Emiliano Di Cavalcanti Ingressa No Campo Das Artes Quando a Revista Fon-Fon Publica Uma Caricatura De Sua Autoria, Em 1914

Emiliano Di Cavalcanti Ingressa No Campo Das Artes Quando a Revista Fon-Fon Publica Uma Caricatura De Sua Autoria, Em 1914

acervoroteiros de visita O Museu de Arte Contemporânea da Universidade oferece diversas atividades e serviços como de São Paulo (MAC USP) foi criado em 1963, disciplinas optativas, cursos de extensão cultural, 19 quando a Universidade de São Paulo recebeu de ateliês, visitas orientadas, site na internet e isita e não deve ser utilizada individualmente Francisco Matarazzo Sobrinho, Ciccillo, então biblioteca especializada. presidente do Museu de Arte Moderna de São A Divisão Técnico - Científica de Educação e Arte Paulo, o acervo que constituía o MAM SP. Além (DTCEA) concentra sua atuação no desse acervo transferido para a USP, Matarazzo e desenvolvimento de materiais educativos, na Acervo: Roteiros de V sua mulher, Yolanda Penteado, doaram ao novo formação de monitores, na organização de museu suas coleções particulares, às quais se exposições didáticas, em programas para públicos somaram aquelas efetuadas pela Fundação Nelson diversos, cursos à comunidade e em publicações ação Rockfeller e os prêmios das Bienais Internacionais que têm como objetivo geral favorecer um contato de São Paulo. mais efetivo entre a obra e público visitante, Hoje o MAC USP possui mais de 8 mil obras entre especialmente professores e estudantes. pinturas, desenhos, gravuras, fotografias, Dentro dessa proposta e com o patrocínio da Esta ficha é parte integrante do programa esculturas, objetos, instalações e trabalhos Fundação Vitae, a equipe de educadores produziu conceituais, constituindo um importante acervo de o Acervo: Roteiros de Visita. Esse material propicia arte moderna e contemporânea, relevante aos pesquisadores, professores e alunos recursos patrimônio cultural na América Latina. preparatórios e avaliativos de visitas ao museu Como museu universitário, o MAC USP é um local universitário. Valoriza a idéia de museu também apresent de pesquisa, de formação educacional e de como “sala de aula”, dinamizando processos produção de conhecimento. Além das exposições, criativos e a interatividade nas áreas do conhecimento. Elza Ajzenberg Diretora do MAC USP Colega professor/a, Nos últimos anos os museus afirmaram-se como Pretendemos com o uso deste material didático espaços de educação essenciais no processo de que você se sinta mais confortável e com maior ensino e aprendizagem. Cabe aos educadores de autonomia ao percorrer as exposições do MAC museus desenvolver recursos que intensifiquem USP com os seus alunos. a utilização desse potencial educativo Cada ficha, como esta, é acompanhada pela privilegiado. No caso específico do ensino de arte, reprodução de uma das 50 obras do acervo do MAC o contato com as obras originais é insubstituível. USP selecionadas para compor este material. Os Desde 1984 - ano em que começa a ser critérios para a escolha das obras foram a sua estruturado o setor de Arte-Educação do MAC relevância dentro de um determinado panorama USP, hoje Divisão Técnico-Científica de da arte do século XX e a sua recorrente seleção Educação e Arte - temos desenvolvido formas pelas curadorias do museu, garantindo que este de abordagens pedagógicas da arte e material possa, de fato, ser utilizado em paralelo colaborado com a formação do público de arte às exposições. contemporânea. Os conteúdos são abordados de modo a incentivar Acervo: Roteiros de Visita foi criado com o a postura de professor pesquisador. Queremos objetivo de estimular a proximidade de professores trocar experiências, acreditando que juntos e alunos com as obras do acervo do MAC USP, poderemos aprimorar nossa práxis educacional e por meio de recursos que auxiliem no cultivar valores necessários à sociedade planejamento, no aproveitamento e no contemporânea. desdobramento das visitas ao museu. Bom trabalho! Christiana Moraes e Maria Angela Serri Francoio Divisão Técnico-Científica de Educação e Arte Emiliano Di Cavalcanti ingressa no campo das artes quando a revista Fon-Fon publica uma caricatura de sua autoria, em 1914. Sua atuação como artista gráfico na imprensa, como ilustrador ou caricaturista, confere-lhe uma formação artística alicerçada antes no desenho do que propriamente na linguagem pictórica, e também lhe proporciona grandes contatos com jornalistas e escritores, que o direcionam para a boêmia carioca. Essas Será a partir de seu retorno de Paris, em abstração que se difundia no Brasil a partir vivências são importantes por encerrarem 1925, mais especificamente de sua de meados da década de 1940, uma orientação estética de transgressão passagem pela École de Paris, que o artista considerando-o “um movimento comercial que dialoga com os preceitos modernistas. desenvolverá sua obra de acordo com uma de marchands parisienses”. Assim, Essas experiências justificam a atribuição estética moderna associada à preocupação continuará pintando os referenciais conferida a Di Cavalcanti como idealizador com a identidade nacional brasileira. realistas orientados pelas temáticas da Semana de Arte de Moderna de 1922. Apesar de Di Cavalcanti buscar uma nacionais. No entanto, as obras que o artista apresenta linguagem própria, a presença da fase A importância de Di Cavalcanti para a arte na Semana de 1922 estavam bastante clássica de PABLO PICASSO é facilmente brasileira deve ser entendida além do rótulo distantes das correntes modernistas, à reconhecível em suas figuras femininas, bem “pintor de mulatas”. Esta última palavra, Rio de Janeiro, RJ, 1897 - 1976 Emiliano Di Cavalcanti exceção da capa do programa e do como as lições do mestre Cézanne no que embora incorporada ao cotidiano, é catálogo. Como explica Di Cavalcanti: “[...] se refere à modelação da cor e à depreciativa, pois relaciona as mulheres Meu modernismo coloria-se do anarquismo ambigüidade do espaço. Ainda na década de negras às mulas de carga que aceitam cultural brasileiro e, se ainda claudicava, 1920, a cor submete-se ao desenho, qualquer tipo de trabalho e aos prazeres possuía o dom de nascer com os erros, a garantindo a relação dos volumes e planos. sensuais e lascivos. Di Cavalcanti nos 1 inexperiência e o lirismo brasileiros.” Mas com o aproximar da década seguinte, deixa, sobretudo, uma síntese das A produção plástica de Di Cavalcanti anterior cada vez mais a cor passa a ser o elemento linguagens artísticas modernas européias à Semana costuma ser negligenciada pelos constitutivo principal de suas pinturas. Di e dos temas nacionais. Muitas são as críticos, sobretudo por ela não incorporar Cavalcanti passa a desenhar e construir com contribuições do artista como caricaturista, os apelos nacionalistas, tão caros aos a cor, momento esse da sua produção em ilustrador, pintor, gravador, jornalista, modernistas. As obras produzidas entre que se verifica uma correspondência com os escritor e até como radialista. Talvez sejam 1914 e 1921 dialogam com as correntes elementos decorativos de Henri Matisse, as palavras do crítico Luís Martins que artísticas do fin-de-siècle europeu. Suas sobretudo no emprego de arabescos e de melhor compreendam o seu legado ilustrações, com princípios do Art Nouveau, linhas de cor horizontais para a determinação artístico: “Sua arte é aceita e admirada em e seus desenhos e aquarelas, com dos planos. todas as camadas da sociedade, desde os princípios do Decadentismo ou Simbolismo, Di Cavalcanti foi, por um período, membro meios da alta burguesia, que adquire seus se aproximam de Beardsley, Klimt e do Partido Comunista, e como tal, defendia quadros, ao homem do povo, que Carrière. Destaca-se, neste período, o a idéia da arte como missão, como um contempla os seus murais. É que ela álbum Fantoches da Meia-Noite de 1922, compromisso social, arte que deveria conserva esse atributo essencialmente considerado “o trabalho de maior autonomia denunciar as injustiças sociais, daí sua social e humano da arte, em sua expressão de Di” e, segundo Mário de Andrade, “são aproximação com o Muralismo Mexicano. mais autêntica, que é o poder de os comentários de uma época e dos Nessa escolha o artista podia manter-se comunicação.” 3 costumes cariocas”. Neles já é possível no exercício da figuração, das reconhecer os novos rumos da linguagem deformações e dos ensaios cubistas. E, formal moderna que o artista iria adotar: o coerente com essa visão de arte engajada, 1 SIMIONI, 2002. p. 47. 2 2 SIMIONI, 2002. p. 122. p. 129. Cubismo e o Expressionismo. Di Cavalcanti não poderia aceitar a 3 Luís Martins. In Di Cavalcanti 100 anos: As mulheres de Di: Di - meu Brasil brasileiro,1997. p. 52. Pescadores, 1951 Professor/a, observe o casal de pescadores: óleo sobre tela, 114,5 x 162 cm Discuta com os alunos os pontos de vista adotados pelo artista para a caracterização dessas pessoas. Di Cavalcanti fixou em suas pinturas, gravuras e desenhos - mulheres, cenários cariocas, gente dos Pesquise na produção do artista outras formas de representação da figura morros e dos subúrbios, o samba, a música, a dança, o humana. mar e os pescadores -, mas de todos eles “ [...] nada Qual o perfil de nossa gente em sua produção? pode se comparar à presença da mulher no repertório Peça aos alunos que entrevistem os trabalhadores de sua escola. Nesse recorte, de seus temas. A mulher, mais que preocupação, é é possível exercitar um olhar observador para a nossa realidade? obsessão na sua obra. Ela constitui o centro maior de seu interesse - a expressão emocional e plástica por Compare-a com a realidade apresentada na pintura. Há, na produção do artista, excelência do artista. Em numerosas peças vêmo-lo intenção em caracterizar econômica, política e culturalmente o povo brasileiro? aplicado em fazer surgir do nanquim, do crayon,

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