Fábulae Do ^Oí: Ae Crônicaa E&Portiva& De Neison Rodrigues

Fábulae Do ^Oí: Ae Crônicaa E&Portiva& De Neison Rodrigues

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÂO EM LETRAS LITERATURA BRASILEIRA E TEORIA LITERÁRIA Fábulae do ^oí: ae crônicaa e&portiva& de Neison Rodrigues Da\e\ Irmqard Vo^el P\orían6po\l&, ma\o de 1997. Pai&i Irmqard Vogel Fâbula& do 0ol: a& crômcae eeportivae de Nelõon RodríQuee Di&sertação âpre&entada ao Curso de F6s-Graduação em Letras - Literatura &rasi\eira e Teoria Literária da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do título de Mestre em Letras, área de concentração em Teoría Literária. Acompanha volume com as crônicas de Nelson Kodrl0ues publicadas em Manchete Esportiva, 1955-1959. Florianópolis, 1997. “FABULAS DO GOL: AS CRÔNICAS ESPORTIVAS DE NELSON RODRIGUES.” DAISI IRMGARD VOGEL Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título MESTRE EM LETRAS Áiea de concentração em Teoria Literária, e aprovada na sua forma fínal pelo Curso de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina. Prof. Dr. Walter Carlos Costa ORIENTADOR Pjxjf. Dr. Afo^mar Luiz dos Santos COORDENM)OR DO CURSO BANCA EXAMINADORA: Prof Dr. Waiter Carlos Costa PRESIDENTE Profa/ úcia Follain de Figueiredo (UERJ) Prof. Dr. mcrnmx Luiz dos Santos (UFSC) Profa. Dra. Tânie^Rei^na Oliveira I^ it1/OS SUPLENTE De nada adiantará o futebol se o homem não presta. Nelson Rodrigues SUMÁRIO páoma Agradecimentos 02 Restmio / Abstract 03 Sumário 05 Introdução 07 Capítulo I: Manchete Esportiva e sua época 15 1. Futebol e crônicas; mercadorias? 16 2. O p«iodo JK 26 Capítulo II: Tempo, espaço e identidade 35 1. O cronotopo da crônica 38 2 .0 cronotopo das crônicas de Nelson 40 3. O motivo cronotópico do ^icontio 50 4 .0 papel da convenção no cronotopo do jogo 59 Capítulo n i; Aspectos do cronotopo do jogo 64 1. Futebol e praça pública 65 2 .0 Micontro fortuito e a inversão do carnaval 70 3. A convenção sobre a essência do brasüeiro 76 4. Narrativas como sedimentos da tradição 80 5. A interatividade da crônica 84 Capítulo IV: O personagem da crônica 89 1. O simbólico em jogo 93 2. A transformação e a identidade: metamorfose 96 3. Futebol, rito e espetáculo 101 Notas ünais 104 Bibliografia 109 Penso num pais em que todos pudessem discutir iutebol com as teièrências que Nelson Rodrigues trazia. Machado de Assis, Shakespeare, Eugene O'Neill ou mesmo o Nero da üta de Cecil B. de Mille, e tenho a certeza de que toda leitura de Nelson, mesmo as modestas, valem a pena. Nfinha gratidão a todos os que me ajudaram nessa leitura. De modo especial, Walter Carlos Costa, Ruy Castro, Tânia Regina Oliveira Ramos, Alckmar Luiz dos Santos, Inngard Kunze Vogel e Marcos Daniel Duaite, muito obrigada. Resumo Este trabalho se divide em dois volumes. O prímeiio reúne a s ^ e completa das crônicas esportivas que Nelson Rodrigues publicou na revista Manchete Esportiva entre novembro de 1955 e maio de 1959, somando 156 textos, dos quais 99 são inéditos em livro. O segundo inicia uma leitura das crônicas a partir de pressupostos teóricos de Nfikhail Bakhtin, utilizando dele conceitos como cronotopo, dialogismo e camavalizaçâo. A leitura aborda a importância dessas crônicas na conformação da imagem de seu autor e na compreensão de sua riqueza estilística, considerando-as como território em que duas representações - esporte e narrativa - se articulam. Abstract This dissertation consists of two volumes. The first is a canqnlation of the coo^lete series of personal essays oa sports that Nelson Rodrigues published in the magazine Manchete Esportiva between November 1955 and May 1959 and consists of 156 articles, 99 of them vdiich have never beea published in book form. The second volume initiates a reading of these personal essays based on Nfikhail Bakhtin’s theoretical constructs that include chranotope, dialogism and camivalization. This reading describes the importance of these personal essays witch regard to the creation of the author’s image and the means to mnlastanding Rodrigues’s elaborate style, and presents the personal essays as a site in which the author articulates the dual representations of sports and narrative. Introdução Nelson Rodrigues produziu intensa e extensamente na segunda metade dos anos 50. Escreveu quatro peças teatrais; Perdoa-me por me traíres e Vtúva porém honesta, em 1957, Os sete gatinhos, em 1958, e Boca de Ouro, em 1959. Ainda em 1959, começou a publicar no jomal Última Hora, no Rio de Janeiro, os capítulos do romance Asfalto Seh/agem, que prosseguem até o ano seguinte. Na mesma época, escreveu boa parte dos contos da série A vida como ela é, também veiculados no Última Hora ao longo de toda a década de 50, somando quase duas mil histórias^. É nesse período que se revela uma faceta no>^ e definitiva de Nelson: o cronista de esporte. Ele assina uma série de 156 crônicas, a maioria Mando de futebol, em Manchete Esportiva, revista da Bloch Editores, Rio de Janeiro, que circulou semanalmente entre novembro de 1955 e maio de 1959. Nelson consta do expediente como o "redator principal" da revista, em cuja ^ ABÍnf<Hioaç6ess<^&to6 da vida de NeliKHi Rodrigues esttto baseadas na biografia feha por Ruy Castro. O anjo pomogrí^co: a vida de Nelson Rodrigues. SSo Paulo: Conyanhia das Letras, 1992. ledaçâo escrevia também os q>isódios de A vida como ela é..., de onde eram enviados ao jornal Última Hora. Essas crônicas se apresentam como voz e imagem do autor, que e se mostra, com tbto e assinatura, na primeira pessoa. O cronista acompanha campeonatos, analisa partidas isoladas, torce pelo seu time, escreve sobre fatos noticiados da vida dos envolvidos com o esporte, sgam jogadores, técnicos, juizes, torcedores ou mesmo uma canaisa ou uma cusparada, e passa pela conquista da iMimeira Copa do Mundo pelos brasileiros, em 1958. A série pode sm- dividida em dois grandes grupos. O primeiro é tbrmado pelas crônicas publicadas até julho de 1957, em que Nelson revela nos titulos o seu tema semanal, escolhido »itre os acontecimentos recentes ou simplesmente traãdo à tona pelo autor. O segundo se forma a partir da octc^ésima crônica até a última, nas quais o autor usa um formato que denomina Meu personagem da semana, elegendo para cada edição um personagem-tema. Nesse segundo grupo, os titulos variados saem de cena e para Nelson, que já era nessa época xim dramaturgo respeitado, a idéia dos personagens tem a considerável vantagem de unir futebol e teatro^. Os laços de Nelson com o futebol são, sem dúvida, anteriores à existência de Manchete Esportiva Foi jogador de peladas e torcia pelo Fluminense, desde os sete anos de idade. Deficiente visual a paitir dos 30, Nelson continuou indo aos estádios e pedia a alguàn qué lhe narrasse oralmente as partidas. O futebol é tematizado também fora das crônicas, como na torcida 2 Crônica 80. Manchete Esportiva n.“ 92,24 ago. 1957. 8 de Zózimo, no romance Asfalto Selvagem/ Engraçadinha, seus amores e seus pecados, e na obsessão de Tunioho, na peça A falecida. No aitanto, são as crônicas de Manchete Esportiva o registro de nascimento e a consolidação de Nelson como cronista esportivo. A imagem do dramaturgo passa a ter a sua face de futebol. Com isso, ganha brilho entre os que consideram rica a associação entre o futebol e a idéia de cultura nacional, e se problematiza entre aqueles que vêem na narrativa sobre o esporte, e no próprio esporte, uma função essencialmente alienante e, em termos Uterários, pobre. Por que se deter nessas crônicas? Na medida em que nos oferecem uma visão mais inteira do autor, elas já constituem xmi motivo de intCTesse, pois, tomando de empréstimo a analogia usada por Mikhail Bakhtin, assim como a mais con^leta imagem do pintor não é aquela que está no auto- retrato, mas a que se revela nos seus melhores quadros, também o autor nâo é o que se mostra em suas ctxoâssões nem em elem^tos isolados de sua obra, mas no todo de seus escritos^. Antes de tudo, porém, as crônicas são muito bem escritas. Nelson exercita um estilo ágil e oralizado, onde preciosas imagens, figuras de linguagem e mesmo a ên&se das repetições se associam a uma maneira rebuscada de perceber o fiitebol. Para o antropólogo Roberto DaMatta, Nelson foi o primdro a enxo:gar o verdadeiro papel do futebol entre nós, esporte pelo qual teriamos conseguido, no Brasil, "somar Estado nacional e sociedade"'*. Ou seja, são textos ou que Nelson sintetiza a idéia da ahna brasileira representada no esporte, e 3 "VeiiKjs o autor apenas em sua criação", afiiDoa eie. BAKHTIN, Mikfaail (tnuL María Ennantina Galvão Gomes Poreira).Estética da cnação verbaL São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 403. ^ DAMATTA, Roberto. "AntropoI<^ do óbvio."Dossiê In: Futebol "Revista USP", a 22, jun- jul-ago 1994. p. 17. 9 podem por isso ser tomados como palco onde se manifestam tensões estéticas, históricas e sociais. Assim, além do interesse intrínseco que as crônicas têm na conformação da imagem de seu autor e na compreensão de sua riqueza estilística, elas são ricas enquanto território em que duas representações, esporte e narrativa, se articulam. Da série completa de Manchete Esportiva, uma seleção de 57 CTÔnicas de Nelson está reunida em livros, nas coletâneas À sombra das chuteiras imortais (São Paulo; Cia das Letras, 1993) e A pátria em chuteiras (idem, 1994), organizadas por Ruy Castro. Outras 99 crônicas da série continuam inéditas em livro. O trabalho aqui proposto se divide, por isso, em dois volumes. Enquanto o primeiro reúne a série completa das crônicas de Manchete Esportiva, o segundo inicia uma análise dessas crônicas, que procura entrever a relação do cronista com o texto que produz. A base que sustenta a análise são os pressupostos teóricos de Mikhaü Bakhtin, para q u ^ "[...] toda produção cultural fundada na lii^uagem é texto, e não existe produção cultural fora da linguagem"^.

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