View metadata, citation and similar papers at core.ac.uk brought to you by CORE provided by Universidade de Lisboa: Repositório.UL UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO DOS NEOCOLONIZADORES: A ESCOLA COLONIAL E A INVESTIGAÇÃO DO ULTRAMAR NO IMPÉRIO PORTUGUÊS (SÉCULOS XIX E XX) Carlos Manoel Pimenta Pires Orientador: Professor Doutor Jorge Ramos do Ó Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de doutor em Educação, especialidade História da Educação 2016 UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO DOS NEOCOLONIZADORES: A ESCOLA COLONIAL E A INVESTIGAÇÃO DO ULTRAMAR NO IMPÉRIO PORTUGUÊS (SÉCULOS XIX E XX) Carlos Manoel Pimenta Pires Orientador: Professor Doutor Jorge Ramos do Ó Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de doutor em Educação, especialidade História da Educação Júri: Presidente: Professor Doutor Justino Pereira de Magalhães, Professor Catedrático Instituto de Educação da Universidade de Lisboa; Vogais: Doutor Luís Alberto Marques Alves, Professor Associado com Agregação Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Doutor Frederico Martins dos Reis Ágoas, Investigador de Pós-Doutoramento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Doutor Ernesto Candeias Martins, Professor Coordenador Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Doutor Ricardo Nunes Afonso Roque, Investigador Auxiliar Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; Doutor Justino Pereira de Magalhães, Professor Catedrático Instituto de Educação da Universidade de Lisboa; Doutor Jorge Manuel Nunes Ramos do Ó, Professor Associado Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, orientador; Doutora Ana Isabel da Câmara Dias Madeira, Professora Auxiliar Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Tese financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) 2016 1 AGRADECIMENTOS Foi num curso feito durante meu mestrado na Universidade de São Paulo que conheci o professor Jorge Ramos do Ó. Nos poucos dias de aula, com ele tive a possibilidade de perceber uma forma de pensar a história da educação indo além da hermenêutica asfixiadora que tinha contato até então. Os intelectuais de que falou e que através deles reflexionava, fez-me querer vivenciar com maior amplitude aquela forma de pensar. Por ele e com ele vim para este lado do Atlântico, conseguindo iniciar uma trajetória de aprendizado que se encerra nesta tese. Tenho que agradecê-lo como mestre, como pessoa generosa que abriu sua biblioteca e casa, lisboeta que me iniciou na cidade que tanto gosta. Esta tese traz um pouco do professor Fernando Alvarez-Uria, quem me acolheu na Universidade Complutense de Madri para estágio doutoral e, com sua grandeza d'alma “desatou nós” de escrita, indicou novas leituras, e em “charlas” foi-me apresentando mais sobre a investigação espanhola em educação. ¡Gracias profesor! Tive uma pessoa que convivi no meu primeiro ano em terras lisboetas e que tenho como irmão. Thomas Stark, muito do que penso tem você. Vamos juntos traquinar por muito tempo ainda. Duas pessoas que conheci em Lisboa e que se tornaram amigas de cá e de lá, de encontros no além-mar, de momentos de bem-aventurança. Obrigado por tudo Mónica Raleiras e Ricardo Bernardes. Conheci amigos que foram parceiros na felicidade de viver em Portugal e que me ajudaram nas tristezas e dissabores que algumas vezes surgiram: Irene Hipólito dos Santos, Helena Maurício, Rodrigo Theodoro, Carlos Marques, Isabel Cartaxo, Inês Cartaxo Marques, Ana Cartaxo Barreto, Marcos da Rocha Oliveira, Rômulo Góis, João Verges, Lia Laranjeira, Cilia Cardoso, Viviane Camozzato, Daniele Kowalewski e Joy Nunes: quero poder sempre reencontrá-los e brindar a vida. Muitas das reflexões que viraram linhas escritas surgiram em falas nas reuniões de seminário ou dos corredores do Instituto de Educação. Agradeço imenso aos colegas de doutoramento Ana Luísa Paz, Lígia Penin, António Henriques, Tomás Valera e Helena Cabeleira. Não posso deixar de lembrar das aulas, avaliações e conversas com 2 mestres que engrandeceram minha experiência na Universidade de Lisboa: professores Justino Magalhães, Ricardo Roque e Sérgio Campos Matos. Portugal detém acervo histórico riquíssimo, onde se tem muito a descobrir e escrever. O acesso a ele foi um privilégio nesses anos de investigação. Portanto, tenho muito a agradecer aos funcionários e administradores dos acervos das Bibliotecas do Instituto de Educação, da Faculdade de Letras, da Faculdade de Direito, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (todas pertencentes à Universidade de Lisboa), do Arquivo Histórico Ultramarino, do Instituto de Investigação Científica Tropical, da Biblioteca Nacional e o sítio de internet “Memórias de África e do Oriente”. Tenho que agradecer, também, ao Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), instituições que me permitiram fazer o doutoramento e confiaram-me suas instalações e financiamento. Minha família me apoiou totalmente nessa empreitada – como em muitos outros momentos da minha existência –, passando-me segurança aquando dos momentos de fragilidade e calma nas ocasiões de tensão. Adoro-os, Clidi, Celdy, Zeca, Luís, Mariana, Frederico e Guilherme. Perdi meu pai após partir para Portugal. Na despedida do aeroporto intuía que seria a última vez que o veria. Infelizmente eu estava certo. Dele recebi o desejo de conhecer o lugar de onde viera seu pai, memória construída na infância sobre um país que parecia não existir. E ele existia sim, melhor do que o das reminiscências. Sempre vejo o pai Zé comigo nas ruas de Lisboa ou na Madeira, e tendo a certeza que ele seria muito feliz em um país que me recebeu bem e que aprendi a gostar. 3 RESUMO A educação dos neocolonizadores: a Escola Colonial e a Investigação do Ultramar no Império português (séculos XIX e XX). “A Educação dos neocolonizadores” descreve parte da história de uma Ciência e de uma Escola formadoras de expertise e agentes estatais, os quais incumbiram-se de realizar a utopia imperial portuguesa, nos séculos XIX e XX. Para tanto, tratar-se-á, primeiramente, da narração de momentos cruciais da construção do que nomeamos de Ciência da Colonização, campo de conhecimento específico encarregados produzir mais-poder sobre o mundo fora do continente europeu, incidindo principalmente no controle das populações colonizadas. Elegemos como capitais para a formação desta Ciência algumas instituições e personagens: a biografia de quem fora qualificado como o fundador por historiografia especializada, o explorador Lacerda e Almeida; a história da instituição que mais se embrenhou na efetivação do campo no século XIX, a Sociedade de Geografia de Lisboa; a descrição e a análise da produção acadêmica dos grupos de intelectuais sediados na Junta de Investigações do Ultramar e na Escola Colonial, já no século XX. Indo além, complementamos com reflexões acerca do cotidiano da própria Escola Colonial, estabelecimento de ensino superior que desde 1906 até 1962 (ano de sua incorporação à Universidade Técnica de Lisboa) procurou, entre inúmeras ações, reunir especialistas, professores e demais profissionais na estruturação de um sistema escolar para os agentes estatais lotados nas colônias, tentando aplicar uma disciplinarização desses funcionários e um atrelamento deles aos desígnios Imperiais. Diante de um contexto desfavorável à manutenção de um Império análogo a dos séculos XVI-XIX – calcada na tríade de dominação militar de caráter policial-destrutivo, exploração de trabalho escravista e alianças às elites locais oligarcas e arrivistas –, a escolarização se mostrou como uma possibilidade de rearticulação das forças portuguesas e de refinamento dos exercícios de poder sobre as populações nativas. A constituição de uma nova configuração da dominação do ultramar significava cumprir demandas de melhorias na governança, somente possíveis para a expertise das três instituições da tese só aplicadas na formação de neocolonizadores em práticas que estivessem de acordo com os preceitos do processo civilizacional ocidental, da racionalização administrativa e de um conhecimento produzido na metrópole. Palavras-chave: História da colonização portuguesa na África – História da Educação – História de Portugal – História da África – História da Ciência 4 ABSTRACT The education of the neo-colonizers: the Colonial School and the Oversea Research in the Portuguese empire (19th and 20th centuries). “The education of the neo-colonizers” describes part of the history of a science and a school responsible for forming expertise and public workers that carried out the Portuguese imperial utopia in the 19th and 20th centuries. Therefore, firstly are narrated the crucial moments in the construction of the Colonial science, which was a specific field of knowledge created for getting more-power outside Europe and controlling primarily the colonized populations. Some institutions and characters were elected as capitals to build this science: a biography of the explorer Lacerda and Almeida, who was qualified as the founder by specialized historiography, the history of the Geographical Society of Lisbon, which was the most involved institution in its realization in the 19th century, and the description and analysis of the intellectual groups’ academic production based in the overseas research board and the Colonial school in the 20th century. Furthermore, we add some reflections about the Colonial school's daily routine, which was a college from 1906 until 1962 when it
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