Dn 15/02 53 264 : E-Paper

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34 ARTES Domingo _15 de fevereiro de 2015. Diário de Notícias Haydn com chocalhos, A francesa Colette Gomette (Hélène Gustin) mostrou em Rabo de Peixe política o poder do humor e narizes na crítica política de palhaço Festival. Bolina reuniu palhaças de todo o mundo nos Açores e mostrou novas tendên- cias. Humor e intervenção social andam a par partir daí, com a terrível tentação de FILOMENA NAVES mexer em tudo, e ela não resiste: An- SOUSA GABRIEL MARIA na toca nos chocalhos e com eles A peruana Wendy Ramos Pode-se tocar Haydn com choca- acaba a interpretar Haydn, toca trouxe o seu espetáculo lhos sem desafinar a obra do mes- numa aparelhagem que lhe trans- Cuerdas aos Açores: tre? Pois, soará estranho, mas a ver- forma a voz, e que ela explora até ao uma reflexão sobre a vida, dade é que se pode. A austríaca Tan- riso, toca numa serra de metal e com muitas gargalhadas ja Simma, ou melhor, a sua clown, transforma-a num cómico violino, Anna de Lirium, fê-lo há dias em ou ainda numa pequena guitarra Ponta Delgada, nos Açores, no po- elétrica na qual interpreta primeiro pular espaço Arco 8. A inesperada a inocente Twinkle Twinkle Little mistura de sons da orquestra clás- Star, para se lançar depois num rock sica com os chocalhos tocados (ba- furioso. No final, Anna ganha o tra- dalados?) nos sítios certos por uma balho... de empregada de limpeza. Anna de Lirium que seguia a parti- Mas por pouco tempo, porque deci- tura com muita convicção pôs a de subverter o destino: põe um na- plateia a rir à gargalhada. Mas aque- riz de palhaço no esfregão e canta le foi só um dos muitos momentos com ele um dueto hilariante de uma divertidos do show The Substitute, canção de Sinatra. que Tanja apresentou no Bolina, o No Arco 8, o público riu-se du- primeiro festival internacional de rante quase uma hora e não pou- palhaças dos Açores, organizado pou aplausos. A reação típica que pela cooperativa cultural Descalças Tanja observa nos países latinos. e a Associação 9’Circos. “Foi assim em Espanha e no Brasil”, A comédia musical da austríaca conta, sublinhando que “estes pú- tem um pouco de tudo: humor, blicos são mais abertos”. No seu música clássica, rock da pesada, país, por exemplo, “as pessoas são danças em sucessão vertiginosa e muito críticas à partida, é preciso equívocos q.b., que ela explora até ganhá-las”. ao delírio – afinal, é o seu apelido, É isso que ela tem feito desde há certo? quase três décadas. Na Áustria, “os The Substitute tem ano e meio de palhaços, e por maioria de razão as estrada. Depois da estreia em Viena, palhaças, não são figuras muito em 2013, Tanja Simma já levou o es- consideradas”, diz Tanja Simma. E sica, Criatividade e Performance na pitais – “aí ponho sempre o nariz, na, nos Açores, é um dos expoentes petáculo a Espanha, Bélgica, Poló- por isso “não há espaços para fazer Universidade de Viena e, estava no palco nem sempre”, confessa – a nível internacional. Wendy desco- nia, Alemanha, Suíça e Brasil, entre espetáculos de palhaços, a não ser, ainda a estudar, quando se juntou Tanja leva já 27 anos de vida a fazer briu o seu caminho quando fez, outros, e agora trouxe-o a Portugal, às vezes, nos cabarets”. aos Palhaços-Médicos de Nariz rir os outros. ainda nos anos de 1990, um a São Miguel, nos Açores. “Mas o Vermelho de Viena, que entretanto Nestas quase três décadas, “os workshop na Argentina, no qual se show”, diz ela, “ainda está a crescer, O movimento do clown moderno cresceram e se internacionaliza- palhaços não conquistaram me- cruzou com as novas tendências ar- ainda tem muito potencial de des- Apesar da pouca abertura aos ram, e com os quais continua a tra- lhor estatuto na Áustria”, na sua opi- tísticas do clown moderno, com raí- coberta. Encontram-se sempre coi- clowns no seu país, foi essa vida que balhar. “Eles deram-me uma boa nião. “O que mudou foi o facto de zes na década de 1960. sas novas, pequenos improvisos, à acabou por escolher, “quase por formação e continuamos a fazer hoje haver mais clowns de hospital, Muito para lá das tradicionais medida que fazemos a performan- instinto”, explica. “Tinha 18 anos, todos os anos um workshop, que que também ganharam mais visi- duplas dos palhaços ricos-palhaços ce e interagimos com o público”, ex- estava a acabar o liceu e não sabia agora é internacional.” bilidade.” pobres, o clown contemporâneo in- plica. bem o que fazer. Sempre cresci com Hoje, com uma carreira consoli- Essa expansão dos palhaços de tervém em todos os palcos, incluin- Na base está a história de uma música em casa, tocava piano e dada, que inclui duas temporadas hospital não aconteceu só na Áus- do em bairros desfavorecidos, em mulher à procura de emprego cantava, mas não queria ser pianis- no show Varekai do Cirque du So- tria, mas por todo o mundo – por cá zonas de conflito ou de catástrofe, e numa loja de instrumentos musi- ta, nem cantora, ou professora de leil, entre 1999 e 2001, a cofundação também. Esse tipo de intervenção tem comédia, humor e comunica- cais, que tem de esperar sozinha música. Então, um dia uma amiga em 2008 do Theater Olé, o primeiro é hoje, aliás, uma das facetas mais ção, calor humano, interação com pelo chefe que vai entrevistá-la. Ele anunciou-me que ia ser palhaça e teatro de palhaços da capital aus- visíveis do chamado movimento do os outros e até a crítica política, está atrasado e ela tem uma reco- eu, sem pensar, disse-lhe: olha eu tríaca, e a participação em festivais clown moderno, de que a peruana como faz a francesa Hélène Gustin. mendação expressa: não tocar em também.” nos quatro cantos do mundo, além Wendy Ramos, formadora, madri- Hélène também esteve nos Aço- nada. A comédia desenrola-se a Assim foi. Fez um curso de Mú- das intervenções regulares nos hos- nha e participante do festival Boli- res com o seu alter ego Colette Go- Domingo _15 de fevereiro de 2015. Diário de Notícias ARTES 35 PUB Supertramp iniciam tournée europeia em Portugal Tanja Simma, CONCERTO Gondomar e aliás, Anna Lisboa são os dois palcos na- de Lirium, cionais que recebem a míti- levou ca banca britânica, a 3 e 4 de ao palco açoriano a novembro, respetivamente sua comédia musical Portugal, mais concretamente o Pavilhão Multiusos de Gondomar, foi o palco escolhido pelos Super- tramp para o arranque da nova di- gressão europeia da mítica banca britânica, Supertramp Forever Tour. A data escolhida foi 3 de no- vembro, uma terça-feira, e no dia seguinte o grupo apresenta-se na Meo Arena, em Lisboa. Para esta di- gressão, que passará também por França, Alemanha, Áustria, Espa- nha, Suíça, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Inglaterra, a banda promete trazer um espetáculo his- tórico que incluirá alguns dos prin- cipais hits como Bloody Well Right, Dreamer, From Now On, Goodbye Stranger, The Logical Song, Rudy, entre outros temas que fazem par- te do imaginário de várias gerações. Segundo informação da promo- tora do espetáculo em Portugal, a Everything Is New, em palco, a acompanhar o vocalista, teclista e MARIA GABRIEL SOUSA GABRIEL MARIA fundador dos Supertramp, Rick Davies, estarão o saxofonista John mette e o show Le Ditacteur – votem com os outros palhaços e palhaças, Anthony Helliwell e o baterista Bob em mim, pedia Colette, de nariz esta é uma atividade muito emocio- Siebenberg, que desde 1973 inte- vermelho e meias às riscas, a distri- nal, muito forte”, confessa. gram a formação da banda. Tam- buir panfletos plateia fora, com um Wendy apresentou pela primei- bém os músicos veteranos das últi- jeito de mimo. Com este trabalho, ra vez em Portugal, no festival Boli- mas digressões irão novamente Hélène faz “uma paródia ao poder”, na, o seu último espetáculo, Cuer- acompanhar a banda – Jesse Sie- ao mesmo tempo reafirmando o das, o primeiro que faz a solo em benberg (vocais, guitarra e precur- poder do humor, “que acaba de re- mais de 25 anos de carreira. Nele re- são), Cliff Hugo (baixo), Carl Ver- ceber um golpe horrível com o flete sobre as amarras que, muitas heyen (guitarra), Lee Thornburg massacre dos cartoonistas do Char- vezes com a nossa própria conivên- (trombone, trompete, teclado e vo- lie Hebdo”, lembra. Ela estava em cia, nos impedem de viver. Presa cais), Gabe Dixon (voz e teclado) e Paris na altura e quase não encon- por uma corda – literalmente –, que Cassie Miller (voz). tra palavras para falar disso. “É ter- lhe impõe limites apertados, Esta digressão irá ainda marcar rível quando algo assim acontece, Wendy, com o seu nariz de palhaço o tão esperado regresso do multi- quando se mata o humor e os hu- – “uso-o sempre quando trabalho, -instrumentista Mark Hart à for- moristas”, desabafa. Ser clown, diz fico menos vulnerável”, explica –, mação dos Supertramp, banda ela, “não é só fazer rir”. desenrola em Cuerdas o fio da sua com a qual participou em vários MARIA GABRIEL SOUSA GABRIEL MARIA própria história, com as suas pe- trabalhos de estúdio e em tournées, Palhaços todo-o-terreno quenas e grandes recordações, os entre 1986 e 1988 e entre 1996 e Wendy Ramos é uma das que põem seus pequenos e grandes feitos e 2002. O álbum Free As a Bird (1987) este lema em prática quotidiana- encontros, e ri-se também de si foi o primeiro que contou com a mente.

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