Teledramaturgia no Brasil PROF. ANDRÉ GALVAN Dramaturgia A palavra drama vem do grego e significa ação. Desse modo, o texto dramatúrgico é aquele que é escrito especificamente para representar a ação. O que se dedica a essa tarefa é o dramaturgo. O cerne da ação é o conflito. Toda ação em cena depende do conflito e da maneira como os diferentes personagens agem para atingir seus diferentes objetivos. O dramaturgo pode atuar na tragédia, na comédia, no drama histórico, no drama burguês, no melodrama, na farsa e até mesmo no gênero musical. Entretanto, a dramaturgia não está relacionada somente ao texto teatral, ela está presente em toda obra escrita para as artes cênicas: roteiros cinematográficos, telenovelas, sitcoms ou minisséries. A teledramaturgia surgiu no Brasil na década de 1950 e acabou por tornar-se o produto televisivo mais popular do país. A telenovela caracteriza-se por explorar enredos de fácil aceitação pelo público, como histórias de amor e conflitos familiares e sociais. É comum a associação da novela como um produto descartável, como uma oposição a literatura, ao cinema ou ao teatro, o que pode denotar um certo preconceito, visto que é um produto voltado a pessoas de todos os níveis sociais. Funciona como uma espécie de obra aberta, cujo desenvolvimento e desfecho podem ser alterados a qualquer momento, de acordo, principalmente, com os índices de audiência (Ibope), ou seja, segundo o interesse imediato do público na história. Evolução – Década de 1950 Em 21 de Dezembro de 1951 foi ao ar a primeira tentativa de se realizar uma história seqüencial: Sua Vida Me Pertence, original de Walter Forster, transmitida às terças e quintas-feiras ao vivo, devido ao vídeo tape ainda não ter sido inventado. No início, as telenovelas, em sua maioria, eram adaptações de obras literárias, como Os Miseráveis, deVictor Hugo. Evolução – Década de 1960 A telenovela diária apareceu apenas em 1963: a TV Excelsior exibe 2-5499 Ocupado, de Dulce Santucci. O primeiro grande sucesso de audiência veio com O Direito de Nascer(1964 - 1965), apresentada pela TV Tupi. A partir daí, as emissoras começaram a produzir telenovelas sistematicamente. Beto Rockfeller (1968 - 1969), de Bráulio Pedroso, exibida pela Tupi, revolucionou o gênero ao tratar O Direito de Nascer da realidade brasileira e usar linguagem coloquial. Beto Rockfeller 2-5499 Ocupado Evolução – Década de 1970 A década de 1970 marcou o início da hegemonia da Rede Globo na produção de telenovelas, que se mantém até hoje. Janete Clair, autora de Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital, entre outras, tornou-se a principal autora de telenovelas do período. Também foi o período no qual feitas as primeiras produções em cores, sendo a primeira O Bem- Amado, em janeiro de 1973. Em 1975, começam as produções do horário das seis na Globo, normalmente adaptações de clássicos da Irmãos Coragem literatura. Essas adaptações lançam o novato Gilberto Braga, autor de Helena, Senhora, Escrava Isaura e Dona Xepa. Devido ao sucesso desta última, Gilberto é promovido para o horário das 8, onde escreve Dancin' Days, um marco da teledramaturgia nacional que influenciou, inclusive, a abertura de diversas discotecas pelo Brasil a exemplo da retratada na novela. Selva de Pedra Evolução – Década de 1980 Nos anos 80, a emissora lançou as minisséries, que se destacam pela sofisticação da produção e pela adaptação de clássicos da literatura brasileira, como O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. Nesta década, destacam-se também as telenovelas das 7, marcadas pela comédia e por um sucesso muitas vezes maior do que as telenovelas das oito da época, vide a audiência de Elas por elas, Guerra dos Sexos, Vereda Tropical, Cambalacho, Brega & Chique e Que Rei Sou Eu?. O Tempo e o Vento Essas telenovelas consagram Cassiano Gabus Mendes, que implantou um estilo mais comédia ao horário das 7, e Sílvio de Abreu, que inovou com a comédia pastelão de suas tramas. Evolução – Década de 1990 Os anos 90 começaram com um grande sucesso: Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, na Rede Manchete, que chegou a picos de 40 pontos no Ibope e ameaçou a soberania e audiência da Rede Globo. Mas as produções posteriores não mantiveram o mesmo nível. Só em 1996 a emissora voltou a ter audiência considerável, com Xica da Silva, de Walcyr Carrasco (sob o pseudônimo de Adamo Angel). Evolução – Década de 1990 Em 1998, a Rede Manchete - já em fase de falência - resolveu investir doze milhões de reais na adaptação da obra dePaulo Coelho: Brida. Apesar da revelação do talento da atriz Carolina Kasting no papel de Brida, o resultado não foi o esperado pela Manchete, que faz de tudo para aumentar os baixos índices de audiência. No final, a telenovela teve seu desfecho narrado por um locutor, pois todo o elenco entrou em greve, movendo uma ação conjunta no Ministério do Trabalho para receber os salários atrasados. Brida se tornou outra das poucas telenovelas no Brasil que não teve final exibido, a exemplo de Como Salvar Meu Casamento, na época de falência da Rede Tupi. Evolução – Década de 1990 O SBT reativou seu núcleo de dramaturgia em 1994 e exibiu Éramos Seis, adaptação do romance homônimo de Maria José Dupré. Em 1995 a emissora contratou três dos maiores autores da época: Glória Perez, Benedito Ruy Barbosa e Walter Negrão, que rescindiram o contrato e voltaram para à Rede Globo, que teria prometido assumir o ônus no caso de uma derrota judicial nas ações movidos pelo SBT contra os autores. Entretanto, a emissora continua a veicular produções mexicanas, como Marimar e Maria do Bairro, estreladas pela atriz e cantora Thalía. A última produção nacional do SBT foi Fascinação, de 1998. Evolução – Década de 1990 A Rede Bandeirantes apostou no sistema de coprodução com produtoras independentes. O resultado dessa parceria são as telenovelas A Idade da Loba e O Campeão, ambas de 1995. Também em 1995, na Rede Globo, era lançada Malhação, um folhetim com temática jovem com objetivo principal de revelar novos atores para as produções da casa. Evolução – Anos 2000 Após uma interrupção de 24 anos - a última produção havia sido Meu Adorável Mendigo, de 1973 - a Rede Record começou novamente a produzir telenovelas. Canoa do Bagre, de 1997, iniciou uma nova fase de produções. Apesar dos baixos índices no Ibope, a Record não desistiu e lançou, em média, duas produções por ano, apresentando também telenovelas produzidas no México como Olhar de Mulher em 2000 e na Venezuela como Joana, a Virgem em 2002. Nos anos 2000, o SBT intensifica a produção de versões nacionais de telenovelas estrangeiras, principalmente mexicanas. Após o sucesso de Chiquititas, co-produção com a argentina Telefé, a emissora lança novelas como Pícara Sonhadora, Amor e Ódio, Marisol, Pequena Travessa, Jamais te Esquecerei, Canavial de Paixões, Seus Olhos,Esmeralda, Os Ricos Também Choram, Cristal, Maria Esperança e, mais recentemente, Amigas e Rivais, que não foram produções absolutamente contínuas, tendo suas transmissões intercaladas com telenovelas mexicanas. As principais tendências do período na teledramaturgia nacional foram as produções de época. Com o lançamento de minisséries como Hilda Furacão e Chiquinha Gonzaga, a Rede Globo percebeu os altos índices de audiência e apostou em superproduções. Dois exemplos são a telenovela Força de um Desejo, de Gilberto Braga, e Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa. Em 2004, após uma tentativa frustrada com Metamorphoses, a Rede Record retoma às produções de telenovelas com o lançamento de A Escrava Isaura, passando ao posto de segunda maior produtora nacional na categoria. Nos anos a concorrência com a Rede Globo aumenta, sendo esta batida com frequência por produções como Prova de Amor,Vidas Opostas e Caminhos do Coração. Ao mesmo tempo, a Rede Globo passa por uma crise em suas novelas, que registram queda de audiência, sobretudo no horário das sete onde os índices só subiram com as duas primeiras telenovelas do novato João Emanuel Carneiro, Da Cor do Pecado e Cobras & Lagartos. Com a chegada da televisão digital no Brasil, em 2007, as primeiras produções transmitidas com a alta definição suportada pelo formato são Duas Caras, da Rede Globo, eDance Dance Dance, da Band. Propaganda na telenovela As telenovelas adquirem forte caráter mercadológico pela empatia que se estabelece entre o público e as personagens. O merchandising vem paulatinamente sendo cada vez mais usado nas telenovelas: são introduzidos anúncios cada vez menos discretos durante as cenas e até mesmo nas vinhetas de abertura, como em Bambolê e Top Model. Também são usadas inserções não comercializadas, mas que pretendem informar o telespectador sobre problemas imediatos, de utilidade pública. Na telenovela O Rei do Gado, de 1997, por exemplo, da Rede Globo, em vários momentos foi ressaltada a necessidade de os produtores vacinar o gado contra a febre aftosa. A veiculação de mensagens de caráter educativo, de prevenção de doenças e combate ao consumo de drogas são exemplos de um considerável avanço da teledramaturgia brasileira, já que as telenovelas, em princípio, não têm como escopo educar, mas somente de entreter. O autor de telenovelas não tem que, obrigatoriamente, aceitar a inserção, no enredo, de um anúncio publicitário. Porém o fato de fazê-lo, segundo alguns deles, estabelece uma maior identificação dos telespectadores com os personagens, já que, na vida real, todas as pessoas vão ao caixa eletrônico, compram livros, escovam os dentes, etc. Espera-se no entanto que o autor use essas inserções com critérios bem definidos, de modo a não se chocar com o roteiro, o que pode comprometer o andamento da trama. Outras Novelas Telenovelas no exterior Atualmente as telenovelas brasileiras são exportadas para mais de 120 países. A primeira produção do gênero a entrar no ar fora do Brasil foi O Bem Amado (1973), escrita por Dias Gomes e exibida pela Rede Globo.
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