Itinerários Da Loucura Em Territórios Dogon

Itinerários Da Loucura Em Territórios Dogon

Itinerários da loucura em territórios Dogon Denise Dias Barros SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros BARROS, DD. Itinerários da loucura em territórios Dogon [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. Loucura & Civilização collection. 260 p. ISBN 978-85-7541-332-6. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. Itinerários da Loucura em Territórios Dogon FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Presidente Paulo Marchiori Buss Vice-Presidente de Desenvolvimento Institucional, Informação e Comunicação Paulo Gadelha EDITORA FIOCRUZ Coordenador Paulo Gadelha Conselho Editorial Carla Macedo Martins Carlos E. A. Coimbra Jr. Carolina M. Bori Charles Pessanha Gilberto Hochman Jaime L. Benchimol José da Rocha Carvalheiro José Rodrigues Coura Luis David Castiel Luiz Fernando Ferreira Maria Cecília de Souza Minayo Miriam Struchiner Paulo Amarante Vanize Macêdo Coordenador Executivo João Carlos Canossa P. Mendes COLEÇÃO LOUCURA & CIVILIZAÇÃO Editor Responsável: Paulo Amarante Itinerários da Loucura em Territórios Dogon DENISE DIAS BARROS Copyright 2004 da autora Todos os direitos desta edição reservados à FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ / EDITORA ISBN: 85-7541-040-7 Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica Angélica Mello Preparação de originais e revisão e copidesque Cíntia Bravo de Souza, Janaina Silva e M. Cecilia G. B. Moreira Imagens Gianni Puzzo (fotógrafo e documentarista, membro da Casa das Áfricas e diretor da produtora Anthares Multimeios) Catalogação-na-fonte Centro de Informação Científica e Tecnológica Biblioteca da Escola Nacional de Saúde Pública B277i Barros, Denise Dias Itinerários da loucura em territórios dogon / Denise Dias Barros. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004. 260 p. 1.Etnoscopia. 2. Transtornos mentais-etnologia. 3. Saúde mental. 4. Cultura. I Título. II. Série CDD- 20.ed. – 362-2 2004 EDITORA FIOCRUZ Av. Brasil, 4036 – 1o andar – sala 112 – Manguinhos 21040-361 – Rio de Janeiro – RJ Tels.: (21) 3882-9039 e 3882-9041 Telefax: (21) 3882-9006 http://www.fiocruz.br e-mail: [email protected] À memória de Adelina Thiago Dias Komoé Yao Yacuba Karambe e do professor Arouma Keita SUMÁRIO Prefácio....................................................................................................... 9 Entreabrir .................................................................................................. 13 Situar ........................................................................................................ 21 Chegar ...................................................................................................... 39 Tecer ......................................................................................................... 59 Ouvir ........................................................................................................ 77 Trilhar ......................................................................................................139 Re-compor ...............................................................................................205 Continuar .................................................................................................225 Permanecer ..............................................................................................229 Referências Bibliográficas ........................................................................245 Anexos ....................................................................................................253 PREFÁCIO Neste livro, Denise Dias Barros apresenta inúmeros aspectos da problemática da loucura e métodos de tratamento tal como se apresenta entre os Dogon, sociedade negro-africana da África do Oeste. O texto não contém complexidades forçadas: sua densidade e concreção aparecem como qualidades naturais do discurso, que é sólido e preciso, chegando ao que deseja expor por caminhos que muitas vezes fogem da convencionalidade dita científica para fazer aflorar fatores insuspeitados. Diria que, além de seu interesse para certas áreas médicas – que travarão contato com realidades desconcertantes para elas –, trata-se de um trabalho do campo da sociologia, em formulação diferencial, porque estabelece relações entre fenômenos de uma determinada sociedade tendo por base ações e relações sociais ancoradas em valores históricos extremamente precisos e internalizados. Assim, a loucura aparece como fato indissoluvelmente ligado às práticas sociais, ocorrendo certamente a individualização dos problemas, mas com relacionamento estreito com a questão do equilíbrio e desequilíbrio, da ordem e da desordem, sempre ao nível interdependente da pessoa e da sociedade. Porém, não fica o trabalho relegado apenas a estas instâncias, o que já seria percurso de fôlego – pois que é repassado da crueza da dor humana e da tentativa de compreendê-la e situá-la. Deixo ao leitor o gosto de ir desvelando método, realidades e emoções, situações e soluções, bem como o prazer de ir ao encontro de uma rica galeria de tipos humanos com os quais vale a pena travar contato. Ao tratar de tão delicados assuntos – desconhecidos em nosso país sob tais formulações e abordagem, como tantas outras realidades da África negra –, a autora serve-se de indicadores de reflexão do maior significado, todos presentes de alguma forma no interior do texto, com a vantagem de o método estar mais presente no discurso do que no seu enunciado. Em primeiro lugar, Denise procura abordar a África negra e os problemas em que desejou penetrar a partir de uma visão que trata as questões de dentro para fora, chegando ao que chamo de ‘África interna’, onde os fatos se concretizam a partir de práticas sociais originárias. É a ‘África-Sujeito’. Com isso, contrapõe-se ao método que tenta a penetração nos fenômenos de fora 9 para dentro, chegando ao que denomino ‘África-Objeto’, tão difundida e tão consagrada na bibliografia enganosa. Uma outra trilha que a autora percorre é a da palavra em sociedades negro-africanas. De fato, excluídos aqueles momentos em que se tornou necessário usar bibliografias, esse caminhar se fez no trabalho de campo – sim, Denise foi viver entre os Dogon para melhor conhecer o homem, a sociedade e o assunto a tratar – e no belo material obtido em narrativas e outros testemunhos junto ao grande número de depoentes, adivinhos, notáveis de cultos, terapeutas especialistas em problemas psíquicos, familiares, doentes etc., material esse que lhe trouxe sólidas instâncias empíricas que permitiram chegar a abstrações justificadas. Não se deve esquecer que na África negra de que se trata aqui, estamos diante de sociedades da palavra, nas quais esta não se confunde com a emissão articulada e inteligente da voz. Nestas sociedades, mais apropriadamente, a oralidade configura-se como dimensão da personalidade profunda que deve obrigatoriamente casar-se com a proposição segundo a qual essa palavra aparece como um conjunto de respostas a um determinado assunto, sempre compatíveis entre si, ainda que possam ser conflitantes. A palavra negro-africana não é meio de comunicação apenas, ela confere existência. Nesse sentido, é possível concordar que este é um trabalho referido à palavra dogon sobre a loucura, suas formas de manifestação, diagnósticos, impactos e métodos de tratamento, o todo sempre referido a valores e práticas sociais ancestrais. Ao adotar a palavra dogon, Denise conquistou verdades inestimáveis sobre a loucura entre eles e cresceu muito em sua figura de pesquisadora, pois que, bastante não fosse tal esforço, junta-se ao pequeno grupo de estudiosos que sabem não estarem diante de sociedade de analfabetos – como geralmente se quer para a África negra –, mas de sociedades da palavra. Aqui, convém abrir um espaço para apontar o nobre significado do conjunto de contos em que a loucura aparece entre os Dogon de uma ou outra maneira, recolhidos pela autora pela palavra das pessoas que identifica e que forneceram precioso material diferencial. O problema da loucura é tratado com desvelo pelos Dogon, que, diante de seu significado social, criaram temáticas – algumas de grande complexidade – inerentes às práticas sociais referidas ao fenômeno. Estes contos, além de sua beleza e de sua condição de mecanismo revelador de valores e conhecimentos, transmitem grande solidez ao discurso, permitindo chegar a uma compreensão mais real e honesta. É um dos momentos mais fortes do texto e base de uma série de reflexões. A autora perpassa sua obra com referências, às vezes extremamente sutis e difíceis de serem percebidas, à complexa questão das forças vitais, pois reconhece que os negro-africanos encontram nessa proposta os fundamentos de 10 grande parte de sua filosofia, de explicação do mundo, bem como respostas para algumas das mais importantes instâncias definidoras da natureza e dos seres, inclusive da noção de pessoa, que envolve de certa forma todo o trabalho. De fato, são essas forças passíveis de serem aumentadas ou diminuídas, provocando os respectivos resultados que, em última instância, regem os fatores de equilíbrio, desequilíbrio, ordem e desordem no homem e na sociedade, sendo a loucura manifestação de ruptura, de quebra da ordem natural ou da ordem social, o que precisa ser

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