UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Campus De Marília

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Campus De Marília

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Campus de Marília “IT´S TIME”! MMA FEMININO, MERCADO DA BELEZA E CIS-HETERONORMATIVIDADE: UMA ETNOGRAFIA MULTISSITUADA COM LUTADORAS BRASILEIRAS Marília, SP Julho/2018 JULIANA GOMES JARDIM “IT´S TIME”! MMA FEMININO, MERCADO DA BELEZA E CIS-HETERONORMATIVIDADE: UMA ETNOGRAFIA MULTISSITUADA COM LUTADORAS BRASILEIRAS Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais, Linha de Pesquisa “Cultura, Identidade e Memória”, da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP)/ Campus de Marília, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais. Orientadora: Profa. Dra. Larissa Pelúcio. Marília, SP Julho/2018 Jardim, Juliana Gomes. J37i “It´s time”! MMA feminino, mercado da beleza e cis- heteronormatividade: uma etnografia multissituada com lutadoras brasileiras / Juliana Gomes Jardim. – Marília, 2018. 225 f. ; 30 cm. Orientadora: Larissa Pelúcio. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, 2018. Bibliografia: f. 214-225 1. Artes marciais mistas - Brasil. 2. Teoria queer. 3. Gênero. 4. Sexualidade. 5. Esportes para mulheres. I. Título. CDD 305.8 Elaboração: André Sávio Craveiro Bueno CRB 8/8211 Unesp – Faculdade de Filosofia e Ciências Para minha avó, Apparecida Santiago Coiasso (in memoriam). AGRADECIMENTOS Esta tese é fruto de afortunados encontros e colaborações que recebi. Sou grata: A Deusx, que prefiro não rotular em religiões, por guiar e abençoar meus caminhos. O uso do “x” deve-se a uma postura política e visa indicar que há mais expressões de gênero do que as normas cultas de nossa língua dão conta de explicitar com o binário masculino/feminino. É também uma forma de resistir ao uso do artigo masculino universalizante. Ao longo da tese ative-me ao português formal, mas penso ser importante manifestar este posicionamento ao menos neste espaço. Às lutadoras de MMA, minhas colaboradoras de pesquisa, por terem compartilhado comigo um pouco de suas vidas. Reitero meu mais sincero respeito e admiração por elas e faço votos de que o MMA feminino continue a crescer. Oss! À Larissa Pelúcio, por ter me orientado pelos caminhos do doutorado com respeito e confiança. Agradeço os insights, críticas e sugestões compartilhados comigo. E também por ter valorizado meu estilo de escrita, incentivando-me a deixa-lo fluir e a acreditar em sua potência. À banca examinadora composta por Priscila Dornelles, Jorge Leite Jr., Luís Antônio de Souza e José Carlos Marques, por terem contribuído criticamente com este trabalho. À Michelle Erai, pela supervisão durante meu período como Visiting Graduate Researcher no Departamento de Estudos de Gênero da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), e também pela generosa hospedagem. À Elizabeth Marchant, Chair do departamento à época, por ter autorizado a realização do estágio. E ao Ariel Hernandez, então doutorando no Programa de Estudos de Gênero da UCLA, por toda a ajuda e acolhimento, iniciados antes mesmo de minha ida aos Estados Unidos e reforçados durante minha estadia por lá. À Bruna Turi, pela ampla e generosa ajuda nas etapas que antecederam o estágio de pesquisa no exterior, o que incluiu a revisão de texto do projeto de pesquisa em língua inglesa. À Sharon Mc Manus, pela revisão de parte do relatório de pesquisa no exterior e do abstract que compõe esta tese. E à Daniela Cargnin pelos papos e passeios no sul da Califórnia, incluindo a companhia em uma das idas à campo. Xs colegxs e amigxs da Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unesp-Marília. Agradeço em especial as muitas hospedagens solidárias que recebi para cursar as disciplinas do doutorado. Citar nomes aqui é tarefa inglória, pois são muitas as pessoas a quem sou grata, independentemente de termos tido encontros mais pontuais ou uma convivência mais prolongada, no entanto não poderia deixar de manifestar meu carinho por Zuleika Câmara Pinheiro, Juliana Laet, Flávia Candido da Silva, Tamires Barbosa, Natália Sganzella Araújo, Jéssica Rossi, Guto Mugnai, Lays Mazoti Corrêa, Patrícia Corrêa Mazoti, Alex Eleotério, Michele Carlesso e Cin Falchi (da Pós em Filosofia). Sou grata por ter tido a oportunidade de cursar duas disciplinas que foram de imensa contribuição no desenvolvimento deste trabalho e divisoras de águas em minha formação acadêmica: “Saberes Subalternos”, ministrada pela Larissa Pelúcio na Unesp/Marília, e “Sociologia das Diferenças”, ministrada por Richard Miskolci e Jorge Leite Jr. na Pós Graduação em Sociologia da UFSCar. Foram breves mas afortunados os encontros com xs Pós Graduandxs da Federal: registro aqui meu muito obrigada em especial à Juliana Justa, com quem os bate-papos se iniciaram no campus da universidade, passaram por eventos acadêmicos e permaneceram nas redes sociais digitais; e ao Felipe Padilha, pela abertura ao diálogo e generosidade em compartilhar referências científicas. Gratidão à Priscila Moulaibb, amiga radicada no Rio de Janeiro e que tantas vezes me presenteou com acolhedoras hospedagens em sua casa durante minhas idas à campo na cidade. Também à minha mãe, Marina Jardim, e às minhas amigas de longa data, Leili Oliveira e Luciana Iyama, pelo apoio afetuoso durante a realização desta pesquisa. Estendo ainda os agradecimentos ao pessoal do muay thai, pelos muitos treinamentos e momentos que vivenciamos juntxs. Meus agradecimentos também à Cidinha e ao Eder, do Escritório de Pesquisa da Unesp de Marília, sempre muito solícitxs em ajudar. Por fim, agradeço ao Convênio FAPESP/CAPES a Bolsa de Doutorado no país: Processo nº 2014/10774-6, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). E à FAPESP a Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior: Processo nº 2016/11357-5, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). “Corpos são espetáculos contemporâneos, instituições performantes que, ao moverem-se, carregam muito mais que músculos, ossos e aparências. Carregam significados, tornam carne representações e discursos que operam, no detalhe, o controle, a vigilância, o enquadrinhamento, a fixidez. E, também, a resistência, o descentramento, a transgressão”. Silvana Goellner, O esporte e a cultura fitness como espaço de generificação dos corpos. RESUMO O MMA (Mixed Martial Arts) feminino emergiu no cenário esportivo nos últimos anos, e teve sua coroação quando da implantação da primeira categoria feminina no UFC (Ultimate Fighting Championship) – principal organização da modalidade – em 2013, fator que impulsionou fortemente seu crescimento e visibilidade no cenário mundial. Partindo de uma epistemologia Queer, este trabalho teve por objetivo identificar e analisar os fatores que culminaram no recente crescimento do MMA feminino no Brasil, com foco nas questões relativas à performatização de gênero das lutadoras e nas representações midiáticas de gênero relativas a elas. Partiu-se de uma dimensão microestrutural, o universo do MMA feminino, para buscar compreender aspectos macrossociais que situam as estratégias pessoais dessas atletas em responder, via esporte, às mudanças significativas no campo das relações de gênero e das sexualidades não normativas no Brasil contemporâneo. Para tal, foi realizada uma etnografia multissituada com lutadoras brasileiras, online e também presencial. Verificou-se a predominância de atletas bastante jovens, pertencentes às classes populares e médias, que buscam no MMA uma forma de subsistência e a esperança de ascensão social. Há, também, um crescente fluxo de lutadoras brasileiras para os Estados Unidos da América, em busca de melhores condições de treinamento e maiores possibilidades de sucesso profissional. Identificou-se a existência de um Mercado da Beleza no MMA praticado por mulheres, que aumenta as chances de sucesso e fama para as lutadoras que, além de apresentarem um bom desempenho atlético, também forem lidas como belas e sensuais, dentro de padrões cis- heteronormativos racializados. Em tempos de capitalismo farmacopornográfico, as atletas têm seus corpos mediados pelo implemento de substâncias químicas – sobretudo testosterona e seus derivados – e pelo Mercado da Beleza, em uma relação dialética. Ao mesmo tempo em que valores hegemônicos de gênero são fortalecidos, sobretudo via mediação da lógica imposta pelo Mercado da Beleza, a prática de MMA feminino tensiona os binarismos de gênero e sexualidade, e seu rápido crescimento nos últimos anos reflete transformações sociais que se encontram em curso na sociedade brasileira. Palavras-chave: MMA feminino. Performatividade de Gênero. Cis-heteronormatividade. Lutadoras brasileiras. Artes Marciais Mistas. “IT´S TIME”! WOMEN´S MMA, BEAUTY MARKET AND CIS-HETERONORMATIVITY: A MULTISITED ETHNOGRAPHY WITH BRAZILIAN FEMALE FIGHTERS ABSTRACT Women´s Mixed Martial Arts (WMMA) has been growing fast in the last years and its coronation happened with the implementation of the first pound division for women in the American Ultimate Fighting Championship (UFC), in 2013, a factor that strongly stimulated its growth and visibility around the world. Based on a Queer epistemology, this work aimed to identify and analyze the factors that culminated in the recent growth of WMMA in Brazil, focusing on issues related to gender performativity of female fighters and media representations of them. From a microstructural dimension, the female MMA universe, this research seeks to understand the macrosocial aspects that place personal strategies of these

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