0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS A POESIA CIENTÍFICA DE MARTINS JÚNIOR – PERCURSO DE UMA VANGUARDA LITERÁRIA EM PERNAMBUCO NO SÉCULO XIX DELMO MONTENEGRO DA SILVA JÚNIOR RECIFE 2013 1 DELMO MONTENEGRO DA SILVA JÚNIOR A POESIA CIENTÍFICA DE MARTINS JÚNIOR – PERCURSO DE UMA VANGUARDA LITERÁRIA EM PERNAMBUCO NO SÉCULO XIX Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, nível Mestrado, com área de concentração em Teoria da Literatura, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Teoria da Literatura. Orientador: Prof. Dr. Anco Márcio Tenório Vieira RECIFE 2013 2 Catalogação na fonte Bibliotecária Maria Valéria Baltar de Abreu Vasconcelos, CRB4-439 S586p Silva Júnior, Delmo Montenegro da A poesia científica de Martins Júnior - percurso de uma vanguarda literária em Pernambuco no século XIX / Delmo Montenegro da Silva Júnior. – Recife: O Autor, 2013. 163 f.: il. Orientador: Anco Márcio Tenório Vieira. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Artes e Comunicação. Letras, 2013. Inclui referências. 1. Martins Júnior – Critica e interpretação. 2. Literatura brasileira – Pernambuco – Sec. XIX. 3. Poesia brasileira. 4. Memória. 5. Literatura e sociedade. I. Vieira, Anco Márcio Tenório (Orientador). II.Titulo. 809 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2015-15) 3 4 RESUMO O objetivo deste trabalho é lançar luzes sobre um movimento literário ocorrido em Pernambuco no último quartel do século XIX – o movimento da Poesia Científica – que apesar de antecipar varias características da Modernidade e dos Movimentos de Vanguarda do Século XX – permanece esquecido e posto à margem da Historiografia Literária Brasileira. Liderado pelo poeta José Isidoro Martins Júnior, autor de Visões de Hoje (1881) e Estilhaços (1885), este movimento se destacou entre outras tendências de renovação estética atuantes no Brasil no final do século XIX – como o Realismo, a Poesia Socialista, o Parnasianismo ou o Simbolismo – justamente por apresentar uma formulação teórica própria e original (para além da acomodação / assimilação passiva de modelos estrangeiros). Representa o livro-manifesto A Poesia Científica – Escorço de um livro futuro (1883) de Martins Júnior, livro deflagrador do movimento, a nossa primeira teoria poética de vanguarda. Palavras-chave: Literatura; sociedade; memória. 5 ABSTRACT The objective of this work is to shed light on a literary movement that occurred in Pernambuco in the last quarter of the nineteenth century - the Scientific Poetry Movement – that despite anticipating several characteristics of Modernity and Avant-garde movements of the twentieth century - remains forgotten and placed out of Brazilian Literary Historiography. Led by poet José Isidoro Martins Júnior, author of Visões de Hoje (1881) and Estilhaços (1885), this movement stood out among other trends of aesthetic renewal operating in Brazil in the late nineteenth century – such as Realism, Socialist Poetry, the Parnassianism or Symbolism - just by presenting a proper and original theoretical formulation (apart from accommodation / passive assimilation of foreign models). Is the book-manifesto A Poesia Científica – Escorço de um livro futuro (1883) by Martins Júnior, the book that triggers the movement, our first poetic theory of the vanguard. Keywords: Literature; memory; society. 6 LISTAS Figuras: Figura 01 L. H. O. O. Q. ready-made de Marcel Duchamp. Pág. 14 Figura 02 La Joconde de Eugène Bataille. Pág. 14 Figura 03 Le Vénus demi-lot ou le mari de la Vénus de Milo de Alfred Pág. 16 Caussinus. Figura 04 Voyelles, manuscrito de Arthur Rimbaud Pág. 18 Figura 05 Le sonnet des sept nombres, manuscrito de Ernest Cabaner Pág. 18 Figura 06 Fotografia de Arthur Rimbaud Pág. 22 Figura 07 Portrait de Ernest Cabaner, pastel de Édouard Manet Pág. 22 Figura 08 Folha de rosto do poema A Meditação de José Agostinho de Pág. 48 Macedo Figura 09 Reprodução do poema La Géante de Charles Baudelaire Pág. 81 Figura 10 Gravura do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco Pág. 107 Figura 11 Retrato de Tobias Barreto de Menezes Pág. 121 Figura 12 Retrato de Antônio Castro Alves Pág. 121 Figura 13 Retrato de Martins Júnior Pág. 122 Figura 14 Retrato de Augusto Rodrigues dos Anjos Pág. 122 Figura 15 Folha de rosto de A Poesia Científica Pág. 142 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8 CAPÍTULO 1 – O CÂNONE E O ESQUECIMENTO .................................................... 12 CAPÍTULO 2 – DAS VISÕES DE HOJE À VISÃO DO ÚLTIMO TREM SUBINDO AO CÉU: O CIENTIFICISMO COMO MARCA NA POESIA PERNAMBUCANA........... 24 CAPÍTULO 3 – NATUREZA VERSUS INDÚSTRIA: A RECEPÇÃO DA POESIA CIENTÍFICA NO BRASIL À MARGEM DO NOSSO PRIMEIRO ROMANTISMO .. 38 CAPÍTULO 4 – A MODERNIDADE QUE AINDA NÃO OUSA DIZER SEU NOME: POESIA CIENTÍFICA, DECADISMO E SIMBOLISMO EM PERNAMBUCO NO ÚLTIMO QUARTEL DO SÉC. XIX ................................................................................ 57 CAPÍTULO 5 – POESIA CIENTÍFICA: A GÊNESE DE UMA POÉTICA EM PERNAMBUCO NO FINAL DO SÉCULO XIX ............................................................. 98 CAPÍTULO 6 – POESIA CIENTÍFICA E VIOLÊNCIA ESTÉTICA (O CASO AUGUSTO DOS ANJOS)................................................................................................ 121 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 143 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 144 8 INTRODUÇÃO Este trabalho se propõe a investigar a trajetória de um movimento literário experimental surgido em Pernambuco no final do século XIX – o movimento da Poesia Científica. Idealizado pelo poeta José Izidoro Martins Júnior (1860-1904) o movimento teria grande popularidade entre os anos de 1880 a 1900, tendo sido uma forte influência, por exemplo, para a poesia singularíssima de Augusto dos Anjos. A Poesia Científica representou de certa forma o braço armado (no plano estético) da terceira e última fase da Escola do Recife. Em sua época Martins Júnior foi considerado o sucessor natural de Castro Alves e Tobias Barreto, porém, poucas décadas depois do seu passamento, seu nome e a história do movimento da Poesia Científica foram praticamente riscados de nossa Historiografia. Por exemplo, quando a obra de Augusto dos Anjos, a partir de 1928, tornou-se um grande fenômeno editorial, a recepção crítica do período – recebendo-a em choque – já não tinha, em sua grande maioria, subsídios para compreender que a base daquela estética estava assentada num movimento poético surgido em Pernambuco no último quartel do século XIX. Um movimento que antecipou – tanto em sua práxis, quanto em sua teoria – muito dos procedimentos formais normalmente associados à Modernidade e aos movimentos de Vanguarda do século XX. O objetivo principal deste trabalho será reapresentar e reavaliar a obra de José Izidoro Martins Júnior e o legado deste movimento, buscando rever o apagamento de seus papéis dentro da nossa historiografia literária tradicional. Não existe até a presente data um estudo acadêmico focado especificamente nas características deste movimento. Sem a ambição de querer esgotar o tema o que faremos é, em cada um dos capítulos deste trabalho de dissertação, atacá-lo por um diferente enfoque. No Capítulo 1 – intitulado “O Cânone e O Esquecimento” – procuraremos fazer uma reflexão sobre as estratégias de “apagamento” da História. Tomando como exemplos de estudo obras de Marcel Duchamp e de Arthur Rimbaud, veremos como estas se relacionam flagrantemente, no caso do primeiro, com o hoje obscuro e pouco conhecido Movimento das Artes Incoerentes, e, no caso do segundo, com um poeta de expressão menor chamado Ernest Cabaner, seu íntimo companheiro na época do Cercle Zutique. Ambos os casos a principio 9 parecem um tanto alheios ao fenômeno da Poesia Científica, porém servem perfeitamente para demostrar a universalidade das questões que serão levantadas ao longo do nosso trabalho. Até que ponto é possível efetuar o resgate na História? Até que ponto a História pode ser reescrita? Este é um tópico que irá percorrer todos os futuros passos de nossa investigação. No capítulo 2 – intitulado “Das Visões de Hoje à Visão do Último Trem Subindo ao Céu: O Cientificismo como marca na Poesia Pernambucana” – tentaremos mostrar como o Movimento da Poesia Científica marcou de forma idelével toda a tradição futura da Poesia Pernambucana. De como esta pulsão cientificista se tornou um traço distintivo em nosso imaginário. É a ligação com a Poesia Científica que melhor explica João Cabral de Melo Neto ou os labirintos oulipianos de Osman Lins. Está em nosso DNA, em nosso inconsciente, em nossa corrente sanguínea. Investigaremos alguns dos laços entre a Poesia Científica pernambucana do século XIX e a geração dos nossos primeiros Modernistas (Joaquim Cardozo, Benedito Monteiro, Vicente do Rego Monteiro). No Capítulo 3 – intitulado “Natureza Versus Indústria: A recepção da Poesia Científica no Brasil à margem do nosso primeiro Romantismo” – nosso objetivo será recompor algo da trajetória da Poesia Científica no Brasil. Trata-se de uma pesquisa inédita. Cobriremos desde o papel do editor José Maria da Conceição Veloso (1742-1811) na renovação das idéias poéticas em Portugal, passando pelas primeiras edições de poemas científicos em solo brasileiro, sob os
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