CAMPOS DE COIMBRA Do Rural Ao Urbano

CAMPOS DE COIMBRA Do Rural Ao Urbano

Maria de Lurdes Póvoa da Fonseca Roxo Mateus CAMPOS DE COIMBRA Do Rural ao Urbano Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2009 Maria de Lurdes Póvoa da Fonseca Roxo Mateus CAMPOS DE COIMBRA Do Rural ao Urbano Dissertação de Doutoramento na área de Geografia, especialidade de Geografia, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a orientação da Professora Doutora Carminda Cavaco e a co-orientação da Professora Doutora Fernanda Cravidão. Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2009 CAMPOS DE COIMBRA DO RURAL AO URBANO Os campos de Coimbra desmaiam os seus verdes, de um verde leviano e breve; os prédios sobem e descem pelas encostas… Continuamente morre a alma das coisas, e nós com elas. O que há de bom no passado é ter sido banal mas não hostil. Um coração agressivo faz-se depois de desejos multiplicados, pois quando muito se exige do vulgar de nós próprios, deliberamos a cólera. Chamam-nos mestres, mas há sempre um terreno onde paramos, seja o da justiça, o da benevolência e, além desta, o da virtude. Agustina Bessa Luis Prefácio e Agradecimento Um espaço rural em mudança e a tentativa de o interpretar. Uma pesquisa que envolveu o espaço vivido. Um trabalho cujo percurso quase se identifica com a vida. E, finalmente, a objectivação de um compromisso que cruzou os anos. Anos que foram de investigação continuada, com muitos espaços brancos pelo meio. Foram tempos de escrita fragmentada por tempos dados… a aulas, a livros, a pessoas. Tanta coisa, nestes anos marcados pelo sempre da reflexão, da procura de caminhos, do entrecruzar de percursos. A busca do que pensávamos ser, e pensamos ser, a nossa verdade – pessoal e familiar, profissional e científica – enfim, social e cívica. Dos percursos e da pesquisa, diremos que não foram apenas meio “para”, mas quase fim em si mesmos. Objectivo demandado, tantas vezes quase encontrado e breve largado, à procura… da perfeição? Não. Talvez de um percurso teórico que nos afastasse do modelo empiricamente conhecido e vivido. Mas, o paradigma continuava demasiado próximo da realidade. E prosseguíamos. Foi, ou tem sido (porque isto implica continuidade...), um longo aplicar de instrumentos, meios e técnicas: nas salas de aula ou no campo, na interpretação dos espaços e na busca das respostas às questões impostas pelo querer saber fazer geográfico. E foram tantos os dados recolhidos, para mostrar o que tão bem conhecíamos, mas que queríamos e devíamos apresentar sob uma forma nomotética e não idiográfica. Ao longo do caminho, muitos encontros, outros tantos testemunhos de vida, partilhados no perto longe da investigação e do estudo. Hoje, neste refazer da história, surgem vultos que, pouco a pouco, se redefinem e adquirem os contornos vivos de sempre. Lembram-nos a força que um dia tiveram, nas escolhas que fizemos; como aquele “rumo certo” perante tantas encruzilhadas, que foi apoio na cinza branca dos dias, com que às vezes nos confrontámos. No meio de muitos há um nome que, de quando em vez, nos invade a memória e nos faz recuar no tempo até ao início da caminhada: Alfredo Fernandes Martins. Se tivesse de escolher a frase primeira que dele me marcou diria “a Geografia é a ciência da paisagem”, conceito que privilegiava (a par da eleição de autores como Vidal de La Blache e Emanuel de Martonne). Foi nesta procura do entendimento da paisagem, dos seus factores de equilíbrio, dos sinais da diferença e do sentido da mudança que iniciei a minha primeira pesquisa individual, ainda e sempre comandada pela dúplice pertença de espaços vividos e claramente marcada pelos territórios de fronteira entre o rural e o urbano. “A Horta de Cernache – um espaço periurbano”. Trabalho inicial, pelo mestre proposto. E aceite. Do princípio, vem também a escolha do âmbito científico preferido e a valorização de determinadas áreas temáticas: A geografia humana e o estudo das relações cidade/campo. Tem sido a nossa área temática de eleição. Os trabalhos de campo da disciplina de Geografia Humana despertaram em nós o primeiro gosto pela pesquisa; foram dirigidos pelo Doutor Fernando Rebelo, mais tarde directo interventor na passagem de testemunho dos estudos de Geografia Rural e grande incentivador neste percurso. Não foi esta temática, sob o título “Os campos de Coimbra – do rural ao urbano”, a minha primeira escolha para tese de doutoramento, aliás a opção inicial, apesar de incidir sobre um tema de geografia rural, era bastante mais concreto e definido, espacial e conceptualmente, seria, talvez, bem menos aliciante. Ao Professor Fernandes Martins devemos este nosso tema. Aquando da primeira entrevista para início de pesquisa, abriu- nos as portas da sua Coimbra, propondo-nos a ampliação espacial e o aprofundamento científico da pesquisa que empreendemos, aquando da nossa tese de licenciatura: as áreas de abastecimento hortícola da cidade de Coimbra. Aceitámos o desafio, embora tivéssemos alargado o âmbito temático e, ao longo do longo percurso, tenhamos, naturalmente, feito a reavaliação de áreas científicas e de domínios territoriais. Daí surgiram redefinições de temas e abordagem de novas problemáticas, algumas delas decorrentes da própria investigação. Mantivemos, contudo, a linha de rumo inicialmente traçada: Coimbra e os seus campos. O território estudado faz parte do nosso espaço vivido. Aí, e muito cedo, sentimos as vivências e contingências de um rural quase urbano. Aí sentimos o peso da pertença a dois mundos, sem que sejamos efectivamente de nenhum deles. A divisão de funcionalidades e o necessário desempenho de vários papéis a isso conduziu. Na segunda metade do século vinte e num país ainda periférico, o território era forte condicionador de modos de vida, de hábitos, de comportamentos e atitudes. Naquela altura as diferenças entre o urbano e o rural eram bem nítidas, e vincavam identidades. Que deixavam marcas. Nos campos o meio social engendrava mecanismos de controlo que impediam vivências e coarctavam expectativas. E, continuando o percurso pelos meandros da memória, outros nomes se destacam: Doutor J.M. Pereira de Oliveira, não foi nosso professor, contudo dele ficou-nos a enorme disponibilidade, o apoio constante, o incentivo a prosseguir, (porque, dizia, “já havia muitas provas dadas”. Palavras que a minha auto-crítica sistematicamente ignorava, pela humildade, não sei se científica). Entretanto, a temática de pesquisa ia adquirindo contornos mais definidos inserindo-se claramente no âmbito da Geografia Rural. Foi assim que nos cruzámos com alguém que, em Portugal, foi pioneira nos estudos da ruralidade: a Professora Carminda Cavaco. Serão sempre poucas as palavras para dizermos da gratidão pelo muito que com ela aprendemos. Por isso, fica a singeleza de um Obrigado, sentido. Pelo apoio e disponibilidade, pela atenção, de tantos anos. Desejo destacar na minha escola a Doutora Fernanda Delgado Cravidão, expressando-lhe o meu apreço e reconhecimento pelo apoio, pelo incentivo, pela disponibilidade para acompanhar o término de uma investigação que enriqueceu com o seu sentido e saber científicos, com pragmatismo e objectividade. E a minha gratidão vai igualmente para o Doutor António Campar de Almeida pelos seus conselhos e comentários, nomeadamente no que respeita a assuntos relativos à parte física da investigação. Ao Doutor Lúcio Cunha pelo apoio informático numa altura de completa incipiência minha nestes domínios. E, ao longo dos anos, foram tantos os colegas que nos apoiaram, na investigação ou nas aulas, e permito-me aqui destacar o nome de Fátima Velez de Castro, pela partilha de tempo em momento crucial. Ao António Rochette quero agradecer o incentivo constante, como quero também agradecer ao Paulo Caridade a disponibilidade para proceder à actualização da cartografia da Parte2 do trabalho. Ao Rui Jacinto por em tempo passado, mas que não esqueço, nos ter ouvido e, na altura, indicado o sentido. Desejo agradecer a todos os que fazem parte da Geografia de Coimbra, expressar- lhes o vivo reconhecimento por, de uma maneira ou de outra, me terem feito sentir inserida numa comunidade. E se do percurso académico por esta Coimbra ficou, e continua, um gosto de estar e ser parte integrante do IEG – pelos professores, pelos colegas – o mesmo é extensivo à minha Faculdade. Pelo apoio institucional e humano que da FLUC nos veio num período decisivo da caminhada, o meu Muito Obrigada. Ao amigo escultor Victor Marques, o reconhecimento por nos ter presenteado com a capa que envolve este trabalho. Às instituições, públicas ou privadas, que facilitaram a recolha de dados, desde a Câmara Municipal de Coimbra – em especial ao Gabinete de Arquitectura e Planeamento – às Juntas de Freguesia da margem esquerda do Mondego, na pessoa dos seus presidentes, não só actuais mas de mandatos anteriores, que acompanharam o tempo da investigação, agradeço a colaboração. A todos os anónimos que se disponibilizaram a responder aos inquéritos que lançámos, um sincero agradecimento. Enfim, e os últimos são os primeiros, à minha família, aos meus pais, – a quem ainda posso dizer Obrigada! - Ao João, à Susana e ao Sérgio, para eles esgotaram-se as palavras, ficaram os sentimentos de profundo e sentido afecto e reconhecimento. E, nestes tempos de mudança, recordar que é mesmo verídica a afirmação, a “tese é uma história de família”…! Para todos, um Obrigada, sob a forma de um ponto final. RESUMO Os espaços rurais envolventes da cidade de Coimbra estão em mudança. Propusemo-nos analisar, na nossa dissertação, os processos mutacionais que os abrangem. Actualmente distinguem-se à volta de Coimbra três dinâmicas territoriais: suburbanização, espaço próximo do centro urbano, dominado por um espaço construído com algum grau de degradação urbanística, por vezes socialmente segregado, onde a distância ao centro é mais sociológica do que física. Periurbanização, espaço morfologicamente heterogéneo, com claros processos de mutação social e económica. Rurbanização, campos urbanizados, com áreas construídas, segundo modelos de arquitectura urbana, intercalados com espaços agrícolas e naturais, estando o seu desenvolvimento estreitamente relacionado com o centro urbano próximo.

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