Abre-Alas Segunda

Abre-Alas Segunda

ÍNDICE Agremiação Página G.R.E.S. SÃO CLEMENTE 03 G.R.E.S. PORTELA 41 G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS 103 G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 171 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 235 G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA 289 1 G.R.E.S. SÃO CLEMENTE Presidente RENATO ALMEIDA GOMES 3 “A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Perera, do tocandira e da onça pé de boi” Carnavalesca ROSA MAGALHÃES 5 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2015 FICHA TÉCNICA Enredo Enredo “A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Perera, da tocandira e da onça pé de boi” Carnavalesco Rosa Magalhães Autor(es) do Enredo Rosa Magalhães Autor(es) da Sinopse do Enredo Rosa Magalhães Elaborador(es) do Roteiro do Desfile Rosa Magalhães e Diretoria Ano da Páginas Livro Autor Editora Edição Consultadas 01 O encarnado e o Fernando Nova Terra 2013 Todas branco Pamplona 02 100 anos do Haroldo Costa Irmãos Vitale 2001 Todas Carnaval no Rio de Janeiro 03 Carnaval-seis Hiram Araújo Gryphus 2000 Todas milênios de história 04 Escolas de Samba Luis Gardel Kosmos 1967 Todas 05 Coleção O Biblioteca da ABI O Cruzeiro Vários Várias Cruzeiro Editora Outras informações julgadas necessárias 7 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2015 HISTÓRICO DO ENREDO Em Rio Branco era assim, um florestão envolvendo a cidade. Ninguém adentrava na mata – “Tá doido seu?” Era habitada pela bruxa Matinta Perera, que calava o uirapuru mas que sumia com a chuvarada, por um bicho brabo, o gogó de sola, de dentada perigosa feito cobra, pela formiga tocandira, pela onça do pé de boi, que todo mundo jura que existia, com pé de boi e tudo. Pois foi lá nesse lugar tão longe que nosso personagem passou a infância. Foi crescendo até que um dia chegou a hora de voltar para o Rio de Janeiro, sua terra natal e onde passaria o resto de sua vida. No Lido é que começou a brincar carnaval, ouvindo “Mamãe eu quero” e “Touradas em Madri”. O bloco de sujo de que fazia parte ensaiava no cemitério. A molecada se encontrava perto da quadra IV, que ainda estava em construção, e os defuntos ali enterrados não reclamavam do barulho. “A avenida Rio Branco era um deslumbramento só” – mão dupla, tudo decorado, cheia de grupos fantasiados. Entre os carros, desfilavam os cordões, grupos e blocos com muitos pierrôs, arlequins, tiroleses, holandeses e muitas colombinas também. Passa o tempo, passa a guerra, passa a ditadura de Vargas, o tempo vai correndo e nosso herói vai se tornando mais adulto e mais valente. Essa avenida Rio Branco, dos desfiles carnavalescos, era a mesma que abrigava o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu e a Escola de Belas Artes. E lá foi ele, atraído pelas artes, para a tal escola, e também para o teatro, onde trabalhou por muito tempo. Foi desse local, numa janela do andar superior, seu camarote exclusivo, que viu pela primeira vez um desfile de escola de samba, com Natal reclamando e a Portela evoluindo, alí, naquela mesma avenida. Um dia, foi convidado para fazer parte do júri das escolas de samba. Aceitou. E foi também na Avenida Rio Branco que, encarapitado num palanque de madeira, viu um desfile bastante sui-generis. “A primeira escola quebrou o eixo do carro... Que entre a segunda.... Mas a segunda só entraria se a primeira entrasse.... Então que entre a terceira... E nada da terceira, e nada da quarta também – Às onze e meia da noite, chega alguém avisando que a quinta iria desfilar – até que enfim...” A quinta era o Salgueiro, apresentando enredo sobre Debret – o que cativou nosso jurado: em vez de “Panteão de Glória”, “Batalhas de Tuiuti”, etc., cantava um artista – Debret. Foi desse dia em diante que nosso personagem tornou-se carnavalesco e salgueirense – as cores vermelho e branco ainda por cima o remetiam ao time de futebol lá do Rio Branco, quando ainda era menino. 8 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2015 Não esperava receber o convite para desenvolver o enredo para o Salgueiro, no ano seguinte. Escolheu a resistência negra durante o período da escravidão, Nzambi dos Palmares, ou Zumbi dos Palmares, assunto que não era focalizado pelas escolas. Virou filme, e Zumbi hoje é símbolo de resistência. Descobriu para o povo não só o Nzambi como Xica da Silva (foi um estouro!!), Aleijadinho, e acabou desencavando um enredo sobre uma visita de um rei negro a Mauricio de Nassau – cuja música foi cantada não só no carnaval como em estádios de futebol, casamentos, e até hoje faz sucesso – Olêlê, Olálá, pega no ganzê, pega no ganzá... Apesar das vitórias, havia uma certa crítica negativa a ele, dizendo que não se deveria interferir numa manifestação popular. Tinham esquecido que, desde a década de 40, as escolas contratavam artistas eruditos e profissionais para realizarem seus enredos. No ano do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, o tema escolhido foi “História do Carnaval Carioca”, que retratava o carnaval carioca e o baile dos pierrôs, produzido por Eneida todo ano. Jogaram muito confete e serpentina durante o desfile, e os garis estavam esperando o Salgueiro sair da avenida para limpar tudo antes do desfile da Portela. Provocativos, os salgueirenses disseram que aquela era a comissão de frente da Portela. Os portelenses obrigaram os garis a irem limpando a pista no final do desfile do Salgueiro. Foi a apoteose – “Puxa, não esqueceram nada, tem até os garis limpando o final da festa!” Esses garis foram aproveitados mais tarde pelo Joãozinho Trinta no seu famoso desfile dos Ratos e Urubus. Na época, João era aderecista e bailarino. Acabou abandonando a dança e tornou-se carnavalesco, mas esta já é uma outra história... O nosso herói fez outros carnavais vitoriosos. Depois, passou a bola adiante e foi se dedicar a vários afazeres nas TVs para as quais trabalhava. Um dia, cansado da vida, foi embora, acho que um pouco contrariado, pois viver foi sempre uma aventura que encarou sem medo. Deve ter sido recebido por uma extensa corte – Nzambi, Aleijadinho, Xica da Silva e outros tantos negros e mulatos que fazem parte da cultura deste país mulato. Agitando bandeirinhas, eles gritaram em coro: “Pamplona, Pamplona, Pamplona...” Rosa Magalhães 9 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2015 JUSTIFICATIVA DO ENREDO Fernando Augusto da Silveira Pamplona nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de setembro de 1926. Apesar de carioca, passou boa parte de sua infância no Acre, onde conviveu com histórias fantásticas e criou as bases para se tornar um dos maiores artistas do nosso tempo. Cenógrafo, professor da escola de Belas Artes, profundo conhecedor e incentivador da arte popular, é o grande líder da geração de carnavalescos que modificou as escolas de samba a partir de 1960, com Maria Augusta, Arlindo Rodrigues, Joãozinho Trinta, Renato Lage entre outros. Salgueirense e botafoguense, essa figura tão importante para o carnaval carioca, foi a escolha da São Clemente, também botafoguense, para este carnaval de 2015. “Quando conheci Pamplona, em 1960, as escolas de samba estavam em estado de perplexidade com o sucesso que faziam diante de uma faixa da população que, até então, não tinha a menor relação com elas. As escolas vinham das favelas e dos subúrbios cariocas, enquanto o novo público era formado basicamente para os cariocas da classe média e moradores da Zona Sul e da Tijuca. Quem faz o espetáculo é o público, diz o velho axioma teatral. O novo público das escolas desempenhou o seu papel entusiasmando-se com a música e com a dança, mas rejeitando certas soluções encontradas para o desenvolvimento do enredo. Após o Carnaval de 1954, o repórter do jornal O Globo foi o porta-voz do novo público ao fazer o seguinte registro sobre o desfile: “certas figuras respeitáveis, como Caxias e Santos Dumont e tantos outros vultos históricos, certamente evitariam, se pudessem, as homenagens que os transformam em bamboleantes mostrengos sobre tablado de carros desconjuntados. Ou as escolas não possuem escultores capazes de executar trabalhos desse tipo, com bom acabamento, ou não possuem dinheiro para executar a tarefa perfeita que deveria estar em consonância com a grandeza do espetáculo.” As escolas de samba sabiam que o novo público impunha uma nova estética, mas que estética? Cenógrafos e figurinistas do cinema, do teatro de revista e da televisão foram convocados. Tal contribuição (da qual participaram diretores de espetáculos como o português Chianca de Garcia, porém, foi insignificante. Quem começou a mudar de verdade foi o casal Dirceu Neri e Marie Louise, no Salgueiro, em 1959, com um enredo baseado na obra de Debret. Mudou tão bem que impressionou Fernando Pamplona, um dos integrantes da comissão julgadora. No ano seguinte, Pamplona se encarregou de consolidar as mudanças, no próprio Salgueiro, com o famoso enredo sobre o Quilombo dos Palmares. Há quem o acuse de ser o responsável pelas deformações a que as escolas de samba foram submetidas a partir da década de 60. Nada mais injusto. Para começar, Fernando Pamplona jamais ganhou um tostão do Salgueiro (sou testemunha de serias dificuldades financeiras que enfrentou por gastar seu próprio dinheiro no carnaval da escola). Ao contrário do que imaginaram os seus acusadores, as mudanças promovidas por ele tinham em vista, principalmente, a preservação dos elementos da cultura negra. Já em 1960, introduziu espetacularmente os atabaques no Salgueiro. Ao substituir por espelhos as lâmpadas usadas 10 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2015 nas fantasias dos sambistas, recuperava luma tradição do próprio folclore brasileiro.

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