RELATÓRIO DE OCORRÊNCIA 2012080021067 TAVIRA/CACHOPO/CATRAIA Autoridade Nacional de Protecção Civil 10 de Agosto de 2012 SUMÁRIO EXECUTIVO O incêndio de Tavira/Cachopo/Catraia, com o número operacional 2012080021067, iniciou-se às 14h10 do dia 18 de Julho, foi considerado dominado às 17h46 do dia 21 de Julho, e encerrou-se às 14h20 do dia 27 de Julho de 2012. Segundo informação preliminar da Polícia Judiciária, terá tido início na proximidade de Fonte do Corcho e Catraia, devido à projecção aérea de partículas incandescentes derivadas da existência de um amontoado de sobrantes em combustão numa estrutura idêntica a um forno de carvão, na proximidade da Estação Eólica Malhanito/Cachopo. A área em que este incêndio se declara apresenta características que favorecem a progressão do fogo e, de igual modo, dificultam as acções de combate: sucessões de interflúvios interrompidos por valeiros e barrancos de declives muito acentuados, com vegetação muito seca, encaixada na sua base, e ventos inconstantes e sem rumo definido, característicos desta região. As freguesias afectadas pelo fogo, Cachopo, Santo Estêvão, Tavira (Santa Maria) e Santa Catarina do Forte do Bispo em Tavira e São Brás de Alportel em São Brás de Alportel, têm ocupação humana muito dispersa, composta por povoados de poucos habitantes e edificado isolado disperso, interligados por uma rede de caminhos de manutenção e traçado variáveis, não suportando a circulação de todo o tipo de veículos, nem oferecendo garantias de retorno em segurança. No interior do perímetro total afectado pelo fogo, existem um mínimo de 93 povoados ou edificados com topónimo conhecido, e com graus variáveis de protecção passiva face ao fogo. O incêndo de Tavira/Cachopo apresentou uma evolução que se pode dividir em três fases, tomando como limites intermédios um momento em que o fogo ultrapassa a Ribeira de Odeleite e ganha velocidade, e o momento em que se considera dominado, às 28 e às 76 horas desde o alerta, respectivamente. 2/62 Em momento inicial, o incêndio desenvolve-se em corôa, progredindo em todas as direcções, mas expandindo-se sobretudo para sul-sudeste e sudeste, até atingir a Ribeira de Leiteijo na qual se encaixa e ganha velocidade por acção topográfica, consumindo vegetação na base da ribeira que se encontra seca e disponível para combustão. Esta progressão, na primeira fase do incêndio, até cerca das 18 horas do dia 19 de Julho, é rápida e representa perigo imediato ou latente para edificado disperso, motivando a preocupação de habitantes e autarcas que logo o comunicam aos operacionais, fazendo com que as opções iniciais de combate se destinem, exclusivamente, à protecção do edificado, sem a possibilidade de, efectivamente, travar a progressão das frentes de fogo. A partir das 18 horas do dia 19 de Julho, o fogo alcança a Ribeira de Odeleite, agravando-se o seu comportamento. Com efeito, a partir desse momento, o fogo adquire grande velocidade, dado o alinhamento topográfico e combustível, projectando-se de topo em topo, naquilo que em discurso corrente poderia descrever-se como galgando a serra, e deixando para trás vertentes intocadas que só mais tarde viriam a sofrer uma combustão mais lenta, dando a sensação de duas vagas de fogo quando, na verdade, se tratou de um diferencial na velocidade de propagação. Este novo comportamento, observado ao final da tarde do dia 19 de Julho, leva o fogo a progredir em duas franjas distintas, uma em direcção a Tavira, que se detém próximo de Picota e da A22, e outra em direcção a São Brás de Alportel, que se detém na proximidade de Bico Alto e da Estrada Nacional 270. Entre estas duas franjas, como em boa parte do flanco esquerdo do incêndio (a frente virada a Este), o incêndio não avança pela conjugação do esforço de combate, e pela carência de combustível disponível para arder. O avanço de vários quilómetros entre Castelão e as duas extremidades de Tavira e São Brás de Alportel, dá-se em cerca de 7 horas. Depois de dias em que o único plano de acção possível era o de acorrer às populações – nem sempre se confirmando perigo efectivo –, desenhou-se, a partir da madrugada do dia 20 de Julho, um novo plano de acção assente na contenção da progressão do incêndio numa frente virada a Oeste, com o recurso a máquinas de rasto, apoiadas por meios de combate terrestre e aéreo, tirando proveito de uma conjugação favorável de factores: a topografia nessa frente (entre São Brás de Alportel e o norte 3/62 de Javali) permite a operação das máquinas de rasto, e o fogo encontrava-se já globalmente dominado nas outras frentes e sem pessoas ou edificado em perigo, o que permitia concentrar os meios na última frente activa com potencial danoso. Este plano de acção veio a revelar-se eficaz, rematando o perímetro do incêndio e levando à sua consolidação, tendo dessa forma sido possível declarar o incêndio dominado na tarde de Sábado, dia 21 de Julho às 17h46. De outro modo, seria possível a propagação para nor-noroeste de Barranco- do-Velho, aumentando em muito a sua severidade. A Autoridade Nacional de Protecção Civil, através do Comando Distrital de Operações de Socorro do Distrito de Faro, promoveu todas as acções operacionais, conforme doutrina e necessidades presentes, por forma a obter a extinção do incêndio no menor intervalo de tempo possível. O despacho inicial de meios foi incisivo, mas, a insuficiência da rede viária e distância, ditou que meios de combate que foram despachados imediatamente após o alerta, em alguns casos, apenas chegassem ao local ao fim de 3 horas de deslocação. Os primeiros reportes do local criaram, desde logo, a noção de que o ataque ao incêndio precisava fazer-se com grande capacidade de resposta, tendo para o efeito sido mobilizados reforços de outros distritos, bem como meios aéreos adicionais, que logo no primeiro dia fizeram desta ocorrência uma das que mais operacionais envolvia. Em toda a operação, envolveram-se 2.750 recursos humanos e 730 recursos materiais. Na garantia do comando e controlo das operações, o Comandante Operacional Distrital deslocou-se para o local (inicialmente, Cachopo) onde se constituiu o posto de comando operacional. As estruturas de comando e controlo integraram, desde os primeiros momentos, tanto elementos da estrutura operacional da ANPC quanto elementos de comando dos corpos de bombeiros, integrantes de equipa de posto de comando distrital pré-formatada. Foi preocupação permanente da ANPC observar o refrescamento de todo o pessoal envolvido na operação. Embora não seja possível afirmar, numa operação desta envergadura, que todas as pessoas, sem excepção, tiveram um plano de gestão de esforço ideal com momentos bem definidos para descanso, não pode ignorar-se o refrescamento operado por via de rendições de todos os níveis 4/62 da operação, desde o comandante das operações de socorro e equipas de posto de comando, até às equipas de reconhecimento e avaliação, e grupos de reforço. A coordenação e cooperação institucionais foram garantidas desde o início e durante toda a ocorrência, com oficiais de ligação de outras entidades, como a GNR, ICNF, INEM, Forças Armadas, Cruz Vermelha Portuguesa, Segurança Social, e os Serviços Municipais de Protecção Civil de Tavira e São Brás de Alportel a assegurar presença e garantia de prossecução de acções decisivas na sustentação das operações. Centralmente, a ANPC procurou prover o cenário da ocorrência de meios adequados ao combate e à gestão, articulando a operação de meios tecnológicos adicionais como o Centro Táctico de Comando (e suporte à sua actividade), articulando com países próximos a intervenção de meios aéreos (com Espanha a operação de dois Canadair, e com França a eventualidade de solicitação de assistência, que não veio a revelar-se necessária), articulando a operação temporária de um Canadair de reforço ao dispositivo aéreo, e assegurando, no Comando Nacional de Operações de Socorro, a coordenação e direcção estratégica da operação por parte de todos os elementos operacionais, e, bem assim, das direcções nacionais e presidência. Constituiu aspecto marcadamente positivo, amplamente referido pelos intervenientes nas operações, a sustentação logística que foi assegurada em Tavira e São Brás de Alportel, e que permitiu aos combatentes condições adequadas à prossecução das suas missões, num terreno particularmente difícil, com um perímetro muito extenso, com desafios significativos a ultrapassar, como a necessidade de acorrer a uma multiplicidade de solicitações, em defesa de edificados dispersos, maioritariamente sem qualquer tipo de cuidados preventivos em seu redor que os salvaguardasse da proximidade do fogo, ou deslocações em declives que representavam perda potencial de segurança para os operacionais. A extensão do perímetro do incêndio colocou, ainda, dificuldades assinaláveis no controlo da operação. A extensão de cada sector, atribuido a comandantes de bombeiros para efeitos de controlo, ter-lhes-á criado um desafio na garantia de que a missão atribuída estava efectivamente a concretizar-se, não apenas por dificuldades pontuais em todas as redes de comunicações (por sombra ou eventual saturação de rede), mas supõe-se que, também, por dificultada apreensão de 5/62 todo o território sob seu controlo, pese embora a dimensão dos sectores não tivesse expressão directa na extensão da frente de fogo a exigir combate directo. Nesta matéria, é lícito considerar-se que o controlo das operações nos sectores teria beneficiado de maior apoio com recurso a coadjuvantes. Contudo, não se conhece qualquer observação que à data tenha sido feita pelos comandantes de sector que levasse o COS a reconsiderar a sectorização existente. Não parecem existir elementos que permitam atribuir a extensão e duração deste incêndio a um qualquer factor isolado, mas antes à conjugação – repetível, na ausência de medidas correctivas – de acontecimentos e condicionantes que isoladamente poderiam não ter relevância, mas em conjunto traçaram a evolução desta ocorrência (a simultaneidade de ocorrências, as características locais e as indisponibilidades temporárias de meios por acidente e avaria).
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