Do Complexo De Vira-Latas Ao Homem Genial: O Futebol Como Elemento Constitutivo Da Identidade Brasileira Nas Crônicas De Nelson

Do Complexo De Vira-Latas Ao Homem Genial: O Futebol Como Elemento Constitutivo Da Identidade Brasileira Nas Crônicas De Nelson

Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-Graduação DO COMPLEXO DE VIRA-LATAS AO HOMEM GENIAL: O FUTEBOL COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DA IDENTIDADE BRASILEIRA NAS CRÔNICAS DE NELSON RODRIGUES, JOÃO SALDANHA E ARMANDO NOGUEIRA Autor: Luiz Henrique de Azevedo Borges Orientadora: Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito Brasília, Agosto de 2006 Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Departamento de História Programa de Pós-Graduação DO COMPLEXO DE VIRA-LATAS AO HOMEM GENIAL: O FUTEBOL COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DA IDENTIDADE BRASILEIRA NAS CRÔNICAS DE NELSON RODRIGUES, JOÃO SALDANHA E ARMANDO NOGUEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de História da Universidade de Brasília, vinculada à área de concentração de História Cultural, como requisito para obtenção do título de Mestre em História. 1º/2006. Autor: Luiz Henrique de Azevedo Borges Brasília, Agosto de 2006 Luiz Henrique de Azevedo Borges DO COMPLEXO DE VIRA-LATAS AO HOMEM GENIAL: O FUTEBOL COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DA IDENTIDADE BRASILEIRA NAS CRÔNICAS DE NELSON RODRIGUES, JOÃO SALDANHA E ARMANDO NOGUEIRA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação do Departamento de História da Universidade de Brasília, vinculada à área de concentração de História Cultural, como requisito para obtenção do título de Mestre em História. 1º/2006. Aprovado em: __________ Nota: _________________ Banca Examinadora Profa. Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito Universidade de Brasília Profa. Dra. Thereza Negrão Universidade de Brasília Prof. Dr. Leonardo Affonso de Miranda Pereira Universidade de Brasília Aos meus pais, Danilo e Zélia, as minhas irmãs, Ana Beatriz e Ana Luiza, a minha sobrinha, Ana Paula, a minha esposa, Michelle, aos meus amigos Marcelo Reis e Juliano Pirajá, a minha orientadora, Eleonora Zicari e a todos os professores da Universidade de Brasília que me deram as condições e o apoio necessário para galgar mais essa caminhada. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais e familiares que sempre enxergaram no estudo a maior riqueza que se pode legar aos filhos. À minha esposa, Michelle, pela compreensão e inestimável ajuda de ler, reler e pacientemente sugerir alterações no texto que ora se apresenta. À minha sempre presente, humana e exigente orientadora, Eleonora Zicari, que desde o nosso primeiro encontro, ainda em setembro de 2003, acreditou no meu trabalho. Aos meus amigos Marcelo Reis e Juliano Pirajá, verdadeiros irmãos, interlocutores, parceiros de Winning Eleven em todas as suas versões e apaixonados pelo futebol, pena que não saibam torcer pelo melhor. À Universidade de Brasília, que teceu meus caminhos desde o nascimento, instituição na qual meu pai lecionou e que, desde menino aprendi a admirar e almejar. Acolheu-me em duas graduações e no mestrado e a ela devo grande parte de minha formação. Ao Iphan, sempre preocupado e incentivando a capacitação profissional de seus membros. À Capes, que me dotou de importantes recursos para a execução da pesquisa. Para entender a alma de um brasileiro é preciso surpreendê-lo no instante do gol. (Armando Nogueira) RESUMO O futebol é uma atividade e um discurso que há anos individualiza, identifica e traz orgulho aos brasileiros, dando-lhes uma identidade e marcando seu lugar no mundo. Como artifício identitário ele é um constructo humano, demarcado no tempo e no espaço. Na busca epistemológica da construção representacional do Brasil como país do futebol, as crônicas de três dos maiores cronistas brasileiros de todos os tempos, Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira foram analisadas. Eles ajudaram a caracterizar o futebol brasileiro tendo como predicado fundamental a prática do futebol-arte, assinalado pela habilidade, pela criatividade, pela ofensividade e pelo inusitado em contraposição com o futebol-força, praticado, ainda segundo a tríade autoral considerada, pelos europeus, um futebol defensivo e de pouca criatividade. Do homem tímido, inibido e humilde, o “vira-latas” de Nelson Rodrigues, o brasileiro se torna o homem genial, repleto de virtudes e qualidades a partir da campanha vitoriosa na Copa do Mundo de 1958, sensação que se confirma a cada vitória do selecionado nacional nas competições internacionais. Esses discursos não se circunscrevem ao espaço esportivo, adentram outros espaços discursivos e se tornam polifônicos, dialogando e formando imagens do que é ser brasileiro. Palavras-chave: História, Futebol, Identidade, Representação e Crônicas. ABSTRACT Soccer is an activity and a discourse that has for years individualized, identified and brought pride to Brazilians, giving them an identity and marking their place in the world. As an identity artifice, soccer is a human construction, demarcated in time and space. In the epistemological search for the representation of Brazil as the land of soccer, the chronicles written by three of the greatest Brazilian columnists of all times, Nelson Rodrigues, João Saldanha and Armando Nogueira, were analyzed. They helped characterize Brazilian football having as an essential quality the practice of the art-football, distinguished by ability, creativity, daring and the unusual, in contrast with the power-football, practiced, again according to them, by Europeans, a defensive and not much creative football. From the shy, inhibited and humble man – Nelson Rodrigues’ mongrel –, the Brazilian man becomes the brilliant man, full of virtues and qualities as from the triumphant campaign in the 1958 World Cup, a sensation that receives confirmation each time the Brazilian national soccer team wins international tournaments. Those discourses are not limited by the sportive space, they enter other discursive spaces and become polyphonic, dialoguing and forming images about what it is to be Brazilian. Key words: History, Soccer, Identity, Representation and Chronicles. SUMÁRIO Preleção .............................................................................................................................. 11 O Aquecimento: entre campos e noções .......................................................................... 18 • As novas táticas da História .................................................................................... 18 • A crônica esportiva e os cronistas ........................................................................... 24 • Futebol, sociedade e identidade .............................................................................. 31 Saindo dos Vestiários: dos primórdios do futebol brasileiro à Copa de 1954 ............. 51 Vira dois, termina... O início da vitória: Nelson Rodrigues .......................................... 75 O intervalo: a astúcia do técnico João Saldanha ............................................................ 104 Segundo tempo: é de goleada – vitória confirmada: Armando Nogueira ................... 134 O apito final: o balanço da partida .................................................................................. 156 Corpus Documental .......................................................................................................... 166 Bibliografia ........................................................................................................................ 168 PRELEÇÃO Terminado o curso de economia em 1991, me afastei do mundo acadêmico para me dedicar ao trabalho. Naquele momento era um empresário do ramo de alimentação e achava, erroneamente, que o futuro profissional já se encontrava desenhado. Nos primeiros meses de 1998, Clóvis Serafim Paixão, funcionário da empresa, solicitou-me sua dispensa para que pudesse se inscrever para o vestibular da Universidade de Brasília. Resolvi acompanhá-lo e no caminho tomei a decisão de prestar o vestibular para o curso pelo qual sempre fui apaixonado: História. As provas se realizaram durante a primeira fase da Copa da França: seria já uma predestinação? Fui aprovado e em novembro daquele ano iniciei o curso de graduação tendo minha primeira aula com a jovem e instigante professora que ora é minha orientadora Desde o início do curso de graduação, em 1998, o mestrado era um sonho a ser realizado, porém sempre esbarrava na escolha do tema. Os anos foram passando e o tema continuava fugidio. Quando, já decidido a trabalhar a história da alimentação no Brasil, em uma das muitas visitas ao meu inestimável amigo e então vizinho, Marcelo Reis, passava na televisão um jogo de futebol, começamos a discutir o assunto e ele, de supetão, declarou enfaticamente que eu deveria trabalhar com o futebol. Aquela idéia passou a povoar os meus pensamentos, porém os problemas ainda não tinham terminado. Se o grande tema estava definido, o problema que ora se apresentava era o recorte. Nesse momento, “adentrou o gramado” outro amigo especial, Juliano Pirajá, que comentou sobre um trabalho que utilizava as charges para descrever a história de Brasília. Nesse momento o objeto começava a ser recortado, as charges seriam as minhas fontes. O toque final foi dado em uma caminhada matinal com meu pai, quando ele comentou que as charges poderiam ser utilizadas em conjunto com as crônicas esportivas. 12 Abracei então o mundo das crônicas, e as charges acabaram sendo deixadas de lado.1 Um novo desafio se delineava, selecionar os cronistas que seriam trabalhados, porém o caminho foi fácil, afinal tinha total identificação com Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira. Obviamente que essa escolha não se deu apenas no campo da subjetividade, afinal os cronistas citados são verdadeiros

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