Farinha Do Mesmo Saco Se a Justiça Não Punir Seus Principais Líderes, PSDB E PMDB Serão Os Grandes Adversários Na Eleição Do Próximo Ano

Farinha Do Mesmo Saco Se a Justiça Não Punir Seus Principais Líderes, PSDB E PMDB Serão Os Grandes Adversários Na Eleição Do Próximo Ano

Jornal Pessoal A AGENDA AmAzôNicA DE Lúcio FLávio PiNto • ANo XXXi • No 630 • ABRiL DE 2017 • 2a quiNzena • R$ 5,00 POLÍTICA Farinha do mesmo saco Se a justiça não punir seus principais líderes, PSDB e PMDB serão os grandes adversários na eleição do próximo ano. Será mais uma reedição da velha bipolaridade da política paraense: quando um grupo cai, o outro sobe. E nada muda de verdade. política no Pará – como, de resto, lhado por mais de um grupo – ou, às vezes, qua- no Brasil – é feita de compromissos, drilha, expressão mais usada em nosso tempo, A alianças, acertos, continuidade, conser- do crime organizado, não mais aleatório, bagun- vação. Excepcionalmente há rupturas. Raramen- çado, isolado. Quem sobe ao poder traz consigo te, porém, delas resultam mudanças efetivas. A os seus acompanhantes, vários deles parentes e disputa, em regra, é bipolar: o grupo que sai é dependentes. Não sobra tempo nem espaço para sucedido pelo grupo que a ele se opunha, mesmo aplicar alguma política programática. dele sendo derivado. Os dois grupos se hostili- Na república, poucas foram as rupturas, to- zam e a hostilidade pode ser duradoura. das sob a regra de que tudo muda para nada mu- O que os distingue deve-se a uma realidade dar. Ou, na mais expressiva frase francesa, plus física: o poder é pequeno demais para ser parti- ça change, plus c’est la même chose (quanto SANGRIA EM CARAJÁS • A GREVE E O TRABALHADOR mais muda, mais igual fica). Em 1912 falta de lideranças como de algum sinal dos municípios sustentáveis e Justinia- o “lemismo” (de Antônio Lemos) foi de preocupação real e competência pro- no dos municípios verdes. substituído violentamente pelo “lauris- vada das elites locais com os desafios do O tucano-mor poderia ter apresen- mo” (de Lauro Sodré). Em 1930 caiu a Pará. A hipótese mais provável, ou, ao tado todas as suas contumazes justifi- república velha e começou o “baratis- menos, aquela mais considerada pelos cativas para a dualidade, mas dificil- mo”, de Magalhães Barata, o maior dos próprios líderes, é de que novamente eles mente convenceria qualquer auditório, caudilhos, Derrotado em 1950, o “ba- medirão forças no próximo ano. mesmo o embandeirado para a nova ratismo” renasceu em 1955, sobreviveu Preparando-se para esse momento, partilha de secretarias, de que não há à morte do líder, em 1959, mas foi des- Simão Jatene começou seu terceiro e úl- redundância e superposição. A inédita troçado pelo golpe militar de 1964. timo mandato como governador acres- prioridade aos municípios, sublinhada O domínio dos dois novos coronéis, centando ao topo da extensa cúpula da no convescote realizado para o anúncio de verdade, iniciado em 1964, acabou administração pública estadual três se- da nova ofensiva, sobreviverá à eleição em 1982, quando um (Alacid Nunes) cretarias extraordinárias, dentro de uma do próximo ano, planos e programas traiu o outro (Jarbas Passarinho) para estratégia de longo prazo para se manter lustrosos à parte? eleger o oposicionista Jader Barbalho, no poder, mesmo que indiretamente. Mais um indicativo: a secretaria que mais “baratista” do que verdadeira- Uma nova secretaria de integração foi de Helenilson Pontes desapareceu. mente oposicionista. O poder de Ja- de políticas sociais o governador deu Seria porque o tributarista santareno der sofreu um golpe em 1998, com a à filha, Izabela Jatene de Souza. Outra saiu do redil tucano ou os assuntos de ascensão do seu ex-correligionário, o secretaria, encarregada de coordenar governo e institucionais ficaram fora de médico Almir Gabriel, fundador do o programa municípios verdes, ficou moda? Em qualquer resposta, o senti- PSDB no Pará, e com a continuidade com Justiniano de Queiroz Neto. A ter- do utilitário da criação desse quisto no dos tucanos por 16 anos, com a ligeira ceira, incumbida de tratar do governo escalão superior da administração pú- passagem da petista Ana Júlia Carepa e assuntos institucionais, foi reservada blica estadual fica provado. Quem está pelo poder, entre 2011 e 2013. ao ex-vice-governador (no segundo no poder se sente no direito de usá-lo Essa rotina de mudança para não mandato) Helenilson Pontes. conforme lhe aprouver para não perder mudar deverá continuar em 2018, co- Embora os indicados ostentassem o que conquistou: esse mesmo poder. locando o PSDB e o PMDB novamente currículos que os credenciavam a tratar, É o que também faz, no âmbito da ad- na gangorra do poder, se acontecimen- em tese, dos assuntos de cada pasta, o ministração federal, o candidato poten- tos nacionais não impedirem o gover- ponto em comum entre esses órgãos era cial do PMDB e seu patrono, o pai, sena- nador Simão Jatene de ser um grande o fio condutor da política. Helenilson dor Jader Barbalho. São duas máquinas eleitor na eleição do próximo ano e o teria uma âncora para servir à continui- públicas a serviço de interesses privados, ministro Helder Barbalho de ser o can- dade da sua carreira política. Izabela po- duas faces da mesma moeda, dois iguais didato favorito. dia começar a se preparar para reivindi- em confronto agressivo e vazio, de nível Um arranca-rabo, daqueles nos quais car uma cadeira na Câmara Federal. E cada vez mais baixo e personalizado. a linguagem violenta prevalece, disfar- Justiniano era o representante da “repú- Essa diferença apenas aparente se çando a falta de programas pelos ataques blica de Paragominas”, com o candidato manifestou no artigo que Jatene assinou pessoais mútuos, entre o candidato do potencial à sucessão de Jatene: o secre- na edição do dia 24 de O Liberal para governador (ainda mais se Jatene per- tário de desenvolvimento econômico, atacar a família Barbalho com acusações manecer no cargo até o fim, deixando mineração e energia, Adnan Demachki. e expressões agressivas. No dia seguinte, de ser candidato ao Senado) e o filho de O extraordinário nessas secretarias o Diário do Pará publicou sua “respos- Jader ,só não acontecerá se ambos forem estaria não propriamente na ênfase ou ta a um governador desgovernado”. Um alcançados pela justiça federal, em algu- prioridade às suas especializações, mas acusou o outro de agir por desespero, mas das suas instâncias pelas quais am- à possibilidade de serem criadas para o ambos na iminência de verem suas car- bos estão sendo processados. fim político desejado e serem extintas reiras e pretensões políticas frustradas O governador está ameaçado por de- quando o objetivo fosse atingido. Essa por decisões da justiça, onde são réus. núncias de corrupção, crime eleitoral e frouxidão (e certo relaxamento institu- O Pará já teve polêmicas melhores improbidade administrativa, enquanto cional e programático) teve a sua com- e causas mais nobres. Se realmente es- o ministro da Integração Nacional, mais provação reforçada pela decisão que creveu o que o jornal da família Maio- o pai, estão sob a mira da Operação La- Jatene pôs em prática no dia 25. rana acolheu, então é melhor Jatene va-Jato por corrupção, como beneficiá- Sua filha deixou a secretaria extra- procurar um professor de português. rios de propinas pagas por empreiteiras. ordinária de integração de políticas Porque escreve muito mal. Se a obra é A possibilidade de serem punidos antes sociais para ocupar uma nova secre- de um assessor, melhor dispensá-lo. É da eleição de 2018 não é a mais factível. taria, a dos municípios sustentáveis. incompetente. Não é, porém, impossível. Heitor Pinheiro a substituiu no órgão Apesar das palavras duras que usou, Se um dos principais contendores original. Como Justiniano permaneceu como ao chamar os adversários de ca- previsíveis – ou ambos – forem punidos, onde estava, o governo Jatene passou nalhas, o governador não deu nome poderá se abrir perspectiva para uma das a ser o mais municipalista da história aos bois. Contraditoriamente, diz que mudanças que nada mudam, tanto por republicana do país. Izabela cuidando distingue a família Barbalho de “alguns 2 - JORNAL PESSOAL Nº 630 • ABRIL DE 2017 • 2ª quINzENA de seus membros”, nos quais centrou ti-Jader em 1994, em função da candi- As acusações contra Jader e seu seu ataque, mas em nenhum momento datura de Almir ao governo do Estado. modo de enriquecer misteriosamente cita os dois nomes que alveja: o sena- Nada, porém, que impedisse a con- no usufruto de cargos públicos é antiga dor Jader Barbalho e seu filho, o minis- sumação de alianças eleitorais conve- e se renova pelo silêncio do acusado a tro Helder Barbalho. nientes e oportunistas, até que Jatene se respeito. O mutismo é estratégico, mas Falar de Jader não lustra o currículo entregou completamente aos interesses sobre ele incide o ditado popular de de Simão Robison Jatene. Ele foi secretá- da sua parceria com o grupo Liberal. que quem cala, consente. rio de planejamento ao longo de todos os No seu artigo, ele fustiga as “fortu- Ao contrário do que proclama no quatro anos (1983/87) do primeiro man- nas mal explicadas e impérios constru- seu texto errático, porém, Jatene não é o dato de Jader como governador do Pará. ídos sobre pântanos” dos Barbalhos. outro lado da política, da ética e da mo- Nesse período estouraram alguns escân- Jatene teve a possibilidade de denun- ral – a servir de contraste aos malfeitos dalos, resultantes do uso ou do desvio ciar esse capítulo nebuloso e cabuloso dos Barbalhos, de todos conhecidos. de recursos públicos, o mais famoso dos da biografia do líder do PSDB no Pará. Não é a banda sadia no saco de la- quais o “escândalo do Aurá”, mas Jatene Jader se tornou dono da RBA em 1989, ranjas nem o trigo perdido no meio permaneceu quedo e mudo. Não disse logo depois da morte do fundador da do joio. É político do mesmo tipo, uma única palavra.

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