Relatório Preliminar Dos Trabalhos Arqueológicos Na Fábrica De Lanifícios De Serralves, Porto - FLS.07

Relatório Preliminar Dos Trabalhos Arqueológicos Na Fábrica De Lanifícios De Serralves, Porto - FLS.07

Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na fábrica de lanifícios de Serralves, Porto - FLS.07 - PORTO, Julho 2007 José Jorge Argüello Menéndez Sara Alexandra Mendes Peixoto Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 2 Índice INTRODUÇÃO 4 PLANO GERAL DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS 4 METODOLOGIA DOS TRABALHOS 4 ÁREAS DE INTERVENÇÃO 5 RECURSOS HUMANOS 6 MEDIDAS DE SEGURANÇA 6 METODOLOGIA DO TRABALHO DE GABINETE 6 ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DO LOCAL 7 DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS 9 Fabrica do século XX 9 Sondagem 7 9 Sondagem 8 12 Fabrica do século XIX 13 Sondagem 1 13 Sondagem 3 16 Sondagem 4 19 Sondagem 5 22 Sondagem 6 25 Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 3 Zona de Implantação do Forte de Serralves 27 Sondagem 2 30 Sondagem 11 33 Sondagem 12 36 Sondagem 9 39 Sondagem 10 41 CONCLUSÕES E MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO PROPOSTAS 45 Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 4 Introdução O projecto para a reabilitação para habitação da antiga fábrica de lanifícios de Serralves terá afectação no subsolo, pelo que o projecto foi sujeito a trabalhos de sondagens prévias de avaliação abrangendo uma superfície mínima de 88 m2 de acordo com o Caderno de Encargos elaborado pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara do Porto realizou o Caderno de Encargos, em cumprimento do solicitado pelas entidades de Tutela. Plano geral dos trabalhos arqueológicos • Análise da estratigrafia do subsolo e observação das eventuais estruturas preexistentes com vista ao estabelecimento de sequências e tipologias de ocupação do local. • Valorização do potencial científico patrimonial do lugar. Metodologia dos trabalhos 1. Escavação do lugar até ao nível geológico por camadas arqueológicas (Método Harris), registadas e desenhadas em unidades de registo particulares. 2. Desenho das sondagens por unidades estratigráficas à escala 1:20, com indicação das eventuais estruturas aparecidas, e das secções e alçados mais representativos, todos eles com indicação altimétrica. 3. Implantação e desenho das sondagens e eventuais estruturas detectadas durante as escavações numa planta geral da área intervencionada. 4. Fotografia a cor, preto e branco e diapositivos de sondagens, secções, alçados e estruturas. 5. Lavagem, organização e catalogação do espólio arqueológico exumado (cerâmica, metais, vidros, ossos, madeiras, etc.) de acordo com o indicado pelas entidades de tutela. 6. Execução de relatório preliminar e execução de relatório final. Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 5 Áreas da intervenção Os trabalhos arqueológicos previstos compreenderam a realização de dez sondagens arqueológicas distribuídas pela área a intervencionar de forma a caracterizar o potencial arqueológico do local: sondagem 1 de 4 m x 3 m ( 12 m2) , sondagem 2 de 2 m x 5 m ( 10 m2), sondagem 3 de 4 m x 2.5 m ( 10 m2), sondagens 4 e 5 de 3 m x 2 m ( 6 m2), sondagem 6 de 3 m x 1.5 m ( 4.5 m2), sondagem 7 de 3 m x 3 m ( 9 m2), sondagem 8 de 3 m x 3.5 m ( 10.5 m2), sondagem 9 de 2,5 m x 7.5 m ( 18.75 m2) e sondagem 10 de 2.5 m x 6.5 m ( 16.25 m2), correspondendo a um total de 103 m2. A metodologia implementada de acordo com a reunião prévia aos trabalhos realizada com os responsáveis do Gabinete de Arqueologia Urbana visava a identificação e caracterização da estratigrafia. De acordo com o Caderno de Encargos deviam ser realizados 36 m2 na zona da fábrica do século XX, 36 na zona da fábrica do século XIX e 16 na zona do possível forte militar das guerras liberais. A estratégia de realização das sondagens era a redistribuição dos m2 de acordo com os resultados de cada uma das sondagens. Desta forma foi decidido realizar 2 sondagens (7 e 8) com extensão de 19,5 m2 na zona da fábrica do século XX, onde os resultados foram muito pobres, 5 sondagens (1, 3, 4, 5, 6) na zona da fábrica do século XIX, com extensão de 38,5 m2, e de 3 sondagens (2, 9 e 10) na zona da possível implantação do forte, com extensão de 45 m2. Destas 3 sondagens 2 (9 e 10) se encontram em zona que esta fora da propriedade da Cooperativa. Concluídas as sondagens de avaliação foi considerado necessário um alargamento para permitir uma melhor avaliação das estruturas do possível forte. Foram assim realizadas 2 sondagens (11 e 12) com extensão de 32 m2 que permitiram identificar e caracterizar as estruturas e estabelecer uma relação com o Forte de Serralves. Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 6 Recursos humanos Os trabalhos arqueológicos foram realizados pelos Arqueólogos Sara Peixoto e Jorge Menéndez com apoio de 6 assistentes de Arqueólogo entre os dias 10 de Julho e 20 de Agosto de 2007. Medidas de segurança Durante os trabalhos de campo foram cumpridas as medidas regulamentares de segurança como o uso de capacete e vestuário de protecção (luvas e botas de segurança). Metodologia do trabalho de gabinete O acrónimo da intervenção arqueológica foi atribuído após reunião com o Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal do Porto com o código FLS.07. O objectivo deste acrónimo é o correcto registo da informação obtida na intervenção e a marcação do espólio arqueológico aparecido durante as escavações, para mostrar de forma clara a procedência de cada um dos objectos arqueológicos recuperados. Este material permanecerá em depósito provisório junto dos responsáveis da intervenção arqueológica até à realização do relatório final dos trabalhos. O depósito final dos materiais será o armazém do Gabinete de Arqueologia Urbana da Câmara Municipal do Porto. O Relatório Final será entregue, juntamente com o conjunto dos materiais arqueológicos recuperados, devidamente marcados, organizados e catalogados. Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 7 Enquadramento geográfico e histórico do local A área onde decorreu a intervenção situa-se administrativamente na Rua de Serralves, freguesia de Lordelo do Ouro, concelho do Porto. Tem como coordenadas geográficas de 41º 39’ 08” lat. N e 08º 09’ 19” long. O (GAUSS 84), na Carta Militar de Portugal à escala 1:25 000 n.º 122 (Porto), com uma altimetria aproximada de 54 metros. Implantação do local na carta militar 1:25.000 nº 122 A Fábrica de Lanifícios de Lordelo, conhecido nos seus primórdios como “Fábrica de Panos”, foi fundada em 1805 por Plácido Lino dos Santos Teixeira que construiu este edifício com dois andares: o primeiro seria para a sua habitação e o piso térreo para a fábrica de lanifícios. No relatório apresentado ao Excelentíssimo Senhor Governador Civil do distrito do Porto em 1881 refere que a Fábrica de Lanifícios de Lordelo foi criada com a protecção das leis protectoras do Marquês de Pombal. Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 8 O local onde a fábrica está implantada acabou por ter influência, dado que a zona virada a Oeste tem a Ribeira da Granja. Este género de indústria carece de energia hidráulica como força motriz e de água limpa para o processo de fabrico, como a lavagem de lãs, fabrico dos tintos e o acabamento dos tecidos. Assim, as águas da Ribeira da Granja possibilitariam todas estas operações. Paralelamente o local em causa estaria rodeado de uma boa rede terrestre: estradas para o Porto e Matosinhos, consideradas como sendo as duas principais direcções; rede marítima através do Cais do Ouro possibilitando um fácil desembarque da matéria-prima, neste caso a lã, e o embarque do produto acabado, que seriam panos, tecidos, entre outros. Estes factos talvez acabassem por influenciar Plácido Lino dos Santos Teixeira na escolha do local para implantar a sua fábrica de lanifícios. A Fábrica de Lanifícios de Lordelo seria uma das primeiras indústrias deste género a instalar-se no local. Não existe nenhum registo de plantas da fábrica antiga o que impede saber quais eram as características das fases do edifício do século XIX. Joaquim Morais Oliveira indica no seu estudo sobre a unidade industrial a existência de dois momentos construtivos entre 1805 e 1832. O primeiro seria a construção da fábrica ao estilo inglês e o segundo a ampliação com acrescento de outras naves até formar um pátio central. O edifício fabril estaria distanciado da estrada de Matosinhos. Não fazia fachada para a rua, pelo contrário assumia-se como algo interiorizado. A frente urbana era ocupada pela habitação do proprietário. Como já foi referido a água era fundamental para todas as operações. Deste modo, era fulcral garantir a chegada e saída da água. Daí o desvio da Ribeira da Granja e o seu encosto ao edifício na fachada Sul. Realizou-se o encanamento da água limpa e outro para a suja. Este poderá corresponder à levada, que actualmente ainda se encontra no local. Em 1832 altura do cerco do Porto, a fábrica deixa de funcionar e é ocupada militarmente pelas tropas de D. Miguel. Nesta altura verifica-se uma destruição do estabelecimento. No relatório de apresentado ao Excelentíssimo Senhor Governador Civil em 1881 na descrição feita do edifício antigo refere que as paredes se encontram esburacadas, muito provavelmente pelos impactes de projecteis durante o cerco do Porto. No que resta do edifício antigo Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos na Rua de Serralves- Lordelo do Ouro 9 numa das paredes virada a Oeste verificam-se varias marcas produtos de impactes balísticos. A actividade industrial foi retomada por volta de 1852 com a sociedade Garcia & Barbedo. O edifício foi alugado por Francisco Garcia a José Joaquim Fernandes de Sousa. Contudo, Francisco Garcia acabou por se associar a esta sociedade e fundaram a já referida colectividade.

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