Revista Brasileira 80

Revista Brasileira 80

“– Abram-se os Histéricos!”, 2012 Foto: Marcio RM Memória Futura A felicidade1 Alcindo Guanabara Fundador da Cadeira 19 da Academia Brasileira de Letras. Filosofia é árida; pensar enlouquece ou mata. Sejamos frívo- A los e não cogitemos nas coisas da Terra, nem nos sentimen- tos do homem. Passar a vida a rir numa despreocupação absoluta, eis a felicidade. Saber ser nulo, eis o valor. Na vida, vencem os for- tes; e os fortes são os que têm um gesto de desdém para todas as coisas e se abrigam dentro de sua futilidade, como dentro de uma couraça. Poder ser de cera e tomar resignada e alegremente a forma que a necessidade nos imprime, é a maior virtude e a mais assom- brosa qualidade que pode ter um vivente. Reagir é aniquilar-se. Ter o cérebro constantemente trabalhando por uma preocupação abstrata ou material é ser idiota; ter essa preo- cupação sem um objetivo determinado, tê-la dentro e fora de nós, 1 In: Novidades, 26 de julho de 1887. 295 Alcindo Guanabara tê-la dominando-a a todas as horas e a todos os instantes, já não é ser idiota, é ser doido varrido. O que mais desconsola e o que mais fere é que, apesar desta certeza, ninguém é assaz senhor de si para prescrever do cérebro todo este arsenal de pensamentos e cogitações que nos vão justificando o lugar no Hospício de Pedro II. Caminha-se para a loucura com a impassibilidade metálica do ferro caminhando para o ímã. Não há revoltas, não há rebeliões: a fatalidade enche-nos o cérebro de teias de aranha, obscurece o raciocínio, suprime o juízo... Assim amputados, a loucura oferece-nos a muleta em que nos apoiamos para chegar à cova. É tétrico, mas é verdadeiro. A vida deixa de ter risos; nin- guém ri transitando pelas aleias de um cemitério, a menos que não seja um louco, ou um parvo. Ser parvo é a maior ventura da vida, porque para que se encontre gozo no tormento é necessário não ter consciência nem de uma nem de outra coisa. A um suicida ouvi eu esta declaração, a mais rara e a mais sincera de quan- tos têm ido à morte: morro porque a vida me aterra; e aterra-me porque tenho consciência dela. Tu, velho beócio, que aí estás diante de mim com a parvoíce a escorrer pelos cantos dos lábios nesse sorriso gorduroso, tu tens vivido mais de meio século e viverás, a eternidade sem sofrimentos, sem amarguras, sem desesperos. Tu, réptil, és um homem feliz: e para chegarmos a esse resultado pasmoso não puseste em ação nem a tua atividade, nem a tua inteligência rudimentar, nem o teu trabalho, nem a tua vontade: nascestes parvo! Vês as coisas mais tristes, a mais alegre das coisas, e do desequilíbrio do teu cérebro tiras o equilíbrio do teu contentamento. Vives na morte e tens a mais tranquila das vidas. Sonhas com ser papa e te contentas de ser o que és. A ambição é tão grande que se anula! Venturosa besta! 296 A felicidade Não pensar, não sentir, portanto, não sofrer. Ser parvo, ou ser louco, eis a felicidade. Sejamos fúteis, riamos de tudo; e se não podemos sê-lo realmente, finjamos ao menos que o somos. Fingir também é uma qualidade que por ser muito difícil parece-nos defeito. 297 Petit Trianon – Doado pelo governo francês em 1923. Sede da Academia Brasileira de Letras, Av. Presidente Wilson, 203 Castelo – Rio de Janeiro – RJ PATRONOS, FUNDADORES E MEMBROS EFETIVOS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Fundada em 20 de julho de 1897) As sessões preparatórias para a criação da Academia Brasileira de Letras realizaram-se na sala de redação da Revista Brasileira, fase III (1895-1899), sob a direção de José Veríssimo. Na primeira sessão, em 15 de dezembro de 1896, foi aclamado presidente Machado de Assis. Outras sessões realizaram-se na redação da Revista, na Travessa do Ouvidor, n.o 31, Rio de Janeiro. A primeira sessão plenária da Instituição realizou-se numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, em 20 de julho de 1897. Cadeira Patronos Fundadores Membros Efetivos 01 Adelino Fontoura Luís Murat Ana Maria Machado 02 Álvares de Azevedo Coelho Neto Tarcísio Padilha 03 Artur de Oliveira Filinto de Almeida Carlos Heitor Cony 04 Basílio da Gama Aluísio Azevedo Carlos Nejar 05 Bernardo Guimarães Raimundo Correia José Murilo de Carvalho 06 Casimiro de Abreu Teixeira de Melo Cícero Sandroni 07 Castro Alves Valentim Magalhães Nelson Pereira dos Santos 08 Cláudio Manuel da Costa Alberto de Oliveira Cleonice Serôa da Motta Berardinelli 09 Domingos Gonçalves de Magalhães Magalhães de Azeredo Alberto da Costa e Silva 10 Evaristo da Veiga Rui Barbosa Rosiska Darcy de Oliveira 11 Fagundes Varela Lúcio de Mendonça Helio Jaguaribe 12 França Júnior Urbano Duarte Alfredo Bosi 13 Francisco Otaviano Visconde de Taunay Sergio Paulo Rouanet 14 Franklin Távora Clóvis Beviláqua Celso Lafer 15 Gonçalves Dias Olavo Bilac Marco Lucchesi 16 Gregório de Matos Araripe Júnior Lygia Fagundes Telles 17 Hipólito da Costa Sílvio Romero Affonso Arinos de Mello Franco 18 João Francisco Lisboa José Veríssimo Arnaldo Niskier 19 Joaquim Caetano Alcindo Guanabara Antonio Carlos Secchin 20 Joaquim Manuel de Macedo Salvador de Mendonça Murilo Melo Filho 21 Joaquim Serra José do Patrocínio Paulo Coelho 22 José Bonifácio, o Moço Medeiros e Albuquerque Ivo Pitanguy 23 José de Alencar Machado de Assis Antônio Torres 24 Júlio Ribeiro Garcia Redondo Sábato Magaldi 25 Junqueira Freire Barão de Loreto Alberto Venancio Filho 26 Laurindo Rabelo Guimarães Passos Marcos Vinicios Vilaça 27 Maciel Monteiro Joaquim Nabuco Eduardo Portella 28 Manuel Antônio de Almeida Inglês de Sousa Domício Proença Filho 29 Martins Pena Artur Azevedo Geraldo Holanda Cavalcanti 30 Pardal Mallet Pedro Rabelo Nélida Piñon 31 Pedro Luís Luís Guimarães Júnior Merval Pereira 32 Araújo Porto-Alegre Carlos de Laet Ariano Suassuna 33 Raul Pompeia Domício da Gama Evanildo Bechara 34 Sousa Caldas J.M. Pereira da Silva João Ubaldo Ribeiro 35 Tavares Bastos Rodrigo Octavio Candido Mendes de Almeida 36 Teófilo Dias Afonso Celso Fernando Henrique Cardoso 37 Tomás Antônio Gonzaga Silva Ramos Ivan Junqueira 38 Tobias Barreto Graça Aranha José Sarney 39 F.A. de Varnhagen Oliveira Lima Marco Maciel 40 Visconde do Rio Branco Eduardo Prado Evaristo de Moraes Filho Composto em Monotype Centaur 12/16 pt; citações, 10.5/16 pt.

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