Autor E Autoria No Cinema E Na Televisão

Autor E Autoria No Cinema E Na Televisão

Autor e autoria no cinema e na televisão autor e autoria - miolo.pmd 1 28/5/2010, 14:58 Universidade Federal da Bahia Reitor Naomar de Almeida Filho Vice Reitor Francisco José Gomes Mesquita Editora da Universidade Federal da Bahia Diretora Flávia M. Garcia Rosa Conselho Editorial Ângelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Alves da Costa Charbel Ninõ El-Hani Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti José Teixeira Cavalcante Filho Alberto Brum Novaes Suplentes Antônio Fernando Guerreiro de Freitas Evelina de Carvalho Sá Hoisel Cleise Furtado Mendes Maria Vidal de Negreiros Camargo autor e autoria - miolo.pmd 2 28/5/2010, 14:58 José Francisco Serafim (Org.) Autor e autoria no cinema e na televisão Salvador EDUFBA 2009 autor e autoria - miolo.pmd 3 28/5/2010, 14:58 © 2010 by José Francisco Serafim Direitos para esta edição cedidos à Editora da Universidade Federal da Bahia. Feito o depósito legal. Projeto gráfico, editoração e arte final Josias Almeida Jr. Sistema de Bibliotecas - UFBA Autor e autoria no cinema e na televisão / José Francisco Serafim (Org.). - Salvador : EDUFBA, 2009. 200 p. ISBN 978-85-232-0642-0 1. Autoria. 2. Cinema. 3. Televisão. l. Serafim, José Francisco. CDD - 808.02 autor e autoria - miolo.pmd 4 28/5/2010, 14:58 APRESENTAÇÃO Le cinéma est l’instrument qui nous permet de retrouver des points de repère dans l’évolution de la société et de le lire les tracés les plus importants du rêve collectif. Le succés est la mesure de ce rêve: les foules vont voir et revoir les pièces et les intrepr‘tes où elles reconnaissent leurs aspirations et leurs angoisses. En effet, l’auteur a fini par acquérir dans la société occidentale moderne une importance, don’t on ne peut retrouver l’équivalent qu’à la fin du monde antique. Enrico Fulchignoni, 1969 Discutir o lugar do autor em obras audiovisuais é o objetivo dos textos aqui apresentados. Mas, podemos nos indagar inicialmente, quem é o autor de uma obra fílmica ou televisiva? A quem podemos outorgar o epíteto de autor? É um fato sabido por todos que a grande maioria das obras audiovisuais é o resultado de um trabalho coletivo e que diferen- tes profissionais estarão a serviço de uma idéia que será realizada/pro- duzida por um indivíduo que chamamos diretor, podendo este personagem, ser denominado autor da obra. Mas, podemos nos inda- gar: para quê a obra necessita de um autor? Podemos por um lado vincular a autoria ao viés formal/estético da obra e ao seu caráter original e criativo. Podemos também pensar do ponto de vista jurídico e do mercado onde essas obras circulam, e do direito autoral, e nesse caso o termo autor é destinado a qualquer pes- soa que tenha realizado uma obra, no caso audiovisual, e que terá em decorrência desse fato direitos – financeiros - sobre ela. Neste livro, os textos presentes buscam refletir sobre o autor da obra audiovisual no contexto estético/formal. Mesmo se consideramos as questões jurídico/legais fundamentais para se compreender as obras cinematográficas e televisivas, bem como sua veiculação na atualidade, esses temas são aqui abordados de forma secundária. autor e autoria - miolo.pmd 5 28/5/2010, 14:58 François Jost abre este volume, com um texto que aborda a questão do autor e da autoria no âmbito cinematográfico, buscando refletir so- bre o papel do autor no cinema através de comparações com a pintura e a literatura. No segundo texto trago uma reflexão sobre a posição do autor no cinema documentário visando problematizar a questão da existência da autoria no âmbito desse gênero audiovisual, através do exemplo de al- guns cineastas documentaristas como Jean Rouch, Artavazd Pelechian, Chris Marker, Eduardo Coutinho e Frederick Wiseman. Marcius Freire em seu texto discute e aprofunda questões relativas à autoria no campo do documentário, e tem como prisma o filme etnográfico, analisando a especificidade deste cinema tanto do ponto de vista da autoria quanto do contexto desse gênero ou sub-gênero no campo cinematográfico. Regina Mota discute a questão da autoria através do exemplo de Glauber Rocha e na sua relação ambígua com o estatuto de autor. A ensaísta, propõe para se pensar o papel de Glauber, por meio da noção de anti-autor. O texto de Maria Carmem Jacob e Maria Helena Weber aborda a questão da autoria em um produto da indústria cultural de massa, a telenovela brasileira. A partir de dois estudos de caso, as novelas Duas Caras e A Favorita, Jacob e Weber elaboram uma reflexão para se pensar a autoria da obra televisiva e a questão da política abordada nas duas telenovelas, através do processo criativo coletivo e complexo onde o autor é reconhecido, no mais das vezes, como sendo o escritor/roteirista da ficção seriada. Observamos com Anna Tous a autoria em ficções seriadas norte- americanas de sucesso, refletindo, através de algumas séries de sucesso veiculadas pelas televisões do mundo todo, o lugar do autor e da auto- ria em produtos realizados com grande sofisticação de recursos e estra- tégias de veiculação por grandes canais televisivos norte-americanos. O ultimo texto do livro, de Rodrigo Barreto, apresenta a questão da autoria vinculada a um produto audiovisual com características bas- tante especificas: o videoclipe. Barreto se interessa em trazer para o debate videoclipes onde, segundo ele, são observadas marcas autorais autor e autoria - miolo.pmd 6 28/5/2010, 14:58 em detrimento do caráter marcadamente comercial vinculado a esses produtos. Os textos aqui apresentados buscam então compreender o lugar do autor e da autoria tanto em obras cinematográficas quanto televisivas, visando uma compreensão e problematizarão do status desse realiza- dor ou criador, através do processo de criação e de produção no qual essas obras estão inseridas. A questão da autoria, cinqüenta anos após ter sido formulada pelos “jovens turcos” da revista Cahiers du Cinéma, se encontra longe de ter perdido o fôlego no debate acadêmico, pois tem suscitado um grande numero de reflexões que tem resultado em traba- lhos acadêmicos que tentam compreender o lugar do autor no cinema e na televisão como também nas novas mídias. Os textos deste livro vi- sam contribuir para estas reflexões e avançar no debate sobre autor e autoria no audiovisual. José Francisco Serafim autor e autoria - miolo.pmd 7 28/5/2010, 14:58 autor e autoria - miolo.pmd 8 28/5/2010, 14:58 Sumário O autor nas suas obras ........................................................................................... 11 François Jost O autor no cinema documentário ..................................................................... 33 José Francisco Serafim A noção de autor no filme etnográfico ........................................................... 49 Marcius Freire Glauber Rocha – autor ou anti-autor?.............................................................. 65 Regina Mota Autoria no campo das telenovelas brasileiras: a política em Duas caras e em A favorita......................................................... 79 Maria Carmem Jacob de Souza Maria Helena Weber El concepto de autor en la series norteamericanas de calidad .............121 Anna Tous-Rovirosa Do contexto produtivo às obras: autoria, campo e estilos dos videoclipes ......................................................171 Rodrigo Ribeiro Barreto Lista de autores ......................................................................................................201 autor e autoria - miolo.pmd 9 28/5/2010, 14:59 autor e autoria - miolo.pmd 10 28/5/2010, 14:59 O autor nas suas obras1 François Jost Se os anos 80 foram marcados, do ponto de vista teórico, pelo estu- do da enunciação cinematográfica, foram igualmente marcados, de ou- tro ponto de vista, pela volta de uma corrente crítica preocupada com as obras, a sua gênese bem como a sua estética. Enquanto alguns – semiólogos, narratólogos, pouco importa o nome que recebem – manti- nham a índole dos anos 60 em recusar qualquer instância antro- pomorfizante, deixando o autor à porta das suas construções teóricas, outros favoreciam a sua volta pela janela examinando uma pluralidade de obras reunidas sob um único nome. Paradoxo: é aquele que mais arduamente lutara contra o que a ideia de autor carregava de autoridade e de hierarquia até se fundir no “Gru- po Dziga Vertov”, que, em certo sentido, relançou o movimento. Desde uma década, os artigos ou as monografias sobre Godard se multiplica- ram e este ano teremos um colóquio. Paremos um instante neste momento em que a estética do cinema ou a crítica expressam necessidades que não correspondem mais aos desenvolvimentos semio-narratológicos recentes, para observar que esta contradição não é nova, visto que ela se encontra no próprio cerne da- quele que contribuiu para matar o autor. De fato, já em 1969, Michel 1 Tradução do francês de Michel Colin 11 autor e autoria - miolo.pmd 11 28/5/2010, 14:59 Autor e autoria no cinema e na televisão Foucault reconhece que é vítima de uma contradição: embora ele vise analisar, n’ As Palavras e as coisas, “[...] tipos de lençóis discursivos que não eram escandidos pelas unidades habituais do livro, da obra e do autor [...]”, ele não deixa de recorrer a nomes de autores (Buffon, Cuvier, etc.) (FOUCAULT, 1969, p. 76). Uma vez identificado este para- doxo, a questão não é mais de evacuar o nome por um subterfúgio – iniciais ou outro – mas de compreender o que se coloca por trás dele. É neste espírito que o filósofo coloca brutalmente esta questão: “O que é um autor?”, mais atento, aliás, aos escritores do que aos outros, o que, diga-se en passant, só faz reafirmar esta primazia do literário sobre a constituição do campo das produções humanas (em francês, precisa o Dicionário Histórico da Língua Francesa, autor significa escritor). O autor, responde em primeiro lugar Foucault, aparece em nossa cultura a partir do momento em que se começa a atribuir os textos a uma individualidade. Este procedimento de atribuição é correlativo a uma concepção da obra, que seleciona e escolhe aquilo que nas marcas deixadas por alguém, constituem sua obra, precisamente.

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