A Origem De Uruguaiana

A Origem De Uruguaiana

ESTUDIOS HISTORICOS – CDHRPyB- Año VI - Julio 2014 - Nº 12 – ISSN: 1688 – 5317. Uruguay URUGUAIANA: SUAS FRONTEIRAS E SUA IDENTIDADE Ronaldo Bernardino Colvero1 Edson Romário Paniagua2 Davide Carbonai3 Resumo: Este artigo tem como objetivo situar Uruguaiana frente às questões da história local e regional, analisando as questões relativas dentro do contexto econômico na Bacia do Prata, bem como a necessidade de sua criação para fins militares, fiscais e de defesa do território. Para tal, analisamos o papel do índio e do negro escravo na história da ocupação e na identidade gaúcha local. Outro sim, destacamos o comércio licito e ilícito na fronteira e sua importância econômica no período, bem como as peculiaridades da guarda de uma região de fronteira. Palavras-chave: desenvolvimento econômico, fronteira, identidade, território. Abstract: This article presents Uruguaiana forward to issues of regional and local history, analyzing this questions within the economic context in the "Bacia do Prata", as well as the need for its creation for military, fiscal and defense territory. For this, we bring role of the Indian and black slaves in the history of occupation and local identity. Finally, highlight the licit and illicit trade at the border and its economic importance in the period, as well as the peculiarities of the guard a frontier region. Keywords: economic development, frontier, identity, territory. O Território Rio-Grandense: A Ocupação Durante o século XVII os holandeses que ocupavam o nordeste brasileiro e algumas regiões da África abundante em mão-de-obra negra, forçaram os portugueses, no Brasil, irem em direção ao sul a fim de aprisionar o gentio4 (QUEVEDO, 1999, p.104), que estava reduzido nas missões jesuíticas situadas na região de Itatins e Guairá, à margem esquerda do rio Paranapanema, desde 1607, fundadas pelos missionários da Companhia de Jesus. Os jesuítas tinham o intuito de reduzir o índio para “convertê-lo à fé cristã, livrando-o de sua cultura pagã que era considerada como obra do diabo” (FLORES, 1997), servindo também como “remissão dos pecados, dessa forma o fim maior da evangelização se confirmava para alcançar de Nosso Senhor uma grande estima da gloriosa empresa que lhes confiou, e fazer-se instrumentos aptos seus para a conversão de tantos fiéis.” (BOLLO apud QUEVEDO, 1999, p. 107). Segundo Mário Maestri, “o projeto jesuítico era o mesmo para 1 Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa campus São Borja (UNIPAMPA), e Professor Titular do Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPEL. Doutor em História pela PUCRS. [email protected] 2 Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa campus São Borja (UNIPAMPA). Doutor em História pela UNISINOS. [email protected] 3 Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa campus São Borja (UNIPAMPA). Doutor em Sociologia Econômica pela Universidade di Teramo. [email protected] 4 O gentio é um termo que faz parte exclusivamente da tradição judaico-cristã e serve para indicar todos aqueles que professam religiões não monoteístas, geralmente profanas, se fundamentando na oposição entre “povo eleito” e os demais povos. 1 ESTUDIOS HISTORICOS – CDHRPyB- Año VI - Julio 2014 - Nº 12 – ISSN: 1688 – 5317. Uruguay todo o novo mundo. Reunir em uma aldeia diversas comunidades nativas, submete-las à autoridade colonial e convertê-las ao cristianismo e ao que se considerava como civilização” (MAESTRI, 2000). Assim se estabeleceram na região do atual Paraguai, chamada de Guairá àquela época. São Paulo, com essas incursões conhecidas como entradas e bandeiras, tornou-se uma área especializada no aprisionamento e venda de gentios, mas ao contrário do que se pensava antes, este não ia para a região açucareira como mão-de-obra escrava. Segundo estudos de John Bossy, este ficava na própria província de São Vicente como mão-de-obra nas fazendas. Segundo Júlio Quevedo e José Tamanquevis, O Jesuíta representava uma ameaça, pois disputava a mão-de-obra indígena; os luso-brasileiros queriam escravizá-los, enquanto os jesuítas queriam cristianiza-los e especializa-los em uma profissão para a auto-defesa (QUEVEDO; TAMANQUEVIS, 1995, p.16). Com o ataque dos luso-brasileiros, os jesuítas se viram obrigados a migrar para o sul, penetrando em território rio-grandense em 1626, na chamada zona do “Tape”5. A partir daí fundaram reduções, e essas penetrações em território rio-grandense se deram sob bandeira espanhola. Tanto as reduções do Tape como, mais tarde, os Sete Povos das Missões faziam parte do sistema colonial espanhol que tinha por interesse um agrupamento indígena dentro dos princípios cristãos, impondo ao índio uma doutrina sem aceitação própria. Mesmo assim, as reduções representavam para os índios a possibilidade de não serem escravizados, tanto pelos encomendeiros espanhóis, quanto pelos luso-brasileiros de São Vicente. Nas reduções “os jesuítas procuravam exercer esse papel ao “pé da letra”, posto que missão significa “missio”, o encargo, o ato de mandar, onde o missionário exercia papel fundamental no encargo de doutrinar o índio Cristão” (QUEVEDO, 2000, p. 92). Conforme relatos do padre Roque, referente à região do Tape, deixa claro que o índio por vezes resistia ao processo reducional. Dificultando, em certos momentos o trabalho do jesuíta pois, “no período reducional os missionários defrontaram-se com muitas adversidades, 5 Ver mais em PESAVENTO (1997). Tape era a área que se estendia pela bacia do Jacuí, limitando-se, por uma lado dos contrafortes das Serras do Mar e Geral e com o Rio Uruguai, por outro. 2 ESTUDIOS HISTORICOS – CDHRPyB- Año VI - Julio 2014 - Nº 12 – ISSN: 1688 – 5317. Uruguay tanto internas (sublevações indígenas, ação de animais ferozes) quanto externas (o encomendero espanhol e as bandeiras escravistas)” (QUEVEDO, 2000, p. 80). O ano de 1635 é marcado por um desastroso incidente: iniciam-se os ataques às reduções do Tape, chefiado por Raposo Tavares. Em contrapartida, a ameaça externa fazia com que os padres da Companhia de Jesus percebessem a necessidade de se organizar para o combate, que no caso era concebido como uma Guerra Santa. A partir de 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento, e o retorno dos Jesuítas ao local de suas antigas reduções, deixava clara que as Nações Ibéricas estavam interessadas de permanecer definitivamente nesta região, iniciando assim um processo de conflito político, militar, econômico, religioso. O objetivo luso era intervir no comércio espanhol, pois vinha sofrendo duras perdas desde 1640, quando do término da União Ibérica. A partir de 1640, o contrabando tem uma ascensão na região do Prata, onde os portugueses através da Colônia do Santíssimo Sacramento, tinham um comércio intenso de manufaturas, principalmente inglesas, o que vai deixar os espanhóis desgostosos e em 1680 vão atacar o reduto português, porque os índios acreditavam que a região pertencia aos domínios espanhóis, e portanto, ao seu rei. Conforme Quevedo e Tamanquevis, “em agosto de 1680, os índios missioneiros atacaram o reduto, sobrando poucos sobreviventes” (QUEVEDO, 1995, p. 18). Com isso, os portugueses ameaçaram guerrear com a Espanha, resultando no Tratado Provisional de 1681, onde a Colônia foi devolvida aos portugueses. A partir do século XVIII, as reduções em território rio-grandense estavam organizadas economicamente, politicamente e culturalmente, de uma forma independente da lusitana ou, até mesmo da espanhola, iniciando um processo de expansão territorial rumo ao sul. O retorno dos Jesuítas para a região do Tape em 1682 se deu principalmente, pela ameaça sofrida pela Coroa Espanhola, que estava aos poucos perdendo território para a Coroa Portuguesa, que havia ordenado os lusos a migrarem para o sul, para o que depois do Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, será conhecido como “Campos Neutrais”. Nada mais eram que terras onde não haviam nem espanhóis, nem portugueses e onde estava situada a Vacaria do Mar, que conduziu essa atração do luso-brasileiro para a região. Aí estavam as reses que 3 ESTUDIOS HISTORICOS – CDHRPyB- Año VI - Julio 2014 - Nº 12 – ISSN: 1688 – 5317. Uruguay foram trazidas pelos espanhóis da primeira tentativa de redução dos índios, e que ficaram soltas, selvagens, depois da migração destes para o outro lado do rio Uruguai. Em 1737, como centro da irradiação dos lusos provenientes da Colônia do Sacramento, principalmente os contrabandistas, foi fundada na região da atual cidade de Rio Grande, o Forte Jesus-Maria-José. “A expansão portuguesa preocupava sobremaneira os missionários. Na correspondências dos jesuítas da década de 1740, sobressai a preocupação com a presença portuguesa e a missão dos povoados de defender a fronteira espanhola na Zona do Rio da Prata...” (QUEVEDO, 1995, p. 152), nota-se aí, uma tentativa de que os índios criassem uma identidade espanhola para defender os interesses da Coroa de Espanha, com ênfase no resguardo da fronteira espanhola. Segundo Sandra Pesavento, as Missões eram unidades economicamente desenvolvidas, praticamente autônomas, exportando para a Europa, enviando tributos ao Geral de Companhia, em Roma, com influência política dentro dos Estados Católicos da Europa, a Companhia de Jesus tornou-se pouco a pouco uma ameaça. Generalizou-se o boato de que a ordem jesuíta se constituíra num “Estado dentro do Estado” e que os padres estariam com intenção de fundar um “Império Teocrático na América (PESAVENTO, 1997, p. 12). Mas, contrapondo isto, Mário Maestri afirma, em História do Rio Grande do Sul: a ocupação do território que Jamais

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