
Revista Nordestina de Zoologia ISSN 1808-7663 Volume 6 Número 1 Jan/Jul Ano 2012 Revista Nordestina de Zoologia Recife V. 6 (Jan/jun) N. 1 P. 1 - 79 2012 GASTROPODA (MOLLUSCA) ASSOCIADOS A Caulerpa racemosa (FORSKAL) LAMOUROUX, 1809 NA PRAIA DO CUPE, IPOJUCA, PERNAMBUCO, BRASIL Ana Paula Andrade de Oliveira 1; Stefane de Lyra Pinto 1; Marcos Souto Alves 1; Maria Fernanda Silva Leite 1; Sérgio Mendonça de Almeida 2; Carolina Notaro de Barros 1 1Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Área de Zoologia – Rua Dom Manoel de Medeiros, s/nº, Dois Irmãos, Recife – PE. [email protected]; [email protected]; 2Universidade Católica de Pernambuco. Abstract:This research aimed to know a mollusk Gastropoda biodiversity associated with the macroalgae Caulerpa racemosa (Forskal) Lamouroux in Cupe beach, Pernambuco, Brazil. The samples of the algae were collected monthly in diurnal low tides during the period of January to December of 2005. The material was fixed in formalin saline 4% neutralized with borax, subsequently sued the sorting, identifying the rate of Gastropoda and measuring the volume of samples. They were calculated density, abundance and frequency of species. Prosobranchia was the most representative subclass dominating on the other subclasses. The total density varied over the period was higher between the months of the dry period. Ware examined 7.105 individuals, totaling 28 species. Nine species had 100% of frequency being considered constant. The species Caecum ryssotitum that presented the highest density among Prosobranchia, with average density of 86,95 ind.100 ml -1, a minimum of 14,79 ind.100 ml -1 in may 2005 and a maximum of 206,45 ind.100 ml -1 in november 2005. Key words : a ssociated fauna, macrofauna, phytal, benthic invertebrate . Resumo:Esta pesquisa objetivou conhecer a biodiversidade dos moluscos Gastropoda associados à macroalga Caulerpa racemosa (Forskal) Lamouroux na praia do Cupe, litoral de Pernambuco, Brasil. Foram realizadas coletas mensais da alga, nas marés baixas diurnas, no período de janeiro a dezembro de 2005. As amostras foram fixada em formol salino a 4%. Em laboratório, procedeu-se a triagem da fauna e a identificação dos Gastropoda. Foram calculadas densidade, abundância e freqüência das espécies. Prosobranchia foi a subclasse mais representativa dominando sobre as demais subclasses. A densidade mensal variou ao longo do período sendo maior entre os meses do período seco. Foram examinados 7.105 indivíduos, distribuídos em 27 espécies. Nove espécies apresentaram 100% de freqüência sendo considerados constantes. A espécie Caecum ryssotitum foi a que apresentou maior densidade entre os Prosobranchia, com densidade média de 86,95 ind. 100 ml -1, a mínima de 14,79 ind. 100 ml -1em maio 2005 e a máxima de 206,45 ind. 100 ml -1 em novembro 2005. Palavras chaves: fauna associada, macrofauna, fital, invertebrados bênticos. INTRODUÇÃO microorganismos até algas epífitas e elementos da macrofauna. A planta O termo fital (Gr: phyton – substrato atenua o hidrodinamismo e planta), proposto por Remane em 1933, proporciona estabilidade dos parâmetros designa um ambiente aquático ambientais, proporciona abrigo contra bentônico povoado por macrófitas, e luminosidade, ressecamento e exposição esta planta funciona como substrato ao ar atmosférico, possibilita local para outros organismos, que varia desde refúgio contra predadores, garante um Revista Nordestina de Zoologia, Recife v 6(1) jan/jul: p. 1-14. 2012. suprimento de alimentação e funciona Galinhas, uma praia muito visitada por como sítio de reprodução para a fauna turistas, a Praia do Cupe têm sofrido associada. influência desse forte fluxo turístico A alga Caulerpa racemosa é existente no litoral do município de uma clorofícea, abundante no litoral de Ipojuca – Pernambuco. O tráfego de Pernambuco, estando bem distribuída turistas tem danificado os bancos de ao longo dos recifes areníticos. algas nos recifes dessa praia junto com Os moluscos constituem o sua fauna acompanhante. Na zona praial segundo maior filo de invertebrados em também tem aumentado a destruição do número de espécies ocupando nichos ambiente por conta da ação antrópica ecológicos diversos, dentre os quais a principalmente por especulação classe Gastropoda é bem representada imobiliária e por processos naturais no bentos marinho (Diaz & Puyana, como o acentuado processo de erosão 1994). (Gomes, 2003). Muitos trabalhos ressaltam a Esta pesquisa descreve a importância dos moluscos sob vários composição quali-quantitativa e as aspectos nas comunidades algais dentre variações temporais dos Gastropoda eles: Vahl (1971); Montouchet (1972); associados à Caulerpa racemosa na Underwood (1976) entre outros. praia do Cupe, município de Ipojuca, Por se tratar de um ambiente litoral de Pernambuco, Brasil. localizado próximo da praia de Porto de quantidade de pequenas poças de maré, MATERIAL E MÉTODOS até grandes piscinas naturais com até 3 metros de profundidade. Segundo Gomes (2003), a praia A área possui clima do tipo As’ do Cupe (Figura 1) está localizada no (pseudo-tropical) com chuvas anuais de município de Ipojuca, distante 57 km do 1.850 mm a 2.364 mm, concentradas Recife, no litoral sul do estado de nos meses de março a agosto, e período Pernambuco, Brasil (08º24’00”S e de estiagem compreendendo os meses 35º03’45”W) (Figura 1). Este de setembro a fevereiro. A temperatura Município integra a Região média anual é de 24ºC (Köening et al , Metropolitana do Recife e a 2003). microrregião geográfica de Suape, Os parâmetros abióticos limitando-se, ao norte, com o município salinidade e temperatura das águas do Cabo de Santo Agostinho; ao sul, adjacentes à região costeira do litoral do com o município de Sirinhaém; a leste, Município de Ipojuca-PE variam muito com o Oceano Atlântico; e a oeste, com pouco. A temperatura da água oscila o município de Escada. entre 27°C e 28°C, sendo praticamente A praia do Cupe apresenta cerca uniforme até uma profundidade de 50 de 4,5 km de extensão, com a presença m. A salinidade varia de 28,88 (no de recifes de arenito, paralelos e período chuvoso) a um máximo de contíguos à costa, e faixas de praia 37,16 (no período de estiagem) (Manso, arenosa. Nos recifes na zona entre- 2003). marés encontramos desde uma grande Revista Nordestina de Zoologia, Recife v 6(1) jan/jul: p. 1-14. 2012. Figura 1- Mapa do estado de Pernambuco com a localização da área de coleta, na praia do Cupe, município de Ipojuca – PE. As coletas foram realizadas em sacos plásticos e, com auxílio de durante o período chuvoso (maio, junho uma espátula, foram removidas do e julho) e o período seco (outubro, substrato com o estolão. Em seguida as novembro e dezembro) de 2005, sempre amostras foram acondicionadas em nas baixa-marés diurnas de sizígia. potes plásticos, fixadas com formol Três réplicas da alga Caulerpa salino a 4% neutralizadas com bórax e racemosa foram coligidas manualmente conduzidas ao Laboratório de através de lances aleatórios de um Invertebrados Marinhos e Limnéticos quadrado de 25 x 25 cm. Em cada (LIML) do Departamento de Biologia, lançamento as algas foram envolvidas Área de Zoologia da Universidade Revista Nordestina de Zoologia, Recife v 6(1) jan/jul: p. 1-14. 2012. Federal Rural de Pernambuco para Leite, 2003) por 05 minutos, seguindo- posterior análise. se a medição dos volumes das amostras As amostras destinadas à pelo método volumétrico (Montouchet, determinação da salinidade foram 1972; Alves & Araújo, 1999). coletadas em recipientes plásticos com Calculou-se a freqüência de capacidade para 60 ml e levadas para o ocorrência e as abundâncias relativas Laboratório de Oceanografia Química mensal e média da composição dos do Departamento de Oceanografia da Gastropoda, através das funções: AM = UFPE, sendo empregado o método n x 100/N, onde: AM(%) = Abundância indireto de Morh-Knudsen, descrito por relativa mensal; n = Número de Strickland & Parsons (1972). A indivíduos de cada táxon para um dado temperatura da água foi registrada in mês. A densidade dos Gastropoda para sito com auxílio de um termômetro de cada amostra foi padronizada em álcool submergido no ponto de coleta. número de indivíduos por 100 ml de A pluviometria foi obtida junto volume da amostra de alga, segundo a ao Instituto Nacional de Pesquisas função: D = nº ind. X 100/ volume alga Espaciais (Centro de Previsão de (ml). Tempo e Estudos Climáticos) a partir dos dados registrados pela Plataforma RESULTADOS de Coleta de Dados – Ipojuca (8°30’36”S 35º00’00”W) Durante o período estudado foi (http://tempo.cptec.inpe.br:9080/PCD/). registrada a temperatura média da água O material coletado foi lavado de 28°C, com mínimo de 26°C no mês sob água corrente sobre duas peneiras de julho e máxima de 30°C em com aberturas de malha de 0,5mm dezembro de 2005. A salinidade média (Ávila, 2003; Tanaka & Leite, 2003). O foi de 34,20, com mínima de 32,40 no material retido em cada peneira foi mês de junho/2005 e máxima de 36,00 transferido para recipiente plástico e nos meses de outubro, novembro e conservado em etanol 70% para o dezembro de 2005. A precipitação procedimento de contagem. variou entre um mínimo de 50 mm em Os Gastropoda foram separados outubro e novembro de 2005 a 476 mm e identificados ao menor táxon possível, em junho/2005. Os meses de julho e utilizando-se como referência Rios dezembro de 2005 mostraram uma (1994) e Rosemberg (2005). precipitação atípica, com o índice de As algas, após serem lavadas, julho (132,75 mm) abaixo da média dos foram secadas em centrífuga manual seus meses vizinhos e dezembro muito (Jacobucci & Leite, 2002; Tanaka & acima da média (160 mm) (Figura 2). Revista Nordestina de Zoologia, Recife v 6(1) jan/jul: p. 1-14. 2012. (%) (mm) Figura 2 – Variação dos parâmetros hidrológicos salinidade (%), temperatura (°C) e precipitação mensal (mm), na praia do Cupe, município de Ipojuca – PE, nos períodos chuvoso e seco de 2005.
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