João Paulo de Jesus Martins Luz O Porto de Jano Uma cidade de Duas Caras, o Porto entre Liberais e Miguelistas MESTRADO EM PATRIMÓNIO, ARTES E TURISMO CULTURAL Dezembro 2019 João Paulo de Jesus Martins Luz O Porto de Jano Uma cidade de Duas Caras, o Porto entre Liberais e Miguelistas Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de MESTRE EM PATRIMÓNIO, ARTES E TURISMO CULTURAL Orientação Prof. Doutor Sérgio Alexandre Soldá da Silva Veludo Coelho MESTRADO EM PATRIMÓNIO, ARTES E TURISMO CULTURAL Dezembro 2019 Ao Meu Pai Amável À Minha Mãe Maria À minha Raquel ii Ora se a historia, mestra da vida, tivesse sido ensinada nas nossas escolas, não como uma relação cronologica de factos, mas como um codigo de lições morais e de grandes ensinamentos, nós teriamos por certo uma sociedade mais conscia dos seus deveres civicos, por que saberia tirar dos factos passados as regras a observar no seu procedimento futuro; mas infelizmente não sucede assim, continuamos, como no tempo do Grande D. João de Castro, a sermos imprevidentes e incoerentes, por sermos inconscientes. - V. Cesar, 1920 iii AGRADECIMENTOS A conclusão deste trabalho não seria possível sem a colaboração de diferentes pessoas, de diferentes áreas científicas, e como tal, só me resta referir e agradecer quem empregou tanto do seu tempo para o término deste estudo. Não seria justo da minha parte sem agradecer em primeiro lugar, ao Professor Doutor Sérgio Veludo Coelho, mentor de tantos pensamentos, sem o seu apoio incondicional, abertura ímpar para toda e qualquer questão, o estudo aqui apresentado nunca seria sequer iniciado. À Dr.ª Rute e à Dr.ª Paula Cruz, da Casa do Infante Arquivo Municipal do Porto, sem a colaboração das quais, a transcrição dos vários documentos não seria possível. Como todo o prédio tem as suas fundações, eu também tenho as minhas, neste caso a minha família, a qual em tantas horas de dificuldades e obstáculos souberam sempre me mostrar-me a Luz. À minha Bisavó Chica, que com a sua sapiência, transmitiu-me os valores que todos devemos de possuir. Ao meu avô materno Américo com todas aquelas horas de gargalhadas a quem devo o bom humor. Ao meu avô paterno Américo por me ter transmitido os valores que qualquer Homem deve de ter e que nunca se deve de esquecer. Ao meu pai Amável por me guiar, por me motivar constantemente a prosseguir o meu trabalho, por me ajudar sempre que algum obstáculo surge. À minha mãe Maria Paula pelo seu amor incondicional, por me mostrar sempre o lado mais humano da vida, por ser a conselheira espiritual de todas as horas. Ao meu irmão Pedro, à minha cunhada Dora e à minha afilhada Ticha por todos os concelhos e vivencias de uma vida. Como todo o navio tem que ter um porto seguro, o meu só tem um nome, Raquel, a âncora principal deste estudo, a pessoa que mais horas me ouviu falar sobre este tema, farol da minha vida, um eterno obrigado com o maior amor que é possível existir num homem. A todos os restantes alguns de um modo mais direto que outros, que ajudaram à realização deste estudo um bem-haja e um eterno obrigado. João Paulo de Jesus Martins Luz iv RESUMO Porto, uma cidade Liberal? Quantos de nós já ouvimos esta expressão? Uma expressão fundada em mitos, conceções de uma historiografia cristalizada no tempo ou uma realidade? Nesta dissertação pretendemos levantar, analisar e verificar quem foram as personalidades, mais ou menos conhecidas que assumiram, de formas mais ou menos coerentes as suas posições pró-Absolutistas ou pró- Liberais na cidade do Porto entre 1818 e 1833. Este intervalo temporal refere-se à formação do Sinédrio e até ao fim do Cerco do Porto, finalizado em agosto de 1833, após o que o teatro de operações da Guerra Civil passa para o Sul de Portugal. Não focaremos apenas os seus líderes, mas também quem participou ativamente neste período conturbado da História da Cidade do Porto, configurando um Património e Memória que consubstancia de forma material e imaterial como igualmente tentaremos demonstrar. Ao longo da nossa investigação, tornou-se evidente que a nossa proposta de problemática desta dissertação teria razão de ser dada a riqueza dos dados, muitos deles que cremos inéditos e que nos motivou a ir o mais fundo possível nas questões que nos propusemos responder, anda que dentro das limitações de uma dissertação de mestrado. O que aqui fica será o ponto de partida para mais estudos, sejam em sede de produção científica, seja em futuros estudos pós- graduados. Esta dissertação assenta, como referido acima, com a formação do Sinédrio em 1818, relembra a Belfastada e as execuções de 7 de maio de 1829, terminando com o levantamento do Cerco do Porto em agosto de 1833. Num espaço de 15 anos iremos apresentar diferentes, diversas e variadas personalidades que se mantiveram fiéis à sua ideologia ou mudaram consoante as suas necessidades, conveniência ou carácter, para o que criamos o termo Situacionista, dado que reflete um posicionamento pessoal, mas que por vezes teve impactos nos que os rodeavam. Para tal foram levantadas questões estruturais e lacunares: Quem são estes apoiantes? Se sempre apoiaram o mesmo ideário político? De que maneira o apoiaram e como agiram? Que consequências trouxe este período da nossa História para estes homens? Com este estudo foi-nos possível estabelecer uma série de objetivos que nos propusemos atingir, não na intenção de desmitificar um Porto Liberal, mas que tinha uma diversidade política complexa em que as correntes ideológicas, tanto inspiradas no Romantismo Liberal, no conservadorismo político, social ou económico que poderia não alinhar em ideologias, no Miguelismo absoluto ou na fluidez das circunstâncias. A cidade do Porto não poderia ficar de fora ou alheia à situação nacional, tanto pela sua importância estratégica a todos os níveis, como pelo que, pese a diversidade política, sempre foi uma cidade que era e é ciosa das suas liberdades. Estas liberdades enquanto cidade e coletivo humano, não têm que necessariamente alinhar com diretivas ou imposições de agendas políticas. Poderíamos v ter Portuenses Liberais ou Miguelistas, porque os houveram e os documentos assim o provam, mas tal não se confronta com o sentido de liberdade de comércio, de decisão, e todo o mais que caracterizava a Cidade do Porto desde há muito. De notar que em 2020 se iniciam múltiplas iniciativas que evocam o Bicentenário da Revolução (ou pronunciamento militar?) de 24 de Agosto de 1820, e que se estende em termos de propostas de estudos na História e no Património até ao início da Regeneração. Mas refira-se que este período foi multiplamente relembrado na Monarquia Constitucional e ainda na I República, esmorecendo na historiografia do Estado Novo. A História por vezes não se compadece com os vencidos e foi construída toda uma historiografia quase panegírica do lado Liberal, relegando o ideário Miguelista para um campo demonizado, ideologicamente fechado e no lado errado da História. Dentro desta reflexão, não tomando partidos, obrigação difícil, mas máxima do historiador ou do que para lá caminha, tentamos que esta dissertação tomasse este caminho. Trazer à luz os dois lados, pois o situacionismo apenas serve de ponte para os que para tal lhe convinha, como ainda hoje. Atrevemo-nos a dizer que nem todos os Liberais se pautavam pelas mesmas linhas ideológicas, bastando referir os que não se reviam no Duque de Bragança e o Miguelistas, em que muitos, apesar do seu conservadorismo, não aprovavam os métodos e comportamentos do regime do filho mais novo de Dona Carlota Joaquina. A temática abordada nesta dissertação foi fruto de dúvidas que levaram a questões e daí à problemática. Um pouco metaforicamente utilizamos a figura de Jano, o deus romano de duas caras. Estas duas caras simbolizam, neste contexto uma cidade do Porto que talvez não fosse tão Liberal quanto a historiografia do século XIX e XX nos queira transmitir. Qual a real dimensão do partido Liberal na cidade e qual a influência dos valores conservadores e Absolutistas nas várias camadas sociais, desde as elites ao povo das ruas? Se existiu uma guerra, foi necessário existir dois lados, portanto, quem são estes? Quem são os “atores” deste episódio da História de Portugal? Palavras-chave: Porto, Guerra Civil, Absolutismo, Liberalismo. vi ABSTRACT Porto, a Liberal city? How many of us have heard this expression? An expression founded on myths, conceptions of a crystallized historiography in time or reality? In this dissertation we intend to survey, analyze and verify who were the more or less known personalities who assumed, in more or less coherent ways, their pro-Absolutist or pro- Liberal positions in the city of Porto between 1818 and 1833. This time interval refers to the formation of the Sanhedrin and until the end of the Siege of Porto, completed in August 1833, after which the theater of operations of the Civil War moved to southern Portugal. We will not only focus on its leaders, but also on those who actively participated in this troubled period in the history of Porto City, configuring a Heritage and Memory that materializes in a material and immaterial way as we will also try to demonstrate. Throughout our investigation, it became evident that our proposal for problematics of this dissertation would have to be given the richness of the data, many of which we believe unpublished and that motivated us to go as deep as possible on the questions we set out to answer, walks that within the limitations of a master’s dissertation. What remains here will be the starting point for further studies, whether in the field of scientific production or in future postgraduate studies.
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