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A BOLA TAMBÉM É DELAS Arranca amanhã o Europeu... de futebol feminino sub-19. Portugal qualificou-se, pela primeira vez, e abre o evento, 13 de junho dia de Santo António, feriado em Lisboa. As 18 jogadoras que for- o número de jogadoras disponíveis. Não é que não quisessem falar mam a seleção nacional de sub-19 treinam pela manhã no relvado todas, mas nesta fase valores mais altos se levantam. Cinco eleitas do Palmelense Futebol Clube. Daí a 15 dias, esta seleção irá dispu- dão acara e a voz pelas 18 (ver caixa As 18 Magníficas). tar, com mais oito equipas, o Euro 2012, na Turquia, É a primeira Mónica Mendes, 18 anos, é uma delas. Responsável por dois go- vez que uma seleção portuguesa de futebol feminino se qualifica los na fase de qualificação, um dos quais frente à Bélgica, decisi- para uma competição internacional. E, no en- vo para a passagem ao Europeu, a defesa al- tanto, ninguém nas bancadas, além do staff, da madense, que representou o eterno campeão equipa técnica e da jornalista que assina este TODAS nacional 1." de Dezembro até à última época e texto. Nada da euforia que se vive num Euro- neste verão se mudou para o DC United, de Wa- peu como o da Ucrânia/Polónia - que termina ACALENTAM shington, EUA, reconhece que o mais difícil é hoje. Nenhuma da perseguição mediática dos DE fazer aproximar as pessoas do futebol femini- jogadores de futebol profissional - esses, sim, 0 SONHO no: «Temos muita força aquidentro, mas se não estrelas à escala planetária. UM DIA SEREM fosse isso este grupo não iria tão longe. Não te- O facto não as perturba. Estão habituadas e, mos muitos adeptos, não movimentamos mul- mais do que isso, estão tão felizes com o feito al- PROFISSIONAIS. tidões, não temos gente a ver os treinos. É difí- cançado e tão concentradas namissãoquetêm MAS TÊM, cilmudar mentalidades, mas é como tudo, pas- pela frente que nada que esteja fora das quatro so a passo chegamos lá. Antes do apuramento, linhas se afigura de grande importância. Che- TODAS TAMBÉM, disse que sabia que um dia havíamos de conse- garam de vários pontos do país e de além-fron- guir, não sabia era quando. Conseguimos. Por- teiras, no dia 11 de junho, para se concentrarem UM PLANO B. que trabalhamos todos os dias para fazer mais em Palmeia, onde decorreu o penúltimo está- e melhor. E isso é o essencial para evoluir.» gio antes da grande prova. A responsabilidade Trabalham poramoràcamisolaepaixãopelo é muita e a vontade de continuar a fazer história leva a que nin- futebol, que quando se escreve no feminino raramente se traduz em guém queira deixar margem para erros. Os procedimentos são se- fama e fortuna. Talvez nunca como nesta modalidade, quando pra- guidos à risca, segundo as determinações daUEFA: exames médi- ticada por mulheres, a palavra amador tenha sido tão bem aplicada. cos, burocracias, treinos, refeições, períodos de descanso. E, ainda Mónica, Rita, Filipa, Mélissa, Vanessa e todas as outras conciliam que passe pela visibilidade pública a afirmação do futebol femini- os estudos com os treinos. Mas mesmo para quem chega ao mais al- no em Portugal, o tempo para entrevistas é limitado, assim como to nível, é um sonhodifícil de concretizar. Pelo menos, em Portugal. A partida para o estágio, em Palmeia. Rita Fontemanha O JOGO (à direita) é a orgulho- sa capita desta equipa DAS RAPARIGAS e futura advogada. Apesar de ser o desporto mais popular em Portugal, como no- ta Isabel Cruz, vice-presidente da Associação Portuguesa das Mulheres e do Desporto, o futebol é dos que têm menor taxa de mulheres praticantes (4,2 por cento). Esta associação tem o projeto 0 Jogo das Raparigas, que Rita Fontemanha, 18 anos, capita da seleção nacional, não he- quer levar a igualdade de sita em afirmar que encara o futebol como um hobby. «Não é que género ao futebol e ao futsal. não gostasse de ser profissional, mas acho que não vale muito ape- «Basta olhar para os números: na pensar nisso. Apesar de ser uma grande paixão, temos de ter a os federados rapazes entre cabeçano lugar.» Adajovem portuense que parajásedivideentre os 6 e os 15 anos são 92 500. o futebol e o curso de Direito na Católica, no futuro centrar-se-á As raparigas são 650! A desi- provavelmente na carreira de advocacia. gualdade é tão flagrante que A bola entrou na sua vida aos 11 anos, quando estudava no Co- se percebe melhor se con- légio dos Carvalhos, onde havia uma equipa de futebol femini- vertermos os números numa no. «Sabiam que eu adorava jogar nos intervalos, convidaram- imagem: um campo hipoté- -me.» Para desgosto dos pais e dos avós, perdeu-se uma tenista e tico com trezentas crianças ganhou-se uma futebolista. «Eles achavam que até podia ter me- e jovens, onde só duas rapa- lhor futuro no ténis, mas eu gostava tanto de futebol que não ha- rigastêm lugar. Há 2200 via nada que me pudesse parar.» E não houve. Da equipa do colé- clubes com equipas em com- gio passou para o Salgueiros e pouco depois para o Boavista, clube petição, mas apenas trezentos com grande tradição no futebol feminino, número dois do cam- têm equipasfemininas. Esta- peonato nacional e do qual continuaa vestir acam isola. Em2olo, mos em Portugal, no século a médio-centro estreou-se como internacional frente à Áustria, xxi, e 86 por cento dos clubes na primeira pré-eliminatória para o Euro 2012. Marcou um golo à não enquadram nenhuma Noruega, vice-campeã europeia, que, derrotada pelas portugue- equipa de raparigas/mulhe- sas, não foi ao Europeu. res!» É, portanto, na opinião Se não tem sido difícil conciliar estudos e treinos no seu clube, já de Isabel Cruz, preciso serem a internacionalização veio complicar um pouco ávida académica campeãs da resistência e te- de Rita. Nada que não se faça, com a ajuda do estatuto de alta com- rem uma enorme paixão pelo petição e abdicando de algumas das prerrogativas exigidas pela futebol para que raparigas e vidasocialdeumajovemdasuaidade.«Tenhodeterumavidasau- mulheres ultrapassem todos dável, não posso beber nem fazer noitadas, mas esta é uma esco- os obstáculos e consigam pra- lha minha e assumo-a.» Uma escolha para a qual esta fã de Iniesta ticar o seu desporto favorito. UM HOMEM ENTRE MULHERES José Paisana, 51 anos, muitos anos treinador nos escalões juniores do Benf ica e desde 2008 coordenador técnico das Escolas Academia do Sporting, assumiu no início de 2012 o comando da seleção nacional feminina de sub-19. Foi o rosto do apuramento da equipa para o Europeu, mas recusa protagonismo. «Por detrás de tudo isto há um trabalho que está a dar frutos: este grupo, que teve sucesso e trabalhou muito para alterar o rumo da história. Não digo que seja algo que se vai consolidar já, masque -y foi atingido §§ & *~ com muito sacrifício, \ vontade e João Moutinho não estabeleceu limites: «Acho que tenho de e empenho, ir ano por ano, enquanto gostar, enquanto me sentir bem, en- isso foi. Che- quanto tiver condições para jogar futebol, continuarei ajo- garam ao Euro gar. É o meu sonho.» com muito mérito e por isso há que manter o registo. FILIPA RODRIGUES (À ESQUERDA, NA FOTOGRAFIA) Vamos estar num contexto de está a viver um sonho aos 18 anos: foi eleita no primeiro elite e isso implica um con- dia do estágio em Palmeia subcapitã de equipa. Afirma junto de sacrifícios, mas creio triunfante que esta está a ser a melhor época da sua vi- que elas estão à altura.» Para da - em termos futebolísticos. Sim, teve de descuidar um este treinador, que lamenta pouco o curso profissional de Secretariado. «O futebol a desigualdade degenero no este ano chamou mais por mim, mas nunca largo os es- desporto em geral, a eleição tudos, porque nunca se sabe o dia de amanhã e é preci- de Mónica Jorge (antiga sele- so ter sempre uma segunda opção.» Ao contrá- cionadora nacional da equipa rio de Rita Fontemanha, Filipa garante que vai principal) como diretora da fazer tudo para conseguir concretizar o so- Federação Portuguesa de nho de ser profissional, o que passará por Futebol ajuda a fazer perceber dar o salto para Espanha, «onde o futebol que não há que olhar para o feminino está muito mais desenvolvido». género, mas sim para a com- Sempre gostou de futebol e quando era petência. «Tudo vai da maneira pequenina até fugia parair jogar com os ra- como se lidera. Havendo um pazes. Talvez por isso os pais não tenham achado conjunto de decisões que são muita piada à ideia de ver a sua menina num «despor- coerentes, iguais para todos e to de homens», quando, por volta dos 14 anos, um senhor a viu percebendo o grupo o rumo a jogar e a convidou para fazer um teste na Fundação D. Lavra San- seguir, não há diferenças.» tos, em Gouveia, onde esta defesa continua a jogar. «Consegui O facto de nao serem profissionais não as impede de pôr o espírito todonotraoalho. convencê-los com a ajuda do presidente da aldeia onde vivo [Abru- Mélissa resistiu à ideia de ser futebolista. «Jogava na escola com nhosa-a-Velha, Mangualde]. Hoje são uns pais babados.» E têm ra- os meus colegas e gostava muito, mas quando o meu primo me su- zões para isso. Além de aterem visto alcançar um feito histórico com geriu que entrasse num clube, não quis, porque só havia rapazes, a camisola das sub-19, já a viram também de- nem uma única rapariga.» O talento venceu a fender as quinas da seleção A.

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