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Número 93 2016 Revista Letras Publicação semestral do Curso de Letras da UFPR http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/letras A Revista Letras está indexada nos seguintes índices bibliográficos: 1. Internationale Bibliographie der Rezensionen Wissenschftlicher Literatur/International Bibliography of Book Reviews of Scholarly Literature; 2. Linguistics and Language Behavior Abstracts; 3. MLA – International Bibliography of Books and Articles on Modern Languages and Literatures; 4. Social Planning, Policy and Development Abstracts; 5. Sociological Abstracts; 6. Ulrich’s International Periodicals Directory; 7. CLASE – Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades. Editor: Alexandre Nodari Secretaria Editorial: Rodrigo Otávio Lunardon Editora da Seção de Estudos Linguísticos: Patrícia de Araujo Rodrigues Editores da Seção de Estudos Literários: Maurício Mendoça Cardoso e Guilherme Gontijo Flores Revisão de Textos (em português): Lucas Haas Cordeiro e Valentina Thibes Dalfovo Conselho Editorial Antonio Dimas (USP), Beatriz Gabbiani (Universidad de la República do Uruguai), Carlos Alberto Faraco (UFPR), Carlos Costa Assunção (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Elena Godoi (UFPR), Filomena Yoshie Hirata (USP), Gilda Santos (UFRJ), José Borges Neto (UFPR), Júlio Cesar Valladão Diniz (PUC-RJ), Lígia Negri (UFPR), Lúcia Sá (Manchester University), Lucia Sgobaro Zanette (UFPR), Maria Lucia de Barros Camargo (UFSC), Marília dos Santos Lima (UNISINOS), Mauri Furlan (UFSC), Maurício Mendonça (UFPR), Raquel Salek Fiad (Unicamp), Rodolfo A. Franconi (Darthmouth College), Rodolfo Ilari (Unicamp) Consultores ad hoc Anna Beatriz Paula, Anna Camati, Antonio Barros de Brito Junior, Bairon Vélez Escallón, Caetano Galindo, Célia de Miranda, Diana Junkes, Diego Cervelin, George França, Gustavo Silveira Ribero, Helena Guerra Vicente, Jorge Wolff, Kelvin Falcão Klein, Klaus Eggensperger, Leonardo D’Ávila de Oliveira, Lisa Carvalho Vasconcellos, Lucia Sgobaro Zanette, Luciana di Leone, Mail Marques, Marcelo Ferreira, Márcio Guimarães, Maria Figueiredo Silva, Maria José Foltran, Mario Cámara, Pedro Mandagará Ribeiro, Renata Telles, Rodrigo Tadeu Gonçalves, Roosevelt da Rocha Jr., Rossana Finau, Sandra Stroparo, Susana Scramim, Suzi Lima, Tiago Guilherme Pinheiro, Veronica Stigger, Waltencir Oliveira Conselho Consultivo Adalberto Müller (UFF), Álvaro Faleiros (USP), Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Unesp-Araraquara), Fernando Cabral Martins (Universidade Nova de Lisboa), Helena Martins (PUC-Rio), Irene Aron (USP), Isabella Tardin Cardoso (Unicamp), Juliana Perez (USP), Luciana Villas Boas (UFRJ), Márcia Martins (PUC-Rio), Maria Irma Hadler Coudry (Unicamp), Matthew Leigh (University of Oxford), Patrick Farrell (University of California/Davis) 1 APRESENTAÇÃO O presente número (93) encerra a fase de fluxo contínuo da revista Letras. A próxima edição periódica, a sair em dezembro e coordenada por Mauricio Cardozo (UFPR) e Viviane Veras (UNICAMP), já será composta por textos submetidos à primeira chamada temática, sobre “Tempo e tradução”, disponível em nosso site e também ao final desse número. Nas próximas semanas, lançaremos também a chamada temática de estudos lingüísticos para o número 95, que será publicado em junho de 2017. Cada ano, teremos duas chamadas temáticas: uma de estudos literários em janeiro, referente ao número de dezembro do mesmo ano; e uma de estudos linguísticos em julho, relativo ao número de junho do ano seguinte. A elaboração das cha- madas temáticas ficará a cargo dos editores de área, que estarão abertos a sugestões do Conselho Editorial e demais colaboradores e leitores da revis- ta. Acreditamos que essas modificações permitirão uma otimização e uma melhora qualitativa do trabalho editorial da revista Letras. Nesse número, além das habituais seções de estudos literários e de estudos linguísticos, contamos com uma resenha, de autoria de Luiz Arthur Pagani (UFPR), do livro Arquitetura da Conversação, de Roberta Pires de Oliveria e Renato Miguel Basso, e com o dossiê “Por uma análise naturalista da narrativa - Mente, evolução, cognição e linguagem”, coorde- nado por Pedro Dolabela Chagas e originado de um evento realizado no fim de 2015 na UFPR, pelo NeRO (Núcleo de estudos do romance). Compõem a seção de estudos literários quatro artigos: “A ficção e o acaso”, de Larissa Drigo Agostinho (Universidade de Paris IV-Sorbonne), “Minha mãe morren- do: um estudo anacrônico do barroco/neobarroco”, de Maria Salete Borba (UNICENTRO), “Josefina e Flora. Pós-autonomia e crítica ficcional”, de Jorge Hoffmann Wolff (UFSC), e “Murilo Mendes, as janelas e o diabo”, de Viní- cius Nicastro Honesko (UFPR). Já a seção de estudos linguísticos conta com sete artigos: “Estratégias de adaptação, reformulação e argumentação em monografias: um estudo de retextualização na escrita acadêmica”, de Clara Regina Rodrigues de Souza (UFPE) e Williany Miranda da Silva (UFCG), “The interpretation of bare singulars in BP: grammatical and cognitive biases”, de Suzi Lima (University of Toronto/UFRJ) e Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ), “‘Délibáb’: dos poemas de Borges e Cunha Vargas às milongas de Ramil”, de José Geraldo Marques (UNICENTRO), “Orações concessivas prefaciadas por aunque no espanhol peninsular falado: uma descrição à luz da gramática discursivo-funcional”, de Talita Storti Garcia (UNESP) e Mariana Alves Ma- chado Pelegrini Felipe (UNESP), “Sobre a tradução de unidades complexas do léxico: desafios em torno de locuções, colocações e enunciados fraseo- 2 lógicos”, de Angélica Karim Garcia Simão (UNESP), “A Africada”, de César Reis (UFMG), Izabella Malta (UFMG), Crysttian Paixão (UFSC) e “A expressão ótima da vogal temática em verbos do português arcaico”, de Gean Nunes Damulakis (UFRJ). Boa leitura! Os editores 3 MALLARMÉ: A FICÇÃO E O ACASO Mallarmé: fiction and random Larissa Drigo Agostinho* ? E R AI L E D AU B E D IO M ONÔ R ETE H , RESUMO OE P AN LL O objetivo deste artigo é demonstrar, através de uma aproxima- A R ção entre a teoria mallarmeana da poesia e a filosofia hegeliana, GA D E como o acaso tem um papel fundamental na construção de um conceito de ficção, que nos permitirá repensar as relações entre . C. A , literatura e realidade. ES M Palavras-chave: ficção; acaso; contingência; real; autonomia GO da arte. ABSTRACT The objective of this article is to show, by means of an ap- proximation of Mallarme’s poetry and Hegel’s philosophy, how random is a fundamental element in the construction of a concept of fiction, which can allow us to rethink and restore the relationship between literature and reality. Keywords: fiction; random; contingency; real; art’s autonomy. AGOSTINHO, L. D. MALLARMÉ: A FICÇÃO E O ACASO * Universidade de Paris IV-Sorbonne. REVISTA LETRAS, CURITIBA, N. 93 P. 4-18, JAN./JUN. 2016. ISSN 2236-0999 (VERSÃO ELETRÔNICA) 4 AGOSTINHO, L. D. MALLARMÉ: A FICÇÃO E O ACASO 1. INTRODUÇÃO Podemos dizer, sem exageros, que uma única questão guiou a carreira poética de S. Mallarmé (2003, p. 65): “Quelque chose comme les Lettres existent-ils?” A literatura existe de fato? E como? De que maneira? Que existência é esta? Que estatuto pode ter uma obra de pura ficção? Trata- -se, portanto, de um questionamento que ultrapassa a questão dos limites e das barreiras entre esferas autônomas da sociedade para tornar-se uma reflexão sobre a natureza da ficção e seu lugar na vida social, ou seja, sua relação com aquilo que lhe parece exterior, o real. Ora, a ficção é da ordem da imaginação, tudo num livro se passa hipoteticamente. O tempo da ficção, o modo verbal presente no poema Um lance de dados, é o condicional, tempo que descreve o que poderia ser. Diante disso, como pensar que a ficção, o outro do real, que se define em oposição a este, possa ter um estatuto de verdade? Para refletir sobre estas questões e quem sabe buscar respondê-las, Mallarmé fixou como objetivo de sua poesia operar “le démontage impie de la fiction” (MALLARMÉ, 2003, p. 67). Sua poesia tem como objetivo, portanto, desmontar a ficção para expor seu modo de funcionamento. Para desenvolver um método capaz de realizar esta demonstração, Mallarmé recorre a Descartes. Em seu Discurso do método, Descartes propõe que este texto seja lido como uma história, ou se preferirem, uma fábula (DESCARTES, 2000, p. 70). É justamente porque o método deve ser lido como uma ficção, que Descartes não procura impô-lo, ele apenas sugere aos seus leitores a utilização do método, caso este permita, como foi seu caso, realizar demonstrações verdadeiras. O método depende, portanto, de seu sucesso no esclarecimento da verdade, fictício ou não: o que importa num método cien- tífico são seus resultados. É desta maneira que Mallarmé entende a ficção (MALLARMÉ, 1998, p. 504) – sua pertinência está nas demonstrações que ela é capaz de realizar, no conteúdo de verdade que ela revela. A ficção está inexoravelmente assentada nesta contradição. Para pensarmos a ficção e para pensarmos com a ficção é preciso, portanto, que admitamos esta contradição entre fins e meios, ou seja, é preciso que sejamos capazes de admitir que o caráter fictício de uma obra de arte não a impede de produzir um conteúdo de verdade. Para pensarmos a ficção, devemos nos instalar no interior desta contradição, no interior da qual seríamos capazes de admitir que a verdade pode ser expressa por uma obra que não tem ne- nhuma obrigação com o real ou com a verossimilhança. No entanto, mesmo sendo fruto e produto da imaginação, a ficção está também irremediavelmente ligada à realidade. Como procuraremos demonstrar, ela se define apenas a partir desta oposição. Costumamos REVISTA LETRAS, CURITIBA, N. 93 P. 4-18, JAN./JUN. 2016. ISSN 2236-0999 (VERSÃO ELETRÔNICA) 5 AGOSTINHO, L. D. MALLARMÉ: A FICÇÃO E O ACASO dizer que a ficção trata do que não aconteceu, do que não foi, ou daquilo que poderia ter sido. A ficção se define, portanto, em oposição ao real, e por isso mesmo ela só se define na sua relação com o real; enquanto este é, a ficção não é, ela é virtual, é apenas uma possibilidade. Uma possibilidade que pode ou não se realizar. 2. O ACASO E A RAZÃO A filosofia, ao longo de toda a sua história, tem sempre recorrido à ficção, sobretudo em momentos decisivos.
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