Redalyc.FÓRUM

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RAE - Revista de Administração de Empresas ISSN: 0034-7590 rae@fgv.br Fundação Getulio Vargas Brasil Braga Martes, Ana Cristina; Loureiro, Maria Rita; Abramovay, Ricardo; Serva, Maurício; Serafim, Maurício C. FÓRUM - SOCIOLOGIA ECONÔMICA RAE - Revista de Administração de Empresas, vol. 47, núm. 2, abril-junio, 2007, pp. 10-14 Fundação Getulio Vargas São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=155116028002 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto FÓRUM • APRESENTAÇÃO FÓRUM – SOCIOLOGIA ECONÔMICA Ana Cristina Braga Martes FGV-EAESP E-mail: ana.martes@fgv.br Maria Rita Loureiro FGV-EAESP E-mail: mrloureiro@yahoo.com Ricardo Abramovay FEA-USP E-mail: abramov@usp.br Maurício Serva PUC-PR E-mail: mserva@terra.com.br Maurício C. Serafi m FGV-EAESP E-mail: serafi m.gv@gmail.com Compreender as ações econômicas por meio de fatores Clássica Inglesa (Adam Smith, David Ricardo, John Stuart ou variáveis sociológicas não deveria ser considerado Mill), como na Escola Histórica Alemã (Wilhelm Roscher, um procedimento estranho nem mesmo para o senso Bruno Hildebrand e Karl Knies). comum. Coerção, costume, crença, imitação ou obe- Entre os economistas, a concepção histórico-social diência são fenômenos sociais que sempre foram utili- acerca dos fenômenos econômicos sofre um signifi ca- zados para explicar os mais variados comportamentos tivo revés no fi nal do século XIX, quando se torna pre- econômicos. dominante o pensamento econômico neoclássico (Carl Na academia não foi diferente. Já no nascimento das Menger, Willian Jevons e Léon Walras), que impõe um Ciências Sociais, e mais especifi camente na constituição da modelo de ciência abstrato formal (fundado na mate- Sociologia como um campo particular do conhecimento, mática). Já entre os sociólogos, o afastamento da análise procurou-se compreender de que maneira as instituições dos fenômenos econômicos se dá em uma fase posterior, e estruturas sociais conformam a divisão do trabalho e a isto é, em meados do século XX. Curioso observar que dinâmica dos mercados. E ainda como o contexto social é também nesse período que Joseph Schumpeter e May- e os processos históricos levaram os homens a diversifi - nard Keynes apresentam sérias críticas à ortodoxia do carem a organização da produção e das trocas, no espaço pensamento econômico neoclássico. The theory of eco- e no tempo. Não por acaso, entre os autores clássicos e nomic development: An inquiry into profits, capital, credit, fundadores da Sociologia Econômica (SE) encontram-se interest, and the business cycle, de Schumpeter, foi editado Max Weber, Émile Durkheim, Karl Marx e Georg Sim- pela Universidade Harvard em 1934; The general theory mel. De modo correlato, a perspectiva institucional se faz of employment interest and money, de Keynes, foi publi- presente já no nascimento da Economia, tanto na Escola cado na Inglaterra em 1936. 10 • ©RAE • VOL. 47 • Nº2 0010-014.indd10-014.indd 1100 44/13/07/13/07 112:54:122:54:12 PPMM ANA CRISTINA BRAGA MARTES • MARIA RITA LOUREIRO • RICARDO ABRAMOVAY • MAURÍCIO SERVA • MAURÍCIO C. SERAFIM De acordo com Philippe Steinner (Steinner, 2006), a economicamente condicionados. Por outro lado estuda cisão entre Sociologia e Economia, que se observa dos o modo como o restante da sociedade os infl uencia (fe- anos 1930 aos anos 1970, acabou por reservar à teoria nômenos economicamente relevantes)”. econômica o estudo do comportamento individual ra- De qualquer modo, o que atualmente se observa nas cional, restando à Sociologia analisar os demais tipos pesquisas de interface entre as duas disciplinas é uma de comportamento (como, por exemplo, a formação de espécie de alargamento do campo de interesses e inova- preferências) e, particularmente, compreender os moti- ção metodológica. Assim, se até os anos 1980 os soció- vos, sejam eles individuais ou sociais, orientadores do logos econômicos se debruçavam sobre as instituições e comportamento econômico. se mantinham especialmente atentos a questões relativas Em nome da cautela, no entanto, não se deve per- a controle, sanções e normas, nas duas últimas décadas, der de vista que o declínio das abordagens apoiadas gênero, redes sociais e cultura tornaram-se também te- na intersecção desses dois campos não signifi cou o mas-chaves dessa abordagem. abandono dos temas econômicos pelos sociólogos. A O marco inicial da Nova Sociologia Econômica norte- sociologia de inspiração marxista, por exemplo, vigo- americana pode ser encontrado nos trabalhos de Mark rosa nestas três décadas nas suas mais diversas verten- Granovetter, especifi camente com o desenvolvimento, por tes, jamais negligenciou a relação entre economia e este último autor, do conceito de imersão (embeddedness). sociedade. Particularmente Karl Polanyi, com o livro Também a ele se deve a expansão da análise de redes, A grande transformação (originalmente de 1944) deu como a metodologia da SE, sob a marcante infl uência uma grande contribuição à consolidação da Sociologia de seu professor Harrison White, autor do livro Markets Econômica (SE). from networks (2001). Na SE européia, menos difundida Ainda que com menor intensidade, os “intelectuais no Brasil, destacam-se os trabalhos de Laurent Thévenot, liberais” também contribuíram. Em 1963, Neil Smelser Luc Boltanski e Michel Callon, além de, obviamente, escreve um livro sobre o tema, publicado no Brasil cinco Pierre Bourdieu, que introduz conceitos-chaves para as anos depois, com o título A sociologia da vida econômica. pesquisas que se apóiam nessa abordagem, tais como No entanto, já no prefácio, ao justifi car seu trabalho, o habitus, campo, diversos tipos de capital e de interesses. autor alega que os economistas tratam apenas das re- Enquanto Thévenot e Boltanski chamam a atenção para lações entre variáveis econômicas, desconsiderando o a análise das convenções que coordenam as ações econô- contexto social, enquanto os sociólogos, apesar de pes- micas (modelos padronizados de justifi cação), Callon, quisarem o comportamento econômico, não haviam ela- juntamente com Bruno Latour, focaliza a ciência e a tec- borado ainda uma abordagem teórica capaz de sistema- nologia e, do ponto de vista metodológico, desenvolve tizar os inúmeros, porém dispersos, resultados parciais a teoria dos atores e das redes (actor-networks-theory) das pesquisas até então realizadas. (Swedberg, 2004). O que vem sendo chamado de Nova Sociologia Eco- Apesar de importantes avanços, a Nova Sociologia nômica1 não se resume ao tratamento sociológico de Econômica tem sido muito mais pródiga em elaborar variáveis econômicas, mas engloba a construção de um críticas à economia neoclássica – mesmo no caso do cé- corpo sistemático de conhecimento, com questões que lebre trabalho de 1985 de Mark Granovetter que aborda perfazem um debate e posicionam os autores no interior a Nova Economia Institucional – do que na formulação de uma literatura específi ca. Desse modo, a SE consti- de modelos teóricos alternativos. Foi por esse motivo tui propriamente uma abordagem, ou uma perspectiva que o texto de Neil Fligstein foi escolhido para compor de análise, nas palavras de Smelser e Swedberg, para os este Fórum. quais ela pode ser defi nida como “a aplicação de estru- Pouco conhecido em meio à sua vasta e importante turas de referência, variáveis e modelos explicativos da produção, o texto “Habilidade social e a teoria dos cam- Sociologia a um complexo de atividades relacionadas à pos” tem o objetivo central de oferecer fundamentos te- produção, distribuição, troca e consumo de bens e servi- óricos e também ontológicos ao estudo da vida econô- ços escassos” (Smelser e Swedberg, 1994, p. 3). Invocan- mica. Em comum com outros expoentes da SE, Fligstein do as palavras de Max Weber (1949), Swedberg (2004, recusa o ponto de vista segundo o qual a cooperação, na 7) elabora a seguinte defi nição: “a sociologia econômi- vida econômica, resulta de ações pulverizadas e atomi- ca estuda o setor econômico na sociedade (fenômenos zadas de indivíduos e fi rmas. Para o autor, a existência econômicos) e também a maneira como esses fenôme- do mercado supõe, ao contrário, formas localizadas e nos infl uenciam o resto da sociedade ou os fenômenos palpáveis de cooperação direta. É exatamente por isso ABR./JUN. 2007 • ©RAE • 11 0010-014.indd10-014.indd 1111 44/13/07/13/07 112:54:132:54:13 PPMM FÓRUM • APRESENTAÇÃO que os mercados devem ser objeto de uma abordagem tomados pela SE (Lévesque, Bourque e Forgues, 2001), “político-cultural”. o autor empreende uma revisão das principais correntes Inspirado no interacionismo simbólico, Fligstein abor- que compõem a disciplina, estabelecendo, para tanto, da a cooperação embutida nas relações de mercado sob o dois marcos de referência. ângulo do poder (de infl uenciar e de constituir um certo O primeiro marco concerne à distinção entre as pro- campo) e dos signifi cados do que os atores são capazes duções de língua francesa e de língua inglesa. Admitindo de inspirar nos outros a partir de suas práticas. Em ou- que no campo atual da SE essas duas tradições lingüísti- tras palavras, esse texto é importante por sua ambição cas “se ignoram mais do que se reconhecem”, Lévesque, de dotar a SE de uma teoria da ação. O ponto de partida entretanto, identifi ca semelhanças entre determinadas é a necessidade de os indivíduos e as organizações es- correntes, apesar da atenção diferenciada que elas dão ao tabilizarem e reduzirem os riscos em suas relações. No Estado, ao mercado, às instituições e aos atores sociais. cerne das estruturas sociais está, portanto, a coopera- No âmbito da SE de língua francesa, o autor identifi ca ção humana. as correntes do Movimento Antiutilitarista nas Ciências Todavia, cooperação não é aqui entendida por Fli- Sociais (conhecido na francofonia como MAUSS), da gstein como ideal normativo ou – à maneira lockiana – Economia Social e Solidária, da Teoria da Regulação, da como pressuposto geral de convivência entre indiví- Economia da Grandeza, da Economia das Convenções.

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