Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social “Dançar nos fez pular o muro” Um estudo antropológico sobre a profissionalização na produção artística em Porto Alegre (1975-1985) Nicole Isabel dos Reis Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Antropologia Social. Orientador: Prof. Dr. Bernardo Lewgoy Porto Alegre, Abril de 2005. Resumo Esta pesquisa trata do processo de profissionalização na produção artística entre jovens de Porto Alegre nas áreas do audiovisual, teatro e música popular, entre 1975 e 1985. Através de um ponto de vista antropológico, procura-se relativizar a unidade da categoria “profissão” no fazer artístico, buscando uma compreensão dos trânsitos entre as áreas de produção e sua configuração numa rede de cooperação nos moldes de um art world tal como proposto por Becker (1982). Esta dissertação pretende, assim, desvelar algumas maneiras pelas quais alguns projetos sociais de camadas médias na Porto Alegre do final do período da ditadura militar no Brasil tornaram-se caminhos alternativos que permitiram a ascensão ao mercado de uma nova “geração de produtores de arte”. 2 Abstract This research deals with the process of profissionalization in the artistic production among young people in Porto Alegre, in the areas of audiovisual, theater and popular music, from 1975 to 1985. Through an anthropological point of view, the unity of the category “profession” is an object of relativisation, in the search of a comprehension of the transits between the production areas and its configuration in a network of cooperation such as Becker’s proposal of an “art world” (1982). This dissertation intends, thus, bringing to light some ways through which some of the social projects of middle-class groups in Porto Alegre, in the end of the military dictatorship period in Brazil became alternative ways that allowed the ascension to the market of a new “generation of art producers.” 3 Sumário Resumo ………………………………………………………………………………………….2 Abstract …………………………………………………………………………………………3 Agradecimentos ………………………………………………………………………………..5 Abreviaturas …………………………………………………………………………………...7 Introdução ……………………………………………………………………………………..8 Capítulo 1 - A questão profissional na música, audiovisual e teatro em Porto Alegre ao longo do século XX …………………………………………………..16 Música popular, 1900-1970: do pioneirismo à estagnação …………………...18 Audiovisual: muitas tentativas, poucos acertos …………………………….……30 Teatro: “quase” profissionais ……………………………………………………….41 Capítulo 2 – Apresentando a etnografia e os informantes …………………………….…50 Lugares da etnografia ……………………………………………………………….52 Trajetórias …………………………………………………………………………….57 Profissionais da música ……………………………………………………57 Profissionais do audiovisual ………………………………………………64 Profissionais do teatro ……………………………………………………..72 Capítulo 3 – Caminhos da profissionalização na música popular ……………….…….79 Capítulo 4 – Vamos fazer um filme ………………………………………………………101 Capítulo 5 – A profissionalização no fazer teatral ………………………………….…..122 Capítulo 6 – O “art world” de Porto Alegre – questões gerais …………………….….140 Malhas da rede …………………………………………………………………….140 Escolas, universidade, sociabilidade ……………………………………………146 Relações com o Estado – alguns pontos ………………………………………..149 Relações familiares ………………………………………………………………..154 Porto Alegre, a “cidade-escorpião”? ……………………………………….……156 2005: onde estão, o que fazem? …………………………………………………159 Considerações finais ……………………………………………………………………….166 Referências ………………………………………………………………………………….169 Anexo 1 – Ficha técnica e Equipe de Trabalho ………………………………………....174 Anexo 2 – Material jornalístico …………………………………………………………...179 Anexo 3 – Tabela Trajetórias ……………………………………………………………...186 4 Agradecimentos Em primeiro lugar, um agradecimento especial aos informantes deste trabalho – Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase, Jorge Furtado, Luciana Tomasi, Rudi Lagemann, Carlos Grübber, Mônica Schmiedt, Marta Biavaschi, Wander Wildner, Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Léo Henkin, Nico Nicolaiewski, Márcia do Canto, Marcos Breda, Júlio Conte, Lúcia Serpa, Nelson Nadotti, Sérgio Lulkin e Mirna Spritzer. Sou muito agradecida pela sua disponibilidade, tempo, boa-vontade, pelo material emprestado e por terem compartilhado comigo algumas memórias. Não posso deixar de agradecer aos outros entrevistados que colaboraram imensamente com a pesquisa – Deborah Lacerda, Giba-Giba, Juarez Fonseca, Dedé Ribeiro, Luciano Alabarse e Pedro Santos. Me faltam palavras para agradecer o empenho, o cuidado, o carinho e o interesse com que meu orientador, Bernardo Lewgoy, acompanhou todo o percurso da pesquisa. Minha dívida com ele é impagável. Agradeço enormemente aos meus pais, Célia e Eugênio, por terem assumido meus planos de fazer mestrado como uma prioridade e terem me ajudado de todas as maneiras possíveis. Sei de todos os esforços que fizeram para que eu pudesse concluir mais essa etapa. Agradeço aos professores do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por toda a interlocução ao longo do trabalho e pelas suas valiosas contribuições para minha formação como antropóloga. Aos membros da banca, Prof. Dr. Ruben Oliven, Prof. Dra. Regina Weber e Prof. Dr. Caleb Faria Alves, por terem aceitado o convite para a argüição. Agradeço a CAPES pela bolsa de mestrado, que viabilizou meu estudos. Tenho que agradecer a alguns amigos em especial. Em primeiro lugar, aos que participaram mais “diretamente” da realização da dissertação: 5 - Sou muito, mas muito mesmo agradecida ao Márcio pela cuidadosa revisão feita às pressas e à distância e pelas sugestões que foram bastante valiosas – viva o Skype! - Um agradecimento especial para a Eva, pelos conselhos, sugestões, revisões, papos, cafés e outras guloseimas. - Para minha grande amiga Marina, pela presença, pelos telefonemas, por aguentar meus chiliques e não se importar pelo meu assunto de conversa ser quase que invariavelmente o mesmo – a dissertação. Agradeço também a amizade e o carinho de um montão de amigos e colegas (e peço milhões de desculpas para aqueles que eu esquecer de listar aqui): Buyuh, Pilar, Laura, Nati, Nádia, Alessandro, Soraya, Michael, Marco, Andréia, Cristian, Pablo, Rodrigo, Mariana, Miriam, Gustavo, Tom, Verônica, Toninho, Henrique, Christian, Michelle, André, Eduardo, todo o mundo do Cultural Petrópolis, Mauro, as meninas do xerox da Clê, Soninha, Rose. E mais um monte de gente que certamente está no meu coração. May the Force be with us. Always. Dedico essa dissertação à minha afilhada, Vitória. 6 Abreviaturas APROCINERGS – Associação dos Produtores de Cinema do Rio Grande do Sul APTC/RS– Associação Profissional dos Técnicos de Cinema do Rio Grande do Sul BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento Econômico CAD – Curso de Arte Dramática CTG – Centro de Tradições Gaúchas DAD – Departamento de Arte Dramática FRAT – Federação Rio-grandense de Amadores Teatrais GDA – Grêmio Dramático Açores INC – Instituto Nacional de Cinema LP – Long-play PUC-RS – Pontifícia Universidade Católica – Rio Grande do Sul TE – Teatro do Estudante TVE-RS – Televisão Educativa – Rio Grande do Sul UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos 7 Introdução1 Em 1981, Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil, dois jovens de Porto Alegre com vinte-e- poucos-anos e recém saídos da faculdade de Comunicação, finalizaram o primeiro filme longa- metragem em película Super-8 feito no Rio Grande do Sul, “Deu Pra Ti Anos 70”. As filmagens foram feitas ao longo do ano de 1980, com as câmeras dos próprios realizadores; os atores foram recrutados entre amigos que participavam de grupos de teatro amador; os figurinos eram todos emprestados de amigos (ou dos próprios atores), assim como os apartamentos onde foram feitas algumas filmagens; a película Super-8 era comprada com o dinheiro dos próprios diretores, sem patrocínio ou financiamento algum; o carro que transportava o equipamento, os diretores e os atores era o Dodge Polara de Carlos Gerbase, o assistente de direção do filme, que também fazia produção, tirava fotos de cena e transportava a trupe; a dublagem foi feita na casa dos pais de Giba, num quarto com as paredes forradas de caixas de ovo; a exibição foi realizada pelos próprios diretores, não só em cinemas de Porto Alegre como em escolas, clubes, ginásios do interior, ou em qualquer lugar onde fosse possível pendurar uma tela de lençol, instalar as caixas de som e o projetor e colocar cadeiras para os espectadores. Em julho de 2004, 23 anos depois, portanto, da estréia de “Deu Pra Ti Anos 70”, seis longas-metragens estavam sendo feitos simultaneamente em Porto Alegre. Um deles era “Sal de Prata”, do próprio Carlos Gerbase. O filme contou com uma equipe de 69 pessoas, e com atores famosos nacionalmente pela televisão; foi produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre (da qual Gerbase e Giba Assis Brasil são sócios) e co-produzido pela multinacional Columbia Pictures (que também é a encarregada de distribuição); financeiramente, foi viabilizado através de prêmios em concursos federais de projetos cinematográficos e do apoio de empresas privadas. No set de filmagem, montado no Armazém A4 do Cais do Porto em Porto Alegre, uma grande estrutura foi construída, com divisões entre a parte onde localizavam-se os cenários e a área onde estavam cabines da produção, sala dos atores, camarim, copa e mesas onde a equipe inteira almoçava diariamente. Esse dois momentos
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