UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS O Jeito nordestino de ser globalizado Cristiane Maria Nepomuceno NATAL-RN 2005 CRISTIANE MARIA NEPOMUCENO O Jeito nordestino de ser globalizado Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para a obtenção do título de doutora. Orientador: Prof. Dr. José Willington de Germano Natal – RN 2005 Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede. Divisão de Serviços Técnicos Nepomuceno, Cristiane Maria. O jeito nordestino de ser globalizado / Cristiane Maria Nepomuceno. – Natal, RN, 2005. 193 p. : il. Orientador: José Willington de Germano. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais. 1. Cultura popular – Brasil, Nordeste. 2. Carnaval – Recife(PE). 3. Nordeste (BR). 4. Festas populares – Brasil, Nordeste. 5. Resistência cultural. I. Germano, José Willington de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. CRISTIANE MARIA NEPOMUCENO O JEITO NORDESTINO DE SER GLOBALIZADO Aprovado em de de 2005 BANCA EXAMINADORA ________________________________ Prof. Dr. José Willington Germano (Orientador -UFRN) ; __________________________________________ Profª Drª Mª Aparecida Nogueira Lopes (UFPE); ________________________________ Prof ª. Drª. Tânia Elias Magno (UFS); ___________________________________________ Profª Drª Mª da Conceição de Almeida (UFRN); ________________________________________ Profª Drª Vânia de Vasconcelos Gico (UFRN); _________________________________________________ Prof. Dr. Luiz de Carvalho Assunção ( UFRN - Suplente); __________________________________________________ Profª Drª Maristela Oliveira de Andrade (UFPB – Suplente) Sou o coração do folclore nordestino Eu sou Mateus e Bastião do boi bumba Sou um boneco do mestre Vitalino Dançando uma ciranda em Itamaracá Eu um verso de Carlos Pena Filho Num frevo de Capiba Ao som da orquestra armorial Sou Capibaribe Num livro de João Cabral Sou mamulengo de São Bento do Uma Vindo num baque solto de maracatu Eu sou um auto de Ariano Suassuna No meio da feira de Caruaru Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta Levando a flor da Lira Pra Nova Jerusalém Sou Luiz Gonzaga E eu sou do mangue também Eu sou mameluco Sou de Casa Forte Sou de Pernambuco Eu sou o Leão do Norte Sou Macambira de Joaquim Cardoso Banda de Pife no meio do carnaval Na noite dos tambores silenciosos Sou a calunga revelando o carnaval Sou a folia que desce lá de Olinda O homem da meia noite Eu sou puxando esse cordão sou jangadeiro na festa de Jaboatão Eu sou mameluco ... “Leão do Norte” Lenine/P. C. Pinheiro Este trabalho é dedicado a três pessoas de importância fundamental na minha vida. A meu filho Gabriel, alegria razão maior da minha existência, a quem peço perdão pelo tempo roubado do seu convívio para dedicar a este trabalho ou por ter pensado algumas vezes que ele me roubava tempo de dedicação à tese quando sentava para brincar, banhar, levar a escola, ... A meu filho Pedro, a quem ainda não conheço, mas que já amo de paixão, e a quem também terei que pedir perdão por não ter lhe proporcionado o descanso necessário e o cuidado merecido. Ao meu marido e companheiro Jonas Duarte, que partilha comigo esse apego profundo pelas “coisas do Nordeste”, a quem peço desculpas pelas crises de impaciência e acessos de raiva de que foi vítima nos momentos mais cruciais desse trabalho, e que mesmo assim não “arredava o pé” de perto de mim. AGRADECIMENTOS A minha mãe, nordestina de origem rural, que apesar de não entender o “porquê de precisar estudar tanto”, nunca faltou com seu suporte, tampouco descuidou da minha educação. A Jonas por ser grande companheiro, por não se negar a colaborar e por tantas vezes ter trazido “luz” às minhas idéias quando discutíamos sobre este trabalho. Ao Professor Willington não apenas por ser um orientador exemplar, mas principalmente pelas qualidades que o distingue fazendo toda a diferença: amizade, compreensão, confiança, disponibilidade e acessibilidade. A Professora Conceição Almeida, nossa querida Ceiça. Agradeço por muito: a ajuda prestada quando à frente da coordenação do PPGCS, sua visão complexa do mundo da cultura que me iluminou e por suas sugestões na etapa de qualificação. A Professora Vânia Gico por reforçar meu amor ao povo brasileiro. Ao professor Luiz Assunção por seu trabalho profícuo na busca do respeito e reconhecimento à cultura popular. Ao Professor Edgar de Assis Carvalho cuja prestimosa contribuição na etapa de qualificação definiu o rumo final desta tese. A Altino, meu irmão, por todos os finais de semana que sacrificou na diagramação desta tese. A Roberta, que de tudo participou ativamente, da folia ao trabalho. A Alba por todas as vezes que me substituiu nos cuidados com Gabriel. A Ná, meu braço direito, cuidando de tudo por mim. À amiga Júlia, que não só me acolhia fazendo de sua casa minha casa, como me guiava pelos labirintos do Recife e ladeiras de Olinda. À amiga Íris Helena, pela amizade e colaboração na tese e na vida. À amiga Rose, por sua disposição em contribuir, apresentar pessoas e sugerir novidades. Esses agradecimentos são extensivos a seu companheiro Paulo, sempre solícito. Ao amigo Mozart por me revelar o carnaval dos “nativos”, além de emprestar livros e “consultoria” sobre o carnaval do Recife. Esses agradecimentos são extensivos a sua companheira Alcione que muito contribuiu com cada jornal que me trouxe. A Capes pelo apoio institucional que viabilizou a realização desta pesquisa. Aos professores do PPGCS, especialmente aqueles com os quais convivi mais de perto e muito me estimularam: João Emanuel, Alípio, Brasília, Norma e Spinelli. A Paulo Vieira, que com tanta presteza revisou esta tese. Aos meus colegas do Departamento de Ciências Sociais da UEPB, solidários e cooperativos. Aos funcionários das diversas instituições contactadas. RESUMO Este trabalho discute os impactos da globalização na cultura nordestina, especificamente no universo da cultura popular. O pano de fundo dessas reflexões é os festejos carnavalescos da cidade do Recife-PE, pois nesse contexto se acolhe o novo, mas também se resiste às mudanças, preserva-se os valores culturais e as manifestações populares tomam uma nova dimensão, consubstanciando-se em novas formas de ser nordestino. A opção pelo contexto da festa se deu por este ser de grande significância para o povo nordestino, e primordialmente por ser um espaço no qual o povo se representa. O trabalho traz um histórico da festa de carnaval da cidade do Recife, identifica as manifestações que a compõem, analisa as transformações ocorridas na festa e mostra o intenso processo de valorização da cultura local que vem ocorrendo nos últimos anos do século XX. Revela, como em decorrência desse processo, a cultura popular assume um caráter funcional e dinâmico onde as temáticas das tradições populares estão sendo reformuladas e reapropriadas pela população, permitindo a cultura popular nordestina não só permanecer, como também, se impor ao projeto capitalista de cultura global e negar seu caráter uniformizador. Mesmo que a festa carnavalesca esteja sendo transformada em mega-espetáculo com formato e padronização de produto, deixando de ser um ritual e transformando-se em fonte de renda, alterando profundamente sua "fisionomia", continua sendo, para a gente daquele lugar o espaço de edificação das diferenças e da percepção do outro, o espaço de constituição da cidadania e da luta por se fazer respeitar e conquistar um "lugar" no panorama internacional. ABSTRACT This work discusses the impacts of the globalization in the Brazilian northeast culture, specifically in the popular field. The background of theses reflections is the carnival festivities in Recife-PE. In this context, attempts to changes as well as resistance to them – maintaining the cultural values and the popular manifestations – take a new dimension, presenting different ways of being nordestino. The option for the context of the carnival festivities is due to its significance to the people of this place, particularly as it is a space in which people represent themselves. The work presents a version of the history of carnival in Recife, identifies some manifestations that comprise it, analyzes its changes and shows the process of valuing the local culture in the latest years of the 20th century. The research also reveals how the popular culture assumes a functional and dynamic character where the themes of the popular traditions are being reworked. This process allows not only the survival of the local culture, but also the resistance against the capitalist project to construct a global culture and its uniform character. Even though the carnival festivity has become a mega show, composing a market design, it is still a space to construct differences and see the other. Lastly, for the people of that region, it is a space of fighting for a place in the international panorama. SUMÁRIO Página Introdução 15 Capítulo I 22 1. Cultura popular em tempo de globalização: entre a tradição e a ressignificação 23 1.1 Globalização e cultura: o tempo das culturas híbridas 33 Capítulo II 46 2. A cidade do recife: o palco da festa 47 2. 1 Carnaval de Recife: a “mais-valia do riso globalizado” 65 2.1.1 O carnaval de Recife no mundo de hoje 81 Capítulo III 91 3. As diversas faces das manifestações carnavalescas 92 3.1 Frevo 95 3.1.1 Clubes de Frevo 100 3.1.2 Frevioca 102 3.1.3 Blocos carnavalescos líricos 103 3.2 Galo da Madrugada 105 3.3 Maracatu de Baque Virado (BV) 109 3.4 Maracatu de Baque Solto (BS) 113 3.5 Afoxés 117 3.6 Caboclinhos 119 3.7 La Ursa e Bois 122 3.8 Ciranda e Forró 125 Capítulo IV 127 4. Espacialidades sociais da folia: a polarização do carnaval 128 4.
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