Quanto vale um talento? Uma análise antropológica sobre a valorização e circulação dos jogadores de futebol profissional no mercado esportivo Júlio César Jatobá Palmiéri São Carlos, Outubro de 2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Quanto vale um talento? Uma análise antropológica sobre a valorização e circulação dos jogadores de futebol profissional no mercado esportivo Aluno: Júlio César Jatobá Palmiéri Orientador: Prof. Dr. Luiz Henrique de Toledo Universidade Federal de São Carlos – Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) Dissertação de mestrado apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) Pesquisa financiada pela Fapesp 2 Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar Palmiéri, Júlio César Jatobá. P179qv Quanto vale um talento? Uma análise antropológica sobre a valorização e circulação dos jogadores de futebol profissional no mercado esportivo / Júlio César Jatobá Palmiéri. -- São Carlos : UFSCar, 2009. 143 f. Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2009. 1. Antropologia urbana. 2. Esportes. 3. Futebol profissional. 4. Mercadoria. 5. Dom. I. Título. CDD: 307.76 (20a) Agradecimentos Primeiramente, gostaria de agradecer a meus pais, Mário Celso e Berenice, por serem a base de tudo que faço na vida, pessoal e acadêmica. Não fosse o incentivo e o cuidado com a educação, esse trabalho, assim como todos os demais aos quais desde a graduação tenho me dedicado, não seriam possíveis de saírem do campo das ideias para o papel. Sincero abraço a eles, bem como a minha irmã, Luciane, pelo apoio. Aos professores do departamento de Ciências Sociais, em especial aos integrantes do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS). Muito obrigado Kike, pelas oportunidades e pela orientação durante todos esses anos, Piero (pelas dicas durante a disciplina de Metodologia), Lanna (pela leitura na qualificação e agora, na defesa) e ao Jorge (pelas diversas e pertinentes “dicas bibliográficas”). Agradeço também a FAPESP, pois sem seu apoio financeiro a pesquisa não seria realizada da mesma forma. Aos meus amigos, por tudo que representam na minha vida. São muitos, ainda bem, e não preciso citar todos aqui. Eles sabem quem são. Quero agradecer aos camaradas de São Carlos, juntos a tanto tempo – e que assim continue. Tenho de agradecer também às amizades cultivadas na UFSCar desde a graduação. A maioria já deixou São Carlos, mas estão, de alguma forma, sempre presentes, assim como os que ainda estão por perto, efetivamente. Obrigado pelos “toques” e “empurrões”, Lara, companheira por tanto tempo; ao Pícaro, com quem tive uma despretensiosa conversa na qual as primeiras ideias deste trabalho surgiram; aos moleques de Campinas, pela agradável estadia; e tia Marizete, por ter me recebido em São Paulo. Por fim, obrigado a todos que de alguma maneira se envolveram neste trabalho e deram qualquer contribuição para sua realização. 3 Índice Agradecimentos--------------------------------------------------------------------- 3 Resumo------------------------------------------------------------------------------- 5 Apresentação ------------------------------------------------------------------------ 6 Introdução --------------------------------------------------------------------------- 9 Individualismo e o desenvolvimento dos pressupostos mercadológicos-----------------9 Um breve histórico do futebol --------------------------------------------------------------- 17 O futebol atual: sua dimensão econômica e novas legislações -------------------------- 21 Parte I ------------------------------------------------------------------------------ 31 Capítulo I – Sobre o dom --------------------------------------------------------------------- 31 I.I O dom nas “sociedades primitivas”---------------------------------------------------------------39 I.II O consumo nas “sociedades modernas”---------------------------------------------------------45 Capítulo II – O cotidiano dos clubes -------------------------------------------------------- 55 II.I O pequenino São Carlos FC -----------------------------------------------------------------------60 II.II AA Ponte Preta: tradição e longevidade no futebol brasileiro-----------------------------64 II.III Os gigantes: São Paulo FC e SE Palmeiras --------------------------------------------------76 Parte II ----------------------------------------------------------------------------- 90 Capítulo III – Agentes: a nova categoria do futebol -------------------------------------- 90 Capítulo IV – Fora de campo----------------------------------------------------------------100 IV.I Talento, valor e carisma------------------------------------------------------------------------- 117 Considerações Finais------------------------------------------------------------ 134 Referências Bibliográficas------------------------------------------------------ 137 Anexos ---------------------------------------------------------------------------- 142 Os jogadores mais caros da história --------------------------------------------------------142 4 Resumo Os jogadores de futebol profissional são possuidores de talentos variáveis, fator que os distinguem numa escala mercadológica que dinamiza a troca no universo futebolístico. Sob a ótica do futebol modernizado e do clubismo, ao talento, que é algo inato e intransferível, são agregados muitos outros valores, sobretudo de ordem simbólica, que dependem das relações estabelecidas dentro do enquadramento institucional desse esporte e que tem a ver com outros atores sociais, tais como torcedores, dirigentes, agentes e a mídia especializada. Como mercadoria singular, portanto, os jogadores são colocados em circulação no mercado “mundializado” do futebol, desfazendo vínculos e criando novas relações sociais. Este trabalho tem como objetivo compreender a lógica pela qual se dá tal processo simbólico que define os parâmetros de troca generalizada de atletas no domínio do futebol profissional. Palavras-chave: Antropologia do esporte, futebol profissional, dom, mercadoria, circulação, valorização, jogadores. 5 Apresentação Os jogadores de futebol profissional são possuidores de talentos variáveis, fator que os distinguem numa escala mercadológica que dinamiza a troca no universo futebolístico. Sob a ótica do futebol, ao talento, no senso comum chamado de “dom” – categoria nativa que expressa a dimensão mais naturaliza e individualizada do saber técnico da prática esportiva - são agregados muitos outros valores, sobretudo de ordem simbólica, que dependem das relações estabelecidas dentro do enquadramento institucional desse esporte e que tem a ver com outros atores sociais, tais como torcedores, dirigentes, agentes e mídia especializada. Por possuírem talento de “extrema singularidade” (Araújo,1980), onde cada atleta seria o detentor de seu talento, podemos considerá-los como mercadorias singulares, sendo colocados em circulação no mercado globalizado do futebol, desfazendo vínculos e criando novas relações sociais. Este trabalho tem como objetivo compreender a lógica pela qual se dá tal processo simbólico que define os parâmetros de troca generalizada de atletas no domínio do futebol profissional e analisar como se constroem parte dessas relações que dinamizam esse mercado de valorização e desvalorização do talento. Como veremos, são vários os fatores que influenciam e que determinam a valorização e a circulação dos jogadores de futebol profissional. Ao que nos parece e em princípio, algo fundamental é ser possuidor de um “dom” – e ser reconhecido como possuidor, pois não basta o jogador assumir o dom para si, é preciso que outros reconheçam essas qualidades – que é arraigado pelo capital futebolístico e lapidado ao longo de anos, embora sabemos que apenas isso não basta. Por capitais futebolísticos entendemos o seguinte: Em sentido restrito, referindo-se aos atributos propriamente corporais de um indivíduo, os capitais futebolísticos perfazem um leque amplo e variado de disposições físicas, psíquicas e sociais que extrapolam (...) a dimensão técnica e, sobretudo, uma dada dimensão em particular, muito valorizada pelo senso comum, associada ao controle da bola – malabarismos, floreios etc.” (Damo, 2007, p.112) 6 Pois bem, inúmeros são os exemplos de grandes promessas do futebol em todo o mundo: jovens talentosíssimos que não conseguiram dar seqüência à carreira. Por isso, outros capitais simbólicos, para além do potencial técnico individual, são necessários, bem como adotarmos um ponto de vista relacional, já que o dom é visto de modo diferente em diferentes épocas. Ao obter êxito, esse dom futebolístico 1 potencializa o surgimento de dividendos: o dom, “pode-se dizer, vira dinheiro, podendo ser medido, quantificado e novamente trocado por outros bens” (Idem). Atualmente 2, esse processo depende em grande medida do tripé formado por dirigentes, agentes e o próprio jogador. As relações que surgem daí definem, muitas vezes, o destino dos atletas, fazendo circular seu dom através da negociação dos vínculos trabalhistas. Nossa análise é focada em casos específicos do futebol brasileiro, bem como de jogadores brasileiros e estrangeiros, que se deslocam tanto dentro quanto fora do país. Não temos a pretensão de responder à pergunta do título deste trabalho, pois sabemos o quão difícil é atribuir valor a algo que não conseguimos ver, medir, ou quantificar, como o talento de alguém para praticar determinada tarefa. Propomo-nos, dessa maneira, a apresentar aqui
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