Raimundo Luciano Soares Neto1, Luciana Silva Cordeiro2 & Maria

Raimundo Luciano Soares Neto1, Luciana Silva Cordeiro2 & Maria

Rodriguésia 65(3): 685-700. 2014 http://rodriguesia.jbrj.gov.br DOI: 10.1590/2175-7860201465308 Flora do Ceará, Brasil: Combretaceae Flora of Ceará, Brazil: Combretaceae Raimundo Luciano Soares Neto1, Luciana Silva Cordeiro2 & Maria Iracema Bezerra Loiola3,4 Resumo Este estudo consiste no levantamento florístico de Combretaceae ocorrentes no estado do Ceará, como parte do projeto “Flora do Ceará”. O estudo foi baseado na análise comparativa dos caracteres morfológicos de espécimes depositados em herbários, bibliografia, fotos de materiais-tipo, além de coletas e observações de campo. Foram registradas 17 espécies distribuídas em cinco gêneros: Buchenavia (2); Combretum (9); Conocarpus (1); Laguncularia (1) e Terminalia (4). As espécies ocorrem preferencialmente em ambientes mais secos como caatinga, carrasco e floresta estacional. Palavras-chave: distribuição, florística, Combretum, nordeste do Brasil, Terminalia. Abstract We present the floristic survey of Combretaceae occurring in the Ceará state, as part of “Flora do Ceará” project. This study was based on the comparative analysis of morphological characters of herbarium specimens, bibliography, photo-type material, along with collections and field observations. Seventeen species in five genera were recorded: Buchenavia (2); Combretum (9); Conocarpus (1); Laguncularia (1) e Terminalia (4). The species occurs preferentially in drier habitats like the caatinga, carrasco and deciduous forest. Key words: distribution, floristic, Combretum, Northeastern Brazil, Terminalia. Introdução na África. Já Combretoideae, caracterizada por Combretaceae compreende aproximadamente possuir ovário ínfero, abrange duas tribos de 500 espécies e 14 gêneros distribuídos nas regiões distribuição pantropical: Laguncularieae Engl. tropicais e subtropicais do mundo, sendo a África o & Diels e Combreteae DC., esta com duas principal centro de diversidade da família (Stace 2004, subtribos: Terminaliinae (DC.) Exell & Stace onde 2010). Está posicionada em Myrtales juntamente estão alocados os gêneros Buchenavia Eichler, com outras 13 famílias (Stace 2010). Apresenta Conocarpus L. e Terminalia L., e Combretinae Exell como grupo-irmão o clado formado por Lythraceae & Stace, destacando-se o gênero Combretum Loefl. e Onagraceae (Tan et al. 2002; APG III 2009; Stace entre seus representantes (Exell & Stace 1996; Stace 2010). Seus representantes são caracterizados por 2004; Sytsma 2004; Maurin et al. 2010). apresentarem hábito lenhoso; tricomas lepidotos Estudos moleculares suportam essa distintos nas porções vegetativas e reprodutivas; folhas classificação, pois demonstram a monofilia de simples, inteiras; flores tetrâmeras ou pentâmeras, Laguncularieae e Combretinae (Tan et al. 2002; sésseis ou subsésseis, ovário ínfero, unilocular com Maurin et al. 2010). Já na subtribo Terminaliinae, (1)2‒8(20) óvulos com placentação apical e frutos o gênero Terminalia é considerado parafilético com indeiscentes, com 1 semente. duas linhagens distintas e entre as modificações Em Combretaceae são reconhecidas sugeridas por Maurin et al. (2010), os representantes duas subfamílias: Strephonematoideae, cujos de Buchenavia deveriam ser transferidos para representantes apresentam ovário semi-ínfero, Terminalia. Entretanto, esses dois táxons continuam compreende apenas o gênero Strephonema sendo tratados como gêneros separados em estudos Hook.f., com três espécies de ocorrência exclusiva atuais sobre a família (Stace 2010; Marquete 2012). ¹ Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Depto. Botânica, Ecologia e Zoologia, Campus Universitário, 59072-970, Natal, RN, Brasil. 2 Universidade Federal do Ceará, Campus do Pici, 60455-970, Fortaleza, CE, Brasil. 3 Universidade Federal do Ceará, Herbário EAC, bl. 906, Campus do Pici, 60455-970, Fortaleza, CE, Brasil. 4 Autor para correspondência: [email protected] 686 Soares Neto, R.L., Cordeiro, L.S. & Loiola, M.I.B. No Brasil ocorrem 64 espécies em todas as (2010) e os nomes dos autores baseados no sítio regiões, sendo 13 endêmicas do país (Marquete do IPNI (2013). Já os dados referentes à forma de 2012). Embora sejam registradas nos mais diversos crescimento (hábito), habitat, período de floração domínios fitogeográficos e tipos de vegetação do e frutificação e nome popular foram obtidos dos país, as espécies são mais frequentes em ambientes rótulos das exsicatas e das observações em campo. úmidos, pois há registro de 47 espécies no domínio Os mapas de distribuição das espécies foram Amazônia, 29 no domínio da Mata Atlântica e 16 gerados através do programa DIVA-GIS (Hijmans no domínio da Caatinga (Marquete 2012). et al. 2005), considerando-se os tipos vegetacionais Estudos taxonômicos realizados em propostos no Manual técnico da vegetação diferentes regiões brasileiras contribuíram para o brasileira (IBGE 2012): Savana (cerrado), Savana conhecimento do grupo. Entre esses, destacamos estépica (caatinga/carrasco), Floresta Estacional os estudos de Marquete (1984, 1995), Marquete Decidual (mata seca), Floresta Ombrófila Densa & Valente (1997) e Marquete et al. (2003) que (mata úmida) e tabuleiros costeiros e manguezal. deram enfoque às espécies ocorrentes na região Sudeste; Linsigen et al. (2009) registraram as Resultados e Discussão Combretaceae da Região Sul e no nordeste do país, Para o Ceará foram registradas 17 espécies Loiola & Sales (1996) estudaram os representantes distribuídas em cinco gêneros: Buchenavia (2), de Combretum ocorrentes em Pernambuco e Combretum (9), Conocarpus (1), Laguncularia Loiola et al. (2009) listaram as Combretaceae do (1) e Terminalia (4). Destacamos que havia sido estado da Paraíba. Já Marquete & Valente (2010) registrada a ocorrência de Buchenavia oxycarpa apresentaram a lista atualizada das espécies (Mart.) Eichler, B. pallidovirens Cuatrec. e de Combretaceae para o território brasileiro, Combretum vernicosum Rusby em território acrescentando informações sobre os domínios cearense (Stace 2010; Marquete 2012). No entanto, fitogeográficos e tipos vegetacionais preferenciais especula-se que B. oxycarpa provavelmente esteja das espécies, além de sinônimos. extinta no estado, pois suas coletas datam de Inserido no projeto “Flora do Ceará”, o 1838 e 1910 e não há registros de coletas mais presente estudo tem como objetivo o levantamento recentes. Portanto, decidimos não incluí-la nesse florístico das espécies de Combretaceae no estado, estudo. A análise do material de B. pallidovirens contribuindo para um maior conhecimento da flora e C. vernicosum revelou que, na realidade, tais local e uma atualização da distribuição geográfica espécimes tratam-se de Buchenavia tetraphylla de alguns táxons brasileiros. Ressalta-se que (Aubl.) R.A. Howard e Combretum mellifluum especificamente para o Ceará, nenhum estudo Eichler, respectivamente. sobre este grupo taxonômico havia sido realizado até o momento. Tratamento taxonômico Combretaceae R. Br., Prodr. Fl. Nov. Holl.: 351. Material e Métodos 1810. O estudo baseou-se na análise comparativa Árvores, arbustos ou lianas. Folhas opostas de amostras obtidas em campo e em espécimes ou alternas, simples, inteiras, cobertas por tricomas depositados nos Herbários EAC, ESA, HST, compartimentados, escamosos ou glandulares; HVASF, MO, R e VIC, siglas segundo Thiers domácias presentes ou não. Inflorescências (continuously updated). As identificações frequentemente espigas ou racemos, podendo foram realizadas com o auxílio de bibliografia formar panículas ou às vezes, capítulos globosos, especializada (Marquete 1995; Loiola & Sales terminais ou axilares. Bractéolas presentes. Flores 1996; Marquete et al. 2003; Stace 2010) e análise actinomorfas ou zigomorfas, dioicas, tetrâmeras de imagens das coleções-tipo disponíveis no sítio ou pentâmeras, hipanto dividido em duas partes: do Herbário MOBOT (2013). a inferior (envolvendo o ovário) e a superior A terminologia para a descrição dos caracteres (em tubo curto ou comprido terminando nos morfológicos seguiu Radford et al. (1974) e Stearn lobos do cálice); cálice 4‒5 lobado, geralmente (1992). As flores foram medidas do pedicelo até pouco desenvolvido; pétalas 4, 5 ou ausentes, o ápice das pétalas. Para terminologia dos frutos pequenas ou conspícuas, alternas com os lobos adotou-se Spjut (1994). Os nomes das espécies do cálice; androceu diplostêmone, estames 4‒10, (incluindo as sinonímias) estão de acordo com Stace em dois verticilos, exsertos, filiformes, subulados Rodriguésia 65(3): 685-700. 2014 Combretaceae do Ceará 687 ou truncados; anteras versáteis ou adnatas aos unilocular, 2‒6 rudimentos seminais pêndulos. filetes, rimosas; disco nectarífero desenvolvido Frutos indeiscentes, betulídios ou drupáceos, com ou inconspícuo na base da parede do hipanto duas, quatro ou cinco alas, menos frequente alas superior, margem glabra ou pilosa; ovário ínfero, inconspícuas ou vestigiais. Chave de identificação das espécies de Combretaceae ocorrentes no Ceará 1. Folhas opostas. 2. Hipanto inferior com 2 bractéolas adnatas na porção distal ............... 4. Laguncularia racemosa 2’. Hipanto inferior sem bractéolas adnatas na porção distal. 3. Flores sem pétalas; estames 4, inclusos .............................. 2.3. Combretum glaucocarpum 3’. Flores com pétalas; estames 8, exsertos. 4. Porções reprodutivas e vegetativas densamente cobertas por indumento tomentoso- viloso e poucos tricomas lepidotos ............................................. 2.4. Combretum hilarianum 4’. Porções reprodutivas e vegetativas densamente cobertas apenas por tricomas lepidotos 5. Bractéola espatulada ou estreito-espatulada.

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