0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA Clarissa Figueiró Ferreira CAMPEIRISMO MUSICAL E OS FESTIVAIS DE MÚSICA NATIVISTA DO SUL DO BRASIL: A (PÓS)MODERNIDADE (RE)CONSTRUINDO O “GAÚCHO DE VERDADE” Porto Alegre 2014 1 CLARISSA FIGUEIRÓ FERREIRA CAMPEIRISMO MUSICAL E OS FESTIVAIS DE MÚSICA NATIVISTA DO SUL DO BRASIL: A (PÓS)MODERNIDADE (RE)CONSTRUINDO O “GAÚCHO DE VERDADE” Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Música (Musicologia/ Etnomusicologia) Orientador: Prof. Dr. Reginaldo Gil Braga Porto Alegre 2014 2 Aos meus pais Armandino e Marta, e ao meu irmão Márcio. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço ao Programa de Pós Graduação em Música da UFRGS, corpo docente, discente e funcionários, pelo excelente trabalho que realizam. Também à CAPES por conceder-me bolsa de estudos durante estes dois anos, possibilitando minha dedicação integral a esta pesquisa. Ao Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore pela receptividade e pela permissão de efetuar pesquisa em seus riquíssimos arquivos. À professora Elizabeth Lucas pelos ensinamentos e pelas valiosas contribuições. Ao orientador Prof. Reginaldo Gil Braga, por todo conhecimento compartilhado ao longo destes dois anos, pela sábia orientação, pela paciência e por estar sempre disposto a ouvir e respeitar minhas opiniões, estando sempre presente em todas as etapas desta pesquisa desafiadora para mim. Ao professor Mário Maia, por despertar-me o gosto pela Etnomusicologia, através de suas brilhantes ideias sobre a pesquisa em música, expressas nas aulas que tive o prazer de assistir em minha graduação na Universidade Federal de Pelotas, onde ficava evidente e contagiante seu amor pela arte e pelo conhecimento. Meu agradecimento aos compositores e músicos dos Festivais Nativistas pelo grande aprendizado musical compartilhado ao longo destes oito anos de atuação. Especialmente aos colaboradores, pela disposição e pelo respeito afetuoso a esta pesquisa: Sérgio Carvalho Pereira, Lisandro Amaral, Xirú Antunes, Juliano Gomes, Luiz Carlos Borges, Robledo Martins, André Teixeira, Gujo Teixeira, Juliana Spanevello, Marcello Caminha, Zulmar Benitez, Mauro Moraes. A todos os integrantes do Grupo de Estudos Musicais, em especial aos colegas Suelen Matter e Douglas Benzi, por estarem sempre dispostos a ajudar e a compartilhar nossas ansiedades. Às amigas Jamile Pereira e Clarissa Moura, pela amizade, pela parceria nos festivais, e principalmente pela cobertura destes eventos, atualizadas assiduamente no blog Bahstidores , meio pelo qual serviu de apoio para esta pesquisa. Ao amigo e colega de “gig” Matheus Kleber, pelos debates valiosos em viagens, e por emprestar seu conhecimento na transcrição musical desta pesquisa. Meu agradecimento ao casal de amigos Guilherme Ceron e Aline Porto, por estarem sempre presentes nos principais momentos bons (e não tão bons), em 4 Porto Alegre. Foram extremamente significativas e proveitosas a esta pesquisa nossas noites de jantas, discos, leituras e diálogos sobre diversos assuntos da contemporaneidade e principalmente sobre o gauchismo: nossos saraus (pós)modernos! Agradeço a amiga Adriana Lopes, pela amizade, apoio e palavras positivas desde o dia em que me hospedou em sua casa para fazer a seleção de ingresso no mestrado. À minha querida amiga real/ virtual Carolina Ferreira. Minha parceira desde as disciplinas do curso de Ciências Musicais, que sempre esteve presente com suas opiniões racionais sobre as questões musicais, tão debatidas por nós através da amada internet. Não poderia deixar de agradecer ao meu fidelíssimo companheiro que esteve presente em toda escrita deste trabalho: meu gato Atahualpa. Esta foi certamente a presença mais efetiva em todas etapas deste estudo, desde as viagens aos festivais, até as pesquisas em gabinete, muitas vezes buscando interação ao sentar no teclado do notebook. Em períodos de introspecção e isolamento, em virtude do trabalho com a pesquisa, esta foi sem dúvida a melhor companhia que poderia ter! Ao meu queridíssimo irmão Márcio. Pela primeira vez em nossas vidas não moramos juntos nestes dois últimos anos, porém sempre esteve presente e prestativo a ajudar. Obrigada pela disposição a ouvir meus relatos, percepções e indagações sobre esta pesquisa, tanto em Pelotas, Tramandaí ou Porto Alegre, em nossos passeios e nossas boas mateadas. Ah! E muito obrigada pelas ajudas com as tecnologias, através das inúmeras assistências remotas no meu notebook e pelo empréstimo da câmera para efetuar as gravações etnográficas, sem esse apoio essa pesquisa se tornaria muito mais difícil. E finalmente aos meus pais por transmitirem total apoio e tranquilidade perante minhas escolhas até hoje. Por serem sempre positivos e confiantes quanto ao meu sucesso e minhas conquistas, principalmente nos momentos de desânimo e cansaço. Obrigada por me ouvirem e compreenderem, e por abdicarem de várias coisas em virtude do investimento em minha formação. Sei que a conquista deste título vem de um desejo muito planejado e esperado também por vocês, e com muita alegria vemos que: Sim, deu tudo certo! A vocês meu carinho e minha especial gratidão! 5 RESUMO Este estudo tem por objetivo compreender como são construídas as identidades musicais nos festivais de música nativista do sul do Brasil através do segmento denominado como “música campeira”. Segundo os colaboradores desta pesquisa, esta nova estética e estilo musical teria surgido na década de 1990, tendo como característica, a preocupação com a “autenticidade” da “verdadeira música gaúcha”, sendo justificada devido a “exageradas modificações” que estaria sofrendo na última década do século XX. Para assegurar, então, a não “deturpação” da música nativista, o segmento fechou-se e tornou mais rígido o entendimento sobre sua preservação. Este novo paradigma ressignificou a compreensão sobre o gauchismo, a partir de um gaúcho intelectualizado, defendido por uma parte deste segmento, no qual, paradoxalmente, a vivência no campo tornou-se fator indispensável para adquirir legitimidade sobre o que se está descrevendo e representando em música. Dessa maneira, são reconhecidos marcos para esta mudança estilística, como o surgimento do cantor Luiz Marenco, e a música Na Forma , campeã da 7º edição do festival Reponte da Canção, realizado em 1991. Também se pôde constatar como estas criações são inspiradas em artistas do “movimento missioneiro” e artistas considerados do folclore argentino e uruguaio, mostrando como são construídas estas identidades atualmente por meio de um viés transnacional. Desta forma, a pesquisa etnográfica foi realizada em quatro festivais, além de entrevistas com músicos e compositores, no qual foi possível constatar um “estilo festivaleiro” quanto ao modo de compor que se convencionou a partir deste entendimento. Também se fez uso de pesquisas em jornais, em revistas e em mídias digitais (textos online, áudios e vídeos) a fim de compreender como são criadas, mantidas e negociadas musicalmente estas identidades. A partir da difusão da música campeira, além dos eventos no qual são destinadas (os festivais nativistas), através de produções fonográficas, e a propagação destas composições musicais em outras esferas da mídia, como rádios, televisão e internet, são discutidas as questões de indústria cultural e representação destas identidades, por meio da comercialização de bens materiais e simbólicos que constituiu. Assim sendo, a pesquisa demonstrou como as características locais ainda buscam permanecer em meio aos grandes processos de transformações vividos em tempos de (pós)modernidade, através do entendimento de que a mídia global estimula o fortalecimento dos discursos e práticas locais, fornecendo novas vias de acesso daquelas anteriormente disponíveis, além de encontrar, assim, a ampliação de audiências receptivas. Palavras-chave: Música Nativista; Campeirismo Musical; Etnomusicologia; Música no RS; 6 ABSTRACT This study aims to understand how musical identities are constructed in nativist music festivals of southern Brazil from segment referred to as "campeira music”. According to collaborators to this research, this new aesthetic and musical style came up in the 1990’s, featuring concern about “authenticity” of the “real gaucho music” justified by "exaggerated modifications" that this music was going through along the last decade of last century. To ensure no "misrepresentation" of nativist music, the segment closed up and became more rigid on the pursuing of preservation. This new paradigm resignified the understanding on “gauchism” as a gaucho that is intellectualized ,which is defended by part of this segment, and where, paradoxically, the experience in the countryside has become an indispensable factor to legitimate what is being described and depicted in music. Landmarks for this stylistic change are noted as the rise of singer Luiz Marenco, and the song “Na Forma”, winner of the 7th “Reponte” Song Festival, held in 1991. Noticeably, creations are inspired by artists of "missionary movement” and by artists of Argentinean and Uruguayan folklore; which shows how those identities are nowadays constructed through transnational approach. Ethnographic research was conducted in four festivals besides interviews with musicians and composers, where it was possible to observe a “Festivlish Style” concerning the conventional kind of composition that comes up from this understanding. Research in newspapers, magazines
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