2012 Marcelotapia Vrev.Pdf

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA LITERÁRIA E LITERATURA COMPARADA DIFERENTES PERCURSOS DE TRADUÇÃO DA ÉPICA HOMÉRICA COMO PARADIGMAS METODOLÓGICOS DE RECRIAÇÃO POÉTICA Um estudo propositivo sobre linguagem, poesia e tradução Orientadora: Aurora Fornoni Bernardini Orientando: Marcelo Tápia Tese apresentada à Banca Examinadora para obtenção do grau de Doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada 2012 Resumo: A tese discute, inicialmente, a conceituação de poesia, a especificidade da tradução poética e as possibilidades de análise de poemas, para, com base nessas considerações, analisar fragmentos das traduções da épica de Homero à língua portuguesa realizadas por Manuel Odorico Mendes, Carlos Alberto Nunes e Haroldo de Campos, considerando-se as respectivas concepções acerca da atividade tradutória. A partir das obras estudadas, busca-se a identificação de diferentes paradigmas metodológicos de recriação poética, apresentando-se, por fim, uma proposta de método tradutório da poesia épica que envolve uma concepção rítmica baseada em possibilidades de adaptação, em português, do padrão hexamétrico da poesia greco- latina. Palavras-chaves: Poesia; tradução poética; recriação poética; épica grega; Homero. Abstract Firstly, the present thesis discusses the conceptualization of Poetry, the specificity of poetry translation and possible ways of analysing poems; and bearing these aspects in mind, the aim is to analyse some excerpts of Homer’s Epic translated into Portuguese by Manuel Odorico Mendes, Carlos Alberto Nunes and Haroldo de Campos, taking into consideration their respective views on translation work; next, by using the works analysed, different methodological paradigms applied to poetic recreation are identified; and finally, a proposal for a translational method deemed suitable to Epic poetry is presented, envolving a rhythmic conception based on possibilities of adaptation to Portuguese of the Greek and Latin hexameter patterns. Keywords: Poetry; poetic translation; poetic recriation; Greek epic; Homer. 2 Este trabalho é dedicado à memória de minha mãe, Maria Aparecida Belli Tápia, e ao meu pai, Ângelo Tápia Fernandes. Agradeço à minha mulher, Pérola Wajnsztejn Tápia, e ao meu filho Daniel Tápia, pela cooperação e pelo estímulo; à minha filha Ana Luiza Tápia, de modo especial, por sua decisiva influência em minha iniciativa de formar-me, ainda que tardiamente, em Letras. Agradeço, também, a Aurora Bernardini, por ter-me concedido o privilégio de me acolher como seu orientando, e a Jaa Torrano, por seus tão proveitosos conselhos. 3 Sumário Introdução………………………………………………………………………………..……….5 Capítulo I 1. Sobre poesia e tradução poética.................................................................................................9 A. A questão da especificidade da linguagem poética...................................................................9 B. Tradução poética: incertezas, caminhos e superação da impossibilidade...............................50 B.1. Reflexões sobre a tarefa do tradutor de poesia.....................................................................50 B.2. Considerações sobre a impossibilidade da tradução poética .............................................. 68 B.3. Breve panorama teórico e histórico da tradução...................................................................71 B.3.1. Panorama atual das teorias da tradução.............................................................................77 B.4. Breve discussão sobre a possibilidade metodológica de comparação entre traduções.........81 B.5. Esboço de uma proposta de análise......................................................................................88 Capítulo II A. Os tradutores cujas obras serão, centralmente, objeto de estudo: apresentação e contextualização.............................................................................................95 A.1. Manuel Odorico Mendes (1799-1864).................................................................................95 A.2. Carlos Alberto Nunes (1897-1990)....................................................................................107 A.3. Haroldo de Campos (1929-2003).......................................................................................114 B. Poetas-tradutores, teóricos da tradução poética no Brasil: um trabalho precursor de conceitos e práticas atuais............................................................122 C. A teoria da transcriação, de Haroldo de Campos: a tradução como prática isomórfica / paramórfica ...............................................................124 C.1. Transcriar é fazer de novo ou refazer o novo? Um exemplo de transcriação.....................131 C.2. “A tarefa do tradutor” de Walter Benjamin segundo Haroldo de Campos.........................133 C.3. A recriação pela estrutura...................................................................................................137 C.4. Sobre a transcriação da Ilíada.............................................................................................140 Capítulo III Vozes para Homero....................................................................................................................144 A.1. Sobre a poesia épica grega: a questão da oralidade............................................................145 A.2. Ilíada: fragmentos...............................................................................................................152 A.3. Análise comparativa das traduções: uma primeira abordagem..........................................154 A.4. Caminhando em possibilidades de análise.........................................................................181 Capítulo IV Proposição de referência rítmico-métrica associada a método tradutório: o hexâmetro em português..........................................................................................................240 1. Apresentação sucinta de um método tradutório.....................................................................261 Conclusão...................................................................................................................................271 Bibliografia.................................................................................................................................275 Apêndices...................................................................................................................................282 4 Introdução A tradução de poesia é um terreno movediço. Chão deslizante sobre o qual se atua, feito de elementos errantes como as rochas mencionadas no canto XII da Odisséia. Mas não só pelos obstáculos: também pela incerteza, pela mutabilidade do sentido, pela multiplicidade de opções potencialmente válidas. Admitindo-se que a poesia exista pela especificidade de sua linguagem, e que a tradução de poesia seja possível – é o que se admite e se busca discutir neste estudo – será na diversidade que se poderão obter, talvez (como aqui se quer demonstrar), indicativos de pontos de convergência de processos de criação e recriação. Este trabalho – elaborado com a perspectiva de entendimento da teoria literária como um amplo campo no qual se pode recorrer a fundamentos provenientes de uma abordagem interdisciplinar – se iniciará com uma discussão sobre a natureza da poesia, tendo-se, como referência, diferentes esforços teóricos voltados à identificação e à definição do que se entende por “poético”. Argumentos contrários a essa possibilidade de identificação de características imanentes à linguagem poética (e que envolvem, portanto, a sua distinção da prosa) serão também considerados, procurando-se algum pensamento norteador para a tarefa empreendida, que incluirá análise de trechos da poesia homérica e de suas recriações em nossa língua. Assim, fará parte de nossos propósitos a reflexão sobre procedimentos de análise, assim como a proposição de certos procedimentos que se considerarão adequados aos objetivos gerais do estudo. Como não poderia deixar de ser, também se discutirão ópticas diversas e conceitos referentes à tradução, e particularmente à tradução de poesia, aplicando-se, nas análises e nas propostas que serão feitas relativamente à tarefa tradutória, as conclusões consideradas pertinentes como fundamentação para as formulações introduzidas. Nós, leitores de língua portuguesa, somos privilegiados pela oferta generosa de traduções da épica homérica ao nosso idioma. E isso, mesmo desconsiderando-se as diversas versões em prosa, que escaparão ao campo de interesse deste trabalho, dedicado essencialmente a questões sobre tradução de poesia a partir de um objeto de interesse, tomado como fonte para identificação de modos e procedimentos tradutórios. Para cumprir sua finalidade, o estudo se valerá de obras que se pretendem – guardadas as diferenças de época, de princípios e de resultados – produtos do que poderíamos 5 chamar de tradução poética dos poemas gregos, ou seja, de um processo tradutório que busca atender às expectativas de realização de poemas épicos em nossa língua, a partir das composições originais. Hoje, apenas no Brasil, dispomos de três versões integrais da Ilíada – a de Manuel Odorico Mendes (em versos decassílabos), publicada em 1874; a de Carlos Alberto Nunes (em hexâmetros dactílicos), publicada em 1962, e a de Haroldo de Campos (em dodecassílabos), publicada em dois volumes, 2000-2002, além de traduções parciais significativas, caso

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