolitana do Rio de Janeiro parece obedecer a um duplo movimento, de consolidação do espaço metropolitano e de mudanças na periferia da região metropolitana, onde o fenômeno da “metropolização” atinge seu entorno, reproduzindo novas periferias. O município de Cachoeiras de Macacu, até então marginal ao centro da dinâmica metropolitana, está inserido nesse contexto de incor- poração de novas periferias à lógica da metrópole, incidindo diretamente no seu espaço rural. O interesse em investigar as atividades agrícolas em um espaço onde ocorre expan- são de áreas urbanas retoma um antigo debate, na geografia, quanto ao conflito de uso da terra decorrente do crescimento urbano sobre as áreas rurais. Duas posições se confron- tam: o fim da agricultura ou a sua adaptação com substituição de atividades agrícolas e novas funções que geram a combinação e usos rurais e urbanos. Iniciamos com uma síntese da discussão do avanço do urbano sobre áreas agrícolas, seguida do entendimento da posição do município no estado do Rio de Janeiro e no processo de “metropolização”, para, então, caracterizarmos as atividades e sua distribuição espacial, analisando a dinâmica dos processos socioprodutivos em curso e as tendências de mudança em direção à constituição de um espaço de interação rural-urbano. O ESPAÇO RURAL EM PERIFERIA METROPOLITANA Para entender como a agricultura se comporta ao avanço da urbanização, é preciso considerá-la como parte de um processo dinâmico de contínua mudança espacial, gerado por uma situação de permanente conflito de interesses e disputa de áreas por usos urbanos e rurais. Cachoeiras de Macacu participa de um quadro de mudanças decorrentes da expan- são da metrópole do Rio de Janeiro, que incorpora áreas periféricas e produz novas periferi- as. Rearranjos espaciais vêm ocorrendo associados à dinâmica econômica atual do estado do Rio de Janeiro com a presença de novas infraestruturas de transporte e circulação e de indústrias, desencadeando um processo de competição por uso da terra urbano e rural e uma reorganização do espaço rural refletindo diretamente no uso da terra e no comporta- mento da agricultura. v. 38, n. 3, set./dez. 2013 Bicalho, A. M. de S. M. / Machado, F. da S. 547 Assim, a área objeto deste estudo está inserida em um processo de periurbanização, entendido como a extensão dos núcleos urbanos em direção à área rural, um processo de urbanização mais ou menos intensivo dependendo do lugar de ocorrência e que é, em sua maior parte, descontínuo espacialmente. Considerando o comportamento do espaço rural em processo de periurbanização, Bryant (1997) questiona a visão linear de estagnação e do fim da agricultura diante da expansão do urbano nos espaços de interação e conflito de uso da terra. Argumenta que as especificidades da agricultura em si também têm um papel relevante na direção das mudanças nos espaços de interação rural-urbana, ela resiste e também se adéqua ao novo contexto, substituindo atividades, intensificando sistemas pro- dutivos e se integrando com atividades não agrícolas. Na interação rural-urbana, a agricultura passa a fazer parte de uma nova configura- ção espacial, um espaço rural multifuncional, oferecendo oportunidades em setores econô- micos diferenciados agrícola e não agrícola (BICALHO,1996). A população rural se diversifica com a atração de ex-urbanos e com famílias rurais que se tornam pluriativas, combinando atividades rurais com atividades urbanas desempenhadas no centro urbano próximo. O pro- dutor rural e sua família convivem ou participam como produtores pluriativos nesse contex- to. As relações e configurações com o espraiar espacial do urbano, fruto do crescimento metropolitano, são muito mais complexas do que um mero avanço do fenômeno urbano sobre o campo, uma vez que dão origem a espaços interativos do urbano com o rural nos quais tanto podem ser mantidas atividades agrícolas dinâmicas quanto em estagnação (BRYANT; RUSSWURM; MCLELLAN, 1982). Diferente de regiões tipicamente agrícolas, onde dominam atividades agropecuárias em áreas distantes e fora da influência de grandes centros urba- nos, a agricultura praticada no interior e na periferia urbana apresenta particularidades que lhe confere uma identidade no conjunto da organização espacial da atividade agrícola (PIERCE, 1998). Particularidades estas que refletem uma estrutura fundiária fragmentada, sistemas produtivos intensivos no uso da terra, relações de trabalho familiares destacadas, produtos de valor agregado e in natura e estrutura de comercialização mais direta da produção ao consumo. Para Bryant e Johnston (1992), a presença de forças urbanas integrantes da dinâmi- ca da agricultura atua de duas maneiras distintas e contraditórias. Ao mesmo tempo em que a proximidade da cidade aumenta a demanda e a competição pelo trabalho e pelo uso da terra, há maior demanda por produtos com alto valor comercial e que podem ser cultivados próximo à cidade. Dessa forma, o processo de

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