Universidade de Lisboa Instituto de Ciências Sociais Ervas que curam. Da “Terra das Ervanárias” à produção de plantas medicinais e de conhecimento. Elsa do Céu Dias de Almeida Frazão Mateus Doutoramento em Antropologia Especialidade de Antropologia da Saúde 2014 Universidade de Lisboa Instituto de Ciências Sociais Ervas que curam. Da “Terra das Ervanárias” à produção de plantas medicinais e de conhecimento. Elsa do Céu Dias de Almeida Frazão Mateus Tese orientada pela professora Doutora Cristiana Lage Bastos Doutoramento em Antropologia Especialidade de Antropologia da Saúde Apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Programa Operacional Potencial Humano e do QREN Portugal 2007-2013 (Bolsa de Doutoramento SFRH/BD/65700/2009) 2014 Resumo Sabe-se que as plantas medicinais têm sido usadas no tratamento de doenças humanas em muitos locais e épocas diversas. Enquanto a medicina popular e as suas tradições de cura coexistiram com a biomedicina e com as ciências farmacêuticas em vários períodos e lugares, o conhecimento popular foi frequentemente desprezado como supersticioso. Contudo, as tendências recentes nas ciências e no mercado da saúde vieram renovar o interesse pelo conhecimento tradicional sobre plantas medicinais. Subjacente ao valor económico deste conhecimento aplicado no desenvolvimento de novos medicamentos, surge a questão da protecção da propriedade intelectual, juntamente com a necessidade de proteger a biodiversidade da sobreexploração e da biopirataria. Essa protecção implicou o estabelecimento de regulamentação que ajustasse os diferentes sistemas de conhecimento e modos de estar no mundo aos padrões da ciência hegemónica. Este estudo pretende analisar estes processos, focando-se nas estratégias de uma pequena aldeia portuguesa onde a tradição de colheita da flora espontânea para o fornecimento de boticários e ervanários se tornou numa indústria. A sua recente denominação como «Terra das Ervanárias» está localmente interligada com a história da exploração dos recursos naturais, dos baldios e da protecção da natureza. Mas, encontra- se, sobretudo, relacionada com a produção de conhecimento sobre plantas medicinais articulada com o mercado de saúde, representados pela investigação científica, pelo negócio da indústria local e por uma reputada ervanária de Lisboa, fundada em 1793. Desta forma, será possível discutir os processos de produção, comercialização e consumo de produtos herbais como medicamentos através do seu enquadramento em diferentes significados de acordo com cada actor social. A Terra das Ervanárias oferece, então, um exemplo etnográfico de todas estas tensões entre as perspectivas tradicionais e as preocupações contemporâneas subjacentes à escolha de soluções de saúde e das suas diversas implicações. Palavras-chave: Antropologia do Conhecimento, Antropologia da Saúde, Ervanária, Etnobotânica, Medicamentos. Abstract Medicinal plants are known for being used in many different places and times for the treatment of human ailments. While folk medicine and its healing traditions coexisted with biomedicine and pharmaceutical sciences in many periods and places, folk knowledge was often deemed as superstitious and dismissed. Recent trends in the health sciences and health markets have however brought a renewed interest about traditional knowledge on medicinal plants. Underlying the economic value of the knowledge applied in the development of new medicines, the question of intellectual property protection arose along with the need to protect biodiversity from overexploitation and from biopiracy. Protection implied regulation to adjust different systems of knowledge and ways of being in the world into the standards of the hegemonic science. This study intends to analyse those processes by focusing on the strategies of a small Portuguese village where the tradition of collecting wild plants to supply apothecaries and herbal stores became an industry. Its recently denomination as «Land of Herbalists» is locally intertwined with the history of the natural resources exploitation, of the Commons and of the protection of nature. But the «Land of Herbalists» relies mostly in the production of knowledge around medicinal plants articulated with the health market, represented by scientific research, by the local industry business, and by a well-known herbal store in Lisbon founded in 1793. Therefore, the production, marketing and consumption of herbal products as medicines will be discussed, framing it in different meanings accordingly with each social actor. Thus, the «Land of Herbalists» stands as an ethnographic example of all these tensions between the traditional perspectives and contemporary concerns underlying the choice of health solutions and its several implications. Key words: Anthropology of Knowledge, Medical Anthropology, Herbalists, Ethnobotany, Medicines. Índice Agradecimentos .............................................................................................................. vii I Introdução....................................................................................................................... 1 II Protecção do Conhecimento ....................................................................................... 15 III Da Terra Comum e da Terra das Ervanárias ............................................................. 43 IV Pelo Património Vegetal ............................................................................................ 83 V Flora Protegida ......................................................................................................... 112 VI Medicina e Conhecimento Tradicional ................................................................... 147 VII Das ervas ................................................................................................................ 196 VIII Da botica e ervanária ............................................................................................ 244 IX Vida Social dos Chás Medicinais ............................................................................ 285 X Considerações finais ................................................................................................. 325 Bibliografia ................................................................................................................... 335 Fontes Documentais .................................................................................................. 379 Anexos .......................................................................................................................... 381 i Índice de Imagens Imagem 1 - Placa afixada à entrada da povoação em 2008. (Foto de Maio de 2010). ................ 43 Imagem 2 – Localização do PNSAC e mapa do Baldio de Vale da Trave, conforme acordo de 2014. (Adaptado de http://www.icnf.pt/ e de http://baldiodovaledatrave.blogspot.pt/) .............. 68 Imagem 3 - Placa assinalando terrenos do Baldio do Vale da Trave (Foto de Maio de 2010). .. 70 Imagem 4 - Centro Comunitário do Vale da Trave (Foto de Maio de 2010). ............................. 77 Imagem 5 - Pormenor da placa assinalando a construção da escola pelo povo. (Foto de Abril de 2012). .......................................................................................................................................... 77 Imagem 6 - Festas em Honra de S. Caetano e S. Sebastião em 2012. (http://baldiodovaledatrave. blogspot.pt/2012/04/festas-do-vale-da-trave-fotos.html). ........................................................... 77 Imagem 7 - Dia Comunitário de Vale da Trave, Dezembro de 2010. ......................................... 77 Imagem 8 - Formandos do curso da AGROBIO observando a secagem tradicional de hipericão- do-gerês. (Foto de 30 de Junho de 2012). ................................................................................... 79 Imagem 9 - Lagoa de Vale da Trave, recuperada pelo Baldio em 2014. (Fotografia de Madalena Durão). ........................................................................................................................................ 80 Imagem 10 - Verças identificada na flora espontânea, Vale da Trave. (Foto de Abril de 2012). 91 Imagem 11 - Ti' Elisa com as verças colhidas, Vale da Trave. (Idem). ...................................... 91 Imagem 12 – Rosmaninho e tojo, Vale da Trave. (Foto de Maio de 2010). ............................. 113 Imagem 13 – Murta, Vale da Trave. (Foto de Abril de 2012)................................................... 113 Imagem 14 – Salva brava colhida por Ti' Elisa. (Foto de Abril de 2012). ................................ 134 Imagem 15 - Folheto do Percurso Pedestre Gruta do Pena PR1 STR, Vale da Trave - Terra das Ervanárias. ................................................................................................................................. 144 Imagem 16 - Aroeira e alecrim. Ti' Elisa, Vale da Trave. (Foto de Abril de 2012) .................. 152 Imagem 17 - Instalações da primeira fábrica de Vale da Trave. (Foto de Maio de 2012). ....... 219 Imagem 18 - Máquina de joeirar, num segundo armazém. Vale da Trave. (Foto de Maio de 2012). ........................................................................................................................................ 223 Imagem 19 - Máquina de cortar, num terceiro armazém. Vale da Trave. (Idem). .................... 223 Imagem 20 - Alfredo Silvério: processamento do eucalipto. Ao fundo, eucalipto ensacado para ser transportado no dia seguinte.
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