
Patrícia Luiza Bremer Boaventura TÉCNICA, ESTÉTICA, EDUCAÇÃO: OS USOS DO CORPO NA GINÁSTICA RÍTMICA Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do Grau de Doutora em Ciências Humanas. Orientador: Prof. Dr. Alexandre Fernandez Vaz Coorientador: Prof. Dr. Jaison José Bassani Florianópolis Dezembro, 2016 Ficha de identificação da obra elaborada pela autora através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. À minha família humana e canina, pelo amor incondicional por toda vida. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi construído a partir das minhas experiências vividas, familiares, ginásticas, profissionais, acadêmicas, etc., e, portanto, gostaria de agradecer todas as pessoas que fizeram parte da minha história, em especial: Aos meus familiares, pai José Boaventura, mãe Katy Bremer e queridos irmãos Paulo Boaventura, Brunna Boaventura, Roger Boaventura (in memoriam), por serem meus exemplos de honestidade, caráter e determinação, e pelas constantes demonstrações de afeto, união e respeito. Meu eterno agradecimento por terem sempre me apoiado a realizar os meus sonhos. Estendo esse agradecimento familiar aos meus tios/as, primos/as, cunhados/as, sogro/a por estarem sempre perto mesmo na distância. Ao meu esposo Carlos Justo, pelo apoio incondicional, companheirismo e pelo constante incentivo durante toda a elaboração deste trabalho. A sua presença, junto à de nossos filhos de quatro patas Oliver, Emily e Vicky e de asas Bóris, foi essencial nesse processo. Muito obrigada pela paciência e compreensão nas horas em que meus ideais pareciam distantes e inatingíveis. Amo muito vocês! Ao querido professor e orientador Alexandre Vaz, pelos ensinamentos, por ser extremamente humano, por confiar em mim, por me permitir “ginasticar” com as palavras há quase uma década. Além de ser um grande mestre, brindou-me com sua amizade e sua sabedoria. Minha eterna gratidão por tudo, e espero continuarmos juntos nessa caminhada de leituras, escritas, conversas. Ao meu coorientador e professor Jaison Bassani pelos diálogos e indagações que me fizeram refletir sobre as minhas práticas pedagógicas de forma ética e profissional. Sou muito grata por ter dividido contigo espaços e discussões na Educação Física e em outras áreas de conhecimento. Às meninas do mundo da ginástica rítmica que conheci e com quem convivi durante a minha vida, especialmente às que participaram desse estudo e sempre se disponibilizaram a contribuir para a realização do mesmo. Obrigada pela oportunidade e cordialidade dispensadas, principalmente às ginastas e treinadoras da equipe de Timbó-SC. Passei momentos incríveis ao lado de vocês. Aos colegas de longa data do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade, pela cooperação, pelos diálogos e debates que foram essenciais para a minha formação e consolidação desta pesquisa. Foi uma honra dividir ideias e compartilhar saberes com vocês. Aos meus amigos e amigas mais próximos e distantes com quem tive o prazer de conviver: de infância, de trabalhos profissionais, de diferentes cidades e países, de faculdade, de mestrado e doutorado, e às com quem eu tive a felicidade de dividir o mesmo lar durante a minha jornada acadêmica: Carla Purim, Maria Délia, Valeria Galván e Larissa Trindade. Obrigada pelo carinho, por entenderem os momentos de ausência e pela torcida de sempre. Aproveito para agradecer ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da UFSC, na figura de seus professores/as, alunos/as e servidores/as. Em especial aos alunos/as da minha turma de doutorado, agradeço os momentos de reflexão e alegrias. Muito obrigada pelas instruções e as eternas e construtivas discussões filosóficas. Agradeço, ainda, à Capes pela concessão de bolsa de estudo durante o início do doutorado e ao CNPq pelo auxílio financeiro nos últimos anos. Essa ajuda financeira foi imprescindível para a concretização deste trabalho. Meus sinceros agradecimentos a todos e todas por tudo! RESUMO O presente trabalho propõe desvendar o entrelaçamento entre técnica e estética a partir dos usos do corpo na ginástica rítmica e revelar subjetividades que conformam as trajetórias de vida das ginastas. Partindo de uma perspectiva antropológica e sociológica de corpo, formulamos questões sobre as representações dos corpos das ginastas a partir da percepção delas, em uma tentativa de mais bem entender os modelos corporais vigentes nessa modalidade. Para a realização desse estudo, utilizamos a etnografia como perspectiva metodológica. Foram realizados um conjunto de observações de treinamentos e competições de uma equipe de ginástica rítmica, entrevistas com ginastas e treinadoras e envio de questionários para algumas atletas que participaram da seleção brasileira. Os resultados indicam que: 1) o aperfeiçoamento da técnica exige muito esforço físico, controle do corpo, alimentação e da dor; 2) a ginasta precisa ter um corpo magro para executar uma boa técnica e estética e, por conta disso, há um exaustivo controle do peso corporal, podendo, em alguns casos, prejudicar a própria performance; 3) a presença da glorificação da dor está relacionada à produtividade do corpo, ao maior conhecimento dos seus limites, porém, dependendo do seu nível de naturalização, pode resultar em lesões; 4) toda a aparência da ginasta (vestimentas, maquiagem, aparelhos, objetos em geral, movimentos e gestos técnicos) é minuciosamente pensada e fabricada para a sua apresentação; cada detalhe influencia na nota, direta ou indiretamente; 5) elementos de diferentes práticas corporais (danças, circo, esportes) valorizam o lado artístico da coreografia e podem ser incluídos, conforme a música inspirar; contudo, devem ser executados de uma maneira particular para garantir uma boa apresentação; 6) se durante a montagem coreográfica a treinadora permitir à ginasta atualizar o projeto coreográfico, colocando seu caráter pessoal, sua experiência e memória corporal, a construção será de sua corpografia ginástica; 7) a performance aproxima a ginástica rítmica das artes performáticas (dança, ballet clássico, teatro, música) por apresentar alguns elementos em comum: estetização do corpo, contingência [imprevisibilidade], criação, racionalização do corpo por meio do treinamento para chegar à obra esportiva ou artística; 8) há um forte entrelaçamento entre técnica e mimese na produção de movimentos considerados belos na ginástica rítmica, na qual não há criação sem técnica, especialmente nas montagens das séries e em sua comunicação; mas tampouco somente a técnica é suficiente para a elaboração do inesperado e emocionante; 9) na busca pela eficácia em técnica e estética, a educação do corpo ganha espaço de destaque, impondo um “dever ser” inscrito nos corpos; 10) a dinâmica esportiva conforma o corpo da ginasta, seu habitus, transformando sua subjetividade, o modo de ler e perceber o mundo; 11) o esporte e a escola fazem parte dos projetos de vida das ginastas e de seus familiares e, por conta disso, aumentam as possibilidades de reconversão profissional; 12) a partir das diferentes socializações vivenciadas (família, escola, esporte), as ginastas adquirem um conjunto de saberes que deixa marcas em seus corpos de forma singular, heterogênea e plural, podendo influenciar suas escolhas profissionais futuras; 13) a graduação em Educação Física é uma importante possibilidade de reconversão do capital (corporal, econômico, social) investido pelas ginastas; 14) a permanência da ginasta no subcampo, a partir de sua recolocação como docente, possibilita a ressignificação das práticas corporais e discursos presentes nesse esporte. Por fim, a partir dos usos do corpo, observamos que, ao mesmo tempo em que a ginástica rítmica pode ser uma prática educativa disciplinar e rígida, pode também dimensionar a ginasta para uma experiência lúdica e estética, imbricada com as coisas do sensível e de outros fazeres humanos, desenvolvendo a autonomia, a compreensão de si e o conhecimento de seus limites. Concluímos, assim, que nesse esporte há diferentes formas de ser corporalmente, o que permite ampliar os debates sobre os corpos contemporâneos. Palavras-chave: Educação do Corpo. Esporte. Ginástica Rítmica. ABSTRACT This Ph.D. thesis intends to unravel the interweaving between technique and aesthetics from the uses of the body in rhythmic gymnastics and to reveal subjectivities that make up the life trajectories of gymnasts. Starting from an anthropological and sociological perspective of the body, we formulate questions about the representations of the bodies of the gymnasts from their perception, in an attempt to better understand the current models of body in this modality. To carry out this study, we use ethnography as a methodological perspective. From this viewpoint, a set of observations of training and competitions of a rhythmic gymnastics team was performed, along with interviews with gymnasts and coaches, and questionnaires were sent to some athletes who participated in the Brazilian team. The results indicate: 1) the improvement of the technique requires a lot of physical effort, body control, nutrition, and pain; 2) the gymnast must have a lean body to perform a good technique and aesthetics, and, because of this, there is an exhaustive control of body weight, and, in some cases, it may damage the performance itself; 3) the glorification of pain is related to the productivity of the body, to greater knowledge of its limits, but, depending on its level of naturalization,
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