UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTORIA Elisa Lustosa Byington Giorgio Vasari e a edição das “Vidas”: entre a Academia Florentina e a Academia do Desenho. Tese apresentada ao Departamento de Historia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Estadual de Campinas, para a obtenção do titulo de Doutora em Historia, na área de concentração História da Arte. Orientador: Prof.Dr.Luiz Cesar Marques Filho Área de Concentração: História da Arte Campinas 2011 Unidade f3 c c L T/UNICAMP FICHA CATALOGMFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IFCH- UNICAMP Bibliotecaria: Sandra Aparecida Pereira CRB8 n° 7432 Byington, Elisa Lustosa B989g Giorgio Vasari e a edi~lio das "Vidas" : entre a Academia / 7 Florentina e a Academia do Desenho I Elisa Lustosa Byington. Campinas, SP: [s. n.], 2011. Orientador: Luiz Cesar Marques Filho. Tese (doutorado)- Universidade Estadual de Campinas, lnstituto de Filosofia e Ciilncias Humanas. 1. Vasari, Giorgio, 1511-1574. 2. Borghini, Vincenzo, 1515-1580. 3. Varchi, Benedetto, 1503-1565. 4. Accademia delle arti del disegno­ (Fioren~a, Italia). 5. Critica de arte. 6. Arte italiana - (Fioren~a, Italia)- Sec. XVI. I. Marques Filho, Luiz Cesar. II. Universidade Estadual de Campinas. lnstituto de Filosofia e Ciencias Humanas. III. Titulo. Titulo em ingles: Giorgio Vasari and the "Lives": between the Florentine Academy and the Art Academy Palavras chaves em ingHls (keywords): Accademia delle arti del disegno­ (Fioren~a, Italia) Art criticism Art, Italian - (Fioren~a, Italia)- 16th century Area de Concentra~lio: Hist6ria da Arte Titula~lio: Doutor em Hist6ria Banca examinadora: Luciano Migliaccio, Cassio da Silva Fernandes, Claudia Valadlio de Mattos, Patricia Dalcanale Meneses Data da defesa: 29/06/2011 Programa de P6s-Gradua~lio: Hist6ria 3 4 Resumo A primeira edição de “As Vidas dos mais excelentes arquitetos, pintores e escultores italianos de Cimabue aos nossos dias”, escrita por Giorgio Vasari (1511-1574), arquiteto e pintor de Arezzo, é publicada em 1550. Ela é marcada pelas questões que animavam a Academia Florentina (1541) - a questão da historia, da língua vernácula e da sua difusão - e pela “disputa entre as artes”, conforme proposta por Benedetto Varchi (1503-1565) nas célebres “Duas Lições”. A segunda edição das "Vidas", publicada em 1568, será marcada por outra academia e por nova versão da “disputa”; i.é, pela Academia delle Arti del Disegno e o texto “Una Selva di Notizie”, escrito por Dom Vincenzo Borghini(1515-1580), lugar-tenente da nova academia, rediscutindo a hierarquia entre as artes. Para a nova Academia, fundada em 1563, e para o texto “Una Selva di Notizie” (1564), a referência e modelo eram aqueles, institucional e intelectual, da década de „40. Tanto a academia dos artistas, fundada pelo próprio Vasari junto com o filólogo Borghini, seria inspirada na Academia Florentina, conforme declarado por eles, quanto a retomada da “disputa entre as artes” pelo lugar-tenente da Academia do Desenho, fazia referência à Lição de Varchi e às cartas escritas pelos artistas em resposta ao debate de quase vinte anos antes. Tais aspectos institucionais, e as distintas características do debate intelectual, influenciam respectivamente cada uma das edições com idéias que procuramos ressaltar e analisar no âmbito da política cultural do duque Cosimo I. Abstract The first edition os the “Lives of the most excellent architetcts, painters and sculptors from Cimabue to ourdays” written by Giorgio Vasari (1511-1574), architect and painter of Arezzo, is published in 1550. It is marked by questions that directed the Florentine Academy (1541) – the question of history, of the vernacular ando its dissemination – and by the “dispute between the arts”, as proposed by Benedetto Varchi (1503- 1565) in the famous “Due Lezzioni” (Two Lessons). The second edition of the “Lives”, published in 1568, is marked by another Academy and by new version of the “dispute”; i.e. by the Academia delle Arti del Disegno and the text “Una Selva di Notizie”, written by Don Vincenzo Borghini(1515-1580), lieutenant of the new Academy, rejudging the hierarchy between the arts. For the new Academy, founded in 1563, and the text “Una Selva di Notizie” (1564), the reference and model were those, institutional and intellectual, of the „40s. Both the academy of the artists, founded by Vasari himself along with the philologist Borghini, would be inspired by the Florentine Academy, as stated by them, as the resumption of the “dispute between the arts” by the Lieutenant of the Academy of drawing, made reference to the Lesson of Varchi and letters written by the artists in response to the debate of almost twenty years before. Such institutional aspects, and the distinct characteristics of the intellectual debate, influence respectively each of editions with ideas that emphasize and analyze the cultural policy of the Duke Cosimo. 5 6 Sumário Introdução As Vidas Vasarianas: mito e desconstrução. p. 9 1 - O contexto histórico. p. 33 1.1 Florença, primeira metade do século XVI 1.2 O novo Príncipe - a política cultural 1.3 A necessidade da História e a questão da precedência. 2 - A Academia Florentina. p. 51 2.1 A organização da Cultura 2.2 A questão da língua vernácula e a identidade florentina. 2.3 Benedetto Varchi e o dissenso entre os acadêmicos 2.4 A escrita da Historia – questões de método 2.5 As constrições da Contrareforma 3 – Giorgio Vasari entre duas academias e dois “Paragoni”.p.79 3.1 A preparação da editio princeps 3.2 Paragone. Letrados e artistas 3.3 As “Duas Lições” e o Proemio das Vidas 3.4 O titulo das Vidas: precedência e “Paragone” 3.5 A questão da arquitetura 3.6 As Vidas e os revisores da Academia Florentina 3.7 A pena e o pincel 4 – Dom Vincenzo Borghini. O orfanato, As Vidas, a corte, a Academia do Desenho. p.127 4.1 O personagem 4.2 Panorama atual dos estudos 7 4.3 Vincenzio Maria Borghini - nota biográfica 4.4 Prior de Santa Maria dos Inocentes, orfanato dos expostos. 4.5 Palavra e Imagem 4.6 A década de 70 e as constrições da Contrareforma 4.7 Borghini consultor historico e artistico de Cosimo. 4.8 Borghini, a primeira edição das Vidas e a questão do Paragone. 5 - A Academia das Artes do Desenho. p.171 5.1 A nova academia dos artistas 5.2 A fundação da Accademia et Compagnia dell‟Arte del Disegno 5.3 O modelo da Accademia Fiorentina 5.4 A Proselitismo e legitimação da Academia do Desenho na edição Giuntina. 5.5 A idéia das três artes do Desenho Conclusão Ilustrações Bibliografia Apêndices 1. Vida de Leon Battista Alberti – tradução notas e comentário 2. Vida de Francesco di Giorgio – tradução, notas e comentário 3. Vida de Baccio D‟Agnolo – tradução, notas e introdução à leitura 8 Introdução As Vidas vasarianas: mito e desconstrução. Há quem diga que Giorgio Vasari inventou a arte do Renascimento1, e mesmo quem sustente que a Historia da Arte não passa de notas de rodapé às Vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos escritas pelo pintor e arquiteto aretino. Vasari foi responsável pela descrição dos princípios que nortearam a delimitação de um período de três séculos, pela eleição dos artistas e das obras que, para ele, identificavam a evolução da arte italiana do século XIII até os seus dias; evolução esta que significava a recuperação progressiva das formas da natureza e da arte antiga, por isso, chamada de Rinascita. Sem o seu livro, a idéia sobre o período que chamamos Renascimento, teria outros contornos e, provavelmente, protagonistas diferentes. Vasari ressuscitou da antiguidade a idéia de progresso das artes para com ela descrever as conquistas da arquitetura, da escultura e da pintura, em um percurso evolutivo perseguido pelos artistas até serem capazes de realizar imagens tão perfeitas que pareciam vivas, dotadas de moto e fiato, movimento e sopro, diz ele sobre a arte de Leonardo que, por esta razão, inaugura a terceira e ultima parte de seu livro: “a fase que queremos chamar de moderna” – define. Analogamente ao ciclo biológico, o ciclo histórico é feito de infância, maturidade e inevitável decadência; uma idéia de evolução, tomada de empréstimo à antiguidade, como identificou E.H. Gombrich2, com as idéias 1 P.L.Rubin: “Giorgio Vasari invented Renaissance art”, in “Giorgio Vasari. Art and History”, ed.Yale UniversityPress, London, 1995, p.5. 2 O estudioso identifica no Brutus de Cicero a fonte para a estrutura da obra de Vasari e das idéias histórico-críticas expostas no Proemio da Segunda Parte. Cfr.E.H.Gombrich, Vasari‟s Lives e Cicero‟s Brutus, in Journal of the Warburg and Courtauld Institutes, XXIII, 3-4, 1960, pp. 309-311; S.Ginsburg, Filologia e Storia dell‟Arte. Il ruolo di Vincenzo Borghinini nella Torrentina, in Testi, immagini e filologia nel secolo XVI, Pisa, 2007, p.168-9: aponta em Vincenzo Borghini o mediador destas idéias em Vasari pois o texto antigo é modelo explicitamente declarado pelo filólogo em notas sobre o progresso das línguas, da literatura, da historiografia, das artes, ainda que as notas a 9 correlatas de ciclo e de processo, que deixaram marcas na teoria da arte até hoje, como bem analisou Hans Belting3. Ainda que o método histórico de Vasari não seja mais o nosso, o aretino é até hoje o grande roteirista dos estudos sobre o Renascimento. Seu livro condiciona - muitas vezes sem que se tenha clara consciência - a pauta dos estudos, os temas, as idéias que temos sobre quais os artistas que contavam e valiam a pena serem pesquisados. Ainda que tal condicionamento tenha conduzido a não poucos equívocos, é uma sorte que seu livro exista. Sem ele nossa idéia do período seria indubitavelmente mais pobre.
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