UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Maysa Espíndola Souza A LIBERDADE DO CONTRATO: O TRABALHO AFRICANO NA LEGISLAÇÃO DO IMPÉRIO PORTUGUÊS, 1850-1910. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de mestre em História Cultural. Orientador: Dr. Henrique Espada Rodrigues Lima Filho Co-orientadora: Dr.ª Beatriz Gallotti Mamigonian. Florianópolis Março de 2017 Ficha de identificação da obra elaborada pela autora através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Para Janete e Luiz Fernando. AGRADECIMENTOS Não sei ao certo como agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho, direi “muito obrigada” na esperança de que simbolize a minha mais sincera gratidão e citarei alguns nomes tendo em mente que muitos outros careceriam de menção. À minha família agradeço por tudo, sem figuras de linguagem, obrigada por tudo mesmo. À Janete Espíndola e Luiz Fernando de Oliveira Souza, meus pais, agradeço especialmente por todo amparo e compreensão. À Elaine, minha irmã, e sua família, Alexandro, Gustavo, Sophia e Thomás obrigada pela eterna confiança. Ao vô Jorge pela ternura. À Bilyana Petrova, Kristian Larios e Sydney Henderson agradeço as intermináveis conversas, elas foram responsáveis pelos insights que resultaram no meu projeto de pesquisa e por muitos momentos alegres durante a execução dele. Às parcerias de Angela Lima, Esther Rossi, Janaína Maciel, Jeniffer Silva, Samira Moretto, Luana Mayra da Silva que tornaram a vida mais leve. À Patrícia Geremias por indiretamente fazer da orientação desta pesquisa e pelas palavras de apoio em momentos decisivos. À Dona Goreti Schveitzer e Sr. Luiz Schveitzer por me acolherem na família e ainda me presentearem com uma irmã. À Ana Carolina Schveitzer, Antonio José, Ahmed Oluwa, Cássila Mello, Alexandra Alvim, Ana Carolina Dionísio, Joana Bueno, Nathália Cadore e Jennifer Gallagher por me mostrarem que a palavra amizade é muito mais forte do que eu jamais havia imaginado. Agradeço à Juliana Rodrigues e Analice Teixeira por todo o carinho recebido. À Verônica Almeida pela cumplicidade e companhia que me deram força especialmente nas horas mais difíceis. À Gabriela Marques, Tamara Carneiro, Thaís Branco, Kátia Madeira, Fráya da Cunha, Aline Cipriano, Fátima “do Acre”, Carolina Votto, Jefferson Lima, “Nana” e várias outras pessoas incríveis que conheci no C.E.M. Lúcia Mayvorne e que foram de alguma maneira importantes na finalização deste trabalho. Agradeço ainda às crianças e adolescentes da escola que, através de suas histórias, diariamente me inspiram a estudar a história social do direito. À professora Eunice Nodari e às funcionárias do Programa de Pós-graduação em História, Eliane de Souza Oro e Bruna Rocha, agradeço imensamente pelo profissionalismo. À Fabiane Popinigis por partilhar comigo o interesse pela História da África e à Andréa Delgado por me mostrar que a pesquisa poderia ser um caminho possível. Aos professores Alexander Keese e Thiago Kramer por lerem a primeira versão e por colaborarem com suas críticas durante o exame de qualificação. Agradeço também às professoras Lucilene Reginaldo, Claudia Mortari e ao professor Paulo Pinheiro Machado pela leitura atenta e pelas sugestões feitas. Ao professor Henrique Espada Lima e à professora Beatriz Mamigonian agradeço por terem acreditado nesta pesquisa e sobretudo pelo exemplo de competência. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) cujo financiamento tornou possível a minha dedicação integral durante todo o período de realização do mestrado e ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina pelo custeio de missões de pesquisa e de viagens para participação em eventos. Àqueles cujo tempo dedicado a esta pesquisa me tolheu a despedida, Elisangela Espindola in memorian, Lili Espíndola in memorian, Elza Hadlich in memorian, Vera Lúcia Espíndola in memorian e Jeferson Costa e Souza in memorian. Entre os processos revolucionários que transformaram o mundo do século XIX, nenhum foi tão dramático em suas consequências humanas ou teve implicações sociais tão profundas como a abolição da escravatura. Realizada por revolução negra, legislação ou guerra civil, a emancipação não apenas eliminou uma instituição em crescente antagonismo com a sensibilidade moral da época, como também introduziu questões dificílimas acerca do sistema de organização econômica e de relações sociais que substituiria a escravidão. Eric Foner, 1983. RESUMO Os debates historiográficos em torno da “transição para o trabalho livre” têm explorado as complexidades e ambiguidades dos processos de emancipação. As perspectivas que apostavam na explicação de que a mão de obra escrava foi completamente substituída pelo trabalho assalariado e que o âmbito destas relações de trabalho diferiam muito daquelas relativas à escravidão têm sido sistematicamente rechaçadas, a delimitação dos campos referentes à história do trabalho livre e do trabalho escravo aparece bastante matizada nos trabalhos mais recentes. Outro ponto importante à história do trabalho remete ao caráter Atlântico das questões, ainda que guardem certas especificidades, o pós-emancipação no Brasil, Cuba, Haiti, Estados Unidos e Caribe é repleto de experiências comuns. A liberdade dos libertos foi acompanhada, em muitos casos, da necessidade de cumprir um período de trabalho obrigatório, declarar local de trabalho e moradia, estar sob a proteção de curadores e portar os documentos que atestassem a sua identidade, ser preterido como colono e ter negado o acesso a terras, conviver com severas leis de repressão à vadiagem, são algumas das condições impostas à liberdade no contexto do pós-emancipação. O pós-emancipação na África também apresenta pontos de intersecção com os contextos americanos, no entanto, é muito menos estudado e dificilmente considerado nas análises comparativas. Assim como em outras sociedades escravistas, o pós- emancipação na África Portuguesa vivenciou a proliferação de arranjos de trabalho que não se pode denominar de escravidão, tampouco se configuram como plenamente trabalho livre. Desta forma, esta pesquisa analisou as concepções de trabalho livre pensadas para os africanos do Império Português entre os anos de 1850 e 1910, das primeiras menções da abolição no ultramar à instauração do regime republicano em Portugal. À época das discussões sobre a abolição da escravidão no Império Português, em torno do início da segunda metade do século XIX, muito foi produzido sobre os destinos possíveis dos africanos no contexto do pós-emancipação, juristas, rábulas, militares, políticos, jornalistas, administradores, intelectuais, entre outros, pareciam preocupados em apresentar saídas para a questão sem que, para a maioria deles, isto implicasse na dissolução dos laços coloniais. Além disto, o poder legislativo português outorgou grande quantidade de legislação regulamentando o trabalho dos africanos, tamanho esforço contribuiu para organizar a administração do império ultramarino e evitar problemas diplomáticos com os signatários dos acordos de repressão do trabalho escravo e compulsório. Através da legislação, de periódicos e das obras de estudiosos contemporâneos dos debates da abolição, a pesquisa explorou as complexidades e ambiguidades das políticas de emancipação que articularam a liberdade dos indígenas africanos às mais diversas formas de exploração do trabalho. Palavras-chave: Abolição; História da África; História Social do Direito. ABSTRACT The historiographical debates surrounding the "transition to free labor" have been exploring the complexities and ambiguities of the processes of emancipation. The perspectives that used to bet on the explanation that slave labor had been completely replaced by wage labor and that the scope of these labor relations differ greatly from those relative to slavery have been systematically rejected, and the delimitation of the fields referring to the history of free labor and slave labor appears with much nuance in most recent works. Another important point in the history of work refers to the Atlantic character of the issues: although they keep certain specificities, post-emancipation in Brazil, Cuba, Haiti, the United States and in the Caribbean is full of shared common experiences. In many cases, the liberty of the freedmen was accompanied by the need to fulfill a period of compulsory labor, to declare the place of work and housing, to be under the protection of curators and to carry documents attesting their identity, to be refused as a settler and to have the access to fertile lands denied; along with living with severe laws of repression against vagrancy, those were some of the conditions imposed on freedom in the context of post-emancipation. Post-emancipation in Africa also presents points of intersection with American contexts, however, it is much less studied and hardly considered in the comparative analyses. As in other slave societies, post-emancipation in Portuguese Africa experienced the proliferation of work arrangements that cannot be called slavery, and that do not constitute free labor either. In this way, this research analyzed the conceptions of free labor thought for the Africans of the Portuguese Empire between the years of 1850 and 1910, between the first mentions of the abolition overseas and the implementation of the republican regime in Portugal. At the time of the discussions about the abolition
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