UNIVERSIDADE FEDERAL DO PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO RICARDO CÉSAR CAMPOS MAIA JÚNIOR AS ONDAS MUSICAIS DO PÓS-MANGUEBIT RECIFE 2016 RICARDO CÉSAR CAMPOS MAIA JÚNIOR AS ONDAS MUSICAIS DO PÓS-MANGUEBIT Tese apresentada à Coordenação do Programa de Pós Graduação em Comunicação, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Comunicação, sob orientação do Prof. Dr. Jeder Silveira Janotti Junior. RECIFE 2016 Catalogação na fonte Bibliotecária Maria Valéria Baltar de Abreu Vasconcelos, CRB4-439 M217o Maia Júnior, Ricardo César Campos As ondas musicais do Pós - Manguebit / Ricardo César Campos Maia Júnior. – Recife, 2016. 231 f.: il. Orientador: Jeder Silveira Janotti Junior. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, CAC. Comunicação, 2016. Inclui referências e apêndices. 1. Comunicação. 2. Música - Pernambuco - Sec. XX. 3. Comunicação e cultura. 4. Música - Pernambuco - Movimento. 5. Músicos - Pernambuco. 6. Mangue (Música). I. Janotti Junior, Jeder Silveira (Orientador). II. Titulo. 302.23 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2016-191) AGRADECIMENTOS Obrigado aos que contribuíram para a realização intelectual desse texto: principalmente ao meu orientador, Jeder Silveira Janotti Junior por toda a dedicação, suporte e força nessa caminhada; aos membros da minha banca examinadora, além dos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE. Agradeço também por todo o suporte emocional dado nessa longa caminhada pela minha família, principalmente: minha avó, Mabel Morais, minha mãe, Eliane Pires de Morais Maia, minha esposa, Raquel Valentim e minha filha Nina Mabel. Para finalizar, dedico essa tese à memória do meu pai, Ricardo Maia. Obrigado, Ricardo Maia Jr. RESUMO A tese aborda o debate sobre algumas das ondas musicais que surgiram após o Manguebit – manifestação cultural que marcou a cultura local nos anos 1990 e que teve importantes representantes da música pernambucana reconhecidos nacionalmente e no mundo afora, como: Chico Science, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio, Otto etc. Tendo como foco as análises a partir dos estudos culturais, comunicacionais, sociológicos e antropológicos sobre Cena, Movimento e Carreiras Musicais, principalmente. Escolhemos algumas das manifestações musicais que mais destacaram-se dentre os agrupamentos musicais do Pós-Manguebit: Recife Lo-fi, TsuMangue e Cena Beto. Como forma de encontrar alguns pontos-chave no ambiente musical do Grande Recife do século XXI. As formas de agrupamentos em meio à música despertam o interesse da pesquisa em entender como ocorrem essas dinâmicas de encontros e desencontros, consensos e dissensos, afinidades sociais e violências simbólicas, só para citar algumas maneiras de partilha do sensível musical. E o conceito de onda musical ajuda-nos a entender melhor como os agentes contemporâneos atuam de forma fragmentada, efêmera, líquida e fluída nos grupos que têm a música enquanto sentido aglutinador das manifestações culturais. As movimentações da música alternativa contemporânea da Região Metropolitana da capital pernambucana, tendo como estudo de caso as ondas do Pós-Manguebit pretendem abordar uma parcela da complexa dinâmica cultural recifense mais recente. PALAVRAS-CHAVE: Pós-Manguebit, Ondas musicais, Cena, Movimento, Carreira. ABSTRACT The thesis discusses the debate on the musical wave that emerged after the Manguebit - cultural event that marked the local culture in the 1990s and had important representatives of Pernambuco music recognized nationally and worldwide, as Chico Science, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio, Otto etc. Focusing on analysis from cultural studies, communication, sociological and anthropological on scene, movement and music careers, mostly. We chose some of the musical manifestations that most stood out among the musical groups of the Post-Manguebit: Recife Lo-fi, TsuMangue and Cena Beto. In order to find some key points in the musical environment of Recife of the twenty-first century. The grouping forms amid music arouse the interest of research to understand how these dynamics of meetings and disagreements, consensus and dissent, social affinities and symbolic violence, just to name a few ways of sharing sensitive musical. And the concept of musical wave helps us to better understand how the contemporary agents act in a fragmented, ephemeral, liquid and fluid way in groups that have music as a unifying sense of cultural manifestations. The drives by the contemporary alternative music in the Metropolitan Region of Recife, having as a case study of the waves of Post-Manguebit intend to approach a portion of the complex latest Recife cultural dynamics. KEYWORDS: Post-Manguebit, Musical waves, Scene, Movement, Career. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 9 2 AGRUPAMENTOS SONOROS 25 2.1 Manguebit 25 2.2 Manifestações musicais 36 2.3 Movimentos e cenas musicais 45 3 AS ONDAS MUSICAIS DO PÓS-MANGUEBIT 83 3.1 Para além da sonoridade Pós-Mangue 89 3.2 Um passeio pela sonoridade Pós-Mangue 110 3.3 Agrupamentos musicais do momento Pós-Manguebit 119 3.4 Pós-Mangue: to be or not to be?! 148 4 CARREIRAS NAS ONDAS DO PÓS-MANGUE 152 4.1 Panelinhas e Brodagem 154 4.2 Do Mangue pra Casa 182 5 CONCLUSÕES 189 REFERÊNCIAS 192 APÊNDICE A - Entrevista com Ângelo de Souza (Graxa) 196 APÊNDICE B - Entrevista com Felipe S (Mombojó) 208 APÊNDICE C - Entrevista com Flávio Augusto Câmara (China) 214 APÊNDICE D - Entrevista com Juvenil Silva 219 APÊNDICE E - Entrevista com Zeca Viana 224 9 1 INTRODUÇÃO A pesquisa aponta para um estudo de casos – ou seja, algumas das Ondas do Pós-Manguebit: Recife Lo-fi, TsuMangue e Cena Beto – de caráter fundamentalmente empirista em meio a uma constelação de conceitos que vai partir de três ideias convergentes: Cena, Movimento e Carreiras musicais. O percurso dessa tese pretende discutir questões referentes a um entendimento expandido da música, ou seja, na busca por abordar em um mesmo plano as sonoridades, as relações humanas e as coisas musicais. Pois, são muitas as ligações que podemos mapear através do som e suas ramificações simbólicas. De fato, os universos, de uma arte à outra, bem como numa mesma arte, podem derivar uns dos outros, ou então entrar em relações de captura e formar constelações de universo, independentemente de qualquer derivação, mas também dispersar-se em nebulosas ou sistemas estelares diferentes, sob distâncias qualitativas que não são mais de espaço e de tempo. É sobre suas linhas de fuga que os universos se encadeiam ou se separam, de modo que o plano pode ser único, ao mesmo tempo que os universos são múltiplos irredutíveis (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p. 252). Através das fronteiras relacionais dos afectos e perceptos1, das linhas de fuga e das sensações – próprios das artes na busca pela formação de constelações de universo –, vamos nos aventurar em estruturar alguns dos procedimentos transversais que tocam a música, independentemente de qualquer derivação ou filiação, pois os universos das artes são múltiplos irredutíveis e, por isso que a permeabilidade é o principal mote nessas relações de captura. E a fim de interligar a constelação de conceitos com outra metodologia aberta e contestatória acerca dos lugares comuns do conhecimento humano, vamos acionar o método das contradições desenvolvido por Jomard Muniz de Britto2 em Do Modernismo à Bossa Nova a fim de compreender justamente 1 Os perceptos não mais são percepções, são independentes do estado daqueles que os experimentam; os afectos não são mais sentimentos ou afecções, transbordam a força daqueles que são atravessados por eles. As sensações, perceptos e afectos, são seres que valem por si mesmos e excedem qualquer vivido. Existem na ausência do homem, podemos dizer, porque o homem, tal como ele é fixado na pedra, sobre a tela ou ao longo das palavras, é ele próprio um composto de perceptos e de afectos. A obra de arte é um ser de sensação, e nada mais: ela existe em si (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p. 213). 2 “Escritor e poeta, professor e ensaísta, cineasta-videomaker e performer multiartístico, Jomard Muniz de Britto escapa-nos a identificações apressadas.[…] Autor de uma obra vasta 10 “uma realidade como processo: gênese, desenvolvimento e consequências” (BRITTO, 2009, p. 26). Mas antes de ir adiante, é preciso estar ciente de que a intencionalidade do método das contradições não é de ver somente: [...] os aspectos díspares, os flagrantes opostos da realidade ou as suas dimensões pejorativamente contraditórias. Pois o método das contradições não se limita a isso, nem se perde nisso. Avança. Analisa, através de contrastes fecundos e de oposições criadoras, o que constitui a historicidade de uma situação- momento, de uma época totalizante, de um problema, de uma personalidade, de um povo. São contrastes fecundo na medida em que permitem a compreensão dinâmica, temporal e sintética do entrelaçamento de uma determinada situação com a época que a circunscreve, assim como o círculo menor da situação fosse abrangido pelo maior da época. É, também, pela visão descritiva e interpretativa das contradições que os problemas vão sendo apresentados como ponte de ligação ou círculos intermediários entre as personalidades e o povo, entre as elites intelectuais e a comunidade popular, entre os artistas e seu público. (BRITTO, 2009, pp. 25-26) São práticas sócio-técnicas de uma situação-momento coletiva e de uma época totalizante como empreende o método das contradições de Jomard Muniz de Britto – aliando
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