Universidade Federal Do Rio Grande – Furg Instituto De Letras E Artes Programa De Pós-Graduação Em Letras Mestrado Em História Da Literatura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG INSTITUTO DE LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM HISTÓRIA DA LITERATURA NATHANIEL REIS DE FIGUEIREDO MITO E SÍMBOLO EM AUTRAN DOURADO: Uma leitura de Os sinos da agonia pela perspectiva do imaginário RIO GRANDE 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG INSTITUTO DE LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM HISTÓRIA DA LITERATURA NATHANIEL REIS DE FIGUEIREDO MITO E SÍMBOLO EM AUTRAN DOURADO: Uma leitura de Os sinos da agonia pela perspectiva do imaginário Dissertação apresentada como requisito parcial e último para obtenção do grau de Mestre em Letras, área de concentração História da Literatura. Orientadora: Profª Drª Cláudia Mentz Martins Data da defesa: 27/02/2014 Instituição depositária: Sistema de Bibliotecas – SIB Universidade Federal do Rio Grande – FURG Rio Grande, fevereiro de 2014 1 2 AGRADECIMENTOS Neste espaço, gostaria de registrar minha gratidão aos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho. Aos meus pais, por possibilitarem que minha infância e adolescência fossem marcadas por músicas, filmes, jogos de video game, histórias em quadrinhos e literatura. À família de minha esposa, por ter dado suporte aos meus sonhos, planejamentos e ambições. Aos meus familiares animais, Fili, Kili, Balin, Crono, Juju, Marlon Brando, Scully, Kiki e Ygritte, pela agradável companhia em minha rotina silenciosa de leitura e escrita. Ao Prof. Dr. Éder Silveira, por incentivar em mim potencialidades que eu ignorava. À Profª. Drª. Cláudia Mentz Martins, por ter me iniciado na longa trajetória do imaginário, trazendo valiosas contribuições para minha formação e para este trabalho através de sua paciente orientação. À Profª. Drª. Raquel Rolando de Souza, por me fazer ter novos olhares sobre o pensamento de Gaston Bachelard e os estudos do imaginário na literatura. À Profª. Drª. Mairim Linck Piva, pelas construtivas críticas ao projeto do qual se originou este trabalho. Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande, pelas contribuições que deram à minha trajetória profissional. À Capes, por viabilizar minhas pesquisas através de bolsa de estudos. Em especial, à minha esposa, Thaísa, por reacender minha paixão pela literatura, discutir meus estudos e apoiar minhas escolhas. 3 Um livro angustiante oferece aos angustiados uma homeopatia da angústia. Mas essa homeopatia age, sobretudo, numa leitura mediada, na leitura valorizada pelo interesse literário. Porque a angústia é fictícia: somos feitos para respirar livremente. […] E é nisso que a poesia - ápice de toda a alegria estética - é benéfica. (Gaston Bachelard) 4 RESUMO O presente estudo propõe uma análise do imaginário de Os sinos da agonia, originalmente publicado em 1974, do escritor mineiro Autran Dourado (1926-2012). Constatando que a fortuna crítica identifica a relação do romance com o mito de Hipólito e Fedra através de relações de analogias, parte-se da premissa de que uma análise do mítico na literatura deve ser realizada primeiramente através da compreensão de como as imagens simbólicas estão expressas dentro da obra de arte. Para tanto, utilizou-se do referencial teórico do imaginário encontrado na psicologia das profundezas de Carl Gustav Jung, na filosofia da imaginação material de Gaston Bachelard e na antropologia do imaginário de Gilbert Durand. De tais posturas teóricas derivam um método de crítica do imaginário na literatura, conhecido como mitocrítica, que propõe analisar sincronicamente uma narrativa para compreender os conteúdos repetitivos que se relacionam no fio diacrônico do discurso. Com tal abordagem, foi possível identificar a organização das principais imagens do romance, consteladas em mitemas, até chegar ao “segundo texto”, a dinâmica do mito literário presente na narrativa. Ao compreender o núcleo mítico da obra, seu sermo mythicus, as relações com a história de Hipólito e Fedra foram complexificadas, através da percepção de que o livro realiza um diálogo vivo com o mito arcaico, dando significado existencial a uma narrativa sobre o tabu do incesto que toca questões simbólicas da relação entre o homem, o tempo e a morte. PALAVRAS-CHAVE: mito, símbolo, imaginário, literatura brasileira, Autran Dourado. 5 ABSTRACT This study proposes an analysis of Os sinos da agonia imagery, a novel originally published in 1974 and written by Autran Dourado (1926- 2012). Noticing that the critics identify a relationship between the novel and the myth of Hippolytus and Phaedra through relations of analogy, we start from the premise that an analysis of the mythic literature should be performed first by the understanding of how symbolic images are expressed within the work of art. For this, we used the theoretical references of imagery found in the depth psychology of Carl Gustav Jung, the philosophy of Gaston Bachelard’s material imagination and Gilbert Durand’s anthropology of imagery. Such theoretical position derive a method of critical imagination on literature known as mythocritcs which aims to analyze a narrative synchronously in order to understand the repetitive content that relate the diachronic thread of the discourse. With this approach, it was possible to identify the organization of the main images in this novel gathered in mythemes until it reaches the “second text”, the dynamics of literary myth in this narrative. By understanding the mythic core of this work, its sermo mythicus, the relations with the story of Hippolytus and Phaedra were made more complex through the perception that the book makes a lively dialogue with the archaic myth, giving existential meaning to a narrative about the taboo of incest which deals with symbolic issues of the relationship among man, time and death. KEY WORDS: myth, symbol, imagery, brazilian literature, Autran Dourado. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 1 AUTRAN DOURADO E AS LEITURAS DE OS SINOS DA AGONIA 13 1.1 Autran Dourado: vida e obra 13 1.2 Autran Dourado na história da literatura brasileira 18 1.3 Fortuna crítica de Os sinos da agonia 21 1.4 Mito e símbolo nos ensaios de Autran Dourado 28 2 TEORIA DO IMAGINÁRIO E LITERATURA 37 2.1 Teoria dos símbolos de C.G. Jung 38 2.2 Filosofia da imaginação de Gaston Bachelard 43 2.3 Regimes do imaginário de Gilbert Durand 51 2.4 Imaginário e literatura: a noção de mito 63 2.5 Mitocrítica: proposta de um método de leitura do imaginário no romance 67 3 IMAGINÁRIO DE OS SINOS DA AGONIA 70 3.1 Malvina: o fogo e a traça 77 3.1.1 Fogo: o sol negro 77 3.1.2 Fiandeira: a lição de Aracne 92 3.2 Gaspar: alma perturbada pelos mortos, grandeza de puro coração 99 3.2.1 Terra: a intimidade em conflito 99 3.2.2 Andrógino: o homem sofredor 109 3.3 Januário: a morte em vida 114 3.3.1 Terra: a epifania lunar 115 3.3.2 Duplo: o sacrifício do recalcado 118 3.4 Memória do futuro, destino do passado: o sermo mythicus 128 CONSIDERAÇÕES FINAIS 141 REFERÊNCIAS 147 7 INTRODUÇÃO O presente estudo busca compreender a forma como o imaginário se expressa em Os sinos da agonia, do escritor mineiro Autran Dourado (1926-2012), originalmente publicado em 1974. Nessa busca, que envereda para os caminhos da leitura simbólica e mítica, há o desejo de propor um caminho interpretativo que reflita sobre as imagens literárias presentes nesse romance e de compreender quais são as contribuições que a perspectiva do imaginário traz para os estudos literários. As sementes dessa pesquisa germinaram em paralelo à participação no projeto de pesquisa “Revisão da poesia brasileira da primeira metade do século XX pelas teorias do Imaginário”, coordenado pela professora doutora Cláudia Mentz Martins, que busca determinar os recursos imagéticos recorrentes na tradição lírica brasileira do início do século XX. Foi através dessa pesquisa que se teve contato pela primeira vez com as teoria do imaginário, possibilitando as leituras de teóricos como Carl Gustav Jung, Gaston Bachelard e Gilbert Durand. Dessas leituras, considerou-se especialmente interessante as contribuições que a psicologia das profundezas, a filosofia da imaginação material e a antropologia do imaginário trazem para um estudo aprofundado de obras literárias. Na correlação entre a teoria do imaginário e os estudos literários, há uma visão da literatura não somente como uma expressão técnica artística autônoma, mas também uma expressão instauradora de significações de mundo para autores e leitores. Com curiosidade em relação às potencialidades que essa perspectiva pode trazer ao estudo de literatura, iniciou-se a busca por um objeto em que se percebesse, por leituras preliminares, a possibilidade de enriquecer sua fortuna crítica com uma leitura do imaginário. Constatou-se que os estudos do imaginário na literatura dão grande ênfase ao gênero lírico. Obras como Por une poetique de l'imaginaire, de Jean Burgos (1982), e Literatura e imaginário, de Ana Maria Lisboa de Mello (2002), tratam especificamente de como o imaginário se expressa dentro da poesia. No projeto em que se teve contato com essa perspectiva teórica, o objeto de pesquisa são textos poéticos. Além disso, na disciplina “Tópicos Avançados em Literatura Brasileira”, ministrada no ano de 2012 pela professora doutora Raquel Rolando Souza, que possibilitou uma leitura aprofundada de Gaston Bachelard, a ênfase recaiu nos textos poéticos. No desejo de ampliar as possibilidades do estudo do imaginário na literatura, pensou- 8 se no que essa perspectiva poderia contribuir para leituras críticas de obras do gênero narrativo. A visão antropológica de que os símbolos ganham sentido dentro da forma narrativa, o mito, foi um dos primeiros indicadores para essa proposta: “[...] o termo ‘mito’ engloba para nós quer o mito propriamente dito, ou seja, a narrativa que legitima esta ou aquela fé religiosa ou mágica, a lenda e as suas intimações explicativas, o conto popular ou a narrativa romanesca” (DURAND, 2002, p.356). Abrangendo, na noção de mito, tanto as narrativas arcaicas quanto as narrativas literárias, Durand chama atenção para o fato de que um símbolo só pode ser percebido dentro de uma narração.

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