Os Efeitos De Sentido Nos Textos De Bob Dylan: Mito Ou Ídolo?

Os Efeitos De Sentido Nos Textos De Bob Dylan: Mito Ou Ídolo?

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO GABRIEL JOSÉ INNOCENTINI HAYASHI OS EFEITOS DE SENTIDO NOS TEXTOS DE BOB DYLAN: MITO OU ÍDOLO? BAURU – SÃO PAULO 2010 GABRIEL JOSÉ INNOCENTINI HAYASHI OS EFEITOS DE SENTIDO NOS TEXTOS DE BOB DYLAN: MITO OU ÍDOLO Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Comunicação Social com habilitação em jornalismo, apresentado à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Orientadora Profa. Dra. Maria Angélica Seabra Rodrigues Martins BAURU – SÃO PAULO 2010 AGRADECIMENTOS À minha família, pelo apoio durante o curso; em especial a minha mãe. À Profa. Dra. Maria Angelica Seabra Rodrigues Martins, por sua orientação e pela confiança que depositou em mim durante o desenvolvimento desta pesquisa. À Profa. Dra. Maria do Carmo Almeida Correa e ao Prof. Dr. Pedro Celso Campos, por terem aceitado fazer parte da banca examinadora deste trabalho, contribuindo com sugestões e análises argutas e cuidadosas. À Fapesp pela concessão da bolsa de Iniciação Científica, cuja pesquisa se tornou a minha monografia de conclusão de curso. Ralph Gleason: O que acha das pessoas que analisam suas canções? Elas chegam à mesma conclusão... Bob Dylan: Eu as acolho de braços abertos! Ralph Gleason: A Universidade da Califórnia analisou as letras das canções do último álbum e foi feito um simpósio para discuti-las. Você “acolhe” isso? Bob Dylan: Claro. Fico triste por não poder participar, mas é legal. Ralph Gleason: É bem louco fazer isso! RESUMO Bob Dylan sempre foi identificado como um “cantor de protesto”, considerado o ícone, o “Porta Voz de sua Geração”. No entanto, em suas entrevistas ao longo de sua carreira, ele fez questão de refutar tais etiquetas. Esta pesquisa pretendeu compreender a construção do mito Bob Dylan pela mídia, expresso nas formações discursivas das entrevistas e das letras das canções de protesto e examinar a organização dos sentidos de suas entrevistas. O estudo do contexto da época – o período dos anos 1960 nos Estados Unidos da América – permitiu aprofundar a discussão, compreendendo os motivos pelos quais existe um conflito entre o que Bob Dylan faz e o que ele fala. A análise semiótica greimasiana foi o instrumento adotado para desvendar – ou, em uma perspectiva sempre cética como convém à ciência, para oferecer subsídios que ajudem a explicar a postura contrastante entre o significado das letras e as declarações nas entrevistas. Ao final da pesquisa espera-se ter contribuído para que a relação entre artista e público, mediada pelos meios de comunicação, seja pensada de maneira menos ingênua e mais aprofundada, discutindo a formação de mitos e como eles explicam determinados comportamentos na sociedade. Palavras-chave: Semiótica greimasiana, Bob Dylan, Folk, Rock, Comunicação. Sumário Introdução 8 Capítulo 1 – Panorama histórico e biográfico de Bob Dylan 11 1.1. Influências: o surgimento do rock-and-roll 15 1.2 A música folk: Woody Guthrie como modelo 17 1.3 “But I'll know my song well before I start singin'”: o início do 26 reconhecimento 1.4 “The times they are a-changin’”: das canções de protesto às 39 canções intimistas 1.5 “The ghost of electricity howls”: a transição do folk para o rock 46 1.6 “Like a rolling stone”: o estrelato do rock e os conflitos com o 52 público 1.7 “Waiting to find out what price you have to pay”: o fim do ciclo 63 1.8 “There must be some way out of here”: o estrelato entre o rock 68 e o pop 1.9 Mito ou ídolo? 72 Capítulo 2 – Análise da semiótica greimasiana 86 2.1 O nível discursivo 87 Capítulo 3 – Análise dos textos das canções 91 3.1 Blowing in the Wind 91 3.2 A Hard Rain’s Are Gonna Fall 95 3.3 Masters of War 101 3.4 The Times They Are A-Chanin’ 107 3.5 Ballad of Hollis Brown 112 3.6 Only a Pawn in Their Game 117 3.7 The Lonesome Death of Hattie Carroll 122 3.8 Like a Rolling Stone 126 Capítulo 4 – Análise dos textos das entrevistas 134 4.1 Conferência de imprensa em 1965 134 4.2 Entrevista a Ed Bradley em 2004 142 Considerações finais 147 Referências 150 INTRODUÇÃO Na cena musical contemporânea, a figura de Bob Dylan é vista como uma estrela – icônica, carismática, lendária, mitológica e enigmática. Figura de destaque da cultura pop e um dos compositores mais ilustres de sua época, Dylan vive um período, entre tantos, de renascimento: desde 2005, já lançou dois discos, escreveu um livro e foi tema de um documentário e de um longa-metragem. O ícone da música folk norte-americana já foi assunto de inúmeros livros e intrincados estudos acadêmicos que consideraram suas diversas dimensões, tanto do homem quanto de sua música. Algumas destas músicas, compostas no período entre 1962 e 1965, enfocam os temas da guerra, da exclusão social, do poder dos dominantes sobre os dominados, da luta pelos direitos civis, contra o establishment e da busca por uma mudança de valores, da esperança por uma sociedade igualitária e de crença na fraternidade universal. Tido como um verdadeiro gênio do rock e considerado responsável pela introdução de um novo leque de temas e de uma nova complexidade lírica na música popular, a contribuição de Bob Dylan é incomensurável. Estima-se que ele tenha vendido mais de 60 milhões de discos no mundo todo em sua carreira, um número pequeno se comparado ao dos Beatles, que venderam dez vezes mais. Assim, sua reputação não está baseada em sucesso comercial – apesar de sempre ser citado com um dos artistas que mais vendem ao longo da história. Se comparado a outros gigantes da música no século XX, como Elvis Presley e Frank Sinatra, Dylan leva vantagem, pois tem mais de 450 composições originais, criadas ao longo de mais de 40 anos de carreira – e com alta qualidade – em vários períodos de sua vida. Dylan é ainda um ícone dos anos 1960, ao lado de Martin Luther King Jr. e John F. Kennedy. Pelo conteúdo socialmente reflexivo e politicamente engajado, as músicas do começo de carreira de Dylan se configuram como “canção de protesto”, o que levou a mídia a tratá-lo como o porta-voz de sua geração. Apesar disso, em todas as oportunidades em que foi questionado pela mídia, Bob Dylan recusou esse papel. Separados por quase quarenta anos, dois desses momentos corroboram sua recusa em ser tratado como a consciência angustiada de uma geração: o primeiro ocorreu em uma coletiva concedida à imprensa em 3 de dezembro de 1965, em São Francisco; o segundo, em 2004, quando Bob Dylan foi entrevistado por Ed Bradley no programa da rede americana CBS 60 Minutes. Nessas duas oportunidades, Bob Dylan procurou 8 desmistificar o efeito que suas letras provocam nos fãs, recusando o personagem que foi criado sobre sua figura. Com base nessas considerações, esta pesquisa insere-se no campo de estudos sobre Comunicação e Linguagem, de uma perspectiva teórica da Semiótica (TS) e da Análise do Discurso (AD). A TS permite construir o significado do texto a partir de seu plano de conteúdo, sob a forma de um percurso gerativo. A AD, por meio de análises internas e externas dos textos, leva o enunciatário a reconhecer os mecanismos de engendramento dos discursos e permite entender a construção dos sentidos de cada abordagem, por meio da reconstituição do contexto sócio-histórico. A partir desta perspectiva teórica serão analisados os efeitos de sentidos produzidos pelos enunciados discursivos de Bob Dylan. O presente estudo tem a intenção de indagar se os temas e as figuras presentes nas entrevistas e letras das canções de protesto de Bob Dylan refutam ou reforçam o mito de ídolo/herói de uma geração, tendo em vista o contexto sócio-histórico da época e do papel assumido pelo compositor em suas falas. O corpus documental da pesquisa será constituído pela coletiva concedida à imprensa por Bob Dylan dia 3 de dezembro de 1965, disponível no DVD “Dylan Speaks – The Legendary Press Conference in San Francisco” e pela entrevista concedida a Ed Bradley, da rede CBS, em 2004. Também serão submetidas à análise as seguintes músicas compostas por ele: Blowin’ the wind, A hard rain’s a-gonna fall, Masters of war, e The times they are a-changin’, Only a pawn in their game, Ballad of Hollis Brown, The lonesome death of Hattie Carroll e Like a Rolling Stone. Esta pesquisa pretende compreender a construção do mito Bob Dylan pela mídia, expresso nas formações discursivas das entrevistas e das letras das canções de protesto e examinar a organização dos sentidos de suas entrevistas. Considerando que Bob Dylan continua em atividade, os anos 2000, em especial, marcam um novo renascimento, entre os tantos, de Dylan. Love and Theft (2001) e Modern Times (2006) confirmam a qualidade e o lugar de Dylan entre os compositores mais relevantes da história da música pop, ao propor um diálogo com as antigas canções de blues do repertório clássico americano. Em 2005, ele lançou o primeiro livro autobiográfico de uma série intitulada Crônicas. Nesse mesmo ano, um documentário dirigido por Martin Scorcese, No Direction Home, mostrou o tenso período em que eletrificou o folk, causando a ira dos puristas. Em 2008, Todd Haynes dirigiu I'm Not There, uma tentativa de entender o mito Bob Dylan, em que sete atores, inclusive uma 9 atriz – Cate Blanchett – interpretam suas diferentes personas. Em 2009, Dylan volta ao primeiro lugar das listas de discos mais vendidos com Together Through Life. A justificativa para a realização da pesquisa prende-se ao fato de vivermos em uma época em que as celebridades ganham cada vez mais espaço na mídia.

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